Ele se esqueceu. Se esqueceu de uma das datas mais importantes de sua vida, segundo ele. Eu ainda não havia finalizado a chamada, estava chocada, paralizada, com o telefone reluzindo seu nome em mãos.Mas ele sim. Na verdade, ele finalizou a chamada de uma forma um tanto rude."Vou ficar na gravadora até mais tarde.", a voz rápida, despreocupada. Não acreditando, até dei pistas."Não está se esquecendo de nada?" "Não.", disse depois de uma pausa.

Ele pensou! Procurou nos arquivos de sua memória e não se lembrou de nada! Mas que diabos de casamento foi esse casamento, então? Se ele se esqueceu no segundo ano, o que aconteceria nos outros, por Deus?

"Calma, Hayley, ele pode estar armando algo a là Michael Kyle."Até pensei em procurar algo em sua ferramentas, talvez uma caixinha azul com um diamante dentro me esperando. Depois relevei, do jeito que trabalhava ultimamente, nem se daria ao trabalho de colocar os pinos de golfe para me enganar. Não haveria nenhum Bryan McKnight no meu quintal.

Resolvi ir para casa. Me despedi de Rachel, que me fitava preocupada enquanto eu digeria tudo isso citado acima."Já vai embora? Hay, o que aconteceu?", sua voz fazia um eco horrível em minha cabeça. Menti um mal-estar repentino e que precisava ir para casa repousar. Bom, mentindo, talvez não, mas ela não entenderia esse mal-estar. Claro que não funcionou, sempre fingi muito mal, mas ela não me impediu.

Coloquei o carro na garagem, mas não saí. Não queria. Não queria aceitar que meu casamento já estava ficando desestruturado, substituído pelo trabalho. As lágrimas já rolavam sem parar, e eu não as impedia. Tinha a esperança de que elas limpariam minha tristeza e fariam Derek chegar com um buquê de flores e alguma comida pronta dizendo que foi tudo brincadeira. Ingênua? Sim, infelizmente.

Cheguei na cozinha, Nana colocava a vela no candelabro antigo de Pattie que estava na mesa, acompanhado de dois pratos, dois conjuntos de talheres, duas taças.

"Pode ir, Nana. Eu termino.", esbocei um sorriso enquanto encostava na parede branca. Ele o retribuiu, pegou sua bolsa e me abraçou, sussurrando um"Bom jantar"logo em seguida. Não respondi nada, nem consegui mentir um esboço de sorriso.

Quando ouvi o bloqueio do portão eletrônico, me pus a guardar tudo. Taças no lugar das taças, talheres no lugar de talheres e pratos com resquícios de lágrimas nos deles. A mesa estava como num dia comum, como Derek.

Subi o lance de escadas, e no corredor já sentia seu perfume viciante. No quarto, me torturei vendo nosso álbum de fotos. Porque eu fazia isso? Não sei.Ouvi o portão abrir-se novamente. Era ele. Guardei o álbum e me aconcheguei na cama, ligando a tv rapidamente.

Enquanto ouvi seus passos se aproximando, me sentia como a vítima principal de um filme de terror e... Era horrível.

Ele entrou no quarto. Lindo, como sempre. Aquele sorriso sempre me vencia, me fazia esquecer tudo, mas não desta vez.

– Oi amor. Pensei que estivesse dormindo. - depositou um beijo em minha testa depois de tirar seu casaco, como sempre. Desta vez, não respondi nada, o deixando confuso. - Algum problema?

Ele se sentou e eu levantei, colocando um belo ponto de interrogação em seu rosto. Enquanto andava de um lado para o outro, me segurava para não dizer tudo de uma vez.

– Sabe que dia é hoje? - comecei sem parar de andar.

– Hã, quatorze de Fevereiro, acho. - ele disse consultando seu celular.

– Certo. E por acaso, se lembra de algo que aconteceu no dia quatorze de Fevereiro há um tempo atrás... Dois anos, talvez? - minha voz ficava mais impaciente a cada palavra.

– Dois anos... Algum acontecimen... - ele parou. Arregalou os olhos. Se lembrou.

– Continue. - pedi com a voz chorosa.

– Hayley... Eu...

– Como você pôde? - disse parada em sua frente. - Como pôde se esquecer desta data? A data que você julgou ser a mais importante de sua vida! Porquê? - as lágrimas já haviam chegado.

– Hay... Me perdoa, é que... Realmente é importante? - ele perguntou.

– Não acredito nisso. - saí do quarto rapidamente com Derek em meu encalço.

– Espera... Hay, não foi isso que eu quis dizer...

– Quer saber? - o cortei - Eu não quero saber. Não é importante, não é? - entrei no quarto de hóspedes e bati a porta com toda força e raiva.

Não era importante. Não era importante para ele."Porquê?", eu pensava enquanto chorava deitada na cama. Derek ainda insistia em me fazer sair dali, batendo na porta e me pedindo desculpas. Jurando nunca mais esquecer. Nada daquilo surtiu efeito, eu não sentia mais nada. Deixei as lágrimas me confortarem e adormeci, torcendo para que tudo isso acabasse ao amanhecer.