Ken tinha cancelado todos os seus compromissos do final da tarde. Ao dar os ingressos para Victoria ficou crente que ela iria convidá-lo, entretanto estava achando estranho o fato dela não ter ligado para ele ainda, pois faltava menos de três horas para começar a peça. Pegou o celular checando se estava ligado e para seu azar ele estava normal. Andava de um lado para o outro de sua casa esperando a ligação de Victoria, a qual não ocorreu.

Victoria optou por convidar Danilo para assistir a peça com ela afinal não conseguiu pensar em mais ninguém. A peça de teatro que Ken escolheu era de Schiller, Demetrius. Ela saiu fascinada pelo personagem. Despediu-se de Danilo e foi para casa contente por ter visto a peça, mas um tanto ressentida por Ken não tê-la convidado.

-O que importa é que ele me deu os ingressos e conseqüentemente pensou em mim um pouco. – falou sozinha sorrindo.

Victoria caminhava despreocupada em direção a sua casa sem imaginar que uma pessoa pensava nela naquele momento, mas não de uma forma gentil e sim de uma forma frustrante.

Ken não conseguiu entender o motivo de Victoria não tê-lo convidado a ir à peça. Ficou se perguntando deitado em sua cama se ela realmente tinha ido e se ela foi quem ela levou.

Victoria trabalhava calmamente na tarde com poucos clientes. Assim que a porta abriu-se o olhar das funcionarias se voltaram para o mais novo cliente somente Victoria não viu quem tinha acabado de entrar. Um homem alto de descendência japonesa com cabelos pretos curtos, rosto simétrico e lábios perfeitos que emanava poder por todos os seus poros.

-Vicky – a colega dela a chamou – veja que homem lindo sentado na ultima mesa – falou olhando para ele.

-Eu não preciso de mais confusão em minha vida Yume – disse sem olhar para o lugar que a sua colega apontava – e alem do mais alguém deveria ir atendê-lo.

-Eu já fui – respondeu uma garçonete – mas ele disse que quer ser atendido por você Vicky.

-Por mim?

-É.

Victoria deu de ombros e foi atender o cliente ao vê-lo ficou extremamente surpresa.

-Ken o que faz aqui?

-Vim tomar um café. – falou sem olhar para ela.

-Ok, so isso então? – perguntou anotando o pedido em um bloco de papel.

-Sim, se divertiu ontem a noite? – perguntou a encarando

-Sim muito obrigada pelos convites. – respondeu natural.

-Levou alguém com você?

-Levei.

Será que ela não sabe que é nessas horas que tem que se falar com quem foi? Pensou irritado.

-E a – falou tentando parecer desinteressado – pessoa – dando ênfase à palavra – também gostou?

-Sim.

-Você é impossível sabia? – disse irritado

-Eu não fiz nada.

-Que droga com quem você foi ontem ver a peça? – perguntou se levantando da mesa e ficando de frente para ela.

-Eu fui...espere eu não lhe devo explicações.

-Deve sim.

-É? Porque?

-Por que eu sou o seu maldito noivo então você deve explicações para mim incluindo com quem você foi à peça ontem à noite. – falou alto.

-Você..- não ele não pode estar com ciúmes.. ou esta? Pensou incerta – você esta falando muito alto e não lhe devo explicações já disse – falou dando as costas para ir embora.

Ken não conseguia entender o motivo dela querer sempre enfrentá-lo. Antes que ela pudesse sair ele puxou o seu braço a fazendo olhar para ele.

-Victoria é tão difícil me responder amigavelmente? – falou baixo próximo ao rosto dela.

-Não é isso é que..- você me faz sentir nervosa e irritada quis dizer, mas lhe faltou coragem – você não o conhece.

-Então você foi com um homem? – aumentando o tom de voz.

-Sim com um colega.

-E porque resolveu levá-lo? – e não me chamou? Pensou.

-Ele estava disponível.

-Eu também estava e nem por isso você me chamou – falou irritado após se dar conta do que tinha falado a soltou – só quero dizer que não fica bem a minha noiva andar por ai com outro homem podem comentar. – falou se afastando dela.

-Mas quase ninguém sabe do nosso noivado Ken – sorriu – e na próxima vez levarei uma amiga e não amigo fique tranqüilo. Ninguém vai falar mal da sua família se esse é o problema. – virou de costas para ele – você ainda vai querer o café? – perguntou olhando para ele.

-Vou – respondeu sem jeito se sentando novamente e vendo-a se afastar.

Droga, porque eu vim aqui? Afinal ela esta certa, ela não é obrigada a me dar satisfação e nem me chamar para nada. Estamos apenas representando um papel que nos foi imposto pela situação e ela nem é tão atraente para eu ficar me preocupando em ser traído pensou. Mas ao vê-la com o uniforme de garçonete andando em sua direção e depositando a xícara em sua frente começou a se dar conta que ela não era de se jogar fora. O vestido que ela vestia era vermelho com um pano branco na frente e um decote simples o qual moldava o seu seio de forma sensual.

-Ei Victoria – falou antes dela sair.

-O que?

-Não se abaixe tanto quando for colocar as coisas na mesa – disse pegando o café na mesa- seus seios ficam aparecendo – olhando para o decote – não que eles sejam grandes coisas, mas sempre há loucos para tudo. – bebeu o café e a olhou com olhos genuinamente inocentes- não acha?

Victoria não conseguia acreditar no que ele estava falando. Ele estava dizendo que ela não atraente?

-COMO É? VOCÊ ESTA DIZENDO QUE EU NÃO SOU ATRAENTE? – perguntou gritando atraindo os olhares de todos. – Quem é você pra falar alguma coisa hein? QUEM É HEIN?

-Disse apenas a verdade – falou sem se abalar e continuou a tomar o café – eu nunca pronunciei a atraente na frase, mas se você mesma esta dizendo que não é quem sou eu para dizer o contrario não é? – olhou para os lados – e agora esta sendo conhecida como pervertida.

-Hã?

-Olhe para os lados.

Ao olhar Victoria percebeu que tinha falado alto demais e todos estavam olhando para ela e cochichando. Ela olhou para eles pediu desculpas virou-se para sair, mas voltou para frente de Ken pegou o café de sua mão e derramou na calça dele deixando todos perplexos incluindo a vitima.

-VOCÊ ESTA LOUCA? – gritou se levantando da mesa – qual o seu problema?

-Espero que tenha aproveitado o café senhor e tenha uma ótima tarde – falou saindo indo em direção a cozinha.

O gerente foi falar com Ken tentando apaziguá-lo sem sucesso. Ken saiu de da lanchonete irritado e molhado.

Danilo ao ver a cena foi atrás de Victoria e a encontrou comendo no sofá dos funcionários. Sorrindo sentou-se ao seu lado.

-Se você comer sempre que ficar com raiva vai engordar.

-Ele me deixa louca, olhar na minha cara e dizer que não sou atraente – olhou para Danilo – eu sou atraente?

Danilo olhou para ela e sorriu. Ela estava segurando uma colher repleta de comida e estava com o rosto sujo.

-Você tem seus atrativos só precisa...enfatizá-los.

-Que grande amigo.

-Ora não fique assim – a abraçou – mas você conhece aquele homem?

-Conheço. – comeu mais um pouco – ele é o Ken – disse de boca cheia.

-Ken..- falou tentando se lembrar – espere ai aquele homem é o seu noivo? – perguntou surpreso.

-É sim..Ai! Como ele me deixa louca.

-Por que ele veio aqui hoje?

-Ele veio me perturbar simples assim – comeu mais um pouco – ele devia estar sem o que fazer.

-Estranho – parou para pensar – os ingressos para a peça de ontem não foi ele que deu? – após a afirmação dela – será que ele veio saber com quem você foi?

-Não e nem comece a pensar besteiras – se levantou – é melhor eu ir me desculpar com o chefe se não acabarei demitida.

-Não seria mais fácil dizer que ele é seu noivo?

-Não mesmo – falou saindo e indo em direção a sala do gerente ao chegar viu ele com a cara fechada. – Me desculpe senhor eu perdi a cabeça não ira voltar a acontecer, me perdoe.

-Victoria é a primeira vez que lhe vejo agir assim, o que ele falou exatamente?

-Eu que perdi a cabeça sinto muito.

-Esta bem desta vez passa, mas tome mais cuidado sim?

Victoria saiu da sala aliviada, mas culpava Ken por todos os problemas que ela estava passando.

Como assim não sou atraente? Que homem irritante pensou enquanto ia atender outros clientes.

 Ken chegou no escritório com as calças molhadas e com mau humor. Não acreditava que ela tinha jogado café nele e saído sem ao menos implorar por desculpas.

-Essa mulher esta me deixando louco – gritou em sua sala tirando o paletó e jogando-o no chão.

-Desculpe senhor presidente – a secretaria falou com medo – os investidores já chegaram e estão esperando pelo senhor na sala de reunião.

-ME diga como eu poderei vê-los ASSIM HEIN – mostrando a calça molhada – peça para me trazerem uma calça e diga aos investidos para esperarem e que ocorreu um problema, essa mulher ainda vai me matar. – falou se sentando no sofá. Ao perceber que a secretaria continuava parada olhando para ele – ESTÁ ESPERANDO O QUE? VAI LOGO – falou irritado.

Todos os funcionários da empresa Doumyouji se encontravam temerosos com o presidente. Ninguém nunca tinha visto ele tão furioso antes. No final do expediente Ken chamou a sua secretaria em sua sala pedindo para ela organizar uma coletiva de imprensa para a próxima semana no mais tardar.

-Então ninguém sabe que estamos noivos não é Victoria, mas isso será por pouco tempo – sorriu ao ver a sua secretaria saindo de sua sala.