Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 54
Capítulo 54 - Solução




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"Se o problema possui solução, não há com o que se preocupar. Se o problema não possui solução, não adianta se preocupar"

~ Provérbio Tibetano

Capítulo 54 - Solução

  Duas portas. Direita e esquerda. Apenas uma delas levava à Torre de Esmeralda, moradia do Arquiteto do Labirinto e talvez a única pessoa capaz de dar uma resposta à Monalisa. Ela não sabia qual era a porta certa. E ela não tinha a opção de errar. Caso o fizesse, acordaria em sua velha cama, fechando todas as saídas possíveis e sendo obrigada a viver em mundo de mentira para sempre. Se quisesse saber a resposta para seus problemas teria que passar por esse desafio, mas sua única dica estava nas mãos de duas adversárias, suas ex-amigas Luana e Cibele. Uma delas iria dar uma resposta verdadeira à sua pergunta. A outra daria uma resposta falsa. Monalisa só poderia fazer uma pergunta para uma delas e teria que ter como resposta "Sim" ou "Não". Após muito tempo pensando, parece que finalmente a garota encontrou uma solução lógica.

- Cibele! - chama Monalisa, com um olhar confiante.

- Sim? Já tem a sua pergunta? Lembro que você só pode perguntar para um de nós, apenas uma vez. E apenas uma de nós fala a verdade. Pense bem antes de fazer qualquer questionamento.

- Eu já tenho a minha pergunta...ela é para você, Cibele.

- Pois bem, sou toda ouvidos - atente ela, com um sorriso no rosto.

- Minha pergunta é...se eu perguntasse para Luana se a porta da direita leva à Torre, o que ela me responderia?

- Fácil de responder - diz Cibele - Ela diria "Não"

- Ótimo - diz Monalisa, com um sorriso triunfante - Agora eu sei...que a porta da direita é a certa!

 As duas mudam para uma expressão apreensiva. Como ela poderia ter tanta certeza?

- Você está mesmo certa disso? - pergunta Luana.

- Se as regras que vocês estabeleceram realmente são válidas, então a resposta da Cibele só pode levar a uma conclusão: a porta da direita é a certa.

- E como você descobriu isso? - pergunta Cibele.

- É um problema difícil, mas tem solução - diz Monalisa, fazendo uma cara confiante - Se você pensar bem, consegue descobrir qual a pergunta que deve ser feita.

 As duas continuavam ouvindo, ainda espantadas com a resposta da garota.

- Existe uma pergunta - continua a loirinha - Que usa justamente o fato de apenas uma de vocês mentir e a outra falar a verdade para conseguir a informação que eu quero...vejam só, eu não sei qual é a porta e nem qual de vocês mente, mas se analisar todas as possibilidades da minha pergunta, consigo deduzir perfeitamente qual é a porta certa.

- Todas as possibilidades? - pergunta Luana.

- Exatamente. Eu perguntei para a Cibele o que você responderia se eu perguntasse se a porta da direita levava à Torre. Se a porta da direita fosse a errada e você mentisse, Cibele falaria a verdade, ou seja, que você diria Sim. Se você dissesse a verdade falaria Não e Cibele, como mentirosa, teria que responder o contrário do que você diria, ou seja, Sim. Agora...pense se a porta da direita for a certa. Nesse caso, se você fosse mentirosa e respondesse Não, Cibele seria a verdadeira e responderia que você diria Não. Mas caso você fosse a verdadeira e respondesse Sim, Cibele diria o contrário e falaria Não. Em todos os casos, a resposta Não me indicaria que a porta da direita é a certa.

- Então... - Luana logo percebe o raciocínio de Monalisa - Você é mais esperta do que aparenta...

- Desculpem por não poder ficar - ironiza a loirinha - Mas preciso ir agora. Espero não encontrá-las de novo.

 Cibele e Luana permanecem em silêncio. Monalisa parece ter passado por esse teste. Assim que ela fecha a porta da direita, as duas sorriem maldosamente.

- Até que ela pensa de vez em quando - comenta Luana.

- Mas isso não significa que ela vai chegar ao Arquiteto tão facilmente - completa Cibele.

 Enquanto isso, Monalisa olha admirada o cenário do outro lado da porta. Pelo menos agora ela consegue visualizar a Torre de Esmeralda, seu destino. Na verdade, agora ela parecia mais próxima do que antes de começar a andar com Ariadne. Sob seus pés havia uma estrada de tijolos amarelos que parecia levar diretamente à Torre. Não havia florestas fechadas ou muitas árvores. A estrada parecia ser o único caminho.

- Mágico de Oz agora? - balbucia Monalisa - Não basta eu ser Alice, também preciso ser Dorothy.

 Ela começa a correr pela estrada na direção da Torre. Não teria como errar. Bastava seguir a estrada em linha reta pelos tijolos amarelos. Talvez o enigma das garotas fosse o último desafio que ela teria que passar.

"Consegui!", pensa a loirinha toda contente, "Passei por aquele problema sozinha, mesmo sem a Ariadne. Falando nisso, queria encontrá-la de novo antes de entrar na Torre...justo agora que está tão perto!"

 Ao menos era o que Monalisa pensava ,mas nada no Labirinto era como parecia. Ela corria pela trilha dos tijolos amarelos, mas, mesmo sabendo que o único caminho até lá era a estrada, a torre nunca parecia estar perto. Ela corria, corria, andava, andava mais devagar, mas era como se a torre andasse junto com ela. O que estaria havendo?

- Arf, arf - a garota estava ofegante. Ela para, respira um pouco, senta-se na estrada e olha para a Torre de Esmeralda, logo à sua frente. Tão perto, porém tão longe. 

"Estranho", pensa ela, "Eu já andei tanto, mas parece que a Torre está sempre à mesma distância. É como se...eu não conseguisse chegar lá."

- O que houve, menina bonita? - surge uma voz logo atrás dela. Ao se virar, Monalisa dá de cara com um pássaro preto, pousado em uma pequena árvore próxima.

- Quem é você? - pergunta ela, meio assustada.

- Só uma gralha - responde a ave - Percebi que você estava correndo por aí desesperada. Tem alguém te perseguindo?

- Não fale como se não soubesse! - retruca Monalisa - É o Labirinto, não é? Ele não quer que eu chegue até à Torre, mesmo estando tão perto.

- Krá, krá, krá - ri a gralha de forma diabólica - Se continuar seguindo pela estrada de tijolos amarelos, nunca chegará à Torre. Essa é a estrada infinita.

- Estrada infinita?

- Sim. Não importa o quanto você ande por ela, nunca chegará ao final.

- Então...como eu posso chegar à Torre? - pergunta Monalisa, com voz chorosa - Ariadne, onde está você?!

- Ariadne, você disse? - pergunta a gralha.

- Isso mesmo! Se ela estivesse aqui, saberia o que fazer! - grita Monalisa, entrando em desespero - Como posso andar por uma estrada que não tem fim? Como posso chegar à Torre desse jeito?

- Menina tola, não precisa de uma guia para sair dessa situação.

- Hã?

- A estrada é infinita, mas o que está fora da estrada não é. Simples como pegar um rato - diz a gralha, batendo asas e levantando voo.

- A estrada é infinita...mas o que está fora, não é? Será que...

 Monalisa não entende muito bem a explicação da gralha, mas acaba pensando na coisa mais óbvia possível. Seria idiota demais para ser verdade, por outro lado, idiota o suficiente para funcionar. Ela simplesmente pisa no gramado fora da estrada. Primeiro um pé, depois o outro. Por um instante, nada parece mudar, mas imediatamente o cenário sofre uma transformação. Do nada, tudo muda para um lugar escuro, pouco iluminado e cheio de...escadas? Eram milhares, talvez milhões de escadas por todos os lados, em todos os ângulos possíveis, para cima, para baixo, de ponta cabeça. Era como uma versão gigante do quadro Relatividade de Escher (*)

"Bem, agora realmente eu estou em um Labirinto", pensa Monalisa. Enquanto isso, Ariadne chega correndo pela estrada infinita, alguns segundos depois de Monalisa ter mudado de cenário.

- Droga! - pragueja a ruivinha - Por que você tomou uma decisão sozinha de novo, Monalisa?! 

 Ariadne se ajoelha e soca o chão frustrada.

 "Foi um milagre ter escapado da armadilha daquelas duas, mas se não conseguir escapar desse problema...aí sim pode estar tudo perdido!", pensa a guia, sabendo perfeitamente onde Monalisa estava e, claro, muito mais ciente do que ela mesma a respeito dos perigos que estava correndo.

(*) = ver  http://4.bp.blogspot.com/-gbGvwN3R1p0/TWLe5da-n1I/AAAAAAAAAtk/BGTog3ZNGTc/s400/Relativity-escher.jpg


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