Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 31
Capítulo 31 - Aproximação


Notas iniciais do capítulo

Desculpe...acabou saindo curto...



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"Em suma, todo o problema da vida é este: como romper a própria solidão, como comunicar-se com os outros."

~ Cesare Pavese

Capítulo 31 - Aproximação

 Decidida e de certa forma mais confiante, Monalisa mantém sua disposição em se aproximar de Ariadne, mesmo não tendo certeza de como ativar seu evento. Sabia que ela era o único agente do Labirinto sem consciência de seu verdadeiro papel, no entanto, sabia que mesmo inconsciente era capaz de fornecer dados confiáveis. Se aceitasse o convite dela naquela noite, poderia ter vivido um destino diferente (embora fosse teoricamente incorreto dizer que a noite passou, já que estava no passado). 

 Seja como for, Monalisa tinha todas as razões para confiar em Ariadne. A loirinha aguardava impacientemente a chegada do ônibus, mexendo seu dedo indicador sem parar. Após alguns minutos, quando o transporte finalmente chega, a garota continua a trabalhar mentalmente em seus dilemas. Como poderia se aproximar de Ariadne? Não poderia ser algo muito repentino, pois soaria estranho. Na verdade, foi o contrário: Ariadne que se aproximou dela. No entanto, não poderia simplesmente esperar sentada que a guia viesse até ela (como sua mãe fez ao enganá-la). Isso mesmo. Se quisesse continuar avançando e seguindo em frente precisava arriscar. Agora ela tinha conhecimento da verdade e sabia em quem deveria investir. 

 Por outro lado, o fato de Ariadne não saber quem realmente era parecia estranho. Isso levava ao intrigante paradoxo de que Monalisa sabia mais sobre Ariadne do que ela mesma. Em outras palavras, Ariadne era mais enganada do que ela própria. Como isso poderia ser possível se o Labirinto foi feito para enganá-la? Mas se Ariadne é capaz de fornecer pistas mesmo não tendo consciência disso, o inconsciente dela deve estar diretamente envolvido com o Labirinto. Na verdade, isso era necessário, caso contrário não seria a guia, não é? Em resumo, ela sabe, mas não sabe que sabe. Isso era possível? Monalisa fica meio confusa com seus próprios pensamentos, mas, enquanto olhava o enfadonho trânsito da cidade pela janela do ônibus, decidiu ser prática: Ariadne era a única que podia livrá-la daquele problema e mostrar a verdade. Ponto. Tinha que se concentrar em se aproximar dela e tentar tirar informações. Era melhor dar um passo de cada vez ao invés de ficar se martirizando com um futuro distante.

 Chegando na escola, a primeira pessoa que viu não foi Ariadne e sim sua amiga Cibele. Ela estava mexendo em alguma coisa no celular. Poderia até passar despercebido, mas como também precisava atuar, era melhor agir como se fossem boas colegas, mesmo sabendo que ela era um dos elementos nocivos do Labirinto. Já se sentia meio deslocada das amigas anteriormente, agora que sabe a verdadeira natureza delas, sentia cada vez menos vontade de ficar perto delas.

- Bom dia - cumprimenta Monalisa sem muito entusiasmo.

- Bom dia, Mona - responde Cibele, ainda mantendo os olhos no aparelho, mas logo se volta para a garota - Alguma novidade?

- Não, nenhuma.

- Nenhuma? Sei... - Cibele comenta cinicamente.

- É. Nenhuma. Minha vida continua a mesma de sempre - murmura Monalisa, já prevendo que a colega viria com alguma conversa desagradável.

- Mesmo? Encontrei o Gabriel agora pouco...e ele falou que se encontrou com você no centro da cidade. Essas coisas você não me conta, né?

- Ah, isso. Tinha até me esquecido...

- Fala sério, Mona! Como você pode estar desperdiçando uma oportunidade dessas? Todas as meninas da escola dariam tudo para ficar com ele!

- Todas não. Eu não tenho nenhum interesse.

- E no que exatamente você está interessada?

- Ah, existem coisas mais importantes...bem importantes....

- Parece uma velha falando. Quantos anos você tem mesmo?

- Eu não tô a fim! Simples! É isso!

- Imagino que tipo de cara você tenha interesse. Se o Gabriel não é o bastante para você, nossa!

 Monalisa ignora o comentário, coloca sua mochila em uma mesa próxima e se senta. Não estava com a mínima vontade de ficar falando de paquerinhas e Gabriel. Aquele desgraçado era o pior dos vírus e dar trela para ele seria o mesmo que admitir sua derrota para o Labirinto. E pensar que chegou a acreditar nele como alguém capaz de ajudá-la. Aliás, chegou a beijá-lo. Seu primeiro beijo foi sua perdição. Morria de raiva de si mesma a cada vez que se lembrava daquilo, embora, mais uma vez, fosse estranho dizer lembrava, já que estava em uma data anterior ao acontecimento. Precisava se policiar o tempo todo para lembrar que estava no passado e isso deixava as coisas bem difíceis, principalmente com a conversa que Cibele começa logo depois.

- Mona...você nunca beijou ninguém, né?

- Hã? Que conversa é essa agora?

- Para estar tão nervosa com o Gabriel, deve ser porque tem medo dos meninos, né? Hihi..que fofa!

- Não é nada disso! - ela fica vermelha, de raiva e de constrangimento - Eu...não tenho medo de menino nenhum!

- Ah, é? Então já ficou com alguém?

- Ai, que saco, Cibele! Vamos mudar de assunto?

- Tudo bem...hihi. Não precisa nem falar que não, né? Mas você é menina...isso é bonitinho.

- Ah, me deixa em paz! - bronqueia Monalisa. Cibele ri. Embora fosse quieta, Monalisa geralmente sabia se impor quando precisava, então esse tipo de reação não era estranha. Mas ela não estava brava por Cibele achar que ela nunca beijou ninguém e sim por ela ter lembrado com mais intensidade o beijo que atrasou todos os seus planos. Mas estavam no Labirinto e Monalisa não podia falar a verdade. Precisava se controlar. O problema é que a cada verdade que descobria, se controlar era cada vez mais difícil. Se pudesse ter escolhido o instante em que voltaria no tempo, teria escolhido aquele momento em que poderia ter se decidido em tomar o café e esquecer tudo sobre o Labirinto. Desejou isso ardentemente...e não pela última vez.

 Por sorte, outra colega da sala (que não conversava muito com Monalisa) chega e inicia um assunto totalmente diferente. Algo sobre o programa do dia anterior que Monalisa não assistiu, mas Cibele sim. O foco da colega muda e finalmente Monalisa podia ficar em paz. Ela deita a cabeça na mochila como se fosse um travesseiro e olha para todos no pátio. Quando menos espera, naquele instante em que sua cabeça estava distraída vendo dois garotos aleatórios dando risada, ela vira o olhar e vê Ariadne saindo do banheiro. Ela havia chegado. Era uma chance de se aproximar. Monalisa levanta a cabeça de repente, pega sua mochila e segue na direção da ruivinha.

- Ei, tá indo aonde? - pergunta Cibele.

- Ao banheiro - responde ela - O sinal já vai tocar, então, vou direto de lá.

- Já vai tocar? Mas ainda faltam uns dez minutos - comenta a outra colega, após olhar em seu relógio de pulso rosa. Monalisa ignora e segue em frente. Talvez a reação tivesse sido estranha, mas a desculpa era racional. No entanto, o que poderia falar com Ariadne? Antes era ela que se aproximava de Monalisa, agora era o contrário. A garota estava chegando perto do local onde a ruivinha estava sentada, mexendo em alguam coisa em seu celular. Precisava aproveitar a oportunidade, enquanto ela estava ali, sozinha. Se alguém chegasse, já atrapalharia tudo. 

 "Perfeito", pensa Monalisa, sorrindo satisfeita, "É a minha chance de falar com ela! Mesmo que demore para despertá-la, mesmo que pareça idiota puxar uma conversa do nada, preciso me aproximar dessa garota de algum jeito!"

 Sendo desde sempre uma menina fechada e silenciosa, Monalisa sentia uma certa dificuldade em dar o primeiro passo para começar uma amizade. Mesmo assim, precisava tentar. Ela resolve parar de pensar muito e age. Alguns passos rápidos à frente foram o bastante para colocá-la em frente a Ariadne que ainda estava ali de bobeira esperando o sinal tocar. O pátio estava bem barulhento, como em toda escola, mas naquele momento Monalisa sentia apenas um silêncio absoluto, como se apenas as duas estivesse ali em um imenso infinito desconhecido. Ariadne lança um olhar curioso para a loirinha, mas a primeira palavra é dela.

- B-Bom dia - gagueja Monalisa, mas o primeiro passo foi dado. 

- Oh, bom dia - responde Ariadne com um sorriso simpático e peculiar. Ao que parece, sua personalidade não havia se alterado. Monalisa sente um certo alívio em ver uma reação positiva - Você é da minha sala, não é?

- Sim. Meu nome é Monalisa.

- Nome diferente. Se bem que Ariadne também não é muito comum.

- Né?

 As duas riem levemente e faz-se uma breve pausa. O problema agora era sobre o que falar com Ariadne. Embora tenha conseguido dar esse primeiro passo e, aparentemente, ser bem recebida, a questão era como usar do poder oculto dela para conseguir ter uma pista de seu próximo passo. Como fazer isso? Parece difícil quando se pensa, mas Monalisa logo percebe que a resposta era mais simples do que imaginava. Na verdade, estava bem dentro da mochila da própria Ariadne.

- Isso é...- diz a loirinha, olhando para um livro dentro da mochila semi-aberta da colega.

- Ah, é um livro sobre significados de sonhos - responde a simpática ruivinha - Adoro ler sobre essas coisas...sonhos, psicologia, misticismo.

  - Sonhos, é? - balbucia a menina. Obter pistas de Ariadne seria mais fácil do que pensava. Se sonhos são um assunto de interesse dela, Monalisa tinha muito a dizer. Muito mesmo.


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