Capítulo 45

POV Elena Gilbert

Eu, Stefan e Bonnie corremos para casa, sabendo que Damon estava lá, com certeza a beber o seu uísque favorito enquanto olhava melancolicamente para a lareira.

-Damon, precisamos de falar – falei assim que entrei na biblioteca e vi que Demi estava lá com os olhos cheios de água. – O que aconteceu?

-O que aconteceu? – perguntou Demi. – Como está o Matt?

-Pior. Isobel raptou o Jeremy – disparei. – Ainda não se sabe nada do Matt, mas Caroline prometeu que dava notícias.

-E agora, o que vamos fazer para resgatar o miúdo de 15 anos? – perguntou Damon e eu comecei a explicar-lhe o plano. Uma ruga começou a nascer entre as suas sobrancelhas e quando acabei, ele falou:

-Absolutamente não!

-Apenas ouve-me – pedi. O meu plano era perfeito, ele tinha que acreditar naquilo. Não iria ninguém deixar magoar o Jeremy e Isobel era imprevisível.

-Não te vou dar o dispositivo, para tu dares á Isobel, para ela dar ao John, que me irá matar. Eu gosto de ser uma pessoa viva-morta.

-Mas será inútil! – exclamei, sentindo-me desesperada. – Bonnie pode desativá-lo!

-Não confio nela – afirmou Damon.

-Eu posso remover o feitiço original – afirmou Bonnie, ajudando-me a esclarecer tudo ao Damon sobre o plano.

Virei-me para Damon e completei:

-John e Isobel nunca saberão.

-Não – disse ele logo de seguida. – Não. Eu pego o Jeremy à minha maneira.

-A sério? – intrometeu-se Stefan. – Como farás isso? Porque Isobel é uma vampira e o Jeremy pode ser morto no primeiro segundo em que tu entrares na casa.

-Stefan está certo, Damon – falou Demi e pegou-lhe no braço gentilmente. – É um bom plano.

-Estás apta para isto? – perguntou Damon virando-se para Bonnie. – Quero dizer, sem ofensa. Não és a Emily Bennett. Emily sabia o que estava a fazer.

-Tenho andado a praticar – afirmou Bonnie e ergueu o queixo, como se Damon a estivesse a ofender de algo muito pessoal. O que, na realidade, era algo muito pessoal. Ela não confiava no Damon, mas confiava em mim e eu sabia que apesar do ódio que ela tem contra Damon, ela jamais deixaria Jeremy morrer.

-Isto não é aula de piano, querida – falou Damon furioso com a afronta de Bonnie.

Bonnie aproximou-se dele e perguntou:

-Qual é o teu livro favorito?

-O quê?

-Nomeia um livro. Qualquer livro – continuou Bonnie.

-Nomear um livro… - pensou Damon. – E que tal… O Chamado da Selva de Jack London?

Bonnie aproximou-se de uma estante cheia de livros e um deles começou a tremer. O livro voou e Damon apanhou-o no ar, a segundos de bater na cara da Demi.

-Hum, Jack London – proferiu Damon. – Mas para a próxima não tentes acertar na minha namorada. Ela não te fez mal nenhum.

-Nós vamos fazer isto Damon – disse, perdendo a paciência. Quantas provas é que ele precisaria para ver que Bonnie era capaz de fazer isto? – E vamos fazer da minha maneira. Agora, entrega-me o dispositivo. Estamos a perder tempo!

Damon virou-se para Bonnie.

-Eu não confio em ti. Tentei matar-te.

-Hum, estás certo. Não podes confiar em mim.

-Mas podes confiar em mim – disse-lhe, chamando a sua atenção para mim.

O silêncio foi horrível. Damon cruzava o olhar com cada um de nós e quando finalmente se decidiu, tirou do bolso das calças o dispositivo. Entregou-mo na mão.

-Obrigada – falei a sério.

POV Demi Adams

Não gostei daquilo. Apesar de eu saber que o Damon gostava apenas de mim, não deixei de sentir ciúmes quando Elena lhe soube falar ao coração. Porém, naquele momento não havia tempo para pensar em ciúmes. Jeremy estava em perigo.

Elena entregou o dispositivo à Bonnie e ela começou a acender algumas velas. Eu e Elena ajudámos nisso. Mudámos uma mesa alta para o centro da sala e Bonnie colocou lá o livro de feitiços e o dispositivo. Aproximei-me de Damon, que ainda estava muito reticente em relação àquilo.

-É o Jeremy, Damon. E como tu disseste, a Isobel desligou.

Bonnie abriu o dispositivo e tirou lá de dentro uma rodinha com relevo na parte de fora. Fechou os olhos e abriu as mãos. As luzes apagaram-se e voltaram a acender-se. De seguida, a lareira que estava acesa ficou mais vibrante e eu dei um passo atrás assustada pelas chamas terem ficado tão vivas de um momento para o outro. O dispositivo flutuou no ar para cair logo de seguida nas mãos de Bonnie. A luz que estava intermitente ficou ligada outra vez e as chamas voltaram ao seu tamanho normal.

-Feito – falou Bonnie e Elena aproximou-se dela. Elena pegou na pequena rodinha com rodinha.

-Ótimo. E agora?

-Agora damos à Isobel.

POV Demi Adams

-Vou buscar um casaco – avisou Damon.

-Eu também – disse de seguida e segui-o até ao andar de cima. O quarto onde as minhas coisas costumavam ficar era dois quartos a seguir ao dele, e eu nem parei junto do dele. Segui com a cabeça erguida, entrei no quarto, peguei num casaco mais quente sendo que as noites estavam cada vez mais frias e voltei a descer as escadas.

Bonnie, Elena e Stefan já estavam no carro da Elena e eu entrei no meu, ligando o aquecimento. A porta ao meu lado abriu-se e nós seguimos até ao centro da cidade, onde Isobel estaria à nossa espera.

-Fica no carro – mandou Damon e eu assenti. Assim que ele saiu, tranquei as portas, sabendo que era inútil caso algum vampiro me tentasse raptar, mas sentia-me mais segura.

Isobel apareceu do nada atrás de Elena. Ela virou-se assustada e atrás dela apareceram um homem e uma mulher. Atrás de Isobel apareceram Damon e Stefan. Depois, Elena pegou no telemóvel e falou com alguém.

POV Damon Salvatore

Na esquina estava Demi, muito atenta a tudo o que se passava. Os seus olhos estavam arregalados e fixos em Elena.

-Nunca pretendeste magoá-lo – falou Elena assim que desligou o telemóvel.

-Não. Eu ia matá-lo – disse Isobel  com uma voz demasiado doce como se fosse uma criança. – Não procures por nenhuma qualidade humana em mim. Eu não tenho nenhuma.

-Mas tu tomaste um risco com o Damon. Como sabias que ele me ia dar?

-Porque ele está apaixonado por ti.

Ainda bem que a Demi não estava ali. Mas Stefan estava. Olhei-o pelo canto do olho e ele fixava o chão.

Isobel estendeu a mão para receber o dispositivo e Elena deu-lho logo.

-Obrigada – falou Elena.

-Pelo quê?

-Por seres uma decepção monumental. Mantém a memória da minha mãe real perfeitamente intacta.

-Adeus Elena – falou Isobel. – Enquanto tiveres com um Salvatore em cada braço, estás condenada. Sim, tu e a tua amiguinha têm um de cada lado. A Katherine foi esperta. Ela saiu. Mas todos sabemos que tu não és a Katherine.

Isobel saiu dali, com os seus dois amiguinhos e eu fui até ao carro da Demi. Ela destrancou as portas e eu entrei logo lá dentro.

-Vamos para casa?

Ela acenou.

-Amanhã tenho que me levantar cedo.

-Sim. E depois de amanhã estamos de viagem para Nova Iorque.

Ela não sorriu, como eu esperava que ela o fizesse. Seguiu até casa dela, estacionou o carro e saiu.

-Hoje prefiro dormir sozinha. Vemo-nos amanhã, está bem?

Acenei com a cabeça, confuso com o que ela estava a dizer.

-Até amanhã – disse ela e entrou em casa. Fiquei ali um pouco, tentando digerir o que ela tinha dito. Quero dizer, já era praticamente um ritual. Quando chegava lá acima, ela dizia-me o que a preocupava e depois ela dormia encostada a mim, mas ela estava diferente, parecia um pouco abalada. Eu só esperava era que nada daquilo tivesse a ver com Lilliane. De qualquer das formas, eu iria tirar aquilo a limpo.

POV Demi Adams

Querido diário,

Neste momento, a minha mente parece os ventos de um furação. Damon contou-me certas coisas sobre ele que me fizeram pensar. Aliás, nos últimos tempos eu só tenho descoberto coisas que me fazem pensar em colocar em questão as leis da Natureza.

Pronto, eu sou uma ninfa, isso eu já sei. Bonnie é uma bruxa, Riley é um caçador e Damon e Stefan são vampiros. Mas aqui vão as notícias bem fresquinhas: eu sou uma doppelganger. Não uma doppelganger qualquer, porque sou uma das famílias fundadoras da cidade. Ah, melhor ainda: dia 31 vou ser uma das damas de Caroline.

A melhor coisa é que ao menos eu sei que não sou a única doppelganger: Elena também é. E pelo que ouvi de Damon, Lilliane (que é a minha possível tretatretavó) é bem pior que Katherine.

Estou cansada, por isso vou dormir. Amanhã será um dia em cheio.

Coloquei o diário na primeira gaveta da minha mesa de cabeceira e toquei acidentalmente no colar de prata com o fundo preto e a rosa vermelha. Tirei-o cuidadosamente. No dia do desfile iria usá-lo, pensei. Nem sequer sabia se o vestido iria ficar bem com ele ou não, mas Caroline tinha que deixar, visto ser uma relíquia do século XIX. Voltei a colocá-lo na gaveta e fechei a luz. Sentia a falta dele na minha cama, mas tinha que sobreviver sem ele hoje. Precisava de pensar claramente e deixar os meus pensamentos vaguearem durante toda a noite sem alguém a perscrutá-los e que me iria fazer perguntas assim que acordasse.