2011

E lá estava eu, sentada no meu sofá, rodeada por quatro gatos sedentários, assistindo televisão e arrumando um jeito de me aquecer, completamente sozinha em casa. Desde o dia em que Justin havia partido, eu não havia parado de pensar um segundo sequer em seu ser. Eu acompanhava todos os seus passos, como milhões de fãs, uma seguidora anônima a mais na multidão. Ele havia cumprido sua promessa: me ligava todos os dias no início, e, conforme seu tempo livre ia sendo consumido, ele diminuía os telefonemas, tornando-os semanais, quinzenais e, algumas vezes, mensais. Mas nada era igual. Aos poucos, o lugar que eu ocupava em seu coração ia perdendo espaço, até se tornar o equivalente a uma amizade.

Sim, eu posso conhecer um milhão de garotas bonitas que sabe o meu nome

Mas não se preocupe, porque você tem o meu coração

“O astro teen Justin Bieber causou tumulto e preocupação durante um show em Long Island. Durante sua apresentação, o garoto desmaiou no palco, levando os fãs que ali estavam a um estado de total histeria e preocupação. O segurança particular o carregou no colo até a cochia e de lá ele foi encaminhado ao centro médico e, conforme fontes afirmam, seguiu desacordado. Ninguém da família se pronunciou. Fique na Fox News para maiores informações.”

Meu coração gelou ao ouvir tais palavras. Elas tinham ficado gravadas na minha memória e estavam paradas em um repeat. Bieber tinha alguns desmaios durante os treinos de róquei, mas eram poucos e ele sempre afirmavam que eram por causa do esforço. Peguei meu celular, procurei por Pattie na agenda e liguei imediatamente.

-Alô.- a voz dela respondeu do outro lado da linha.

-Pattie! Sou eu, Madeline!- respondi afoita.

-Hey Mad! Tudo bem?- a voz dela deixava clara a tentativa de parecer animada.

-Não importa. E você, como está? E Justin?- eu mordia a manga da minha blusa de frio.

-Você já tá sabendo, Mad?

-Acho que o mundo todo tá sabendo, Patricia.- eu respondi, soltando uma risada abafada, recebendo o mesmo em troca.

-Quem é mãe?- a voz de Justin soou ao fundo, fraca.

-É a Madeline, Justin.- a mãe respondeu.

-Deixa eu falar com ela? Por favor mãe!- o garoto pediu. Eu pude imaginar o jeito com que seus lábios se angulavam e como seus olhos se tornavam clamante quando ele implorava por alguma coisa. Incrivelmente irresistível.

-Deixa eu falar com ele, Pattie. Por favor!- tentei fazer uma voz fofa.

-Tá bom, tá bom.

-Maddie?- a voz de Justin soou no telefone, um pouco fraca e mais rouca, pronunciando aquele apelido que só ele tinha adotado.

-Jus-Justin?- senti meu coração sucumbir ao ouvir sua voz.- Você tá bem?

-Agora eu estou. Mas eu preciso conversar com você. Ér... Tem como você adiantar a sua viagem e vir pra cá ainda essa semana?- ele pediu e, pelo tom de sua voz, eu tinha certeza que ele coçava sua cabeça.- Tenho tanta coisa pra te contar...- ele continuou.

-Eu tava pensando em fazer isso mesmo, Biebs. Acho que vou amanhã mesmo. Você tá bem mesmo? O que o médico disse? Você tá em casa? Tem haver com aqueles desmaios dos treinos?

-Que ótimo. Não vejo a hora de te abraçar, melhor amiga. Agora eu estou bem, eu tô no hotel. E, hm, acho melhor a gente falar disso amanhã. Prefiro olhar nos seus olhos pra conversar sobre isso, por favor.- Justin falou e eu senti uma ponta de preocupação e medo em sua voz.

-Tá bom, Bieber. Estarei aí amanhã. E quero saber dessa história direitinho.

-Ok. Tenho que desligar, Maddie. Até amanhã. Boa noite, melhor amiga.

-Boa noite, Bieber.

Só levantar e ir

O show tem que continuar por isso eu preciso que você seja forte

Eu nunca (nunca tão longe como possa parecer)

Desliguei o telefone e senti meu coração bombear o sangue mais rápido. Eu sentia o sangue correr rapidamente por minhas veias. Mordi os lábios e pensei no abraço de Bieber que há quase três anos eu não sentia e iria voltar a sentir em menos de vinte e quatro horas. Subi para meu quarto, fazendo uma lista mental de quais roupas levar. Eu estava ansiosa por reencontrar aqueles olhos castanhos, sentir seu cheiro, sentir a maciez de sua pele. Meu estômago se revirava ao pensar que eu estaria ao lado dele de novo em pouco tempo.

•••

Eu não enxergava nada a minha frente, tudo não passava de borrões brancos e vermelhos misturados a penumbra da noite. E era como eu me sentia naquele momento. Tudo tinha acontecido rápido demais. Justin me dizendo o que eu nunca achei que ouviria de seus lábios ia e vinha na minha mente, como um replay eterno.

-Maddie! Eu...Eu... Eu tenho um problema de coração...E...E... Preciso de um transplante... O problema está se acentuando com o tempo... Mas meu tipo sanguíneo é raro e...- Justin tinha a voz e os olhos marejados. Eu não sabia o que falar que pudesse reconfortar sua angustia. Apenas abri meus braços e puxei-o para um abraço. Eu me sentia um lixo por não poder fazer nada, estar ali, completamente inútil. Eu sabia que algo poderia ser feito, meu sangue era igual o dele e...

Parei em um semáforo vermelho, observando os borrões que eram os carros que atravessavam o cruzamento naquele momento. Enxuguei minhas lágrimas com as costas da mão e funguei. Me atrevi a olhar no retrovisor e perceber o estado acabado em que eu me encontrava naquele momento. De repente, era como se a cena vivida mais cedo passasse bem ali, na minha frente. Se repetido de novo, de novo, mais uma vez e outra..., sem nunca parar.

-Maddie, eu queria ter tido a oportunidade de te contar mais cedo, mas não tive. Mas agora você está aqui e como melhor amiga tem a obrigação de saber. Eu estou apaixonado.- Justin dizia com um sorriso lindo estampado no rosto. Eu me perdia nos detalhes perfeitos que Deus, obviamente, tinha talhado com uma atenção especial e não pude perceber que Justin entrelaçava seus dedos nos dedos de Selena.- Eu amo a Gomez.

O sorriso que eu tinha no rosto- que transbordava a expectativa dele dizer qualquer “eu amo você, Maddie.”- murchou instantaneamente. Um pranto se formou na minha garganta e eu sentia as lágrimas se formarem nos meus olhos, prontas pra romper a barreira e rolarem. Mas eu não poderia fazer aquilo ali. Não na frente dele. Coloquei as mãos no rosto e sai correndo em direção a porta. Eu precisava sair daquele ambiente mergulhado no perfume da Selena.

-Madeline! Espera! MADDIE, ESPERA!- eu ouvia dizendo, com a voz distante, bem atrás de mim.

-Me deixa sozinha Justin. Por favor- minha voz saiu baixa, quase uma lamúria.

-VOCÊ TEM QUE ME OUVIR, MADDIE. ME DEIXE EXPLICAR. EU, EU...- ele dizia com a voz ofegante. Eu tinha certeza que ele estava parado, me vendo correr. Mordi meus lábios e fui diminuindo o ritmo, até parar por completo, dar meia volta e caminhar em sua direção.

-Ok, me explique.- Eu disse, com a voz chorosa, sentindo minhas têmporas arderem em decorrência das lágrimas.

-Eu não sei como isso aconteceu, Maddie. Eu pensava em você todos os dias, todas as noites, todos os momentos. Mas um dia, eu acordei, e só pensava em você como uma boa amiga. Eu...Eu...Não sei o que aconteceu...Eu...

-Justin, você tinha prometido... Apesar de todas aquelas milhas distantes, você olharia pro céu a noite e pensaria em mim. Você não ia deixar essa droga de sentimento morrer. Eu ia esperar por você e você por mim. Você quebrou, Justin. Quebrou a promessa e meu coração.- eu cuspia as palavras, tudo o que eu sentia era uma sensação de ter sido deixada de lado.- Você beijava ela enquanto eu guardava aquele beijo que você tinha me dado no aeroporto todas as noites.

-Eu... Sinto muito, Mad.- ele abaixou a cabeça e pôs a mão sobre seu peito. Seu tórax se movia ruidosamente.

Passei a mão pelo meu pescoço e senti a medalha. Ela estava lá desde aquele dia. Eu tentava me lembrar do cheiro de Justin com aquilo. Arranquei a corrente, junto com a medalha e joguei no chão, junto a Justin.

-Dê para ela, Justin. Ela vai querer de algo que lembre seu namorado quando estiver em turnê.- Caminhei de volta à casa e vi a silhueta da Selena apoiada no batente da porta, com as mãos sobre a boca.

-Madeline, eu...- ela esboçou alguma fala, mas eu a interrompi mostrando o dedo médio. Entrei no carro e vi Selena correr em direção a Justin, que estava ajoelhado no chão, imóvel.. Meu coração se estrangulou com suas próprias artérias, mas eu não podia voltar atrás.

Em breve estaremos juntos

Nós vamos recomeçar exatamente de onde estávamos

Voltei dos meus desvaneios com as buzinas reclamando arduamente. Voltei a dirigir, tomando um atalho para uma estrada de terra que levava a um pequeno desfiladeiro. Estacionei o carro de frente para o desfiladeiro. As rodas estavam, com certeza, a centímetros da borda que levava para o desconhecido. O lugar perfeito. Peguei meu iphone e comecei a digitar uma mensagem. A última da noite. A última da minha vida.

“Percebi o quão dura eu fui com você, Biebes. Você não me pertencia e, quem sabe, nunca pertenceu. Você é um garoto tão legal e merece alguém. Eu tinha te esperado, mas você não. Eu esperei por um conto de fadas no qual você era o príncipe. Você é um príncipe, mas eu não sou sua princesa. Eu vi o quão feliz você está ao lado dela. E não há doença que vai tirar isso de vocês dois. Tudo o que eu mais quero é te ver feliz e se não sou eu que vou fazer-te feliz, não vou ficar no seu caminho. E não tinha como eu continuar viva, sabendo que você não seria feliz nos meus braços. É por isso que estou fazendo esse sacrifício. Creio que minha pobre alma se sentirá agradecida. Espero que ela cuide do coração que agora será seu. Espero que você cuide do seu novo coração. Meu coração sempre foi e será seu, Justin. E agora ele baterá no seu corpo, bombeando o seu sangue, te fazendo vivo. Eu vou partir, mas tenho certeza de que a essência do meu ser vai continuar bombeando seu sangue. Porque, agora, você é o dono do meu coração. Eu te amo, Bieber. Venha buscar o que agora é seu, no la Olla. Venha logo. Maddie.”

Apertei enviar e observei a foto de Bieber nos contatos. Meu rosto estava banhado em lágrimas. Meu coração era o único som que se fazia audível no carro. Joguei o iphone no banco do passageiro e religuei o carro. Minhas mãos estavam trêmulas e meu choro era barulhento. Engatei a segunda marcha e pisei fundo no acelerador. Tudo pareceu ficar em câmera lenta. A vista da cidade ao longe ia sumindo lentamente. As luzes do farol iam iluminando copas de árvores e o capô do carro foi amassado como se fosse feito de papel. Uma dor tomou conta de mim e tudo se escureceu, com a mais plena certeza de que aquilo tinha de ser feito.

Porque você tem meu coração