Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 7
Capítulo 07 - Desconfiança


Notas iniciais do capítulo

Se você está aqui é porque não desistiu da história. Parabéns pela coragem! ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/138863/chapter/7

Neo: Por que doem os meus olhos?

Morpheus: Porque você nunca os usou


~Matrix (filme de 1999)

Capítulo 07 - Desconfiança

- Bem-vinda ao pesadelo do real - repete Tenório, com um leve sorriso - Como está se sentindo?

 Monalisa olha ao redor, olha as costas e as palmas de suas mãos e, por fim, olha para seu misterioso tutor.

- Não pareço ter mudado nem um pouco - responde.

- É. Não é perceptível mesmo. As coisas só vão mudar quando sair dessa papelaria e encarar o mundo lá fora.

- Ainda é difícil de acreditar que tudo isso seja verdade - murmura a garota, ainda temerosa do que estaria para acontecer.

- Mas você sabe que é a verdade, não sabe? Que outra explicação haveria para tantas reviravoltas na sua vida? O que aconteceu com você foi apenas o prelúdio de tudo que está por vir.

- Entendo - ela murmura, ainda achando tudo muito difícil de aceitar e entender.

- Bem, imagino que tudo ainda esteja muito nebuloso, mas você só poderá saber a verdade completa se conseguir sair do Labirinto. E devo adiantar que não será uma jornada nada fácil.

- Claro que não - ela concorda. Pelo que havia entendido da conversa até então, Labirinto era tudo que estava ao redor dela e todas as pessoas à sua volta sabiam tudo a seu respeito. Não sabia o porque disso, sabia apenas que estava lá e que, se ativasse os gatilhos corretos poderia ativar eventos que revelariam mais pistas sobre como sair daquela situação bizarra. O problema era como ativar esses eventos.

- Caso tenha alguma dúvida...pergunte agora. A partir do momento que sair dessa papelaria, eu voltarei a ser o dono da papelaria e não terei permissão de te responder mais nada.

 Essa era a regra máxima do Labirinto. Todos ao seu redor sabiam da verdade, mas não poderiam sequer tocar nesse assunto se não tivessem permissão para tal. E o único jeito de conseguir tal permissão já foi dito: ativar eventos, uma tarefa ingrata, já que essa ativação poderia ser qualquer coisa, qualquer ação em um mar de inúmeras possibilidades. Ela ainda custava a acreditar que tudo aquilo havia começado simplesmente por ela ter mudado seu caminho da escola. Uma simples escolha mudou tudo e a lançou em uma realidade totalmente estranha. Alguma dúvida ele disse? Ela tinha todas as dúvidas! E precisava perguntar o máximo que podia agora, ou o velho voltaria a ser como era antes assim que Monalisa saísse por aquela porta. Pelo menos era o que tinha entendido.

- Então..o senhor não vai se lembrar de mais nada quando eu sair da papelaria? 

- Hoho. Claro que vou. Achei que tivesse dito que todos sabem tudo sobre você.

- Mas...

- Acontece que só tenho permissão para falar abertamente enquanto o evento estiver ativado. Assim que sair daqui, terá que se virar por conta própria.

- Mas eu não tenho a menor ideia do que fazer! Nem perguntei todas as minhas dúvidas!

- Então pergunte. Pode perguntar o que quiser enquanto estiver aqui dentro.

- São tantas coisas, mas...acho que vou começar do começo. Meus sonhos. Tudo começou com um sonho esquisito que tive e..

- Sonhos, é? - interrompe Tenório - Sei bem do que está dizendo, mas...não posso revelar nada sobre isso, por enquanto.

- Como? Não pode falar?

- Mas posso dizer algo importante sobre seus sonhos em geral.

- O que é?

- Enquanto você dorme, o Labirinto continua agindo. No entanto, ele consegue agir de forma mais livre.

- Como assim? Não entendi.

- Quando você está acordada, está consciente da realidade ao seu redor e sabe que ela precisa seguir algumas regras básicas. São as regras do Labirinto: tudo precisa ser mostrado a você como se fosse completamente inocente. As leis da Física, as leis naturais, os resultados da História que te contam no colégio, tudo é devidamente programado para você pensar que está em um mundo normal e todas essas regras funcionam perfeitamente, sem que você nunca suspeitasse de nada a não ser que ative os gatilhos corretos.

- Hmm...sei...o Labirinto precisa mentir para mim...entendo, mas e quanto aos sonhos?

- Quando você dorme, o Labirinto pode se moldar à vontade na sua mente e criar infinitos tipos de situação. Digamos que o Labirinto não te abandona nem mesmo quando você está dormindo.

- E imagino que você não possa dizer o porque disso, não é?

- Desculpe. Não posso. Mas...posso te dizer que seus sonhos são importantes, porque é lá que o Labirinto sempre agiu de forma mais aberta, mesmo quando você não tinha consciência disso.

- Então...ele também age enquanto estou dormindo..

- Embora o que você decida no sonho não interfira no seu estado de vigília. O que realmente importa é quando você está acordada. 

- Ai, peraí, está começando a ficar complicado. Afinal, tem diferença estar dormindo ou estar acordada?

- Não precisa entender tudo agora - Tenórito tenta acalmá-la - Apenas que o Labirinto é a realidade que se apresenta a você, quando está acordada, mas essa realidade também pode se comunicar com você enquanto está dormindo.

- Então...meus sonhos são apenas uma maneira do Labirinto se comunicar comigo enquanto estou dormindo?

- Isso mesmo. Ele nunca te deixa em paz, mesmo quando está dormindo. O fato é que você, Monalisa, está realmente dormindo na sua cama, quentinha, no seu quarto. Mas continua recebendo as mensagens do Labirinto direto na sua mente.

- Então...não tenho paz nem quando durmo - ela pensa, colocando a mão direita no queixo de forma pensativa - Preciso mesmo descobrir o porque disso tudo..

- Esse é o seu desafio - diz Tenório - Mas ainda não expliquei o porquê de dar tanta importância aos seus sonhos.


 Monalisa volta sua atenção para o velhinho. E a próxima parte seria realmente importante.

- Acontece... - continua Tenório - ...que seus sonhos são mensagens do Labirinto e agora que aceitou o desafio, é através dos sonhos que você poderá receber pistas sobre seus próximos passos.

- Pistas?

- Sim. Você teve que ativar o primeiro gatilho sozinha e entrar no primeiro evento sozinha. Mas você também teve a oportunidade de recusar tudo isso e voltar a ter uma vida normal, ignorando tudo isso, que era a intenção inicial. Contudo, você escolheu aceitar o desafio e agora seus sonhos não serão mais tão inocentes.

- Então...as pistas virão pelos meus sonhos - compreende ela.

- Isso mesmo. O conselho que posso te dar é usar com sabedoria o caderno de sonhos que você comprou.

- Aquele caderno que comprei aqui, então, desde o começo... - Monalisa se levanta - Espere um pouco! Espere!

- O que foi? Aconteceu algo?

- Se o Labirinto manipula meus sonhos, como posso saber que também não manipula meus pensamentos? E se vocês me forçaram a mudar o caminho da escola, assim como me forçaram a escolher a água? Como posso garantir isso? Heim?

- Hohoho. Entendo sua colocação - ri Tenório - Mas, como disse, o Labirinto é o que está fora de você. Ele não pode interferir nas suas escolhas. Você ainda tem livre arbítrio.

- Será mesmo?

- Está cada vez mais desconfiada, heim? Não se preocupe. Você pode raciocinar e decidir tudo por si mesma. Manipular seus sonhos não significa manipular sua mente. O Labirinto apenas tem uma maneira de se comunicar com você mais abertamente, mandando mensagens que aparecem na forma de sonhos. Só isso. Você não escolhe o que vai sonhar porque seus sonhos não dependem de você, mas tudo que depender de você é uma escolha sua. Mudar o caminho da escola foi decisão sua, assim como tomar a água e assim como comprar aquele caderno.

- Certo...então posso garantir que controlo minha vida...

- Claro. Perfeitamente. O Labirinto apenas reage de acordo com as escolhas que você faz. Mais alguma pergunta?


 Tinha muitas, mas achou melhor focar no mais importante.

- O senhor não pode dizer mesmo o que significam meus sonhos, não é?

- Desculpe. Não tenho permissão para isso.

- Então...pode me dizer o que significa essa senha "dedaLus"?

- Também não posso informar.

 Monalisa começa a ficar nervosa. O que ele podia falar? Nada?

- Tudo que posso dizer... - ele continua - ...é que você guarde bem esse nome. Dependendo de onde você conseguir chegar, ele vai ser muito importante.

- Mas isso é tudo que o senhor pode falar, não é?

- Sinto muito...bem, no máximo posso dizer que a letra L está em maiúscula justamente porque remete a Labirinto.

- Então..L é de Labirinto?

- Sim. É porque essa é a senha que permite falar sobre o Labirinto em um nível básico.

- Nível básico?

- É. Apenas o essencial. Que é o que estamos fazendo agora. Eu apenas apresentei a você a ponta do iceberg. A verdade...é mais profundo do que isso, evidentemente. Mas isso é algo que você terá que descobrir sozinha.

- Que eu terei que descobrir...- ela repete - ...pode ser bem difícil, não é?

- Muito difícil. Como eu disse, escolher o desafio, significa colocar em jogo sua própria sanidade sobre o mundo. E você vai perceber isso rapidamente.

- O que quer dizer?

- O que já disse antes. Assim que sair por aquela porta esse evento irá terminar e voltarei a ser o pacato e gentil dono da papelaria. Mesmo sabendo sobre tudo que está havendo, não poderei dizer nada.

- Então...não posso entender isso como perda de memória, o senhor realmente não poderá dizer, por mais que eu pergunte.

- Não apenas eu. Qualquer criatura à sua volta não poderá dizer nada, mesmo sabendo tudo sobre sua vida. Mesmo que você nos mate, não falaremos nada.

- A regra é tão forte assim?

- Mais do que você imagina.

  Era no mínimo assustador. Não só saber que o mundo todo conspira contra você, mas também saber que por mais que se esperneie, tente, ameaçe, nunca você terá uma resposta direta do mundo. Ela teria que procurar as pistas certas por si mesma se quisesse chegar em alguma resposta, mas sabia que não seria fácil. Ela escolheu a verdade, mesmo tendo consciência do quanto seria difícil.

- Creio que essas são as informações mais básicas que posso te dar - diz Tenório - Você tem mais alguma pergunta? Embora, repito, posso não ter permissão de te responder.

 Pela pouca experiência que teve, ela percebe que não teria mais informações do que aquela. O Labirinto se revelaria aos poucos, bem aos poucos. A garota se levanta, joga seu copo de plástico no lixo e decide que era hora de começar seu desafio.

- Não. Acho que agora...só posso depender de mim mesma, não é?

- Vou perguntar de novo: como está se sentindo?

- Sinto que estou com mais dúvidas agora do que quando entrei - responde a loirinha.

- Hohoho. Foi o que pensei. Bem, lembre-se sempre que a escolha foi sua. A partir de agora, você tem consciência do Labirinto e ele, por sua vez, tem consciência disso. Todos lá fora saberão do que você sabe, mas agirão como se nada tivesse mudado. 

- Entendi. Por mais que eu tente, eles não me falarão nada, não é verdade?

- Nada. Mesmo que você os torture até a morte. 

 Monalisa fica em silêncio por alguns instantes. Não sabia como iria viver naquele mundo sabendo de toda aquela conspiração. Mesmo assim, teria que sair e enfrentar o Labirinto de uma vez por todas.

- Então, está pronta?

- Nem um pouco - ela responde - Mas, não posso ficar aqui para sempre, não é?

- Bem, então nosso assunto acaba aqui. Espero que um dia possa ter permissão de conversar abertamente com você de novo.

- Como pode desejar isso? Você saberá tudo que acontece comigo, conversando ou não.

- Hohoho. É verdade. Você pega rápido as coisas.

 E assim foi. Monalisa agradece a água e as informações (mesmo sendo poucas) e sai da papelaria. Ou quase sai. Ela vai colocar os pés para fora, mas hesita por alguns instantes.

- Difícil, não é? - repara Tenório.

- Quando sair...estarei por mim mesma, não é? - ela pergunta, mais uma vez.

- Sim. Não terá mais volta. Caso ainda tenha alguma questão...faça agora.

 Ela não acha que teria qualquer outra resposta. Tudo que ele disse sobre o Labirinto era absurdo demais para qualquer pessoa com o mínimo de bom senso. Seria difícil. Muito difícil. Mas não se arrependia nem um pouco de ter tomado o copo com a água.

- Acho que já ouvi o suficiente por hoje - diz ela.

- Imagino como está se sentindo - na verdade, ele sabia como ela estava se sentindo - Mas é impossível te dizer o que é o Labirinto apenas com palavras, você terá que ver por si mesma assim que sair por essa porta.

- Certo. Agora...não tem mais volta.

 Apesar de ainda estar temerosa, ela respira fundo e caminha lentamente pela porta da papelaria. Enfim, saiu. Céu nublado, uma ou outra pessoa andando na rua, pombos voando do outro lado. Estava fora. E, ao mesmo tempo, mergulhada no Labirinto que ela só teve consciência agora. Então era isso? Esse mundo inteiro à sua volta era totalmente forjado para ela. O chão que pisava, as árvores, os animais, as pessoas. Indo mais longe, todas as leis naturais que aprendeu na escola eram apenas regras do capricho do Labirinto: uma coisa cai no chão apenas para fazê-la acreditar que existe gravidade, mas isso também devia ser mentira. Embora, se a regra para as pessoas também se aplicasse à Física, ela nunca veria algo de diferente acontecer. E a História? Tudo que ela ouviu sobre descobrimento da América, processo de Independência, Idade Média...nada disso pode ter acontecido. Ou, mais assustador ainda, tudo pode ter acontecido apenas para moldar o Labirinto da forma que ela acreditava estar vendo.

 Monalisa fica parada por mais alguns instantes em frente à papelaria, observando os acontecimentos ao seu redor. Tudo parecia exatamente do mesmo jeito de antes. Nada havia mudado. Difícil de acreditar que tudo aquilo não passava de uma conspiração contra ela. Poderia ter sido toda aquela conversa apenas imaginação? Isso não seria um caso para ser tratado? Mas ela sabia que a conversa foi real. Se fosse mentira, como o dono da loja saberia tanto? E como ele poderia falar tudo aquilo com tanta convicção? Não podia ser apenas um bom ator. Ou poderia? Mas porque ele diria tantas coisas absurdas para ela? Se voltasse lá, ele realmente não iria falar mais nada? Tinha um jeito de descobrir. Ela dá meia volta e entra novamente na papelaria.

- Boa tarde - diz seu Tenório, que varria o chão com a expressão simpática e gentil de sempre.

- Boa tarde - cumprimenta Monalisa.

- Você...esteve aqui ontem, não esteve?

- Err...estive - responde a garota, tentando ao máximo parecer calma - Gostaria de...comprar uma caneta.

- Temos várias. Fique à vontade para escolher.

 Não precisava nem conversar muito. A personalidade dele havia retornado exatamente ao que era. Mesmo assim, ela precisava testar.

- Tem...algum papel para eu testá-la? - pergunta Monalisa, ao escolher uma caneta esferográfica qualquer.

- Claro - diz o velhinho, entregando um pedaço de rascunho para ela.

 A garota escreve novamente a palavra "dedaLus" e mostra ao velhinho. Ele não reage.

- "dedaLus"? Quer dizer alguma coisa? - ele pergunta, sem perder o bom humor.

- Não...não é nada...apenas o nome de uma empresa que me veio à cabeça agora. 

- Hoho. Entendo. Vai levar?

- Sim.

 Era inútil. O evento não iria se repetir novamente. Ela compra a caneta e sai da loja de novo. Seu Tenório voltou a ser o que era, embora ele soubesse tudo que estava se passando. O coração dela começa a bater mais forte. Ele sabia, mas não iria contar nada, mesmo que fosse ameaçado de morte. Como pode uma lei ser tão forte? Tudo isso só para enganá-la? Só para isso?

 Monalisa olha para seu relógio de pulso. Já passava das duas. Tinha perdido seu curso de inglês, mas isso não era importante. Aliás, a professora já sabia o motivo de sua falta. Todos sabiam. Mas o pior de tudo é saber que todos sabem. Talvez você não consiga entender como é estar na pele dela e nem ela mesma podia imaginar que seria tão angustiante antes de sair da papelaria.

 A garota anda mais alguns metros na intenção de ir para casa, quando ouve um miado. Era o gato preto que andava pela vizinhança. O gato...até mesmo os animais eram parte do Labirinto. A garota ouve mais um miado, mas ignora, indo na direção do ponto de ônibus. Primeiro em passos lentos, depois passos rápidos e, por fim, correndo. Do que estava correndo? Não podia fugir. Mesmo que corresse, ainda estaria na mesma situação. 

 Já no ponto, ela se senta timidamente no banco, enquanto ouvia as pessoas à sua volta. Nunca tinha parado para perceber quanta gente podia estar num simples ponto. Próximo a ela, havia uma senhora que devia ter seus 70 anos conversando com outra mulher morena mais jovem.

- Nossa...esses ônibus estão cada vez mais demorados, né? - diz a senhora.

- E a tarifa só aumenta. Que absurdo! - responde a mulher.

 Perto dali, dois rapazes adolescentes, provavelmente do Ensino Médio, estava conversando sobre futebol. Não muito longe do ponto, podia-se ouvir um vendedor de pipoca. Do outro lado da rua, um mendigo pedia esmolas.

 "Não...não pode ser...todas essas pessoas sabem que estou aqui, sabem quem eu sou, mas agem como se não soubessem", pensa Monalisa, "E eu não posso cobrar nada delas. Nada. Todas só vão mentir e mentir sempre"

 A agonia dela não desaparece depois que seu ônibus chega. Ela paga a passagem, encontra um assento livre (o ônibus estava praticamente vazio) e continua a pensar em tudo aquilo.

 "Mesmo essa meia-dúzia de pessoas no ônibus", pensa ela, "Estão todas mentindo? Não conheço nenhum delas, mas todas me conhece e rirão de mim assim que eu descer do ônibus? Assim como as pessoas que ficaram no ponto. Sim. Devem estar todas se divertindo às minhas custas agora...e eu...eu não posso provar nada. Nada!"

 Mesmo que quisesse esquecer tudo e pensar que sua conversa com Tenório não tenha passado de uma ilusão, a ideia não conseguia abandonar sua mente. O que impediria de tudo realmente não passar de uma armação? Tudo conspirava para fazê-la acreditar que era verdade, mas como podia provar que era? E também não podia provar que não era. Todos diriam que estava louca. Talvez ela já estivesse louca, mesmo antes de tudo aquilo começar. Não conseguia se concentrar em nada. A ideia de que tudo não passava de uma mentira martelava cada vez mais em sua cabeça. Ao descer do ônibus, quase é atropelada por um carro ao atravessar a rua, tamanha era sua distração.

- Olha por onde anda, garota! - reclama o motorista do veículo. Por que estava reclamando? Ele também sabia o motivo da distração dela, não sabia? Ao chegar em casa, só conseguiu se jogar na cama e olhar para o teto, sem saber o que fazer ou o que pensar. O mundo todo era uma mentira. Nem mesmo aquela casa era segura. Não passava de uma armação. Sua casa, suas coisas, seus pais. Seus pais? Como iria encará-los depois de saber tudo aquilo? E, de fato, seu jantar daquela noite foi realmente incômoda.

- Como foi seu dia, filha? - pergunta sua mãe. A mesma pergunta de sempre. E agora Monalisa sabia que ela sempre soube de tudo.

- Normal - responde ela.

- Você parece meio preocupada hoje - percebe a mãe. O pai continuava no palmtop, em pleno jantar, resolvendo algum assunto - Aconteceu alguma coisa?

- Não..não é nada - diz a garota, voltando seu olhar para a carne do seu prato.

- Se você diz - a mãe também volta o olhar para o prato e continua a comer. Seus pais sempre foram meio ausentes, mas era ainda mais angustiante imaginar que, além da falta de afeto, seus próprios pais mentiam para ela o tempo todo. Monalisa era fria, não muito amorosa e racional demais para a idade dela, caso contrário teria aberto o berreiro e despejado tudo que ouvira de Tenório na cara dos pais. No entanto, ela sabia que seria taxada de louca se fizesse isso. Além do mais, não podia falar de tudo aquilo como se fosse uma certeza absoluta. Por mais que acreditasse ser verdade tudo que ouviu sobre o Labirinto, ainda tinha uma leve esperança que tudo ainda fosse só balela. Mas sempre que pensava isso, sua razão atacava dizendo que não podia ter outra explicação lógica para seus sonhos estranhos e a ação daquela senha misteriosa. 

 O que poderia fazer? Monalisa vai para a cama, sentindo que iria enlouquecer antes mesmo de descobrir qualquer coisa sobre o Labirinto. Precisava manter a calma. Se não fosse tão fria, já teria enlouquecido assim que saiu da papelaria. Sim, precisava usar seu lado racional a seu favor. Havia decidido enfrentar o Labirinto e não iria se entregar tão cedo.

"Vou descobrir a verdade sobre tudo. Custe o que custar", ela pensa, "Mesmo que leve a minha vida inteira"

 Então adormece...e começa a ter mais um sonho...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

"Sinto que estou com mais dúvidas agora do que quando entrei" Espere só os próximos capítulos Até lá! ^^