Nerv escrita por Meg_Muller


Capítulo 2
Sonhos Bizarros




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“Um campo importante da genética molecular é o uso de informação molecular para determinar padrões de descendência, e assim a classificação científicacorreta dos organismos: a isto chamamos sistemática molecular.”


Parou de ler bufando em cima do livro enquanto amaldiçoava mentalmente Mendel e suas malditas ervilhas. Ela deveria admirá-lo como todos por começar em mil oitocentos e alguma coisa algo que até hoje era base de estudo pra eles.

Fechou o livro ignorando toda a sua consciência que gritava repetidamente que ela precisava saber sobre todas aquelas informações antes da manhã seguinte, mas sua consciência nunca fora muito persistente ou persuasiva.

Levantou da cadeira olhando o retrato de família no surdo-mudo ao seu lado, afinal ela não era como eles. Não tinha a paixão, o talento e a devoção pela ciência de uma forma tão convicta e concreta.

Ela era apenas uma adolescente qualquer praguejando por ter uma prova no dia seguinte pra qual ao tinha estudado sentindo a pressão nos ombros de seguir com a carreira que acreditava já ter sido escolhida pra si, ia seguir os passos deles tendo porcerto de que isso ia fazê-los orgulhosos independente de onde estivessem.

Bocejou observando a mesa de estudo onde estava, o surdo-mudo e a cama que se mostrava ao lado. Deu os braços sem pensar duas vezes antes de se jogar nela, se não soubesse o conteúdo pelo menos estaria calma e tranqüila na hora da prova devido á espetacular noite de sono que teria.

Demorou muito pouco pra que nem o som do trafego na rua ou o cachorro do vizinho a impedissem de se entregar ao cansaço e dormir. Uma pena que esse “dormir” não acompanhasse um tranquilamente.

"O ambiente estava escuro e se tratava aparentemente de um quarto já que há menos de alguns passos uma mulher dormia tranquilamente.

Sentiu a lâmina que estava em seu bolso refletir o pouco que invadia o quarto vindo do poste de luz publico do lado de fora.

Com passos calmos e silenciosos foi até a cama e sem pestanejar enfiou a arma que trazia no estômago da que a pouco sonhava com jardins e um futuro quenão mais teria. Percebeu os olhos dela abertos por meros segundos.

Continham um desespero silencioso como se não esperasse por aquilo, mas não teve muito mais demonstrações de sentimentos ao ver sua vida deixar seu corpo com mais duas investidas da faca contra sua carne já ensangüentada.

Ela abriu a boca pra sussurrar algo que não teve tempo de dizer desfalecendo sem cor enquanto seu sangue jorrava, a outra apenas colocou a faca nas mãos daquela que agora não passava de um cadáver e saiu.

Assim que deixou o quarto viu o sorriso enigmático do homem de pele pálida e cabelos negros.

-Muito bem, Alicia. – Ele murmurou com uma voz surpreendentemente acalentadora. – Você foi muito bem.”

Abriu os olhos em desespero com a respiração ofegante.

-Alicia... – Ela murmurou o nome pelo qual fora chamado sonhando olhando tudo ao redor pra ter certeza de que estava no seu quarto com livros e não facas. – Meu nome é Alice, Alice...

Limpou o próprio suor com as costas das mãos enquanto levava o corpo para fora da cama. Devia parar de assistir tanta violência gratuita na televisão ou até mesmo ler livros com assassinatos e conspirações.

Levantou da cama indo em direção a porta do quarto. Ia até a cozinha tomar um copo de água e perceber como por mais que parecessem reais sonhos eram apenas sonhos, não importam o quão brutal e incrivelmente similares com a realidade eles fossem não passavam disso.

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Elisa entrou na cozinha fazendo seu eventual ritual matinal: Ligar a cafeteira, preparar a torradeira e derreter algum queijo enquanto tirava o cereal da parte mais alta do armário. Logo estaria acompanhada na cozinha pelo resto da família que ainda se arrumava e seria bom ter algo adiantado.

Olhou o jornal sob a mesa, o único mais pró-ativo que ela em casa já havia acordado, tomado suco de laranja e buscado o jornal diário na caixa de correio. O que a fez dar o primeiro sorriso do dia enquanto sentava a mesa satisfeita pra sua leitura.

Biomédica encontrada morta em seu flat vítima de um assassinato a sangue frio durante a madrugada

Ontem, quarta-feira dia 27 de janeiro a doutora Márcia Ruver foi encontrada morta em sua cama...”

Não conseguiu terminar de ler. Marta estava morta? Era a terceira vez que perdia alguém importante pra ela no ultimo mês. Coincidência macabra da vida.

-Está tudo bem? – Uma jovem de cabelos curtos pretos e belos olhos verdes perguntou vendo a mão da mãe demonstrar movimentos inconstantes.

-Uma amiga... – Elisa ainda balbuciava apontando pro jornal. – Assassinada no próprio apartamento.

Ellen se aproximou da mãe compartilhando o olhar abatido.

-Sinto muito mesmo mãe... – Ela murmurou enlaçando-a em um abraço. – Era amiga do trabalho?

Elisa murmurou com a cabeça enxugando as lágrimas que agora se permitiam descer pelo seu rosto enquanto a mais nova buscava informação no jornal aberto acima da mesa.

-Márcia Ruver? – Ellen repetiu, mas pra si do que pra mãe. – Acho que não devo ter conhecido...

-Trabalhamos juntas em um projeto que há muito anos abandonei...

-Pensei que sempre tivesse trabalhado pra faculdade.

-Era um projeto paralelo, era um... – Elisa parou de falar tomando consciência finalmente de que todos os amigos que morreram no ultimo mês tinham algo em comum: “NERV”.

Engoliu seco abandonando os braços da filha e se levantando da cadeira. Os dois primeiros tinham sido acidente então ela nem havia dado muita atenção... mas, Marta morrendo assassinada sendo uma doutora tão pacifista?

-Tudo bem? – Ellen perguntou de novo vendo a expressão da mais velha empalidecer.

-Espero que sim, estou nervosa com a morte da Márcia... – Comentou ainda tentando raciocinar direito. – Talvez só esteja inventando teoria da conspiração pra justificar perdas tão inesperadas...

-Está tudo bem, cada um com sua forma de lidar com o luto. – Confortou a filha com um sorriso. – Agora senta que eu vou te fazer um chá que vai te fazer se sentir melhor. 

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“Alícia arfava enquanto sua pele branca e pálida demonstrava sua exaustão com suor, desistiu de mover qualquer parte do corpo pra facilitar a respiração. Seu corpo todo se contorcia em movimentos involuntários e a cada minuto perdia mais a capacidade de focar na imagem masculina a sua frente.

O ambiente estava bem organizado como qualquer quarto convencional se não fosse pelo aspecto vazio. Como um quarto de visitas em que ninguém se hospedasse pela falta de vida, decoração ou iluminação.

Ela estava sentada em uma cadeira ao lado da cama enquanto ele andava sorrateiramente ao redor dela vendo-a naquela situação deplorável com certo prazer nos olhos.

-Erich por favor... eu já disse que não sei... – Alícia murmurou com a voz fraca arrancando o silencio que dominou o lugar por longos minutos. – Juro, que não sei...

-Não sabe Alícia? – Ele perguntou levantando as mãos até alcançar a face dela deixando que seus dedos passeassem pelo rosto suado fazendo-a gemer baixinho com o que poderia suceder aqueles movimentos. – Não se lembra ou é porque prefere não me contar?

-Não estava lá quando aconteceu... – Ela começou se justificando enquanto os toques dele se tornavam um pouco menos delicados descendo para o seu pescoço. – Ninguém estava... eles explodiram tudo e...

-Papai e mamãe não te contaram? – Ele provocou agora colocando os olhos negros e a face pálida em frente à dela forçando-a a fitá-lo enquanto sua mão continuava no pescoço dela. – Acha que eles destruiriam o que eles acreditavam ser o futuro? Acha mesmo que eles simplesmente deixaram tudo queimar até as cinzas? E você querida, você não o mataria também...

Alícia sentiu um pavor a invadir ao lembrar a quem ele se referia, os olhos dele pareciam invadir mais do que ela queria mostrar e sua condição física atual não ajudava muito.

-Você sabe... – Ele acusou apertando as unhas contra a pele dela fazendo cinco filetes de sangue escorrerem sobre a pele dela se misturando ao suor. – Onde eles estão?

-Eu não...”

Abriu os olhos assustada com uma mão em seu ombro esquerdo balançando seu corpo levemente. Passou as mãos pela testa percebendo o suor e respirando fundo tentando voltar a realidade. Por que diabos eles eram tão reais?

-Senhorita Alice? – Ouviu uma voz grave percebendo o dono da mão que a acordara.

O motorista sorria simpático indicando o relógio de pulso que usava fazendo-a perceber que já estavam parados no estacionamento da faculdade.

-Não dormiu bem ontem a noite? – Ele perguntou enquanto ela pegava a bolsa e organizava tudo o que precisava dentro da mesma.

-Pesadelos bizarros... – Ela murmurou abrindo a porta e se preparando pra sair. – Com direito a assassinatos, torturas e tudo mais...

O senhor que dirigia riu enquanto a observava sair do carro.

-É tudo culpa do seu péssimo gosto pra filmes, seu subconsciente só armazena bizarrices desde que começou esse curso. – Ele falou com certo humor fazendo-a ceder um meio sorriso enquanto o observava pela janela.

-Deve ser mesmo. – Ela murmurou acenando em despedida enquanto ele fazia o mesmo. – Talvez não volte pro almoço hoje.

-Sabe que ela odeia quando volta sozinha pra casa! – Ele rebateu enquanto ela se distanciava do carro ignorando-o. – Jovens... – Ele murmurou pra si mesmo antes de dar partida no carro e deixar o local.

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Os olhos de praticamente todos pairavam ansiosos sobre o homem que explicava entusiasmado, exceto os da morena que parecia absorta demais no próprio universo pra perceber algo ao seu redor.

-Na verdade temos apenas cerca de 30 mil genes e não 100 mil como vaidosamente supúnhamos. Trezentos a mais que um camundongo, o mesmo número do milho. – O professor continuou enquanto alguns escreviam e outros cochichavam as informações recebidas. - Temos genomas inteiros de vermes e vírus em nosso código genético e compartilhamos 2.758 genes com a mosca-da-fruta e 2.031 com um verme.  Mais do que isto, ficou claro, segundo John Sulston que todos os seres vivos são descendentes de um único organismo que deve ter aparecido em condições especiais há quatro bilhões de anos”.

-John Solston... – Um jovem sussurrou pra morena que se assustou saindo tão de repente dos próprios pensamentos. – Daria pra ele se fosse mulher, sinceramente... foda demais.

-Como é? – Ela perguntou sem ter idéia do assunto ao qual ele se referia.

-John Solston. – Ele repetiu acreditando que ela só tinha escutado a ultima parte, o que percebeu não ser o caso ao ver a expressão confusa que continuava lá. – Líder das pesquisas britânicas pra decifrar o genoma humano! Em que diabos de planeta você tá, guria? 

-Só meio... – Os dois foram interrompidos por um sinal que soou ao longe fazendo todos começarem a guardar as próprias coisas. – Desligada, eu acho...

-Meio? – Ele debochou guardando as próprias coisas também. – Isso você sempre foi Alice, mas hoje você está completamente off.

Ela revirou os olhos enquanto os dois levantavam prontos pra sair da sala como todos já vaziam.

-O que foi? – Ele perguntou quando passavam pela porta e entravam no corredor da faculdade. – Fome, sono ou falta de sexo?

-Como seu mundo é limitado. – Ela debochou enquanto ele dava os ombros. – Mas se quer mesmo saber tive uma noite bizarra, noite e manhã já que os pesadelos parecem não parar...

-Pesadelos? – Ele repetiu descrente. – Isso tudo por causa disso, putz quantos anos você tem... 8?

-Muito maduro debochar dos problemas alheios, e ajuda bastante também. – Alice resmungou enquanto ele colocava o braço ao redor dela se apoiando no ombro da jovem.

-Tudo bem, foi mal. – Ele começou suspirando. – Fala aí sobre o sonho, ou pesadelo o que quer que seja.

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Elrich olhou o gravador velho que um dos seus seguranças colocara na sua mesa. Seria bom que ao menos aquilo o desse alguma informação relevante já que suas ultimas investidas nos convidados que ele mantinha enclausurados não tinham ajudado muito.

“M.R.”

As iniciais dela estavam no objeto. Pobre Márcia Ruver, nem ia poder confirmar as informações das gravações, coitada. Tão insignificante que nem ao menos ser presa pra interrogatório como alguns ela seria. Simplesmente assassinada a sangue frio. Ignorou os próprios pensamentos e deu “play” ansioso por qualquer informação que viesse a ser útil.

 “15 de novembro de 1985

Hoje foi um dia não tão bom em resultados já que perdemos três cobaias de uma forma drástica, e todos sabemos que acidentes acontecem, mas ainda assim a tensão aqui e palpável e a Elisa lastima até agora não ter checado várias e várias vezes pra ter certeza de que estava tudo bem na seção 13. Ainda assim como eu já disse acidentes acontecem e é absurdo ela se culpar por algo que todos nós tínhamos responsabilidade por cuidar.”

Pulou várias gravações suspirando impaciente.

“26 de janeiro de 1989

 Hoje nós finalmente conseguimos dar inicio a gestação, não sabemos o futuro disso, mas todo o esforço que estamos empenhando nesse projeto o faz com certeza o maior que já tivemos e com certeza um dos mais excitantes por termos conseguido torná-lo parte de uma gravidez como um feto humano como qualquer outro. ”

Pulou novamente mais gravações em busca de algo que realmente desse pra ser utilizado.

“30 de junho de 1992

Helena e o marido trouxeram a filha pro trabalho hoje. Deviam saber que esse não é ambiente para meninas da idade dela. Alícia, pequena, mas já é bem inteligente e não e que eu não goste dela, eu simplesmente não me sinto confortável em realizar um trabalho como o nosso ao lado de uma coisa tão pequena. Porém com o tempo você se acostuma com ela, meio complicado de não gostar de alguém tão adorável.”

Elrich se permitiu um sorriso com a ultima gravação ao pensar em quanto a pobre Márcia continuaria a achar Alícia adorável sabendo de que anos depois a pequena, agora nem tão pequena assim a mataria com facadas no meio da noite enquanto ela dormia.

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Alice pegou o café que o amigo estendia e ele sentou ao lado dela tomando o próprio café. Ela mantinha um silêncio incomum esperando que ele falasse qualquer coisa sobre todos os sonhos que ela andava tendo a um tempo que agora ela já tinha conhecimento.

-Então? – Ela desistiu de esperar e investiu.

-O que quer que eu diga? – Marcos perguntou olhando a expressão ansiosa dela. – Acho que simplesmente tá assistindo muita violência e ficção.

-O Rubem disse a mesma coisa quando me deixou hoje de manhã... mas sei lá é que é tão real...

-O que é tão real? – Uma voz feminina perguntou de repente aparecendo por trás dos dois.

-Ellen! – Marcos murmurou enquanto Alice acenava com um meio sorriso. – Porque tá chegando agora?

A morena sentou na vaga disponível na mesa em frente aos dois. Perfumada, bem vestida, com os cabelos curtos perfeitamente arrumados e com toda certeza o sorriso simpático de sempre acompanhando seu belo par de olhos verdes.

-Me atrasei um pouco porque uma amiga da minha mãe morreu. – Ela comentou pegando o café deixado por Alice na mesa e tomando um gole sem cerimônia. – Morreu a facadas durante a noite enquanto dormia. Arrepiante né?

-Nossa, parece até com os sonhos escrotos da Ali... aliás, é igual! Mulher morta a facadas em seu pequeno apartamento no meio da madrugada. – Marcos comentou enquanto Ellen arqueava a sobrancelha e Alice continuava pensativa.

-Quem era o assassino no sonho?

-Ela mesma, o sonho foi com a perspectiva do assassino em primeira pessoa.

-Minha nossa Alice! – Ellen começou com certo sarcasmo. – Me lembra de trancar as portas quando for dormir na sua casa, ao contrário do que eu sempre digo nem sempre da pra se julgar pela aparência.

Marcos riu acompanhado por Ellen enquanto Alice apenas balançava a cabeça negativamente.

-Acham mesmo que é brincadeira? – Ela falou ranzinza puxando o café que estava do lado de Ellen. – Isso não me deixa em paz, chego ao ponto de ver coisas que supostamente seriam na minha casa.

-Alguém morrendo a facadas na sua casa?

-Não, ta mais pra ficção cientifica essa parte de alucinações. – Alice comentou frustrada. – É como se tivesse algo no subsolo da minha casa e eu sonho com alguém que tem ou já tem acesso, não sei... Acho que talvez precise de terapia...

-Terapia? Não mesmo. – Ellen cortou certa de si. – O melhor jeito de resolver alucinações e comprovando que elas não são realidade.

-Como é? – Os dois perguntaram confusos enquanto Ellen apenas sorria.

-Vamos até a sua casa, e entramos no suposto subsolo e você prova pra si mesma que não há nada lá, e com isso você prova pra você mesma que todos esses sonhos são apenas sonhos, afinal...


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Notas finais do capítulo

Olá novamente,

Primeiro obrigada pelas reviews e tudo mais, e principalmente pelo favorito (nem sei dizer o quanto isso é inspirador), mas tb queria falar sobre todos que acompanham e não deram nem um "Heeeey, que parada insana essa q vc postou", ou nada do tipo...

Sério gente, é importante pra caramba principalmente pra qm ta começando... (1° Ficção ciantifica!) ter um feedback de vcs e saber o q se passa pelas cabecinhas mesmo q não sejam coisas bonitinhas, não quero coisas bonitinhas apenas opiniões sinceras.

Mas tá, o q acharam do cap? E espero vcs no próximo onde meus monstrinhos aparecerão finalmente :DDD

=***