Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 6
Capítulo 06 - Labirinto


Notas iniciais do capítulo

Depois de ler esse capítulo, das duas uma: ou vocês desistem da história ou viram fãs de vez. XD Bem, vamos a ele.



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 "Vou te dizer porque está aqui. Você sabe de algo. Não consegue explicar o quê. Mas você sente. Você sentiu a vida inteira: há algo de errado com o mundo. Você não sabe o que, mas há. Como um zunido na sua cabeça te enlouquecendo. Foi esse sentimento que te trouxe até mim. Você sabe do que estou falando? Você deseja saber o que é a Matrix? A Matrix está em todo lugar. À nossa volta. Você pode vê-la quando olha pela janela ou quando liga sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai à igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para que você não visse a verdade." 

~ Morpheus (Matrix, filme de1999)

Capítulo 06 - Labirinto

 Sr. Tenório pede que Monalisa o siga até uma pequena sala na parte de trás do balcão. Ela acompanha o velhinho, ainda tentando entender por si mesma o que estava ocorrendo, mas era estranho demais para que se tivesse qualquer raciocínio. Ele mudou totalmente de personalidade apenas porque a garota mostrou a palavra dedaLus no papel. Qual a razão disso? E o que ele sabia? Precisava entender. 

 Ela entra na salinha em passos lentos. Um cômodo realmente pequeno com pisos de azulejo floral que não combinavam em nada com as paredes velhas em volta. No centro, havia uma mesinha, cercada por cadeiras baixas. Encostado à parede, havia uma peça de madeira com armário e algumas gavetas. Sobre a peça, duas garrafas térmicas, uma azul e uma vermelha, acompanhadas de pilhas de copos de plástico para água e café.

- Posso servir alguma coisa? Água? Café? - oferece Sr. Tenório, cordialmente.

- Não quero nada - responde Monalisa, impaciente, embora fizesse todo o esforço para não parecer rude - Só quero...entender o que está se passando pela minha vida

- Muito bem - diz o velhinho - Sente-se, por favor. Temos muito o que conversar.

 Embora Monalisa não tivesse aceitado nada, Sr. Tenório pega um pouco de café da garrafa térmica vermelha, senta-se na mesa, toma um gole demorado e suspira.

- Então..o que está havendo? - pergunta a mocinha, sentada e ansiosa para receber alguma explicação.

- O que está havendo? - repete o velho, em seguida, tomando mais um gole de café - Você disse que está passando por situações estranhas. Por que diz isso?

- Tenho tido sonhos esquisitos e...recebi um e-mail da sua papelaria com aquela palavra.

- Palavra?

- "dedaLus" - repete Monalisa, já começando a achar que o velhinho estava zombando dela - O senhor só reagiu a ela depois que eu escrevi.

- Sim, sim. Só podia ser daquele jeito.

 Ele falava como se fosse tudo natural, mas será que se esquecia que a garota não estava entendendo nada? Afinal, o que era tudo aquilo?

- O senhor pode me explicar o que está havendo ou não?

- Quer saber...sobre os sonhos ou sobre a palavra?

- Sobre tudo! - dessa vez, ela não se preocupou em ser ríspida - O que está acontecendo comigo?

- Ou o que aconteceu com você, não é? - diz o velhinho, tomando mais um gole de café, terminando seu copo e dando mais um suspiro de cansaço - Diga...desde quando essas coisas estranhas estão acontecendo com você?

- Há menos de uma semana

- Menos de uma semana, hã? - ele faz uma pausa - Tem alguma ideia de como isso pode ter começado?

 Monalisa fica pasma por alguns instantes. Não era exatamente isso que ela queria saber? Já estava achando que ficou louca mesmo.

- Mas é isso que eu quero que o senhor me fale! - retruca a garota.

- Não consegue pensar na primeira coisa estranha que te aconteceu?

- Foi um sonho de uma...

- Não. Antes desse sonho - ele interrompe - Alguma coisa aconteceu antes do seu sonho.

 A menina começa a ficar confusa. A primeira coisa estranha que ocorrera com ela foi sonhar com Ariadne e encontrá-la em sua sala logo no dia seguinte, mesmo nunca ter visto aquela menina na vida. O que podia ter ocorrido antes? Tudo parece ter começado ali. Sua vida sempre foi completamente sem graça antes daquele ponto.

- Desculpe. Mas a primeira coisa que me aconteceu foi mesmo o...

- Tem certeza de que não aconteceu nada de diferente antes desse sonho? Alguma coisa que você tenha visto ou mesmo que tenha feito...que fosse diferente do usual

 A garota coloca a cabeça para trabalhar mais um pouco, mas não consegue pensar em nada de extraordinário que tenha visto ou feito nos últimos dias. No máximo, fez um caminho diferente para chegar à escola. Só isso.

- Não, nada.

- Mesmo? Não mudou nada na sua rotina nos últimos dias?

- No máximo fiz um caminho diferente para chegar na escola

- Ah - Tenório balbucia, levantando-se e pegando mais um copo de café - Conte-me mais sobre esse caminho diferente

- Nada demais. Ao invés de seguir reto pela rua do ponto de ônibus, resolvi dar a volta no quarteirão. Só isso.

- Sim. Foi aí que tudo começou.

 Naquele momento, Monalisa realmente começou a ficar confusa. 

- Desculpe, seu Tenório, mas...o que simplesmente dar a volta no quarteirão tem a ver com o que está acontecendo comigo?

- Tem tudo a ver - responde ele - Porque essa mudança de caminho...ativou um evento no Labirinto.

 Agora ela arregala os olhos de vez. O que foi que ele disse? Labirinto? Talvez devesse mesmo admitir que estava ficando louca. Ela joga um pouco do cabelo para trás, respira fundo e pergunta:

- O que disse?

- Os acontecimentos anormais que está vivenciando são resultado de sua escolha, Monalisa. Essa escolha foi o gatilho que ativou um evento no Labirinto. Mas...imagino que esteja se perguntando o que é o Labirinto?

- Sim. Desculpe, não entendi o que quis dizer...

Ele pigarreia um pouco, entrelaça as mãos, dá mais um suspiro e inicia uma fala que mudaria a vida daquela loirinha para sempre.

- Um labirinto é qualquer lugar criado para dificultar a saída de quem entre nele.

- Sim, eu sei o que é um labirinto, mas ainda não entendi que relação isso pode ter com a minha vida.

- Se você soubesse...talvez esteja pensando em uma construção cheia de corredores intricados e armadilhas, não é?

- Sim....isso é um labirinto, não é?

- Sem dúvida que é. Mas...labirintos normais são diferentes do seu Labirinto.

- Por que meu labirinto? Como assim? Eu...

- Ouça pacientemente, sim? Vou tentar explicar a situação. Você, Monalisa Fontes, está presa no Labirinto desde que começou sua existência.

- Como?

- O Labirinto não é um lugar limitado no tempo e no espaço como você está pensando. O Labirinto é simplesmente onde você está agora. Essa sala, essa cidade, eu, a mesa, a papelaria, as pessoas ao seu redor, seu artista de televisão preferido, seus pais, seus amigos...tudo é o Labirinto.

- Tudo? Espere...isso não faz sentido algum. Não sei onde quer chegar.

- Se quiser um ponto inicial para pensar: o Labirinto é tudo que está fora de você mesma. Não é um simples espaço físico cheio de caminhos bagunçados. Você anda pelo Labirinto simplesmente por estar vivendo sua vida. Entenda. Sua vida é o Labirinto.

- Minha vida...quando o senhor fala a minha vida, está..

- Exatamente. O Labirinto foi feito só, e somente só, para você.

 A mocinha coloca as duas mãos na cabeça e tenta digerir o tipo de conversa que estava se tratando ali. Aquilo não podia ser sério, podia? Na certa, estava louca ou com princípio de esquizofrenia. Não precisava mais ficar ali, precisava? A resposta era óbvia. Havia enlouquecido.

- Já basta - diz a menina, se levantando - Não preciso ouvir mais nada

- Onde vai?

- Essa explicação é absurda e não faz o mínimo de sentido. Eu devo ter ficado louca. É. É isso. Eu enlouqueci. O senhor deve estar falando coisas totalmente diferentes do que estou imaginando. Melhor ir embora antes que piore...

- Deseja mesmo ir embora? Bem, claro que pode fazer isso, mas nesse caso o evento que você ativou não terá servido de nada. Tem certeza?

- Evento? Evento...Labirinto...eu...eu...não estou entendendo mais nada.

- Monalisa. Eu entendo que esteja achando tudo muito confuso, mas recomendo fortemente que tome uma decisão apenas depois de ouvir tudo que tenho a dizer até o fim.

- Não quero ouvir nada!

- Claro que quer. É aquilo que você mais deseja. Essa é a sua oportunidade de conhecer a verdade. E você sabe que, no momento, sou a única pessoa que pode te dar respostas. Caso contrário, não teria vindo até aqui.

 A garota suspira e resolve voltar. Tudo bem. Iria escutar a história até o fim. Coisas estranhas a mais não pareciam fazer diferença naquela altura e para acontecimentos fora do comum, seriam necessárias explicações fora do comum.  Ela retorna, senta-se na cadeira, recoloca a mochila no chão, ao seu lado e coloca as mãos sobre o colo. 

- Está bem. Tentarei ouvir tudo o que o senhor tem a dizer, mas perguntarei tudo que puder.

- Sinta-se à vontade para me interromper. Estou aqui para isso. Aceita água?

 Dessa vez ela aceita. Tenório pega a garrafa azul, enche o copo dela e continua o diálogo.

- Bem, bem, onde estávamos?

- Comece novamente - pede Monalisa - Ou melhor, explique de novo...o que é o Labirinto?

- Eu já disse. O Labirinto é tudo que está fora de você mesma.

- Em resumo, o mundo é o Labirinto.

- Exatamente.

- E desde quando estou nesse Labirinto?

- Desde o momento em que você entrou nele - responde o velhinho, o que não era a melhor das respostas.

- Você fala...desde que nasci?

- Bem, essa é uma informação que eu não posso te dar por enquanto.

- Como assim? Achei que o senhor fosse me explicar tudo!

- Tudo que estiver ao meu alcance.

- O senhor não sabe?

- Sim, eu sei. Apenas não tenho permissão para te explicar.

- Permissão? Como assim? Basta dizer e..

- Errado. Não posso te contar tudo. 

- Por que não?

- Porque isso é contrário às regras do Labirinto

- Regras do Labirinto? Espere, como assim, "regras"?

- O Labirinto tem suas próprias regras, Monalisa. E eu não posso fazer nada contra elas. Ninguém pode.

- Então...também existem regras?

- Muitas e muitas regras - repete Tenório - A primeira delas é..nunca dizer nada sem permissão. Por que acha que nunca ninguém te falou sobre isso antes?

- Espere um pouco. Quer dizer que todos à minha volta sabem o que está se passando?

- Claro que sim. Todos. Eu já disse: o Labirinto é tudo que está fora de você. Tudo, tudo, não importa o país, a língua, a localização, se você conhece a pessoa ou não. Simplesmente tudo à sua volta sabe sobre você.

- Absurdo...totalmente absurdo - murmura a garota - Nada disso pode ser verdadeiro.

- Difícil de acreditar? Imagino...mas como explica o fato de um dono de loja desconhecido saber tanto sobre você? - ri Tenório - Todos ao seu redor te conhecem, Monalisa. Eu sou apenas um deles.

 Era tenebroso, mas fazia sentido. Como um simples dono de papelaria poderia saber tanto de uma garota que ele nunca viu na vida? No íntimo, ela tinha mesmo convicção de que Tenório falava a verdade. Mas que verdade terrível é essa? Uma enxurrada de pensamentos insanos invadia sua mente sem trégua. Então...tudo, todos à sua volta eram cúmplices desse sistema chamado Labirinto? Até mesmo sua família e amigos? Ela sente até seu último fio de cabelo arrepiar. Fica pálida, ainda mais pálida que sua pele branca natural. Se o que aquele velho acabou de dizer é verdade, então ela é vigiada o tempo todo. Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Sem paz, sem descanso. O Labirinto está por toda parte. E se tudo sabe tudo sobre ela, então...ela simplesmente não tinha nenhum meio de escapar. Até mesmo o que ela julgava mais seguro não passava de uma armadilha.

- Não pode...estar falando sério. Isso é impossível... - é tudo que ela pronuncia, ainda pálida e suando frio - Se isso for verdade, então...tudo à minha volta é uma ilusão?

- Não diria uma ilusão, mas uma mentira. Na verdade, tudo à sua volta esconde alguma coisa de você. Cada pessoa que você conhece, cada pessoa que você não conhece, cada pessoa de quem você ouviu falar, toda aquela multidão na rua, todos os seus colegas de sala, todas as pessoas que pegam ônibus com você. Tudo e todos sabem quem você é, sabem o que você é, e, a melhor parte, sabem onde você está. E todos são reais. O Labirinto é real, pelo menos enquanto você estiver dentro dele. Essa é a sua realidade. No entanto, todos precisam seguir as regras...e a regra principal é: não revelar nada sem permissão.

- Mas se está me contando isso..

- Só estou te contando isso porque você conseguiu ativar eventos que me deram permissão de falar sobre o assunto.

- Eventos - ela repete - Você fala...quando mudei meu caminho?

- Exatamente. Embora eu saiba, não posso te falar qual o objetivo final do Labirinto, mas o plano até então seria deixá-la vivendo sua vida normalmente, sem dar nenhuma brecha para que você sequer imaginasse a verdade. No entanto, quando você resolveu mudar seu caminho para a escola, ativou um evento especial no Labirinto que desencadeou outras possibilidades. Uma delas foi receber a senha "dedaLus", que, ao ser mostrada a mim, por você, ativou o evento que me permitiu contar a verdade.

- Tudo isso...só porque eu mudei meu caminho...

- Hohoho - ri o velho - Isso é o Labirinto. Você pode ativar eventos por toda a parte, o que gera possibilidades infinitas. Talvez você conseguisse ativar outro evento, em algum outro lugar, em alguma outra ocasião e outro Tutor poderia te contar a mesma coisa.

- Tutor?

- Sim. Com os eventos que me cabem desativados, sou apenas Tenório, o dono da papelaria. Com os eventos corretos ativados, sou um dos praticamente infinitos Tutores que você poderia encontrar.

 Era muita coisa para a cabecinha dela. Embora fosse inteligente e mente aberta para vários assuntos, aquilo já era demais. Como poderia acreditar em tudo aquilo? Era outro sonho, não era? Só podia ser.

- Isso...é um sonho, não é? - pergunta a garota, ainda atordoada com o mundo de informações na sua cabeça - Como uma coisa dessas pode ser verdade?

- Pode ser um sonho se você assim quiser - fala o velhinho.

- Como?

- Foi o que disse antes de entrar na sala....você terá que tomar uma decisão. Os eventos que você ativou e as escolhas que você fez até agora foi o que te levou à verdade. E agora não será diferente: você terá que fazer uma escolha.

- Escolha?

- Hohoho. Exatamente. É o Labirinto. As possibilidades de escolha são infinitas e cada uma delas te leva para caminhos diferentes.

- E que escolha seria essa?

 O velho Tenório pega um copo de água, um copo de café e coloca ambos em cima da mesa. As duas bebidas estavam diante da garota, que olha para os dois copos ainda atordoada. Seus olhos verdes refletiam na água, enquanto o café exalava um cheiro agradável e doce.

- Água ou café?

- Está dizendo que...essas são minhas opções?

- Hohoho. Isso mesmo. O evento que você ativar agora determinará seu futuro.

- Como assim?

- O café representa o sabor doce da mentira. Se escolher tomar o café, esquecerá de tudo que ouviu nessa sala assim que sair dessa papelaria. E não apenas isso: tudo de estranho que ocorreu nos últimos dias será apagado da sua memória e o Labirinto será reprogramado para manter sua vida normalmente. Você poderá continuar com a mesma vida de antes, sem ter uma única lembrança de toda a conversa que tivemos. Todos à sua volta estarão mentindo, mas você nunca vai suspeitar disso e nunca mais poderá encontrar qualquer evento que te dê a chance de conhecer a verdade novamente.

- Então...eu vou poder esquecer tudo?

- Sim. Mas, se escolher a água...

- O que tem a água?

- A água é transparente. Pode-se ver o que tem através dela. Ela representa a verdade. Caso escolha tomar a água, significa que você aceita enfrentar o Labirinto.

- Enfrentar o Labirinto?

- Qualquer pessoa que esteja em um Labirinto e saiba que está em um, tem como objetivo sair dele. Ao tomar a água, você aceitará o desafio de encontrar a saída dele.

- Então...o Labirinto tem uma saída?

- Sim. Isso é mais uma das poucas coisas que posso te contar: o Labirinto tem uma saída. Se escolher enfrentar o Labirinto, não poderá mais voltar atrás. Você sairá dessa papelaria sabendo da verdade, sabendo que todos à sua volta te vigiam e conspiram contra você.

- Se eu tomar a água...todos ao redor saberão que eu sei da verdade?

- Sim. Mas...se tentar falar com alguém sobre isso, irão negar, dirão que ficou louca e poderão mandá-la para um manicômio. Lembre-se da regra do Labirinto: nunca dizer a verdade sem permissão.

- Mas...como eu vou poder sair se...

- É para isso que existirão os eventos. O Labirinto não é totalmente injusto. Se escolher a verdade, poderá receber pistas sobre onde ativar os eventos e a cada evento que você ativar, poderá ter mais informações sobre o Labirinto e sobre você mesma.

- Eu...mesma?

- Sim. Embora eu saiba da resposta, não posso dizer toda a verdade sobre você. E a verdade está lá: fora do Labirinto. Mas você só poderá chegar lá, se conseguir sair. E para sair, terá que aceitar o desafio do Labirinto. Apenas tenha em mente que, nesse desafio, suas escolhas podem te deixar mais perto ou mais longe da saída...e quanto mais longe você ficar, mais chances terá de enlouquecer - termina Tenório com um sorriso sinistro.

 "Verdade ou mentira?", pensa a loirinha, olhando para os dois copos à sua frente, "O que devo escolher? Uma vida normal e pacífica...", ela passa os olhos no café, que exalava um aroma ainda mais suave, "...ou o desafio de tentar descobrir o resto da verdade, mas ter o mundo inteiro contra mim?"

- Pense bem no que vai escolher. Você tem apenas uma chance. Depois que tomar sua decisão, nunca mais poderá voltar atrás. Nunca.

Monalisa fica mais alguns instantes refletindo sobre qual dos copos escolher. Se escolhesse o café, viveria numa mentira para sempre, mas não saberia disso. Se escolhesse a água, teria que procurar a verdade, que iria se esconder dela em todos os cantos do Labirinto, se é que ela entendeu direito o que exatamente era esse Labirinto. Esse é o ponto...só poderia saber o que era o Labirinto, se aceitasse o desafio de enfrentá-lo, mesmo que isso custasse sua própria sanidade. Por outro lado, essa seria sua última, sim, última chance de ter uma vida pacífica e sem preocupações daquele calibre. 

 Vida pacífica. Ela começa a se lembrar do que era sua vida, antes de ativar os eventos. Iria para a escola, estudaria, se formaria, arranjaria um emprego, talvez se casasse e, mais talvez ainda, tivesse filhos. Daí, seguiria para a velhice e terminaria seus dias sem nunca saber que tudo que passou não era nada mais que uma enganação: e o pior, com todos rindo pelas suas costas. Aceitar o café seria aceitar a ignorância. Seria aceitar que todos a fizessem de palhaça. Todos saberiam da verdade, menos ela. Seria apenas um fantoche nas mãos de alguém que ela nem conhece. Não. Não iria aceitar isso de jeito nenhum. Se toda aquela falação era verdade (e ela sabia que era), então ela estava com muita raiva por ter sido enganada por tanto tempo. Queria saber mais, precisava saber a verdade. Tudo ainda era tão obscuro. Como ela entrou no Labirinto? Por que só ela? Ou melhor, por que ela? Se tem uma saída, então o que existe do lado de fora? O que o conteúdo de seus sonhos tinha a ver com tudo aquilo? Precisava saber. Estava inquieta na cadeira só de pensar o que mais estaria perdendo. A escolha só podia ser uma.

- Já decidi! - diz a garota, tomando o copo de água em um único gole e colocando-o na mesa com firmeza - Eu quero sair do Labirinto!

   - Hohoho! Muito bem. Você fez a sua escolha. Agora não poderá mais voltar atrás - diz o velhinho - Cara Monalisa...seja bem-vinda ao pesadelo do real!


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Notas finais do capítulo

Eu não gosto de café, então também teria escolhido água...

Bem, não se preocupe se você ainda não compreendeu exatamente o que é o Labirinto: os próximos capítulos vão explicar isso melhor. Só que assim...eu já alerto que as coisas podem ficar complicadas daqui para frente, então, não se espante. E, sim...vou fazer você pensar.

Se você também escolheu beber a água, aguarde até o próximo capítulo. Nos vemos lá!