O Continente das Trevas escrita por Narsha


Capítulo 8
Ashiva, o Deus do Caos


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pronto e com ele a introdução das quintas Classes. Contudo, a de Sieghart será apresentada e melhor trabalhada nos episódios que virão. Vocês poderão, no entanto, desta vez saber mais sobre Ashiva o Deus Ancestral do Caos, e de sua importância para os próximos acontecimentos.
Espero que gostem! Tenham uma exclente leitura!
***
=> Quem tiver sugestões para Skills das novas classes, fique à vontade para sugerir, pode ser que seu nome ganhe um lugar de destaque aqui na fic!



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A tensão os envolvia, porém não sentiam medo. Estavam seguros diante do que se propuseram, e iriam limpar Xênia de todo mal que a envolvia. Um vento frio tocou-lhes o rosto, diante da paisagem que se abria, e que fez surgir o Inimigo.

Urros bestiais ecoaram, e as criaturas, sedentas de sangue, partiram enfurecidas para cima do Grupo, que se fechou num círculo à espera do momento oportuno de iniciarem seu ataque.

Sieghart olhou para os companheiros, e estes, com um movimento leve de cabeça, retribuíram ao olhar. Era chegada a hora de lutar e, sem pestanejarem, usando todo poder de suas mais poderosas técnicas combativas, eles recepcionaram os oponentes com tenacidade, em um ataque combinado que levou ao extermínio de dezenas de Orcs em questão de segundos.

Sendo que o ruído das espadas de Ronan, Sieghart e Elesis ecoavam caindo por sobre os chanfalhos do Inimigo em golpes certeiros e precisos.

E a Ruiva, envolta por sua fúria, tendo nos olhos a luz vívida do combate, num movimento rápido, embainhou sua espada e sacou sua Alabarda, girou-a no ar com destreza, e uma forte luz cor de fogo emanou da poderosa arma.

— Lâminas da Morte! — Gritou, e inúmeros feixes semicirculares foram lançados em velocidade surpreendente por sobre a turba de Orcs retalhando-os em frações de segundos; de modo que o sangue escuro das criaturas tingiu o solo intensamente.

Sieghart a fitou, impressionado e ao mesmo tempo satisfeito. Elesis havia de fato se tornado uma guerreira espetacular, e ele sentia orgulho dela. Por mais longínquo que fosse seu parentesco com a jovem, a força de seu sangue ancestral corria em suas veias, e estava ali presente. Ele deu um leve sorriso.  “Valeu a pena eu ter te ensinado, Criança.” — pensou.

E, sem hesitar, deixando-se envolver por completo pela batalha, concentrou sua força e desferiu por sobre os inimigos seu “Provocação Fatal”, sendo envolto por uma aura escura e sombria que, ao contato com o corpo de seus oponentes causou-lhes profundos danos — o que levou um impressionante número de criaturas a tombarem ao solo sem vida rapidamente. Não tiraria Ashthanus de sua bainha por inimigos tão fracos como o eram os Orcs e a reservaria para o dia em que enfrentaria finalmente a um oponente realmente à sua altura.

Ronan, por sua vez, tinha em suas mãos sua Espada Bastarda, uma espada longa e reluzente — que refletia a imponência de sua Quinta Classe (Restaurador) —; e partiu para cima dos Orcs com muita garra.

— “Espada Restauradora!!" — exclamou ele, com determinação, segurando com firmeza sua longa espada.

Em torno desta, uma aura azulada formou-se. Ele impulsionou-se para a frente, saindo em disparada, saltou, girou a espada no ar e traçou um corte que atingiu a vários Orcs de modo preciso, congelando-os imediatamente. Movimentou sua mão esquerda, e um círculo mágico surgiu sob seus oponentes, ergueu sua espada e, depois, fez um movimento oblíquo com a mesma acertando-os com mais dois cortes precisos, que culminaram numa forte explosão energética, que de forma violenta os fulminou.

Ryan, com seus Machados de Lâminas Duplas — os quais eram sua arma de Quinta Classe (Titã) —, também fazia sua parte e com bastante agilidade ergueu-os ao alto. Com um movimento brusco, infligindo grande pressão, cravou-os ao chão:

— “Mãos de Cronos!” — bradou, e os machados foram envoltos por uma energia em tom alaranjada, provocando um forte tremor de terra que fez com que uma boa quantidade de criaturas caíssem dentro de uma enorme fenda que abriu-se no solo, e que se fechou em seguida, “engolindo-os.”

Assim como Lire que, tendo em mãos o Arco Sagrado Cala — feito a partir de um Cristal raro existente somente em sua Terra Natal, o Reino Elfo de Eryuell —, mantinha-o apontado para o alto com a fina corda prateada do mesmo bem esticada, tendo uma longa flecha dupla nele posicionada. Os olhos da Elfa estavam sérios, sua postura altiva e ereta; com precisão e sem nem mesmo piscar, ela liberou a flecha, que alçou ao alto emitindo um forte zunido.

— “Tornado de Flechas!” — gritou, com voz firme. Imediatamente as flechas foram envoltas por um forte brilho esverdeado e, a partir delas, milhares de flechas translúcidas surgiram girando num turbilhão de ventos, sob a forma de um tornado que cravejou aos inimigos, impiedosamente, fazendo-os cair sob a força de sua Quinta Classe: Ancalima – cuja significação em élfico quer dizer “a mais brilhante”.

Nesse momento, um novo grupamento de Orcs surgiu, vindo pela lateral esquerda do Templo da Luz, e se uniram aos poucos remanescentes que ainda estavam em combate, fazendo com que novamente voltassem a se aproximar de trezentos, em termos de número. Mas isso não intimidou-os, e a Grand Chase se manteve firme no contra-ataque.

Uma música suave e melodiosa, repentinamente fez-se ouvir e envolveu o campo de batalha, enquanto do céu uma luz prateada circundou aos Orcs, paralisando-os. Todos voltaram-se impressionados com a melodia e viram Amy, com cuja fascinante luz irradiava sublime de si, enquanto pétalas de rosas de tom rosa claro envolviam-na e realçavam as longas e alvas asas que, transparentes, surgiram por detrás das costas da jovem, e que evidenciavam a sublime beleza de sua Quinta classe (Angelical).

— Amy... — disse Jin maravilhado, a fitando.

E esta, com os olhos fixos no grupo de vinte Orcs que paralisara, ergueu sua Lira, com suavidade de movimentos, e tocou um acorde.

 — “Luminus” — disse, e impulsionou-se ao alto, parecendo flutuar por um momento, antes de descer diante dos inimigos, cujos olhos transmitiam um misto de confusão e surpresa. Sem demonstrar alteração, e mantendo a graciosidade e leveza de seus movimentos, a garota de cabelos cor-de-rosa girou sua Lira e os atacou com um turbilhão de pontos luminosos, sob a forma de notas musicais, que retirou-lhes muito de suas forças vitais. Apesar disso, quatro Orcs de estatura mais alta pareceram não sentir tão rapidamente o impacto da técnica utilizada por Amy, e, libertos da paralisia, sem importarem-se com a sensação de leve atordoamento e fadiga que os preenchia de modo crescente, com velhas espadas enferrujadas e tacapes partiram, violentamente para cima da moça a fim de matá-la.

Mas Jin, que se mantinha perto da jovem, num impulso natural de protegê-la, avançou sobre os Orcs e não hesitou em lançar mão de todo poder de sua Quinta Classe (Taiji) contra os mesmos. Amy fitou-o, e seu coração acelerou diante da atitude do rapaz, emocionando-a.

— “Impacto de Luz!!!” — vociferou Jin, fitando aos inimigos. E, utilizando-se de seus Nunchakus, assolou com fúria o corpo daqueles seres malignos, ao mesmo tempo em que, com a Magia das Contas do seu Rosário Sagrado, amaldiçoou-os com poderosos mantras, em cuja força oriunda de uma espécie de rajada energética, fez com que perdessem em poucos segundos tudo que ainda restava de suas energias vitais.

Não obstante a isso e a toda união de força do grupo, a batalha prosseguiu árdua.  O contingente inimigo era alto, e por mais que fossem derrotando aos inúmeros Orcs que se interpunham em seu caminho, outros surgiam em seu lugar em número cada vez mais crescente.  E dos trezentos iniciais a quantia se multiplicava ininterruptamente, de modo cansativo, o que tornava o avanço da Grand Chase extremamente lento e dificultava a sua aproximação do Pórtico que dava entrada ao Templo da Luz.

— Isso aqui me aborrece! — falou Mari a si mesma, enquanto olhava a luta que se prorrogava além do imaginado contra os Orcs a serviço das Forças Inimigas.  Extremamente analítica, a garota de olhos bicolores havia percebido que eles não eram seres comuns e que seu poder estava, enigmaticamente, aumentado. Com aparente calma, guardou então seu livro, e colocou um bracelete quadrangular em seu pulso direito. Havia no mesmo um estranho símbolo, com pequenos botões – o qual tinha intrínseca relação com seu extinto Reino — Calnat. E que era a arma de sua Quinta Classe (Nano Maga).

Uma forte energia aos poucos a envolveu, num tom azulado. E ela apertou alguns dos botões em seu bracelete. No mesmo instante, milhões de robôs microscópicos surgiram sob a forma de uma espécie de nuvem que rodeou aos Orcs, e que se fundiu adquirindo a forma de centenas de esferas com setas pontiagudas, que ficaram a flutuar em torno das bestiais criaturas.

— Fúria Tecnológica! –— disse em voz alta, porém inalterada, e os nano robôs, assumindo a forma de esferas perfurantes, começaram a girar em alta velocidade sobre seu próprio eixo e, após, partiram em movimentos circulares e extremamente velozes para cima dos inimigos, que não conseguindo defenderem-se, foram impiedosamente dilacerados.

Já a Gram Maga Arme a seu turno, evocava os elementos e, em torno de si, uma poderosa energia a envolvia por completo, enquanto de seu longo cajado —  cuja parte posterior era  ornada com uma Rara Pedra Mágica e Elemental de nome Vulcana, a qual lembrava um pouco a ametista, porém era ainda mais escura,  e que caracterizava a sua Quinta Classe (Etérea) — uma misteriosa energia era emitida, sob a forma de névoa, a qual foi se solidificando até concentrar-se num imenso globo, do qual fios luminosos saíram em forma de pequenos feixes elétricos.

Ela pronunciou palavras em linguagem antiga e o Globo foi gradativamente subindo ao alto até desaparecer do campo de visão de todos, imergindo na imensidão acinzentada. No mesmo instante, em meio as densas nuvens que se avolumavam por sobre o céu de Xênia, várias Fadas Elementais surgiram e começaram a flutuar; se aproximaram dos inimigos rapidamente derramando por sobre eles uma espécie de plumagem, que, ao tocar seus disformes corpos, fazia com que fossem transformados imediatamente em estátuas de pedra. As quais, segundos depois, foram reduzidas em punhados de poeira, sob o impacto da forte rajada meteórica desferida pela poderosa Gram Maga.

Havia apreensão e ansiedade nos rostos de cada um dos guerreiros da Grand Chase — uma vez que Lass estava dentro do Templo da Luz, lutando só contra os inimigos e tendo o agravante de estar na defesa de uma pessoa ferida. Algo que sabiam por experiência, dificultava e muito o desempenho em uma batalha.

No entanto, quando por fim conseguiram chegar ao Grande Pórtico, viram o vulto do rapaz que, com a armadura manchada pelo sangre escuro dos Orcs, crivava vários deles com suas Shuriken — estrelas de arremesso ou estrelas da morte, como são mais conhecidas —, as quais reluziam em tom azul negro pela força do seu sombrio Colar do Espectro. — Colar este que adquirira justamente ao conquistar sua Quinta Classe: Arauto das Sombras. Ao mesmo tempo em que, com surpreendente velocidade, perfurava-as com suas Daisho. (Na verdade o nome Daisho refere-se ao fato de ele usar duas Catanas, uma maior (Dai) e outra menor (Sho), a Wakizashi, uma espada menor e de lâmina mais larga.)

Era o fim para as tropas Orcs inimigas e, em poucos segundos, o Grupo adentrou no Santuário pertencente ao Deus Sansara, unindo-se ao jovem Shinobi — que deles se aproximou carregando Venese em seus braços.

— Mas é Venese! — reconheceu-a, Amy, levando uma das mãos a seus lábios.

— Sim, e está muito ferida. — retrucou Lass preocupado. Ela perdeu os sentidos e está respirando com dificuldade.

— Coloque-a aqui Lass. — disse Ryan, apontando na direção de um antigo carvalho, cercado por relva úmida.

 Lass, com cuidado, seguiu a orientação do jovem Elfo e deitou-a junto à árvore.

Ryan aproximou-se e agachou-se ao lado da sacerdotisa, e, auxiliado por sua esposa Lire, retirou o elmo que cobria seu rosto. Fazendo com que, pela primeira vez, todos o vissem. E, apesar de seus ferimentos, a delicadeza e graça de sua face fez com que todos ficassem impressionados com sua beleza.

Era uma mulher muito bonita, com aparência jovem, embora fosse impossível presumir qual a real idade da Sacerdotisa, uma vez que ela era um Ser Divinal de Xênia. Tinha pele morena, cabelos de tom prateado e olhos cor de mel. Seus lábios eram roseados, finos e delicados e deixavam seu rosto ainda mais etéreo e suave.

— Nossa, como Venese é linda… — disse Jin boquiaberto. E Amy deu-lhe um cutucão, sentindo-se estranhamente incomodada.

Ryan, porém nem ligava para esses comentários, e junto de Lire seguiu adiante com o propósito de cuidar dos ferimentos da pobre mulher e, assim, retirou o que restara da armadura destruída da mesma, deixando o corpo da bela sacerdotisa apenas coberto pela túnica cor azul anil que o envolvia. E lançando mão de seu poder curativo — um dom que nascera consigo pela grandeza de seu Povo Elfo, e que alegrava-se em poder utilizar para restabelecer a saúde àqueles que se encontravam em sofrimento. —, iniciou seu socorro a Venese.

Uma luz muito alva nessa hora começou a emanar também do corpo da jovem Sacerdotisa – em cuja divindade se evidenciou notória – e uniu-se a energia do Totem criado pelo Druida. E tamanha foi sua grandiosidade, que, em poucos segundos, preencheu a tudo e a todos com um brilho extremamente forte.

Ela lentamente abriu seus olhos e, com um leve sobressalto, encheu os pulmões com o ar refrescante e úmido do local; a luz então foi gradativamente reduzindo, e Ryan ajudou a moça a recostar-se ao tronco da frondosa árvore.

— Como se sente? – disse Ryan atencioso. Ela olhou para o rapaz e seus olhos preencheram-se de um brilho especial e significativo, que passou despercebido a ele bem como aos demais.

— Me sinto melhor agora ...  — disse Venese, com voz fraca, sentindo-se ao mesmo tempo emocionada. — Obrigada por me ajudarem…

— Em pouco tempo não sentirá mais nenhum desconforto. — disse o jovem Elfo, com voz calma. — Não é preciso agradecer. O importante é que se recupere completamente.

— Nunca esquecer-me-ei do que fizeram por mim hoje… — disse a Sacerdotisa com sincera gratidão refletida nos belos olhos cor de mel e novamente olhando para o Jovem Elfo, de modo especial.

— Mas Venese, afinal o que houve aqui? E o Deus da Luz, onde está ele? — indagou Elesis ao perceber que a moça já estava em condições de falar.

— Realmente não o vi aqui no Templo. — endossou Lass.  Deparei apenas com Orcs e Magos das Trevas, enquanto estive lá dentro.

— Ele… ele e os demais… — disse Venese, com voz ainda entrecortada.

— Beba um pouco de água. Você ainda está fraca. – disse Lire, alcançando-lhe um cantil. – A jovem então bebeu um gole, e procurou respirar fundo. Sabia a gravidade do que iria contar-lhes, e precisava fazê-lo logo.

— Eles? ... insistiu Ronan com certa ansiedade.

— Estão todos Selados… Todos os Deuses de Xênia foram Selados….

— Selados?!  Como assim?!  — inquiriu Sieghart, com ar incrédulo, enquanto os demais entreolhavam-se.

— Eu vou lhes contar o que houve. Ela recostou-se melhor na árvore, e de seus olhos uma lágrima escorreu quando os mesmos pareceram imergir nas próprias lembranças.

— Tudo começou quando a Comitiva Imperial vinda de Astrynat chegou a Xênia para os ritos de Consagração do Novo Representante Divino naquele Continente, após o regresso do Deus da Temperança Alkyraz ao seu Sagrado Corpo, uma vez que o corpo transitório utilizado pelo Deus durante sua permanência em Solo Mortal havia perecido.

Ela fez uma breve pausa antes de prosseguir.

— Não sei se vocês têm conhecimento, mas o Imperador do Continente da Paz, Astrynat, é uma Divindade ligada aos Deuses de Xênia, e que representa-os para transmitir seus desejos de harmonia para todos os Continentes.

— Em parte sim — disse Ronan, tomando para si a palavra —, pois é de nosso conhecimento que o Império Astrynat sempre fora governado por Deuses... No entanto, não imaginávamos que esses Deuses tinham alguma relação direta com as Divindades de Xênia.

— Possuem total relação... O Deus que governa Astrynat deve total obediência aos desígnios do Supremo Senhor de Xênia. Ele nada faz sem o consentimento do Deus Governante. Bem... ao menos assim o foi até a traição do Deus da Misericórdia Atron... – havia pesar no modo como Venese pronunciou suas palavras.

— Traição do Deus Atron? – indagou Jin, com certa ansiedade. Queria muito esclarecer todas as dúvidas que ainda sentia em relação ao novo e terrível inimigo.

— Sim.... Quando eu terminar de lhes revelar o que sei compreenderão melhor a tudo.

 Os jovens silenciaram-se, mantendo os olhos fixos na sacerdotisa, e esta prosseguiu:

— Pois bem, a pretexto dessa Cerimônia, o Deus Atron, em companhia de dois supostos serviçais, veio ter com o Deus Governante Thanatos e os demais Deuses deste Continente Sagrado.  E a princípio tudo transcorria de modo tão natural, que ninguém suspeitou que algo tão grave estava prestes a ocorrer e que o caos se fazia assim tão próximo. Porém, quando todos os Deuses encontravam-se reunidos no Altar da Destruição para a finalização do Rito de Consagração, mais precisamente quando este estava prestes a ser concluído, o Mal se revelou de modo abrupto, e foi o início do fim de Xênia.

— Um Ritual de Coroação Sagrado no Altar da Destruição? Isso não deveria ser no Templo da Sintonia? – indagou Jin realmente surpreso. – Não seria o lógico?

A maioria tinha a mesma dúvida do Líder dos Cavaleiros de Prata.

— Crianças tolas! Deixem ela falar, assim vocês só estão atrapalhando! – disse Sieghart, irritado com a interrupção. Ele de fato estava muito preocupado e apreensivo com o que Venese tinha para revelar.

 Jin fitou o Imortal com ar contrariado. E ele retribui ao olhar do mesmo modo.

— Sem problemas, caro Sieghart. – interveio a Sacerdotisa, com voz branda. — Eu devo explicar tudo. Quero que nada fique para trás. E olhado aos jovens membros da Grand Chase, prosseguiu:

— Acontece que, exatamente por Astrynat ser o Continente da Paz, roga o Rito que a Coroação se faça no Altar da Destruição, para que a energia da guerra esteja se confrontando com a que a opõe. Por isso somente os Supremos Senhores Sagrados se fazem presentes junto ao Deus Governante, e, com seus poderes, lançam a bênção que faz com que o Deus Imperador de Astrynat se torne realmente merecedor de tamanha honra e obrigação.

— Entendo. – disse Jin pensativo.

— Pois bem, a Cerimônia foi concluída e, como roga a tradição, todos brindaram ao Novo Deus Imperador. Porém, nesse momento, os Deuses começaram a ficar estranhos, e uma energia gigantesca e maligna envolveu ao Templo do Deus da Destruição, de modo sufocante. E, em poucos minutos, após beberem o cálice com o vinho que fora servido pelos serviçais de Atron, os Senhores de Xênia caíram desacordados...

 Ela respirou fundo, antes de continuar.

— Quando vi a cena, pois eu havia acompanhando ao Deus da Luz, fiquei chocada e confusa. Me recostei a um dos pilares, e vi quando o Deus Atron ergueu seu cajado na direção de Thanatos, que estava tonto, e era o único ainda a lutar contra a força que o impulsionava a perder os sentidos. Atron pronunciou algo, que a mim soou incompreensível, mas acho que era em linguagem restrita…  Não estou certa disso. O fato é que ele ousou usar seu Poder Divino contra àquele a quem deveria ter obediência...  E era tão tétrico e sombrio, que eu jamais supunha fosse o Deus da Misericórdia portador de um poder tão repleto de maldade... Justamente ele que sempre transmitia tanta bondade....

Havia temor e decepção nos olhos da Sacerdotisa nessa hora.

— Várias colunas do Altar caíram, e eu comecei a me sentir sufocando. Foi horrível...   Na ânsia de sair dali entrei numa câmara secreta que existe lá e, por uma fenda, espiei o que pude... Nessa hora, eu já havia me dado conta de tudo.... Temia por Samsara... e por todos os demais Deuses, que jaziam desacordados ao chão.... O Mal havia se apossado de Xênia.

— Mas isso é terrível Não pode ser! — exclamou Arme, perplexa. E como ela, todos olhavam para Venese realmente pasmos.

— Foi exatamente o que ocorreu. E o pior se deu após ... — continuou ela, com tristeza.

— Os Deuses foram então transportados, de modo humilhante, como se fossem seres quaisquer, até o topo do Pico Delevon, onde há uma redoma que é usada para Rituais Sagrados. Eu os segui de longe, mas não consegui chegar perto do local... A energia que envolveu a tudo impediu que eu prosseguisse. Mas ouvi um dos supostos serviçais que havia acompanhado ao Deus Atron durante o Cerimonial, e que na verdade era um General a serviço Dele, rindo-se, e falando com o outro que viera com ele...  

Ela parecia rever a cena quando continuou.

— Dizia que Xênia havia se tornado uma Colônia de Astrynat, e que os Deuses passariam a eternidade presos no Selo das Trevas...  E que, como símbolo dessa Glória, a bandeira do Continente iria ser hasteada no Alto do Templo da Sintonia em homenagem ao Grande Deus Imperador….

Os olhos dela estavam marejados por lágrimas, e ela levou as mãos ao rosto, ao terminar de falar.

— Mas isso é um insulto!!! Algo odioso!!! — Explodiu, Sieghart.

— Temos de fazer alguma coisa! Temos de libertá-los!  — rebateu Elesis, igualmente indignada.

No Grupo, ecoaram vozes determinadas a revanche.

“Selo das Trevas...– repetiu em voz baixa Arme. Estava com ar sério e verdadeiramente preocupada.  Caminhou na direção de Venese e agachou-se ao seu lado.

— Você disse Selo das Trevas? Foi isso mesmo que disse?

— Sim, Arme. Foi isso.

— Oh, Céus! Esse é o mais sombrio dos feitiços de toda Magia Negra! E envolve um ritual sangrento... que não quero, nem ouso mencionar…  Algo tão maligno sendo executado por um Deus…por certo o torna ainda muito mais malévolo....

Havia um receio mórbido nos olhos da Gram Maga.

Agora entendo porque tudo aqui em Xênia está tão diferente. O fato desses Orcs que enfrentamos estarem tão poderosos ...  Sem falar que não deparamos com nenhum ser nativo desde que chegamos em Xênia ... E ao menos que tenham todos sido dizimados pelo Inimigo, tal recolhimento é anormal... E mesmo aqui, se olharmos bem para essas árvores, veremos que estão morrendo, e que não há pássaros… Não há nada…

— Agora que falou, Arme...  Você tem razão, está de fato silencioso… — concordou Ronan, com ar muito sério, observando a paisagem ao seu redor.

— Tudo aqui morrerá, Ronan, a menos que revertamos esse feitiço e tiremos os Deuses do Selo.  — ela balbuciou.

— E como faremos isso? — ele perguntou, se aproximando dela.

— Se o que li naquele livro milenar da Faculdade de Magia for verdade … é algo praticamente impossível ...

— Fale Arme, o que você sabe?  — inquiriu Elesis, que ouvira também a conversa.

 Arme se afastou um pouco, e, após, novamente voltou-se para os amigos.

— Segundo conta a lenda, somente o Ritual das Chamas Sagradas pode reverter a soturna magia do Selo das Trevas. Mas para isso seria preciso reunir os Sete Cristais de Ashiva...

— Cristais de Ashiva? – repetiu Amy, com ar curioso.  — Que Cristais são esses?

— Os Cristais que, segundo diz a lenda, foram criados a partir do poder dos Sete Demônios de Ashiva, o Deus ancestral do Caos, disse Mari. Não é isso Arme?

 — Sim, isso mesmo.

Sieghart pareceu mais circunspecto, sabia muito bem quem era Ashiva, e que esse Deus tinha relação direta com a sua Sagrada Espada Ashthanus, a cuja essência formava parte sombria da mesma.

— Nunca ouvi falar desse Deus… — disse, um tanto sem graça a jovem Amy, uma vez que fora sacerdotisa e deveria ter conhecimento sobre o mesmo.

— Ele foi um Deus maligno — interveio Venese, fitando Amy com ar incrédulo —, cujos objetivos eram contrários aos das demais Divindades existentes. Para Ele o Caos deveria permanecer do mesmo modo, e a criação de Ernas, e de uma dimensão como o é a Asmodiana, era realmente inconcebível....  Ou seja, Ele considerava o ato de criar mundos habitados por criaturas de origem não Divina algo profano, e por essa razão se mostrava irredutível e tinha como Lei, pois era o maior dentre todos os Deuses Ancestrais, de que a criação da vida, no sentido que os demais Deuses tanto pleiteavam, era algo que jamais deveria consumar-se.

 Os demais Deuses, entretanto, o ignoraram e impetrando uma revolução, o primogênito de Ashiva, O Sagrado Senhor da Sintonia, assumiu para si o Governo de Xênia e encarregou as três Deusas Ancestrais — Ernasis, Lisnar e Armenian — de darem forma ao mundo material, tendo, obviamente, o apoio dos demais Deuses Primordiais existentes, e que eram, respectivamente, os Sagrados Soberanos da Luz, do Fogo, da Harmonia, da Vida, do Sol e da Lua.

 Conforme o desejo do Novo Soberano, o Caos começou a ser dividido e os Deuses passaram a controlar as forças sobre o mundo que passou a ser chamado de Ernas, em homenagem a deusa Ernasis.  A vida então foi originada pelo poder das Deusas Ancestrais e assim surgiram as três mais importantes raças de seres a habitá-lo: Elfos, Anões e Humanos. Enquanto que   o próprio Deus Ancestral da Sintonia cuidou pessoalmente da Criação da Dimensão Mágica, hoje conhecida como Elyos.

 Profundamente indignado com a traição de seu próprio filho, e tomado de cólera, o Deus Ashiva pensou em um modo de trazer novamente o Caos Absoluto, e dividiu seu espírito em oito partes — sendo que, além da sua própria, as demais sete eram demônios poderosíssimos que levaram a destruição por onde passaram e, por ironia, tornaram-se mais poderosos até que o próprio Deus do Caos.

Abalados e, incomensuravelmente, entristecidos com tamanha desgraça, os Deuses Ancestrais, a custo de suas Sagradas Vidas, então se sacrificaram enviando o Supremo Senhor do Caos, Ashiva para uma dimensão paralela — aprisionado em sono profundo —, e Selaram aos Sete Demônios. No entanto, milênios depois, quando os antigos Deuses já haviam revivido nos Deuses que conhecemos, esses Demônios, de alguma forma, conseguiram romper o Selo e tornaram a provocar devastação.

Cientes do imenso poder dos mesmos, os Deuses desistiram da possibilidade de apenas novamente Selá-los. E, através do sacrifício de duas Divindades — que tiveram suas almas unidas e reclusas dentro de uma Arma Sagrada —, criaram a Espada Caos, que detinha poder suficiente para derrotar a esses demônios.  E foi empunhando essa Sagrada Espada, que o Deus Governante Thanatos extraiu a essência dos Sete Demônios Ancestrais retendo-as em Pedras Mágicas, que foram denominadas de Cristais De Ashiva; enquanto os malévolos seres foram enviados vivos ao Inferno.

 Os Deuses, com o intuito de manter para todo o sempre a crueldade dos Sete Demônios erradicada, então espalharam essas pedras por vários locais isolados, em Seu Continente Sagrado, ou seja, aqui em Xênia. Só que como o poder desses Cristais era por demais perigoso, Thanatos os amaldiçoou com um feitiço, onde, se retirados de seus Locais Sagrados, estes perderiam seu poder em no máximo duas horas. Sem falar que, diz a lenda, que Ele os deixou sob a guarda de Imortais, a cuja única missão é protegê-los.

— Nossa, que história!!! ...  Exclamou a jovem de cabelos cor-de-rosa.  — E agora ouvindo você falar... eu me recordo sim, embora vagamente, sobre esse Deus. Mas eu era tão pequena quando ouvi sobre ele...  — justificou-se, um tanto pensativa e impressionada ao mesmo tempo.

— Também conheço essa história – disse Lire. Os Grandes Sábios de Eryuell costumavam falar dessa lenda.

— Bem... Essa conversa de Deuses e de lendas é muito interessante, mas temos muito que fazer, e não podemos ficar perdendo tempo com isso! – disse Elesis, com ar sério.

— A Ruivinha tem razão! Nos diga Arme, onde estão esses Cristais? Você sabe? — endossou o Imortal.

— Infelizmente não. No Antigo Livro do Tempo, só mencionava, assim como Venese disse, que foram espalhados em pontos isolados de Xênia, mas não especificava a sua localização.

— Mais essa agora! – disse Jin, apreensivo.

— Eu posso ajudar. Sei onde estão. – disse a Sacerdotisa com voz séria. E todos voltaram-se para ela.

— O Deus da Luz me confidenciou isso há muito tempo, e me pediu segredo. No entanto, diante da gravidade do que ocorreu aqui em Xênia, creio que ele me perdoará por quebrar minha promessa e dar a localização desses Cristais. — ela disse, evidentemente emocionada. Amava-o profundamente, e sofria por saber que Samsara estava sob o poder maligno do selo das Trevas.

— Claro que sim Venese. Ele entenderá. — disse Sieghart, a confortando. E a moça pediu que a ajudasse a se levantar. O imortal atendeu-lhe ao pedido, e, após, oferecendo-lhe o braço para se apoiar, adentrou com ela no Templo da Luz; os demais os seguiram. Ela retirou, de sob um rochedo, velhos pergaminhos onde, em cada um, estava apontada a localização exata dos Cristais, bem como o mapa com as passagens secretas que conduziam às mesmas, através dos subterrâneos de Xênia. De modo que, assim, a Grand Chase poderia ir procurar por elas, sem defrontarem-se com o gigantesco Exército de Atron ou com os seus Generais.

O Imortal pegou os pergaminhos, e o Grupo dele se aproximou para os analisarem.

— De fato estão por toda Xênia. — disse o rapaz, pensativo. — Mas, com esses mapas chegaremos a eles com facilidade.

— Mesmo com os mapas não será fácil chegar aos locais onde cada Cristal se encontra, infelizmente. – retrucou Venese.  — Esses são caminhos cheios de perigos, e de difícil acesso. Vocês terão de ser cautelosos, e outro fator que terão contra é o próprio tempo. Lembrem-se, após retirados, os Cristais só terão poder mágico por duas horas, e se, ao término desse prazo, vocês não chegarem ao Pico Delevon, que fica próximo ao Altar da Destruição, e que é onde permanecem Selados os Deuses, não haverá como fazer o Ritual das Chamas Sagradas, e tudo estará perdido.

— Isso não ocorrerá! Nós conseguiremos chegar lá a tempo e com todos os Cristais. — disse Ronan, animando o grupo.

— Eu estava pensando... Se seguirmos pelas formações das Duplas faremos isso com mais brevidade... — ponderou Elesis.

— Concordo — disse Ryan, com seriedade na voz.  — Se formos todos juntos correremos o risco de perdermos muito tempo e acabarmos falhando em nossa missão.

 Um breve debate a respeito teve início e, diante da unanimidade quanto a questão, a Grand Chase passou a decidir a ordem a ser seguida pelas Duplas E, assim, ficou acertado que Sieghart e Mari iriam trilhar pelo caminho secreto que conduziria ao Cristal situado a Leste de Xênia.

Jin e Amy, por sua vez, rumariam ao Nordeste da região – ainda dentro do território de Samsara.

Já Elesis e Lass iriam adiante por um caminho que conduziria ao Norte de Xênia, sob as formações vulcânicas, em meio ao rio de lava do Desfiladeiro Incandescente.

Arme e Ronan, por sua parte, seguiriam por uma passagem sob os altos picos gelados a Oeste de Xênia, na região do Altar da Harmonia.

Enquanto que Ryan e Lire iriam se aventurar pelo Sudoeste do Continente, nas proximidades do Altar da Destruição.

Sendo que Sieghart e sua companheira finalizariam a missão, cuidando das passagens referentes ao Sul de Xênia — no território de Thanatos —, bem como a Ilha flutuante e invisível, situada ao Centro do Continente Sagrado.

Mas a decisão de ser o Imortal quem cuidaria também desses locais não agradou muito ao Grupo, e devido ao conhecimento dele da região bem como sua agilidade — fatores muito relevantes diante da gravidade da situação num todo — todos acabaram por concordar que deixar também essas missões ao encargo de Sieghart e da introspectiva remanescente de Calnat seria realmente o mais acertado a se fazer.

Concluído isso, ficou acertado que todos tornariam a se encontrar no Altar da Destruição, de onde rumariam ao Pico Delevon, onde os Deuses haviam sido Selados, e onde a jovem Gram Maga Arme clamaria pelas Lendárias Chamas dando início a Evocação do Ritual das Chamas Sagradas.

Venese, após havê-los conduzido a uma câmara secreta, por detrás da qual estava o caminho que os levaria ao Subsolo de Xênia, deles se despediu desejando-lhes sorte e aconselhando-os a não descuidarem-se diante dos Guardiões que velavam pelos Cristais. E, detendo seu olhar demoradamente em Ryan, que ao lado da esposa seguia mais atrás, sentiu o coração bater mais forte.

— Poder reencontrá-lo depois de tantos anos... Como queria que estivesse aqui comigo, meu amado Samsara, para também tê-lo podido visto… – disse, quase em um sussurro a si mesma,

Confiante, o Grupo partiu seguindo por entre a estranha vegetação – repleta de musgos e de coloração acinzentada —, até deparem com um imenso rochedo, a cuja dimensão aparentemente encerrava àquele caminho. No entanto eles sabiam que ali na verdade era o começo de um mundo misterioso, e até então desconhecido a seus olhos. Uma região que jamais supunham pudesse haver sob a paisagem exótica do Continente Sagrado, e que os levaria até os lendários Cristais do Deus do Caos Ashiva.

Eles o observaram por um momento, e Ronan, após reler mais uma vez seu pergaminho, pôs-se a tocar suas saliências com cuidado; de modo que ativou uma estranha sequencial de luzes que emergiram no rochedo, fazendo com que o mesmo se abrisse e desse assim passagem a uma estreita escadaria, cujo fim não conseguiam visualizar diante da escuridão em que esta mergulhava.

Com magia, o Cavaleiro Mago iluminou o local de modo que pudessem ao menos ter o mínimo de visibilidade E, assim, a Grand Chase seguiu em silêncio – enquanto, às suas costas, a passagem tornou a fechar-se lentamente.

Caminhavam um atrás do outro pela estreita escada, e só ouviam o ruído de seus próprios passos, à medida em que avançavam na descida. E perderam até um pouco a noção do tempo, pelas infindáveis voltas que deram enquanto mergulhavam mais e mais rumo aos subterrâneos do Continente.

Foi quando chegaram a uma grande câmara – ornada com estátuas sob a forma de gárgulas – e da qual vários caminhos se faziam possíveis, sob a forma de grandes túneis encravados na rocha milenar. Num verdadeiro labirinto de possibilidades, e que os levaria a perderem-se, não tivessem em mãos os pergaminhos com a rota certa a seguir, assim como as bússolas que carregavam.

Era chegado o momento, e a comitiva separou-se seguindo por rumos diferentes ao adentrarem nos variados túneis. Os quais iluminaram acendendo as tochas neles existentes.

Arme, após caminharem mais uns metros pelo túnel que a levaria com Ronan ao gélido território da Deusa Juriore, parou e se pôs a esfregar as mãos, parecendo tensa.

— Você está bem? — ele indagou, vendo-a naquele estado.

 — Eu não sei se serei capaz, Ronan… Esse Feitiço é muito antigo e. ... terei de lidar com Magia Sombria…

Ele parou diante dela e a fitou.

— Você vai conseguir sim. Você Consagrou-se como Gram Maga, Arme! E você é capaz! Eu sei que é.

— Ronan... Mas… Se eu falhar os Deuses estarão perdidos para sempre… Sem falar que... talvez eu … eu não sobreviva ...

 Ele segurou as mãos dela entre as suas.

— Isso não vai acontecer. Você pode. E eu estarei lá junto com você.

Eles se olharam por um momento em silêncio e Arme tentou sorrir. Mas a verdade é que ainda sentia-se temerosa. Um feitiço daquela magnitude só era invocado por Magos Milenares, e a missão que tinha diante de si podia estar muito além de seu poder, sabia.

Feryus e Vikka dormiam abraçados. A festa pela conquista de Xênia havia adentrado a madrugada, e o casal se permitiu esquecer dos rigores do horário militar, e entregaram-se a um sono profundo, totalmente relaxados após haverem também se amado muito. 

Porém, o choro forte da filha do casal, Kyria, fez a Gram Maga e Duquesa de Shalay despertar de seu sono, e esta retirou o braço do esposo que a envolvia de modo apaixonado e acolhedor. Este recostou-se mais ao travesseiro e seguiu dormindo, enquanto Vikka levantou-se e cobriu a nudez de seu corpo com um chambre feito de seda, em tom vinho. Caminhou até o quarto da filha, e aproximou-se do berço a pegando em seus braços.

— Que foi meu amor? Está com fome? Mamãe está aqui. Vou cuidar de você.

Ela, de modo carinhoso, seguiu com a menina até um estofado, e certificou-se se estava sequinha. Então, com amor maternal, pôs-se a amamentá-la. A criança, sentindo o calor de sua mãe acalmou-se, e quando Vikka percebeu, tornava a dormir serena em seus braços. Ela, cuidadosamente, aconchegou novamente a filha ao berço e ficou a acarinha-la.

Foi quando sentiu um calafrio percorrer seu corpo, seguido de uma sensação de tontura. Vikka se afastou do berço, e se apoiou à porta do quarto. Sendo que, nesse momento, uma sequência de imagens se formaram diante de seus olhos – em intensas visões que fizeram com que suasse frio, no que lhe pareceu ser uma eternidade, enquanto que que na verdade apenas poucos segundos haviam se passado.

Trêmula, ela caminhou até o leito do casal chamando pelo marido.

— Vikka querida, o que foi? — disse ele, sentando-se à cama num súbito.

— Eu tive visões Feryus! Precisamos impedir! Precisamos!

— Impedir o quê? Do que você está falando, Vikka? Não estou entendendo nada...

— Você sabe que nunca perdi o dom! Que mesmo tendo de deixar minhas obrigações como Oráculo, por causa do nosso casamento, eu não perdi meus poderes premonitórios! Que virgindade nada tinha a ver com eles, como diziam aqueles velhos tolos do Templo!

— Sim, eu sei. Mas, afinal, que visões você teve?

— Eu vi fogo violeta ardendo sobre auras prateadas… Bestas urrando e subindo em espirais ao céu… Vi Narsha … Vi trevas… E os olhos sedentos de é ódio de um homem, cujo poder alcançou minha alma…

— Mas o que isso tudo quer dizer, afinal?

— Os Deuses, Feryus! ... Alguém tentará romper o Sselo!

— Mas isso é impossível! A magia impetrada pelo Deus Atron é indestrutível!

— Nada é indestrutível, Feryus, e você sabe disso. A força das sombras é instável, e os elementos se transformam infinitamente pelo universo.

— Você se refere…

— Aos Cristais Sagrados de Ashiva e ao Ritual das Chamas Sagradas!

— Mas só um mago com poder infinito poderia controlar essa força, Vikka. Nós mesmos nos arriscaríamos se fossemos mexer com essas forças...

— Isso não importa! O Fato é que sei que está para ocorrer, e não posso permitir isso! Se perdermos Xênia temo pelo que ocorrerá ao Ducado, ao nosso Povo ... e — ela parou por um breve momento hesitante — a nós mesmos...

— Se é assim, vou rumar agora mesmo para Xênia!

— Não, Feryus. Quem vai sou eu. Você não pode deixar o QG. Não agora. Levantaria indagações e especulação. Eu posso resolver isso sozinha, e você sabe que sou capaz!

— Eu sei querida. Seus poderes são excepcionais. Contudo, não permitirei que parta sozinha. Peça a um General para acompanha-la.

— Não é necessário...

— Eu te peço. — ele a fitou com preocupação.

— Está bem... Mas farei isso apenas por que você insiste.

 Feryus tocou-lhe o rosto com amor.

 — Eu prefiro assim, minha amada... Me sentirei mais tranquilo não a deixando só.

 — Falarei com Keran. Ele é qualificado e leal ao Deus Atron.

 — Um ótimo Oficial...  Mesmo assim ainda acho que deveria ser eu e não você a seguir para Xênia. Ele sentia-se um tanto receoso com a decisão da esposa.

— Não se preocupe, eu vou acabar com essa ameaça que paira sobre os desejos de nosso Divino Imperador. Eu lhe asseguro.

— Sei que vai querida.

Em menos de meia hora Vikka e Keran partiram, montados em Dragões Alados, rumo ao Continente Sagrado de Xênia. Mas o coração de Feryus estava inquieto. Sob os ombros de Vikka o fardo de seu dom. Ela que nunca errara sequer uma predição, tanto antes como Oráculo no Templo outrora consagrado ao Deus Alkyraz na Capital do Império, como depois de ter deixado suas atividades sacerdotais para contrair matrimônio com ele, o Duque de Shalay.

E se as visões haviam anunciado o iminente perigo, ela estava certa em ir para Xênia, e impedir que algo pudesse interferir nos planos do Novo Imperador — que com rigor e tirania não admitia fracassos. O que certamente acarretaria em consequências catastróficas, as quais ele preferia nem sequer pensar.

Olhou para a filha que dormia serena, e, então, com ar soturno, seguiu pelo vasto corredor em direção ao seu gabinete.

No entanto, a meio caminho deste recuou, seguindo em direção a um vasto saguão onde, à uma mesa, o Gram Mago Yavos estava absorto a observar uns mapas.

— Yavos! — Chamou, mas este já havia lhe notado a presença.

— Sim Comandante?

— Preciso que me faça um favor.

— Estou às suas ordens, Comandante Feryus. Sabe disso.

— Quero que parta para Xênia imediatamente — ele ponderou com voz profundamente séria. — Mas não quero que Vikka o veja, a menos que seja preciso a sua intervenção. Não estou com bom pressentimento, e não posso me ausentar.

— Eu compreendo. Partirei imediatamente, serei discreto.

— Proteja a minha mulher. Eu te peço.

— Com minha vida, se preciso for. Pode contar comigo.

— Obrigado.  O Mago fez um breve movimento com a cabeça.

— E, Yavos!

— Sim?

— Se necessário, aja e impeça que algo ponha em risco os planos do nosso Imperador.

— Assim o farei. Para isso estou aqui.  — disse com voz firme e livre de hesitação, o que agradou Feryus.  E após saudar seu Comandante, deixou o saguão indo rumo ao pátio principal.

De onde estava, Feryus Voncheys o observou pela janela. Sentia-se mais seguro sabendo que outro poderoso Mago estaria na nova Colônia para dar apoio a Vikka — ainda mais se, de fato, as visões dela viessem a se confirmar.

Já Yavos, com expressão de seriedade, e um estranho brilho em seu olhar, pegou seu cajado rústico e longo, e, com sua túnica alva reluzindo, montou seu Unicórnio Alado, e alçou voo; partindo velozmente pelo céu de um azul límpido, naquela manhã escaldante do Deserto de Narazy.

Continua...


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Notas finais do capítulo

A Classe de Jin: Taiji – me baseei no estudo do Yin Yang e no diagrama do Taiji – que simboliza o equilíbrio das forças da natureza, da mente e do físico.
Com relação a nova arma de Ronan: A Espada Bastarda, é um a espada medieval ocidental de dois gumes. É uma das maiores espadas medievais, perdendo somente para a montante e a espada larga. (Origem: Wikipédia)
Mari, me baseei na nanotecnologia para imaginar o que seria sua Quinta classe. Já a classe da Lire o nome vem do élfico de J.R.R. Tolkien.



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