Yukie estava sentada no sofá da sala, acompanhada pelo irmão que não parava de apertar os dedos por causa do nervosismo. A bolsa estava pronta, o banho tomado, os dentes escovados, faltava apenas o pai chegar para buscá-los.

_ Ele vai vir não é? – Daito perguntou com o olhar apreensivo.

Yukie nada respondeu, apenas desviou do olhar dele, ignorando a pergunta. Não tinha certeza e não queria mais dar falsas esperanças ao irmão mais novo.

_ Eu não acredito que ele vai fazer isso de novo!- ouviu a mãe resmungar baixo. Estava magra e apática, mais parecia um fantasma rodando pela casa do que uma pessoa, sempre chorando pelos cantos e com o olhar morto. Não lembrava a pessoa sorridente e gentil que era antes do marido a abandonar.

_ Ele está atrasado de novo- Daito resmungou.

“Talvez não venha de novo”, Yukie pensou, não tinha coragem de dizer ao irmão o que sentia pelo pai, ele era muito apegado á ele e desde que os pais se separaram se tornou uma criança muito medrosa e chorona.

Mês que vem iria completar dois anos que o pai havia ido embora de casa, e muitas coisas mudaram desde então. Ele havia se casado com Sakura há um ano e meio e tinham uma filha juntos. No começo ele sempre vinha buscá-los antes do horário, ficavam horas juntos se divertindo, ouviam histórias antes de dormir, comiam Lámen, tomavam banho de cachoeira, mas com o tempo as visitas foram ficando cada vez menos freqüentes e engraçadas e duravam cada vez menos.

A realidade era que agora sempre demorava a vir isso quando vinha. Yukie perdeu a fé na palavra do pai, já não possuía mais expectativas quanto á ele. O problema era Daito, que sempre ficava ansioso pela visita dele, e muito triste quando ela era cancelada. Ele ficava horas falando e imaginado o que fariam juntos no final de semana. Yukie, que havia tomado a posição de protetora do irmão, se sentia mal ao vê-lo triste e chorando pelos cantos. Estava começando a criar certa aversão à presença paterna.

A situação piorou quando a meia-irmã nasceu, os sorrisos e brincadeiras eram sempre para ela, quando estavam juntos eles pareciam nem existir. Haviam sido deixados de lado pelo pai que tanto amavam, e ele parecia não perceber o quanto isso os magoava.

O sol estava começando a se por quando Yukie levantou do sofá, pegou a sua bolsa e foi para o quarto. Ele não viria de novo. Cerrou os punhos de raiva, jogou a bolsa no chão e se deitou, já imaginando outra noite de tristeza ouvindo o irmão chorar. “Eu prometo a vocês que nunca vou abandoná-los”. Não pode evitar as lágrimas ao lembrar-se da promessa do pai

_ Mentiroso- Disse baixinho enquanto abraçava o travesseiro. Acabou adormecendo enquanto lembrava-se dos momentos felizes que viveram com o pai e a mãe, antes de tudo desmoronar e restar apenas à tristeza e o ressentimento.

Acordou no meio da noite para beber água. Ao passar pela sala viu o irmão deitado no sofá com a cabeça recostada no braço, havia dormido esperando o pai chegar.

_ Ele não vai vir- Resmungou indo para perto do irmão.

Sentou-se perto dele e o puxou acomodando-o no seu colo, sabia que se o acordasse ele teimaria em ficar ali, então se ajeitou e dormiu junto com ele.