_ Tudo bem, vá se arrumar para irmos.- disse enfim derrotada.

_ OBA!!!

Yukie viu o irmão desaparecer pela porta do seu quarto feliz como se houvesse acabado de descobrir um baú de tesouros. Como tinha ainda apenas cinco anos Hinata não deixava que saísse sozinho então ele recorria a  ela insistindo até que ouvisse a resposta que esperava.

Havia horas que estava pedindo que ela o levasse no trabalho do pai e Deus sabe o quanto ela tentou resistir aquele biquinho manhoso, e aos dengos dele, mas no final acabou cedendo aos seus encantos infantis. Não podia evitar o lado super protetor que ele despertava nela quando estavam próximos, lembrava-se do tio Neji, que fazia a mesma coisa com a mãe quando eles o visitavam, sempre repreendendo-a pelas  suas atitudes fracas diante do fim do casamento. Não podia reclamar era o jeito dele de demonstrar afeto e nem ela e o irmão estavam imunes ao “tratamento carinhoso” que ele oferecia a todos com que se preocupava, principalmente ela que ele dizia ser o orgulho do clã Hyuuga por causa da inteligência nata que possuía. Vez o outra o surpreendia reclamando inconformado o porque de Daito não apresentar tanto interesse  pelas técnicas que ele ensinava quanto ela, mas não se importava afinal sabia que o irmão ainda era muito jovem para se ligar em artes daquela magnitude, afinal era uma criança como outra qualquer nem melhor nem pior que só se preocupava em brincar e  sonhar com coisas tolas. Riu do próprio pensamento, ela também era uma criança apesar de não parecer, mas fechou o semblante ao lembrar  que iria levar o irmão para visitar o pai.

Ela não queria ir.

Não depois de esperar durante três semanas seguidas a visita dele e sempre ter que deitar depois de um dia inteiro esperando no sofá, parada como um a estátua ao lado do irmão a chegada de “vossa majestade” e nada.

Nem um aviso de que não viria.

O pior vinha à noite quando era obrigada a ouvir o choro angustiado do irmão que sempre vinha dormir no quarto dela, as lágrimas abafadas sendo remoídas em uma eterna agonia recheados de perguntas que só o próprio pai poderia responder.

Porque ele não veio? Ele não gosta mais da gente aneuê? Será que se esqueceu de que era dia da visita? Porque sempre nos esquece? Porque não manda um aviso?

Yukie simplesmente virava para o lado fingindo não se importar ou dormir, para não ter que responder as perguntas do irmão. Isso a irritava profundamente, fazendo uma mágoa que tinha do pai crescer cada vez mais.

Sentia que aos poucos estava sendo consumida por essa tristeza constante, que fazia a dor se transformar em raiva toda vez que era obrigada a lembrar do pai.

O grande Hokage de Konoha.

 O grande mentiroso.

Pode ouvir o irmão correndo pela casa enquanto comemorava a sua conquista fazendo -a desviar dos seus pensamentos, não queria ficar remoendo aquela raiva sabendo que provavelmente ele arranjaria uma desculpa esfarrapada quando se encontrassem para tentar aliviar a culpa .

OoOoOoOoOoOoO

Quando ganharam a rua, o sol estava tímido e se escondia atrás de algumas nuvens fazendo a rua cair de vez em quando em uma escuridão sórdida. Levantou os olhos para fitar as nuvens  quando sentiu uma deliciosa brisa fresca passar fazendo seus longos cabelos azuis esvoaçarem e de certa maneira acalmando seus ânimos já exauridos de tantos problemas. Daito segurava a sua mão, ansioso mal podendo conter a animação de rever o pai que tanto amava. Yukie não sorria como ele, pelo contrário, mantinha o semblante desanimado. Encontrar o pai, no momento em que estava tão decepcionada com ele com certeza não iria resultar em algo bom

Em questão de minutos chegaram ao prédio do Hokage e a pequena Uzumaki sentiu a tensão que estava fazendo a sua cabeça doer desde que saiu de casa aumentar devido a expectativa. Atravessaram o extenso corredor cumprimentando educadamente os ninjas conhecidos que encontravam e em pouco tempo chegaram em frente ao último obstáculo que separava eles do homem que  havia deixado de visitá-los a quase um mês.

A porta do escritório.

sem muita cerimônia o irmão mais novo abriu-a com estardalhaço e anunciou aos gritos que havia chegado fazendo Naruto tomar um susto e  quase cair da cadeira em que estava ao vê-lo.

_ PAPAI- Gritou se atirando no seu colo- EU VIM TE VISITAR!

Daito mal podia conter a sua felicidade se balançando e gritando no colo do pai como um maluco.

Yukie por outro lado nada disse, apenas se sentou em uma das cadeiras da sala em silêncio como se acabasse de chegar á um lugar qualquer e não houvesse ninguém que merecesse a sua atenção para ser cumprimentado. Não queria conversar com o pai, estava decepcionada com ele e sabia que se o fizesse acabaria por dizer umas verdades que já estavam entaladas há muito tempo em sua garganta á ele, e conhecendo a personalidade do pai, que era como a sua ele não iria deixar barato.

Naruto não pode deixar de notar o semblante sério da filha mais velha, mas não conseguia dar a atenção necessária a ela por causa do outro filho que não parava de pular em seu colo. Olhava com tristeza aquele olhar que antes era carregado de sonhos e sorrisos silenciosos se esconder por detrás de uma máscara de indiferença.

_ PAI! Eu estava com muita saudade- apertou o pescoço do pai em um abraço apertado.

_ Eu também- Naruto respondeu, fazendo Yukie soltar uma risada sarcástica pelo canto da boca- Porque você não vem dar um abraço no papai Hime! Eu estou com saudades daquele abraço gostoso e apertado que só você sabe dar. - Sorriu para a filha mais velha tentando um reaproximação ignorando a sua risada que para ele soou maldosa.

_ Se estava com tanta saudade porque não foi nos buscar? –respondeu áspera, fazendo o rosto do pai se contorcer em desgosto.

_ Eu estava muito ocupado, lembre-se que sou o Hokage, e tenho uma vila inteira para cuidar- Disse meio irritado pela ignorância com a qual a filha de apenas sete anos o estava tratando.

_ Devia estar mesmo muito ocupado para esquecer-se de nós durante todo esse tempo- A raiva na voz era perceptível.   

Naruto respirou fundo tentando controlar a raiva que estava crescendo dentro dele. Sabia que estava sem razão, afinal havia deixado de buscá-los três vezes, mas isso não era motivo para ser repreendido pela filha. Tentou pensar em algo que pudesse apaziguar a situação, mas foi interrompido pelo filho mais uma vez.

_ Papai, vamos brincar? – Daito perguntou alegre.

Naruto suspirou cansado, ser pai era muito trabalhoso.

_ Agora não vai dar meu filho, eu preciso dividir as novas equipes de Genins, e não posso atrasar esse relatório. - disse com um rosto cansado.

_Tudo bem, eu espero- respondeu triste, enquanto descia do colo do pai para sentar ao lado da irmã.

Os dois ficaram uma hora em silêncio. Daito brincava com os bonequinhos que trouxera na bolsa enquanto Yukie revisava mentalmente os selos que havia estudado na noite anterior, errando muitas vezes os movimentos mais simples. Não estava conseguindo se concentrar estava muito nervosa com o pai, principalmente ao ver o irmão que deveria estar recebendo atenção brincando sozinho com o olhar triste. Para que haviam ido até lá afinal? Já estava se preparando para chamar o irmão para voltarem para casa quando viu a maçaneta girar.

A porta da sala foi aberta e eles viram Sakura entrar com uma menininha no colo. Yue tinha os olhos da mãe e os cabelos loiros rebeldes do pai e parecia tão animada e bagunceira ele. Yukie mirou o pai como se previsse o que iria acontecer.

_ Bom dia Amor- Sakura disse feliz- Viemos te ver!

Os irmãos sentiram o coração doer ao ver o pai, que não havia saído do lugar quando eles chegaram se levantar apressadamente para dar um beijo na esposa e pegar a filha caçula no colo.

Daito olhou incrédulo para a cena enquanto a irmã fuzilava o pai com o olhar, era sempre assim Yue chegava e roubava toda a atenção dele, e os dois eram lançados á escanteio, totalmente esquecidos.

_ Vamos almoçar juntos- Sakura perguntou animada enquanto Naruto fazia barulhos engraçados com a boca fazendo Yue rir sem parar- Fiz uma comida deliciosa.

Ele passou a mão pelos cabelos rebeldes, provavelmente analisando a situação.

_ Não posso- olhou sério para Sakura- Tenho que terminar as divisões de equipes Genins. E ainda não cheguei à metade do relatório. - completou estafado

_ Mas eu fiz com tanto carinho o seu prato preferido. - Sakura disse triste.

Ele simplesmente não podia resistir aquele olhar pidão, e a filha mais  velha  captou esse sentimento no momento em que ele olhou ternamente  para ela, do mesmo jeito que fazia quando ainda era casado com a mãe.

Quando dizia que a amava.

_ Tudo bem- cedeu por fim- Desde que seja rápido. - Saiu da sala apressadamente, acompanhado da esposa e filha. Sem se dar conta do que havia deixado para trás.

Quando passaram pela porta do prédio, Naruto parou de súbito sentindo o coração apertar, estava tão compenetrado nos documentos que nem lembrou que os filhos estavam na sala. Voltou correndo desesperado sentindo a consciência pesar violentamente. Como pudera esquecer os dois lá dentro? Definitivamente era um fiasco como pai.

Quando dobrou o último corredor os encontrou caminhando de cabeça baixa, provavelmente muito chateados por terem sido esquecidos. Ele não podia culpá-los.

Era uma imagem muito triste.

 Daito abriu um sorriso alegre ao ver que ele tinha voltado para buscá-los e correu eufórico para se jogar nos seus braços. Yukie apenas o olhou friamente e Naruto pode sentir muito repudio naquele gesto.

_ Que tal almoçar com o papai hoje?- Disse sorrindo para os filhos, precisava fazer uma média com eles estava sendo muito insensato como pai.