Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 46
Capítulo 46 - José




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/138863/chapter/46

"Algo tão diferente que ninguém tenha tentado antes" 

Capítulo 46 - José

 Aurora ainda permanece olhando para o figura à sua frente com curiosidade. Não era muito alto e segurava uma maleta relativamente grande.  Ele parecia sorridente e simpático, mas a garota nunca o vira andando por ali antes. Podia falar isso, já que conhecia muito bem todos os vizinhos daquele vilarejo. Mesmo sem querer, ela fica algumas frações de segundo tentando pensar se conhecia aquele moço de algum lugar, mas o silêncio é quebrado pelo próprio.

- Você pode falar, não pode?

- Oh, sim..posso. Posso sim. Desculpe. Mas acho que nunca vi o senhor andando por aqui antes, vi?

- Imagino que não. Cheguei na cidade há poucos instantes. Gostaria de saber onde fica a pousada mais próxima?

- Bom, temos uma hospedaria na Rua dos Viajantes, fica ao leste daqui. Todo mundo conhece.

- Não deve ser difícil de achar - respondeu ele, sorrindo e ajeitando seu chapéu - É uma cidade bem pequena.

- Pequena, mas tranquila. O senhor vem alguma cidade grande?

- Não precisa me chamar de senhor...acho que não sou muito mais velho do que você.

- Oh, desculpe - Aurora se encabula. O rapaz sorri levemente, não parece ter ficado bravo.

- Mas respondendo à sua pergunta...sim, vim de uma cidade do centro. Viajo pelo país vendendo peças de arte.

- Peças de arte? - pergunta Aurora curiosa, embora achasse que não seria de bom tom ficar perguntando o que era. Mesmo assim, como se adivinhasse seus pensamentos, o jovem se abaixa, abre sua maleta e mostra um monte de pequenas bonecas feitas de pano, porém muito bem acabadas. Pareciam simples, mas muito bonitas.

- Gosta de bonecas? - pergunta o rapaz.

- F-Faz um tempo que não brinco com as minhas - responde Aurora - Mas são lindas. Realmente lindas.

- São pequenas, mas feitas com muito cuidado. Dá trabalho arranjar os panos e preparar cada uma.

- O se...quer dizer, você mesmo que fez todas essas bonecas?

- Sim. É o meu trabalho. Mas na verdade vender é muito mais difícil do que fazer.

 Aurora fica admirada. Era um trabalho de arte realmente fabuloso. Seja lá quem fosse aquele moço, merecia reconhecimento apenas pela beleza de cada bonequinha.

- Mas..por que veio vender em um local tão distante? Se mora na cidade grande, deveria ter mais fregueses por lá, não acha?

- Procuro arranjar fregueses em várias partes do país para não depender apenas de uma única clientela. Além disso, é divertido viajar e conhecer pessoas novas.

 Aurora gosta do estilo dele, mesmo sem saber seu nome. Aliás, o rapaz age mais uma vez como se tivesse lido os pensamentos da mocinha e faz justamente a pergunta que ela estava querendo fazer há um bom tempo.

- Como é o seu nome, mocinha?

- A-Aurora - gagueja ela, meio surpresa.

- Aurora. Um nome bonito - comenta ele - Oh, que falta de educação é minha...não deveria perguntar o nome de uma pessoa sem falar meu próprio nome antes. Pode me chamar de José.

 José. Um nome bastante comum.

- Comum, não acha? - fala o rapaz, mais uma vez como se adivinhasse o pensamento dela.

- Mas é um nome bonito - comenta ela.

- Não tanto quanto você - diz ele, fazendo um cafuné no cabelo dela. Aurora fica vermelha, mas José parece nem ter percebido isso e muda de assunto rapidamente - Bem, bem, acho que vou ficar pela cidade por alguns dias. Será que vai demorar muito para chegar na hospedaria que você falou?

- Não! Não mesmo! Em passo rápido não deve levar mais de quarenta minutos.

- Então talvez seja melhor andar rápido - disse José, mantendo seu sorriso - Vai ser bom andar um pouco. Fiquei todo esse tempo sentado no trem.

- Oh, você veio de trem?

- Sim. A estação desse vilarejo é muito bonitinha e bem conservada. Deu uma boa impressão do lugar logo que cheguei!

- É legal andar de trem? - pergunta Aurora. Ainda que não estivesse muito à vontade com José e o rubor de seu rosto mal houvesse desaparecido de seu rosto, o assunto a fez sentir uma enorme empolgação.

- Hã? Você nunca andou de trem?

- Err....na verdade não. Nunca viajei ou saí do vilarejo. Conheço os lugares pelos jornais e livros que leio, mas nunca saí daqui.

- Sério? Que diferente.

- Queria muito viajar pelo menos uma vez.

- Bom, não é um transporte muito rápido, mas graças a isso dá para ver toda a paisagem com calma.

- Deve ser emocionante.

- Bem, nem tanto. Com o tempo nos acostumamos.

 José se simpatiza com a empolgação de Aurora. Realmente é muito bom ser uma criança e se interessar por qualquer novidade. Mas não era algo incomum naquele vilarejo. Outras crianças e mesmo alguns adultos nunca saíram daquele local. O mundo exterior era reconhecido apenas por fotos, livros e histórias. Uma empolgação sobre outras localidades, outras culturas e costumes era perfeitamente concebível.

- Quero viajar algum dia também - diz Aurora - Quando crescer e tiver dinheiro, quero conhecer muitos lugares novos.

- Tenho certeza de que irá fazer isso. O que você quer ser quando crescer?

- Quero ser uma escritora! - ela responde de prontidão - Hoje mesmo ganhei um livro que ensina muitas dicas de como escrever!

- Escritora, heim? - repete José e observa o livro que Aurora carregava - Você costuma ir bem nas aulas de Português?

- Sim, sim - ela fala com animação na voz - Só não vou muito bem em Matemática, mas nas outras matérias tenho ótimos resultados!

- Tenho certeza disso - falou José - E se quiser saber um segredo..também era péssimo em Matemática.

- Wow! Sério? Achei que todos os adultos fossem bons nisso...vivem falando para a gente se dedicar à Matemática.

- Acredite. Muita gente não vai bem nessa matéria.

 Os dois riem. 

- Me sinto melhor ao ouvir isso. Tanto meu pai quanto a minha mãe iam bem nessa matéria.

- Por outro lado, também era bom em Português.

- Sério? Você gostava de escrever também?

- Na verdade, eu já cheguei a escrever alguma coisa, mas nunca publiquei.

- Não conseguiu publicar?

- Para ser sincero, eu nunca tentei. Não achei que minha história fosse boa. Queria escrever uma história perfeita. Algo tão diferente que nunca ninguém tivesse tentado antes.

- Uma história perfeita - repete Aurora - Gostei...uma história que ninguém tenha pensado antes...mas não deve ser tão difícil. Existem infinitos tipos de história.

- É mais difícil do que você pensa - responde José - Hmm...tudo bem se eu der uma olhada no seu livro?

- Claro - permite Aurora, entregando o livro nas mãos dele - Eu ainda não li, só dei uma folheada.

- Hmm...esse livro

- O que tem esse livro?

- O autor dele...foi meu professor.

  - Hã? Sério? - espanta-se Aurora. Que coincidência. Parece que José tinha mais coisas para contar do que aparentava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pesadelo do Real" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.