Think Twice escrita por Nuvenzinha


Capítulo 8
C8. Awkward


Notas iniciais do capítulo

UAHFAIHFIAUHFAI AEAEAEMANOLADA

Atualizei outra vez! 8D

Eu não disse que eu não demoraria a atualizar? Se não disse, acabei não demorando, rs!

Antes do capítulo começar, queria dizer umas coisas.

1- Esse provavelmente é o maior capítulo da fanfic até agora.

2- haverá uma hora em que eu farei algumas referências a uma história de mangá, no caso, Katekyo Hitman REBORN!, que é o anime que eu tenho assistido adoidada já faz alguns meses e eu fiz menção à uma das sagas do anime.

3- FINALMENTE, HAVERÁ UMA CENA SHIZUO X TSUGUMI PROPRIAMENTE DITA!


Resumindo, é melhor você estar mentalmente preparado (a) para muita babaquice dessa vez 8D

Enjoy ~



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-Neh neh, Shizuo-senpai... Você... V-Você poderia ir passar a noite na minha casa?

-... COMO É QUE É?! –Shizuo engasgou ao ouvir tal pedido, arregalando os olhos; o rosto estava extremamente vermelho, não se sabe se era por constrangimento ou pela pura falta de oxigênio.

-Fique lá em casa hoje, por favor! – Tsugumi segurou as mãos do mestre e pediu mais uma vez – Não quero ficar sozinha! Por favor por favor por favooor!

-Que pedido sem cabimento! – bastou um movimento brusco com o braço para que ele se visse livre – São gangsters, não sequestradores! –demonstrou profunda irritação na voz.

Insistiu, mas o mestre tornou a negar, jogando mais algumas palavras injuriadas. Continuou a insistir, em vão.

Estava quase se contentando com a solidão em casa, com o medo que teria de suportar em seu apartamento; Continuava a olhá-lo com as orbes trêmulas; sua mente, ingênua, estava lotada de negatividades e péssimas expectativas.

“Eu vou ser sequestrada, com toda a certeza. Eles vão estar me esperando no portão”.

 Não precisou de muito tempo naquele estado para tornar a pedir que Shizuo fosse para sua casa, desta vez em pranto. Ele era a única figura, naquele momento, que realmente lhe inspirava segurança. Suas pernas, assim como seus braços, ombros e queixo, tremiam; sua voz falhara quando perguntou mais uma vez. O loiro respirou nervosamente; pareceu abalar-se extremamente com o estado da menina à sua frente.

Os olhos roxos de Tsugumi pararam de lacrimejar instantaneamente no momento em que o mestre colocou as mãos sobre seus lábios para calá-la e concordou em passar aquela única noite em sua casa, para a surpresa de Celty e Shinra, que já estavam mais do que prontos para acolher a menina mais uma vez em seu apartamento.

Shizuo levou uma das mãos às têmporas para massageá-las, estressado; não estava nem um pouco a vontade em passar a noite na casa dela, uma vez que não sabia nada sobre seu esquema familiar – apesar de ter sérias suspeitas de que os pais dela fossem totalmente despreocupados, ou simplesmente sem noção; ele então pediu desculpas aos anfitriões pelo incômodo e, segurando a menina pelo pulso, caminhou até o elevador e se foi.

Deixaram o prédio, caminhando lado a lado, calados, com os olhares fixados no horizonte noturno. Ela facilmente percebeu a sensação desagradável que o mestre estava sentindo, mas mesmo assim segurava na mão dele e sorria, calma; tentava partilhar um pouco de sua calmaria com Shizuo, cujo respeitava tanto. Mas nada conseguia tirar aquela expressão amarga do rosto do loiro.

A caminhada, por um bom tempo, foi tranquila. Até o momento que, por desejo incompreendido do destino, um grupo de membros dos Lenços Amarelos passava pelo mesmo caminho que os dois. Um calafrio correu por sua coluna espinhal, e, num ímpeto, agarrou-se ao robusto braço de Shizuo; Este, por algum motivo, pousou a mão sobre a cabeça da menina e passou reto dos membros da gangue, trazendo-a para perto de si. Seu coração bateu mais intensamente; seu rosto enrubesceu; de onde Shizuo tirara tal decisão tão repentina? Ficou bastante constrangida com aquilo, mas não tomou nenhuma atitude para que ele não o fizesse.

A cada dobrada de esquina, as casas e os demais edifícios pareciam cada vez mais novos. As paredes tinham tinturas mais vibrantes, o asfalto mais liso e até mesmo os postes brilhavam mais que os das outras áreas de Ikebukuro. Seria aquele o bairro mais caro? Imaginar que Tsugumi morava num lugar daquele e não havia contado fazia Shizuo sentir-se perturbado. Claro que não teve tempo de fazer uma única pergunta a respeito de qualquer coisa sobre ela – a única coisa que sabia, até então, é que a menina não era da cidade e que o admirava profundamente – mas mesmo assim, não era uma coisa agradável para quem a conhecia e com quem convivia havia alguns meses.

A pequena virava as esquinas e atravessava as ruas cada vez mais rápido, com passos aflitos, arrastando-o para um lado e para o outro; sentia como se toda sua fosse drenada e agora não passasse de um boneco de pano, enquanto a aprendiz guiava-o por aquele lugar tão rico na aparência; em certo momento, conseguiu acompanhar o passo desajustado da rapariga, que, logo depois, parou diante de um portão de barras de cor prateada, que era a entrada de um dos grandes prédios do bairro – Isso se não era o maior prédio propriamente dito. Tsugumi subiu a primeira barra horizontal do portão, pondo a cabeça para dentro, acenando com um sorriso para o porteiro, que permitiu a passagem deles abrindo o portão por comando automático.

-Boa noite, Amano-san. – saldou o porteiro, com um sorriso convidativo no rosto ligeiramente envelhecido – Você nunca trouxe ninguém para cá. Quem é o convidado especial?

-Boa noite, Yuzuku-san! – a menina não hesitou em retribuir o cumprimento, apesar de, também, não deixar o medo completamente oculto – Ah... – Olhou firmemente para Shizuo, que pareceu indiferente ao que ela iria falar – É meu primo.

Ficou surpreso com a mentira repentina, ainda mais com a ingenuidade com que o porteiro tomara a fala da menina como verdade; claro que, depois, percebeu que ela realmente queria ocultar sua identidade real, assim que aquele homem com uma aparência tão simpática começou a reclamar dos danos que “um louco vestido de barman” causou à casa dele e ao seu bairro nos últimos dias. Shizuo nunca antes havia parado pra pensar nos prejuízos que dava à cidade por causa das vezes que perseguia Izaya numa tentativa de mata-lo. Tinha muita sorte de que nunca o cobraram. Seria muito irônico para ele – cobrador de impostos – se viessem recolher dinheiro para os cuidados da cidade.

O portão de entrada do prédio logo se fechou e, cortando a fala do porteiro, Tsugumi despediu-se e foi subindo os degraus que restavam até o saguão de entrada, ainda levando o mestre pela mão. Atravessaram rapidamente o saguão e entraram em silêncio na cabine de elevador; foi questão de um segundo para a menina agarrar-se ao seu braço outra vez; ela só estava fingindo estar bem o tempo inteiro, para não ter de explicar a história ao porteiro, isto era claro.

Nunca fora de ficar imaginando situações, mas aquela sensação estranha de passar a noite num lugar em que você nunca esteve – principalmente sendo o apartamento da aprendiz adolescente – mas não conseguia evitar. Não sabia o que esperar. Estariam os pais dela lá? Não fazia ideia do que poderia lhe acontecer ali e isso estava mexendo um pouco com seu senso de lógica.

Quando chegaram ao nono andar, uma campainha aguda tocou, o elevador parou de subir e a porta de metal abriu-se, dando para um pequeno hall de entrada. Era realmente pequeno, parecia mais um corredor, que levava até a porta branca do apartamento, que pareceria um portal para um vazio infinito se não fosse pela maçaneta e olho-mágico de coloração dourada, este a quase dois palmos da cabeça da menina, que tinha severas dificuldades de girar a chave no buraco de fechadura. Shizuo, num singelo ato de ajuda, pôs a mão por cima da dela e girou a chave com facilidade, abrindo a porta na sequência. Tsugumi, por algum motivo que ele não conseguiu entender, sacodiu um pouco a cabeça e entrou súbita no apartamento, cabisbaixa. Estranhou, mas quando ela chamou-lhe a atenção, não tardou em entrar, sendo recebido carinhosamente por um tapete escrito “Bem-Vindo”.

Aquele era um apartamento grande, como pôde perceber pelo tamanho da sala de estar logo diante dele – como esperado de um lugar com “cara de rico”. Observou bem; os móveis com que a sala fora decorada (e o apartamento inteiro, provavelmente) eram caros, de aparência nova, muito bem cuidados e muito caros também, assim como os aparelhos eletrônicos que completavam a aparência moderna do local. Mas o lugar não deixava se ter seu toque adolescente. Em cima do sofá, haviam almofadas de coloração vibrante, bichinhos de pelúcia e um cobertor branco felpudo. No lugar onde normalmente haveriam poltronas, haviam pufes. Ao lado e abaixo da TV, havia uma estante cheia de mangás e bonecos de plástico, além de vídeo games. Na mesa de centro entre a televisão e o sofá, caixas de CDs de música espalhados.

-Seus pais... deixam você largar suas coisas pela casa? – ergueu uma das bonecas que estava na estante, uma que possuía orelhas de gato muito peculiares – Não vai me dizer que você também gosta disso... – logo lembrou-se da tão irritante Erika, que andava com seu antigo amigo Kadota, e irritou-se.

-Não mexe nas minhas coisas! – Tsugumi deu um tapa em sua mão, tomando a boneca para si e colocando-a de volta na estante – Meus pais disseram que eu posso fazer o que eu quiser enquanto eles estão em Osaka, eles me deram esse apartamento e esses móveis –jogou-se no sofá, com certo desleixo.

-Ahh... – pareceu esclarecido, ao mesmo tempo em que se chocou ao saber que ela estava vivendo sozinha.

Depois daquela primeira visão do esquema da família que Shizuo teve, a menina não parou mais de falar. Começou por contar a relação dela com o irmão, contou brigas de família. Falou sobre a mãe e pai que lhe davam tudo menos atenção, do irmão que a protegera até o momento de abandoná-la pelo que ele chamava de “causa maior” e que nunca dissera direito o que era exatamente e veio para Tóquio. Até confidenciou alguns de seus mais profundos segredos e medos. Confessou coisas que ele sequer pensara em perguntar. Aquilo tudo era lhe comunicado em gritos de raiva.

Raiva? Não. Aquilo era muito mais passional do que raiva ou revolta.

Estava começando a ficar nervoso com aquilo. Pensara sinceramente que, quando ele conseguiu fazê-la parar de chorar na casa de Celty e Shinra, ele não teria que consolá-la mais; Mas lá estava Tsugumi, em pé, do outro lado da mesa de centro, balbuciando tragédias de uma família rica, com os membros trêmulos e seus olhos retendo as lágrimas amargas em suas pálpebras, soltando alguns gemidos uma vez ou outra, quando tentava respirar apropriadamente.

-Fraca... Fraca... – passou a repetir quando não conseguiu mais criar sentenças, abaixando a cabeça e cerrando os punhos ao lado do corpo, segurando o tecido de sua saia azulada de colegial.

Não, ele não poderia mais manter-se parado, fazendo nada. Podia estar cansado de ter de consolá-la, mas cansava-o ainda mais vê-la chorar daquele jeito. Onde tinha ido parar a menininha alegre que estivera treinando nos últimos meses? Shizuo teve um ímpeto; não aguentava mais ouvir tantas coisas depressivas vindas daquela criaturinha. Repetiu várias vezes que chorar por tristeza ou raiva não era fraqueza, tentou convencê-la de todos os jeitos de que estava tudo bem, mas ela continuava a dizer que era idiota, fraca, que era culpa dela das coisas estarem como está. Aquilo já estava levando-o para um novo patamar de irritação. Shizuo aproximou-se abruptamente de Tsugumi, segurou o pulso da mesma com certa força (mas não suficientemente forte para machucar) e, olhando-a fixamente nos olhos com o rosto bem próximo dela, falou:

-Se você fosse fraca você não estaria aqui! – suas palavras tinham uma sonoridade forte - Você estaria morta, teria se matado se fosse uma fraca! Você não seria minha aprendiz se você fosse fraca como pensa que é! Você não é uma dessas adolescentes babacas que fica pensando em suicídio ou fica se lamentando o tempo inteiro! Não é! – deu uma breve pausa- Então pare de chorar por algo que aconteceu independentemente da sua postura e sorria! Você não tem noção do quanto um sorriso fica melhor no seu rosto do que essa choradeira! – finalmente parou, soltando devagar o pulso da menina, ofegante.

Por um instante, mas apenas um breve instante, se encararam em absoluto silêncio. Tsugumi pareceu tão absurdamente chocada que foi necessários poucos segundos para o rosto dela passar de um rosto assustado para um rosto de apenas surpresa, com o topo do nariz e as maçãs do rosto vermelhas; ela pareceu incrivelmente honrada de ouvir tais palavras de seu mestre – ao menos, assim pensou Shizuo, até o momento em que ela pediu para que ele a soltasse. Ficou absurdamente constrangido. Rapidamente, soltou o pulso da menina e levou a mão à nuca, constrangido. Acabara falando demais, intrometendo-se demais em sua vida. Pediu desculpas pelas atitudes.

-Não foi nada... – Tsugumi ficou tocando os indicadores, olhando para os lados – E-Eu deveria era agradecer... Foi muito bonito o que você disse... Eu acho.

-Se é assim... Não foi nada.

- Mas então, - soltou um breve riso – Tô com fome. Vou comer alguma coisa. O que quer jantar? – foi andando na direção da bancada que separava a cozinha da copa, que era unida à sala de estar.

-Por mim tanto faz. – foi seguindo-a com o olhar.

Tsugumi colocou várias vasilhas de comida retiradas da geladeira em cima da superfície lisa da pedra de mármore, oferecendo-lhe várias coisas, inclusive a possibilidade de saírem para comer qualquer bobagem numa lanchonete qualquer. Negou; preferia ficar ali mesmo, se não fosse incomodar.  Foi até a cozinha olhar melhor o que estava dentro dos potes, logo depois propondo algumas coisas que poderiam fazer com aquilo.

Conversa dali, conversa daqui. E nisso, o tempo foi passando.

Por que estar ali lhe trazia tanta segurança, ao mesmo tempo em que deixava uma sensação inconfundivelmente estranha em seu coração?

Depois da janta – que acabou sendo uma gororoba de coisas aleatórias que estavam na geladeira, que tinha um gosto melhor do que a aparência – e de conversarem algumas banalidades do dia a dia com um senso de humor um tanto alterados pelo sono pelas notícias babacas que estavam passando na TV naquele horário, arrumaram uma cama para que Shizuo dormisse no quarto sobressalente (mesmo que lá estivessem algumas caixas cheias de mangás que Tsugumi não tivera coragem suficiente para expô-los na prateleira), uma vez que ela jamais deixaria seu convidado dormir no sofá – mesmo que essa fosse a vontade do mesmo.

Deram boa-noite um ao outro e cada um foi para um dos quartos do apartamento, um em cada extremidade do corredor, de lados opostos; em busca de uma boa noite de sono. Mas a menina, ao contrário de seu mestre, não estava disposta à deitar na cama e esperar adormecer ao breu. Estava sem sono. Por isso, pegou um de seus preciosos volumes encadernados de mangá na estante num dos cantos de seu quarto decorado mais ou menos da mesma maneira que a sala de estar com um riso travesso guardado na garganta. Deixando o volume em cima da cama, sob o cuidado de seus inúmeros bichos de pelúcia, vestiu seu pijama e suas meias três-quartos e logo em seguida aninhou-se entre suas pelúcias, dedilhando as folhas de papel impressas de seu ‘amigo’ com o carinho de colecionador com que sempre o manejou. Desejou uma boa noite aos itens de cores vibrantes no quarto, acendeu o grande abajur ao seu lado e apagou a luz principal do quarto, começando a ler o conteúdo de seus quadrinhos.

“Ei, vai lá no outro quarto. Você já leu esse mangá. Vai lá. Dar só uma espiadinha... Não vai ser nada de tão ruim”.

Aquela frase apareceu em sua mente como o eco do badalar dos sinos de uma igreja, como aquelas que aparecem nos filmes hollywoodianos que assistia quando menor. A frase foi lentamente se extinguindo, sendo substituída por uma risada com um toque de perversidade. Estranhou que aquilo tivesse lhe passado na mente, mas apenas ignorou. Mergulhou fundo os olhos no enredo de ação de seu mangá; estava louca para ver a luta entre herói e vilão se desenrolar; aquela batalha desigual que era a graça da história, mesmo que fosse previsível.

“Vai lá. Você sabe que quer ir.”

Chacoalhou a cabeça semelhante à maneira que um cachorro se sacode para tirar a água fria de sua pelagem. Já havia uma hora que ela estava lendo e o sono ainda não vinha; sua mente não lhe dava paz já fazia um bom tempo, também. Tsugumi estava começando a perder a paciência consigo mesma. Que coisas péssimas de se pensar! Claro que seu dia havia sido péssimo, mas isso não era desculpa para pensar naquelas coisas. Ela não precisava estar perto para sentir a presença reconfortante de Shizuo. Sabia muito bem disso. Espirrou algumas vezes, seu nariz começara a escorrer; resolveu levar a mão à testa, ela deveria estar com febre.

“Pare de se enganar!”

Teve de abrir seu mangá mais uma vez, pois perdera a página no ato de socar-se; Estava determinada a terminar aquele volume naquela noite, nem que isto custasse todas as suas horas de sono – ela poderia repô-las durante as aulas, o professor nem notaria. A luta estava em seu auge; o herói estava perdendo; aos poucos, o vilão ia ajudando alguns de seus capangas para acabar com o herói e seus amigos de uma vez; os que assistiam do lado de fora estavam cada vez mais aflitos. Mesmo sabendo o que iria acontecer, por já ter lido aquilo algumas vezes, a menina roía as unhas, ansiosa pela reviravolta. Aquilo ganharia seu dia.

“Vai logo, você não vai se arrepender”.

Aquilo estava passando do grau de irritação que Tsugumi conseguia suportar; a dor de cabeça que estava sentindo estava pegando-a, também. Decidiu então ir até o banheiro tomar um daqueles remédios para dor de cabeça que sua mãe insistira em mandar com ela, para o caso de qualquer emergência. Com dificuldade, saiu do meio de suas pelúcias, calçou seu chinelo de dedo, pegou um dos bonecos com quem estivera abraçada até então e saiu de seu quarto, dando de cara com o corredor vazio e mal iluminado pela luz da lua. Nunca tinha reparado no quão assustador seu apartamento era às altas horas da noite. Queria ter tido a sorte de pegar um apartamento com suíte, mas não; ela tinha de atravessar o corredor todo pra chegar ao banheiro.

Permaneceu calma naquela situação até que seu dedinho do pé chocou-se com a porta do banheiro, que balançava ao vento que entrava pela janelinha ao lado do chuveiro. Tentou soltar um grito de agonia, mas o ruído nem chegou a sair de sua boca. Ficou lá, encostada à parede, soltando 1001 pragas contra a porta, segurando o pé machucado nas mãos. Depois daquilo, apenas desistiu de tomar o remédio e resolveu voltar ao seu quarto.

Estava a meio caminho da porta de seu quarto quando começou a ouvir alguns barulhos desconhecidos. Olhou ao redor, em pânico. Não havia nada nem ninguém no corredor além dela e seu bicho de pelúcia em seu colo. “Deve ter vindo do vizinho”, pensou. Virou-se para frente outra vez. Ia dar um passo para frente quando começou a ouvir gritos. Deveria ser alguém sendo assaltado na rua. Corujas começaram a fazer seus barulhos noturnos; Tsugumi podia ver sombras cruzando as paredes do apartamento, assombrosamente parecendo pessoas. Ela tremia de medo enquanto andava devagar para seu quarto.

Ela estava à um fio de entrar em total desespero... Ela estava quase em seu quarto... Quando ela ouviu um estalo alto do destrancar de uma porta. Arregalou os olhos, perdendo o fôlego. Lentamente, ouviu uma porta abrir-se, em sua mente, já podia ver a luz do elevador. Entrou em completo pânico. Aquele pequeno fiozinho que mantinha-a presa à realidade se rompeu.

Com passos bambos e os pés descalços se esbarrando (acabou por deixar os chinelos caírem no caminho), deu meia volta no corredor e correu para a outra extremidade deste, usando as pelúcia em suas mãos para cobrir a boca, ao mesmo tempo que usava-a como amortecedor dos impactos contra a parede, quando entrou no quarto de Shizuo, em desespero. Em primeiro momento, estava escuro e quieto lá dentro. Sentia o coração na boca e a respiração estava hyper acelerada.

-S-S-S-Shizuo-san, - não conseguia parar de gaguejar, em pânico – T-T-T-T-Tem alguma coisa aqui...

Nenhuma resposta. Tsugumi ficou um tanto perplexa com aquele silêncio. Ficou a olhar o breu, procurando que pudesse ajuda-la a se acalmar. Foi quando o vento soprou mais uma vez, tirando a cortina acinzentada do caminho dos raios brancos da luz da lua, que revelaram um lado de Shizuo que ela nunca havia visto e que nunca mais veria novamente: Lá estava ele, deitado na cama, dormindo profundamente; o moletom azul que vestia erguido até alguns palmos de seu umbigo, perto do peitoral, expondo todo o abdômen; a boca aberta, uma das mãos jogada no travesseiro ao lado da cabeça e a outra pendurada para fora do colchão, próxima de onde estava a menina; a franja toda bagunçada, deixando aparecer a testa; o elástico da cueca branca aparecendo por cima do cos da calça jeans toda amaçada e os pés mal cobertos pelo lençol branco. Parecia um adolescente dormindo agitado.

A adolescente ficou a mirá-lo, abismada. Aproximou-se um pouco mais da cama, de joelhos, abraçando a pelúcia fortemente, junto aos pequenos seios; ela sentia a respiração de seu mestre vindo diretamente em seu rosto. “Shizuo-san... fica tão... Fofo quando dorme...” tal pensamento a fez corar. Quando ele deu uma leve virada na cama, praticamente ficando frente a frente com ela, afastou-se um pouco. Olhou um pouco de longe. Ele parecia estar tão confortável ali, tão aconchegado, que dava vontade de deitar-se junto dele. Aquela foi a coisa mais estranha que ela havia pensado até então.

Mais estranho ainda foi quando ela realmente acabou fazendo o que pensou.

Chegou a manhã. O sol já havia nascido e a luminosidade invadia o quarto de uma maneira impossível de ignorar. Muitas vezes acordou durante a noite, mas caía no sono antes que pudesse perceber, de fato. Manteve-se de olhos fechados na esperança de dormir outra vez, em vão. Resolveu abrir seus olhos e levantar de uma vez.

Foi no ato de bocejar que percebeu algo duro abaixo de seu queixo e um peso por cima de seu braço.

Shizuo finalmente acordou para o mundo e se viu numa situação delicada.

Aconchegada entre seus braços e com a cabeça junta ao seu pescoço, Tsugumi dormia serena; entre os dois havia apenas um pequeno boneco de pelúcia macio. O que diabos havia acontecido aquela noite?! Não se lembrava de nenhuma ter ouvido ou visto algo em nenhuma das vezes que acordou durante a noite. Seria aquilo um sonho ruim? Estava tudo muito real para ser apenas um pesadelo. Decidiu tirar a prova: mordeu a língua com toda sua força e a dor fez com que se arrependesse.

Aquela era uma situação real; a aprendiz realmente estava adormecida ao seu lado. O mais surpreendente era o fato de que ele nem notara a presença dela; dormira confortavelmente de noite, como se não houvesse nada de errado. Sentiu seu rosto ficar mais quente naquele mesmo instante.

A primeira coisa que quis fazer foi acordá-la, mas quando se afastou para levantar e a menina se aproximou outra vez, provavelmente com frio, viu que suas tentativas de despertá-la seriam em vão; ela estava tão claramente confortável onde se encontrava que não estava disposta a sair dali por nada – além de que aquela expressão facial estampada no rosto infantil da rapariga tirou-lhe toda a coragem que tinha.

Bufou, frustrado. A ideia de ter de espera-la acordar irritou-o. Mesmo que estivesse com bastante sono, não se deixava relaxar. Não queria, em hipótese alguma, deixar o peso do braço sobre a frágil menina que jazia adormecida ao seu lado. Já era estranha a sensação de dormir num quarto que não o seu; não queria mais nenhuma memória desagradável ou constrangedora além das que já tinha; apenas queria que ela acordasse.

Shizuo teve um breve alívio ao lembrar-se que aquela era a manhã de um dia normal, o que significava que Tsugumi teria de acordar em breve. O despertador tocaria e toda aquela estranha situação chegaria ao tão esperado fim.

Ao finalmente conseguir algum alívio, seu sono foi crescendo, consumindo-o aos poucos. Lutava para manter os olhos abertos, mas a temperatura do ambiente e alguns outros motivos deixavam-no cada vez mais propenso a adormecer mais uma vez. No fundo, sentia-se extremamente confortável deitado ali. Foi lentamente perdendo os sentidos; os sons do lado de fora perdiam a relevância e sua mente enganava-o com sonhos curtos. Foi quando seu braço – que estivera meio erguido até então – cedeu lentamente ao cansaço, repousando sutilmente sobre o ombro de Tsugumi, relaxado.

Aquela tão estranha sensação...

Parecia até um sonho. Um estranho, porém agradável, sonho.

Que não tardaria em acabar.


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