Rita ainda estava com a roupa de guerra quando abriu a porta do chalé de Afrodite.

- Tem alguém aqui? – Perguntou ela.

Ela esperava que todos estivessem lá. Já que suas irmãs e irmãos não davam a mínima para nada que acontecia no Acampamento Meio-Sangue, eles deviam estar penteando o cabelo, fazendo as unhas, ou fofocando sobre os outros campistas.

Nossa, como aquilo era irritante, pensava Rita.

Talvez ela não devesse ser filha de Afrodite. Ela não gostava nem um pouco de ser reconhecida como inútil. E ainda por cima, não gostava nada do fato de ter algo ruim acontecendo e ninguém lá contar nada para eles.

Eles eram o que?! Inúteis por acaso?! Campistas inúteis que não podiam fazer nada para melhorar a situação, por isso não precisavam saber da verdade.

- Argh! – Reclamou ela em voz alta.

Rita viu que não tinha ninguém lá, o que a deixou bem feliz, mas ao mesmo tempo surpresa.

Feliz por não ter que ficar ouvindo eles falando sobre uma variedade de coisas fúteis que a incomodava profundamente. Surpresa por saber que eles estavam lá ajudando Percy Jackson.

No fundo Rita esperava que Percy acordasse logo e visse Annabeth ao seu lado. Seria tão fofo!

Ela olhou bem em volta.

O chalé 10 tinha paredes pintadas de rosa claro. Vários beliches eram espalhados pelo quarto. Todas as camas eram extremamente organizadas. Os campistas daquele chalé odiavam coisas bagunçadas e fora de ordem.

Ela riu imaginando o Rhamon naquele lugar. Se ele odiava as regras dos seus irmãos, então deveria querer se matar quando visse a cobrança por organização que os campistas tinham.

Mateus também não gostaria muito, imaginou ela. Ele gostava de bagunça, era agitado, e hiperativo. Ia querer correr pelo chalé e bagunçar todas as camas que visse pela frente.

Rita riu ao imaginar a cena. Ela teria que correr atrás dele e mandá-lo parar, mas ao mesmo tempo iria querer que ele continuasse. Era muito legal passar tempo com Mateus. Mesmo ele sendo hiperativo e inquieto, ele era uma boa companhia.

Sem nem mesmo notar, um sorriso surgiu em seu rosto.

Era engraçado, em geral. Ele era filho de Hefesto, e ela filha de Afrodite. Sua mãe fora obrigada a casar-se com o pai dele, mas os dois não se davam lá tão bem. Mas com eles dois era diferente.

Rita gostava de passar tempo com ele, conversando e rindo das besteiras que ele falava. Sim, ele não era um garoto educado na maior parte do tempo. Mas ela não gostaria, e nem desejaria, que ele fosse diferente.

De jeito nenhum.

Ela se olhou em um dos espelhos, e sorriu mais ainda.

Imaginou ela e ele no meio de uma guerra, vestidos com aquelas roupas legais. Se lembrou de como ele a salvara em Hollywood, quando eles estavam no meio daquela missão.

Sentiu-se triste só de lembrar da sensação terrível que teve quando os espelhos caíram encima dele. A sua “morte” tinha sido horrorosa.

Não tinha palavras para descrever o que sentiu quando os espelhos caíram encima dele logo depois dele tê-la salvo, entretanto era igualmente difícil descrever o que sentiu quando viu Mateus e os outros 3 indeterminados entrarem vivos na sala dos tronos no Olimpo.

Foi como se ela fosse Atlas, segurando o mundo inteiro nas costas. E como se de repente todo o peso fosse tirado de cima dela. Um alívio gigantesco.

- Eu vou retribuir o favor. – Disse ela para si mesma – Vou salvar o Mateus na primeira chance que tiver. Devo uma á ele.

Ela queria começar a treinar imediatamente. Queria começar a treinar esgrima, ou arco e flecha... Qualquer arma servia.

Mas ela estava extremamente cansada.

Rita foi para o banheiro sem nem mesmo olhar para os inúmeros pôsteres de atores lindos que enfeitavam as paredes do chalé. Tinham alguns pôsteres de atrizes, mas a maioria era de homens com tanquinhos perfeitos.

Ela entrou no banheiro e pôs o seu pijama. Penteou o cabelo e foi para a sua cama. Ela escolheu ficar na cama de cima de uma beliche, pois desse jeito não seria incomodada tão fácil por suas irmãs.

Mesmo assim... Ela já tinha acordado algumas vezes com os seus gritinhos histéricos, ou coisa parecida.

“Meu cabelo!”, “Aaaaah! A minha unha! Alguém tem uma lixa?! Rápido! É uma emergência!”, e “Ah. Meus. Deuses! O meu sapato novo está sujo de lama?! Alguém vai morrer!” eram frases muito usadas ali.

Ela revirou os olhos só de pensar naquilo. Como alguém podia ser tão fútil?!

Rita não conseguia entender como Ares ficava com Afrodite. Tudo bem que ela era bonita e tudo, mas... Será que sua mãe dava chiliques como esse por qualquer coisa? Se fosse assim... Ela não acreditava que ele realmente conseguisse agüentar.

De qualquer jeito, ela preferiu ignorar esse fato.

Ela ainda se preocupava com os problemas que eles doze viriam a ter. Será que os titãs estavam armando alguma coisa?

Algum problema tinha, e ela entendia que ninguém naquele acampamento queria contar para eles o que era.

- Por quê? – Perguntava-se – Será que nós doze não somos mais importantes, e não devemos nos preocupar com isso mesmo?

Nunca iria saber. Pelo menos não se ficasse parada ali.

No dia seguinte. Sim. Ela iria fazer alguma coisa.

Ia sair e perguntar para todo mundo o que estava errado, até que alguém desse uma resposta direta. E se não dessem... Tudo bem. Ela tinha os seus meios.

Rita segurou o colar hipnotizador que sua mãe lhe dera, e sorriu.

Iria controlar alguém, se fosse preciso. Ela não gostava muito de forçar as pessoas a fazerem o que elas não queriam, mas se esse fosse o preço para saber o que estava dando errado... Então ela faria isso.

Rita virou-se par ao lado e tentou dormir. Já tinha um plano. Agora... Era só esperar pelo dia seguinte para poder agir.

Enquanto a maioria das pessoas estava dormindo ou cuidando de Percy Jackson, Amanda corria direto para o seu chalé. Tinha acabado de entregar um engradado de Coca-Cola para Nina, e sabia que não devia ficar muito tempo fora do chalé.

Se Dionísio ou Quíron descobrissem, ela estaria com problemas. Mesmo assim, ela tinha um sorriso malandro de satisfação no rosto. Tinha conseguido quebrar uma regra e não sem ter sido pega. Era animador.

Ela entrou no chalé rapidamente e fechou a porta.

- Misson Complet! – Falou ela comemorando. Era sua frase preferida dos videogames.

Amanda sorriu e olhou em volta. O chalé de Hermes estava como sempre. Todas as camas estavam um pouco bagunçadas. Ninguém ali realmente ligava para arrumar o quarto, e ela estava feliz por isso.

Tinha ficado 6 anos em um colégio interno, mas antes de ir para lá ela se lembrava de como era irritante quando a sua mãe falava: “Arrume essa cama! Guarde a bagunça! Não deixe seu quarto desorganizado!”.

Ali era o seu lugar favorito. E daí que o chalé de Hermes não tinha coisas muito especiais? E daí que algumas coisas de lá fossem velhas? E daí que as paredes precisassem ser pintadas novamente?

Quando estava lá, ela estava livre de todas as regras. Literalmente, pois os seus irmãos e irmãs sempre davam um jeito de quebrarem as regras sem serem vistos. Era a coisa mais legal do mundo.

Era como se todos daquele chalé estivessem acima da lei. Como se eles soubessem que roubar (por exemplo) fosse errado, mas mesmos assim sorrissem e dissessem: “Ferre-se. Eu vou roubar mesmo assim. Tente me pegar.” e continuassem!

Ela achava aquilo muito legal.

Amanda olhou em volta e viu que não tinha ninguém lá. O chalé não era muito grande, mas tinha o espaço perfeito para todos os seus 13 campistas (contando com ela).

O chão era de madeira, as paredes eram pintadas de um azul claro, e as camas eram beliches comuns. Ela sorriu para o lugar e foi para a sua cama. Pegou a sua mochila e de dentro tirou seu pijama. Estava na hora de dormir.

Ela foi até o banheiro, mas parou assim que viu o seu reflexo. Ela estava se sentindo incrível usando aquelas roupas!

- Quer lutar comigo? Caí dentro. – Disse ela para o espelho fazendo cara de mal – O que? Você está falando comigo? Está falando comigo mesmo? Só pode estar falando comigo, porque não tem mais ninguém aqui...!

- Tem a gente. – Riram duas vozes.

Amanda levou um susto e se virou. Connor e Travis estavam parados perto da porta do banheiro. Eles riram ao verem o que ela estava fazendo. Amanda riu de si mesma.

- O que estão fazendo aqui? – Perguntou ela – Não deviam estar ajudando o... Percy Jackson?

- O que? Você está falando comigo?! Está falando comigo, é? – Imitou Connor rindo, e Amanda fez uma careta para ele.

- Nós viemos deixar os elmos aqui. – Respondeu Travis tirando o dele – O que estava fazendo?

- Brincando um pouco. – Respondeu ela encolhendo os ombros – É só que... É tão legal estar usando uma roupa dessas! É muito emocionante.

- Você deve estar adorando mesmo, não é? – Concordou Connor – É muito legal.

- Mas... Agora que vocês estão aqui... – Amanda viu que a porta estava fechada e continuou – O que há de errado? Disseram que iam me contar depois.

- Depois... Quer dizer amanhã. – Falou Travis – Não hoje.

- Por quê?! – Perguntou ela – Por favor, gente! Eu sei que eu tenho alguma coisa a ver com esse problema, e também sei que vamos estar ferrados de novo.  

- Você já está sabendo o suficiente então. – Disse Connor.

- Mas... Qual é o problema? O que aconteceu com aquele garoto? – Insistiu Amanda – O tal do Percy Jackson. Ele passou por algo bem ruim, não adianta tentar negar. – O irmãos Stoll se entreolharam como se estivessem preocupados – Podem dizer para mim. Eu não vou contar á ninguém.

Algo no jeito que Amanda disse: “Não vou contar para ninguém” convenceu em parte os dois. Connor assentiu, e Travis contou um pouco.

- Nós estamos com problemas grandes. – Disse ele – Grandes mesmo. Percy Jackson tinha saído em uma missão com Annabeth e Clarisse, mas...

- Mas o que? – Quis saber ela.

- Algo... Ruim aconteceu. – Completou Connor – Percy descobriu uma coisa não muito boa, e foi perseguido até aqui. Como se isso não fosse ruim por si só, ainda tivemos o problema com os monstros para piorar a situação.

Amanda franziu o cenho.

- Espera... Quando viemos aqui pela primeira vez, Atena disse que os monstros não podiam entrar no Acampamento Meio-Sangue. Tinha uma barreira ou coisa do tipo. – Disse Amanda – Como eles...?

Connor e Travis se entreolharam novamente. Aquilo não era nada bom, e Amanda podia notar.

- Eles podem entrar com uma condição... – Disse Connor.

- Que alguém os invoque. Alguém tem que chamá-los para dentro. – Explicou Travs tenso.

Amanda riu de nervoso.

- Quem seria idiota de chamar um monstro para dentro do Acampamento?! – Perguntou ela torcendo para que eles não dessem a resposta que ela tinha encontrado para a pergunta – Digo... Não é como se...

- Se tivesse um traidor? – Completou Travis inocente. Connor deu uma cotovelada nele – Ai! Eu só completei a frase dela! Não disse se é isso, ou não!

- Acham que tem um traidor aqui?! – Perguntou ela em um tom de voz baixo – Mas... Por que alguém faria isso?

- Não podemos dizer mais nada. Falamos mais do que devíamos. – Disse Connor olhando para Amanda com um sorriso torto – Você é muito espertinha, hein? Usou a sua lábia com a gente.

- Minha... Lábia? – Amanda riu – Como assim?

- É uma habilidade especial dos filhos de Hermes. Alguns deles tem dons para... Convencer as pessoas com facilidade. – Explicou Connor – É como... Como aqueles vendedores que conseguem tirar dinheiro de qualquer um?

- Tipo enganar? – Perguntou ela.

- Quase. – Confirmou Travis – Hermes é o Deus dos ladrões, e também dos mercadores. Você consegue persuadir as pessoas com facilidade. Isso é muito bom, sabia? Nem todos nós temos isso.

- Só eu tenho esse poder, porque sou especial? – Perguntou ela sorrindo triunfante.

- Ei, Travis! Vamos parar de contar as habilidades dela! Vai acabar usando contra nós. – Riu Connor.

- Tem razão Connor. – Concordou Travis – Acho melhor voltarmos logo.

- Esperem... – Pediu Amanda. Ela olhou em volta e pensou um pouco – O chalé de Zeus tem um céu mágico. Acho que o chalé do Apolo tem uma acústica boa e tal...  O que o nosso tem?

Connor e Travis sorriram. Um sorriso típico de quando os filhos de Hermes vão aprontar alguma pegadinha.

- Vamos mostrar para você, Amanda. – Falaram os dois colocando o braço no ombro dela. Eles a levaram para o fim do chalé, onde tinha uma prateleira com alguns livros, uns CDs e um globo de neve.

Connor puxou o CD do Elton John, e a prateleira chegou para frente. Os irmãos Stoll a empurraram para o lado. Na frente dos três um vão escuro apareceu. Tinha alguns degraus que levavam ao nível abaixo.

- O que é isso?! Uma passagem secreta? – Quis saber Amanda sorrindo.

- Seja bem-vinda á dispensa secreta do chalé de Hermes. – Disse Travis – Aí tem todos os produtos, objetos, bebidas, comidas e muitas outras coisas que nós conseguimos juntar.

- Tem de tudo aí. – Disse Connor sorrindo – Ninguém sabe disso, e é melhor que continue assim, ok?

- Ok. – Concordou ela – Nossa! Eu sabia da despenca de Coca-Cola que vocês tem debaixo da cama, mas não sabia dessa!

- O que?! Você sabe da nossa dispensa de Coca-Cola?! – Exclamou Connor.

- Opa. Não. Claro que não. – Sorriu Amanda sem graça.

Os irmãos Stoll riram, e comentaram algo como: “Ah! Típica filha de Hermes!”, e tiveram que ir embora. Eles fecharam a dispensa, e Amanda trocou de roupa.

Ela se lembrou de como foi engraçado ficar rindo com Nina naquela noite, e de como foi legal jogar a captura da bandeira com seus amigos. Era tão legal ficar com eles, que ela desejava poder congelar o tempo.

Ficar daquele jeito para sempre, sem ter que voltar para o colégio interno. Sem ter que entrar em uma faculdade dali á uns anos... Seria tão legal ficar para sempre no Acampamento Meio-Sangue, tendo aventuras malucas!

Por outro lado, ela também estava preocupada com o que seus irmãos deixaram escapar. Como assim lá tinha um traidor?!

Se eles não queriam contar aos doze sobre o problema... Então isso queria dizer que... Achavam que um deles era o traidor?! Impossível.

Amanda não quis pensar naquilo. Ela estava cansada. Só queria dormir, e fingir por algumas horas em seus sonhos que tudo estava perfeitamente bem mais uma vez.

Se é que um dia já esteve...