Capítudo 02. O Sangue

07 de Outubro de 2011

3:13 a.m.

O calor daquele olhar era quase como se ele estivesse tocando-a, do tanto que queimava. Mesmo assim não deixou de encará-lo. Uchiha Sasuke luzia tão bonito quanto o diabo.

Não dizia nada, como se também a estivesse analisando. Mesmo com o coração batendo descompassado, Sakura estava exaurida demais para ficar ali em pé esperando que o moreno tomasse alguma atitude, até mesmo se aproximar.

Estava cansada de correr atrás, e esperava que acontecesse um dia o contrário. Num suspiro resignado sentou-se na raiz emergente da árvore, escorando as costas doloridas, mas sem fechar os olhos, que era sua real vontade.

Viu-o arquear uma sobrancelha enquanto o Sharingan era desativado. A voz veio baixa e ameaçadora, fazendo com que sentisse frio na espinha.

- Por que abaixou a guarda?

Ela arqueou uma sobrancelha em resposta, que raios de pergunta era aquela? Por que havia abaixado a guarda? Ah, talvez por que aquele ali fosse o Sasuke, ex-paixonite e parceiro de time, que mesmo que houvesse atacado ela e a Naruto a pouco mais de um ano, já não cruzava seu caminho havia muito tempo.

Tempo o suficiente para esquecê-lo.

O problema é que o tempo só o fizera parecer mais bonito, e era necessário um esforço tremendo para não suspirar diante do rosto mais anguloso do que no ultimo encontro.

Devaneando, esqueceu de respondê-lo. Ele refez a pergunta mais irritado que antes, andando dois passos em sua direção.

O coração de Sakura se agitou, para o desgosto dela.

- Por que deveria fazê-lo Sasuke-k...? – Sem o "kun", ordenou-se mentalmente.

Sasuke grunhiu,irritado com a resposta displicente da garota. Eles eram inimigos. Quando foi que isso deixou de ser uma constatação e começou a ser irrelevante? Ele poderia matá-la com facilidade se quisesse, não era mais aquele garotinho que a vivia protegendo-a. Ele era um renegado, não tinha mais sentimentos bons dentro de si. Mas vê-la agir daquela maneira era insultante. Era como se ela estivesse esquecido disso.

Ou como se nunca tivesse acreditado que acontecesse.

E aquilo o irritou, profundamente. Tanto que no segundo seguinte, estava correndo em direção a ela com a kunai em mãos.

Sakura gritou, surpresa. Deu um pulo e parou a metros de distância, onde a kunai havia se fincado perigosamente na árvore em que estava antes. O que Uchiha Sasuke tinha na cabeça, afinal?

- Você está louco? – gritou, exasperada, enquanto se desviava de uma bola de fogo.

Ele olhou para ela com ares de superioridade, enquanto respondia cruelmente.

- Não se dá as costas para um inimigo, Sakura.

Inimigo.

Inimigo.

Inimigo.

Ótimo, pensou irritada, a última coisa que precisava era de Sasuke atacando-a enquanto estava tão fraca.

Riu de si mesma ao imaginar a ínfima possibilidade que ele ou simplesmente iria embora ou ficaria ao lado dela enquanto engatava uma conversa. Como era estúpida. E iludida. Sim, muito, muito iludida. Mas estava tão cansada...

Desviava-se dos golpes precariamente, Sasuke não tinha a mínima pressa, como um lobo que brincava com a comida antes de degustá-la. Os braços doíam, as pernas, tudo, estava cheia de vergões por causa da queda na cachoeira. Até suas dores sentiam dor.

E ele não acabava logo com isso.

Primeiro um potente soco na boca do estômago, e ela se curvou tossindo muito. Sasuke levantou o canto do lábio com esgar.

- Fraca.

Ela o encarou, os olhos verdes faiscando de raiva, enquanto a boca se contorcia numa careta cheia de dor. Antes que pudesse responder a ofensa com outra à altura sentiu as costas irem de encontro ao chão, num baque surdo que a fez puxar o ar com força. O filho-da-mãe estava brincando com ela.

- Fraca.

Lutou para se levantar. O moreno se mantinha a alguns metros, observando cada movimento que ela fazia.

Sakura tencionou o maxilar para conter a raiva que teimava em tentar nublar sua visão. Levantou o dorso, sentindo as costas estralarem no percurso. Estava acabada, mas com muita, muita raiva.

E era impressionante como uma pessoa podia se tornar um tremendo filho da puta às vezes. O maldito havia esperado-a se levantar, de longe, só olhando. E agora que tinha recuperado um pouco da dignidade, ele voltava a atacá-la.

Ele estava brincando com ela. Brincando.

Podia ver o sorriso doentio que tinha nos lábios, e odiou-o. E odiou-se também. Odiou-se por ter um dia amado ele.

Mais uma dúzia de chutes e socos unilaterais e ele pareceu querer acabar com isso. Empurrou-a com força no tronco de uma árvore. Ela arfou de maneira sofrida e apertou os olhos.

- Fraca. – sussurrou ao pé de seu ouvido.

Fraca.

Fraca.

Fraca.

Pro inferno, Uchiha Sasuke.

E, pensado isso, acumulou o pouco de chakra que ainda lhe restava em seu corpo para desferir-lhe um potente murro na boca.

Ele cambaleou, dando alguns passos para trás. Olhava-a irritado, a mão segurando com força o nariz quebrado e a outra massageando o maxilar, do canto dos lábios um filete rubro escorria.

Enquanto o moreno estava distraído, era um bom momento para correr, mas o murro além de ter saído fraco, ainda tinha exaurido-a ainda mais. Vertigens ameaçavam-lhe, e não podia desmaiar.

Sasuke voltou a marchar em sua direção e ela tentou escapar cambaleante, mas ele apenas a pegou pelos ombros e jogou-a de volta no tronco, espremendo-a com o próprio corpo. A Haruno ouvia os estalos não-normais que suas costas davam de maneira preocupada, acabaria, na melhor das hipóteses, com algumas costelas quebradas.

Fechou os olhos esperando o pior, já que ele a encarava com o Sharingan ativado. Comprimiu os lábios para engolir o grito de dor que provavelmente viria. Mas, ao contrário do que esperava, o que sentiu foi algo quente sobre sua boca e o gosto acre de sangue.

Do sangue dele.

Ele a havia beijado.

E roubado toda e qualquer sanidade que pudesse habitar seu subconsciente.

Continua...