O Continente das Trevas escrita por Narsha


Capítulo 6
Rumo à Guerra


Notas iniciais do capítulo

O legal de se trabalhar uma trama que se passa numa realidade temporal futura, é que muitas possibilidades se abrem. Por isso, depois de pensar muito e de conversar com amigos que também jogam GC, tomei decisões importantes, e a partir deste capítulo muitas novidades vão começar a surgir. Entre elas as tão sonhadas 5 classes. Nada mais justo visto que se passaram 6 anos desde Astaroth ( Mas é claro que continuarei na expectativa das classes que ainda não chegaram no cenário oficial).
Outro ponto que pretendo trabalhar na fanfic, e esse vem de acordo com coisas que já existem no universo GC - são o novo sistema de trocas de armas (KGC), e também o Sistema de União – ou Duplas. Espero que gostem do episódio.
Boa Leitura!



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Narazy, uma gigantesca planície ao sul do imenso continente de Astrynat, fora o local escolhido pelos generais do GCA para formarem uma base provisória — uma vez que o local mantinha a edificação de um velho mosteiro abandonado.
E já se fazia tarde da madrugada quando o belo corcel alado pousou em frente à construção, cujos acabamentos e detalhes arquitetônicos lembravam construções ao estilo árabe.
Vikka e Feryus apearam, e seus semblantes eram soturnos quando adentraram na mesma. Sendo que ele mantinha o cenho franzido e os punhos cerrados. Era evidente sua contrariedade, a qual se externou tão logo deparou com o primeiro soldado que cruzou por seu caminho.

— Onde está Lyran? Diga-me!
— Ela esta no calabouço, Senhor, averiguando sobre o desaparecimento do prisioneiro.
— Pois trate de chamá-la! Diga que venha ter comigo!
— Isso não se fará preciso, Comandante Feryus. — disse a bela mulher, de cabelos negros e olhos cor violeta que deles se aproximou. E que estava usando uma armadura imponente, porém sensual. — Estou aqui.
— Venha conosco, eu e Vikka temos muito que conversar com você.
— Sim, Senhor .

Os três então deixaram o saguão principal, e por onde passavam soldados batiam continência em respeito aos Altos Oficiais.
Adentraram em uma imensa sala, onde ficava o gabinete de Feryus — que, por designação do novo Imperador, passara a ser o responsável por cuidar dos interesses militares do Império, bem como liderar o maior e melhor grupo de elite do mesmo: o Grupamento Continental de Astrynat (GCA). O qual era composto por onze membros com o recente ingresso no Grupo por parte de um rapaz da corte imperial, de nome Yavos, e que, apesar da aparência juvenil, já possuía mais de seiscentos anos de idade.
Muito irritado, Feryus sentou-se a cabeceira da grande mesa ovalada, e Vikka postou-se ao seu lado, mantendo-se de pé. Lyran, por sua vez, não se deixou intimidar pelo jeito pouco amigável do velho companheiro de batalhas e atual Líder do Grupo.

— Agora que estamos aqui, eu quero que me explique, e muito bem, como foi que aquele miserável escapou desta prisão? — a voz dele saiu alta, grave e carregada de rudeza.
— Eu faria isso se tivesse a resposta! Mas tudo indica que ele teve ajuda aqui de dentro. A cela não estava violada.
— O quê? — vociferou Feryus.
— Mas como isso? Quer dizer que temos um traidor entre nós? — disse Vikka sentindo-se irritada.
— É o que parece. — confirmou Lyran.
— Quem era o responsável pela prisão quando ele escapou? — disse o Comandante, tentando ordenar os pensamentos.
— O guarda responsável foi encontrado desacordado, assim como os soldados que vigiavam o Grifo do prisioneiro. Seja quem quer que tenha feito isso, sabia o que estava fazendo.
— De Oficial, aqui no QG, além de você havia mais alguém? — indagou Feryus pensativo.
— Mais cinco Oficiais do nosso GCA.
— Quais?
— Venon, Elyor, Yavos , Keran e Alryn.
— Seis Generais nesse forte e um prisioneiro me escapa tão facilmente! — explodiu Feryus. — Isso é um ultraje! Como pode uma coisa dessas?
— A bem da verdade aqui no QG estavam apenas três, Eu, Keran e Elyor.
— E Yavos onde estava?
— Havia ido com os demais Generais para um reconhecimento de campo. E então ficaram treinando combate. Mas o Senhor perguntou por Yavos por quê? Acaso desconfia dele? — indagou a Oficial, fitando-o.
 — Ele é o mais novo membro entre nós. Mas, pelo que me diz, ele estava com os demais.
— Acho que não há fundamento em desconfiar de que tenha sido um General quem fez isso!  — rebateu Lyran, olhando-o de modo firme.
— O que não é certo é um prisioneiro escapar daqui, debaixo dos seus olhos! Onde você estava nessa hora, Generala? E Keran e Elyor? Responda! — A voz do Duque se fez ouvir alta e repleta de fúria.
— Em reunião de cúpula, Senhor, analisando os resultados de nossa investida contra Aton e Xênia. — ela respondeu com voz inalterada, tentando conter a gana de encher Feryus de desaforos, mas não podia incorrer no risco de desacatar seu Superior.
— Hoje — prosseguiu com frieza—, melhor dizendo ontem , pois já é madrugada, os demais Generais que haviam rumado para aqueles Continentes sobrepujaram e conquistaram grande extensão dos mesmos. Sendo que Xénia foi apenas questão de levar as tropas, pois nosso Imperador já havia aberto o caminho…

— Ao menos uma boa notícia.
— E por isso estávamos reunidos discutindo e analisando esse progresso de nossos regimentos. Se há um traidor, não está entre nenhum de nós.
— Maldição! — vociferou o Duque.
— Eu descobrirei quem foi – disse Vikka. Deixe essa missão para mim. Eu trarei a cabeça do traidor para você querido.

Batidas à porta fizeram-se ouvir de repente. E Todos se voltaram para a mesma quando esta se abriu, dando passagem aos cinco Oficiais do GCA que também se encontravam no QG.


Venon, um rapaz esguio, aparentava ter uns vinte e três anos e pertencia à Família Real dos Elfos da Floresta Negra — um povo misterioso e que vivia oculto na névoa eterna que envolvia esse local ao noroeste de Astrynat —, sua pele azulada fazia realçar-lhe os cabelos prateados. Mas era a crueldade de seu povo — motivo pelo qual foram banidos ao esquecimento durante o governo do deus Alkyraz — umas das características mais marcantes de sua raça. Ele, porém, havia vencido esse estereotipo, e junto da irmã Elyor, durante anos, ao ingressarem no GCA, buscaram o perdão para seu povo. No entanto com o deus Atron, que assumira o poder de modo repentino, isso se tornou desnecessário. Para o novo Imperador, as características bélicas de seu povo não eram mais um motivo de vergonha, e sim de orgulho. Grato a Atron, ele jurou a si mesmo servi-lo fielmente e fazer o que fosse preciso para transformar todos os demais Continentes em colônias sob seu domínio. Não importando a que preço.

Sendo que Elyor , no esplendor de seus dezenove anos, e com a poderosa ajuda de seu arco prateado da Lua Negra, compactuava de seus propósitos. Por detrás de sua beleza exótica, a maldade latente de sua raça se fazia ainda mais fluente.  Possuía estatura alta e esguia tal qual seu irmão, e, como ele, também tinha os cabelos prateados. No entanto, seus olhos eram de um azul muito claro, ao passo que os de Venon eram negros.

Keran, por sua vez aparentava ter uns vinte e seis anos e era um homem alto e de porte atlético, com cabelos avermelhados e olhos amendoados. Muito calado e discreto costumava manter um ar um tanto enigmático. Favorável aos métodos de Atron e partidário de suas decisões, se mostrava um guardião leal à Corte e, em nome dessa lealdade, cumpriria fielmente o que lhe fosse determinado, mesmo que isso significasse ter de acabar com a vida de velhos, mulheres e crianças.

Alryn, no entanto, possuía um olhar estranho e parado, tinha dezessete anos, tez clara e os cabelos louros. Era uma excelente espadachim do Reino Uryos, povo da região mediana de Astrynat. Sendo que havia entrado para o GCA aos treze, e, desde então, junto do grupo, cuidava da proteção do Continente contra possíveis tentativas de dominação, como as que ocorreram no passado por parte de Cazeaje e a promovida pelo pérfido Astaroth. Bem como também auxiliava na manutenção da Paz e da Condição de Território Neutro – como o era Astrynat nos tempos de Alkyraz.
Com a ascensão de Atron ao poder, no entanto, e após uma audiência em que fora à presença do novo Imperador — juntamente com sua irmã gêmea Narsha, e com os colegas de grupo, Lyran, a arqueira de Vallon, reino a sudoeste de Amaky ( a capital do Reino Maior de Astrynat e sede do Templo de Atron) e Pheratz, o Grande Mestre Shinobi — tornara-se estranhamente sombria, cumprindo de forma incondicional aos desejos do Novo Soberano. Do mesmo modo que ocorrera aos que haviam lhe acompanhado.

Yavos, de todos, porém, era o mais misterioso membro do GCA. Seus cabelos longos e negros eram lisos e caiam soltos indo até sua cintura. Tinha um olhar intrigante e, assim como seus cabelos, seus olhos eram negros como a noite mais escura. Estava no GCA há apenas um ano, e pouco sabia de sua própria origem. Como se sua mente estivesse turva e envolta na mais profunda e densa névoa.
Mas algo tinha certeza — mesmo não sabendo como —, era um poderoso bruxo e graças a isso Alkyraz o havia recomendado ao GCA. Com sua “morte”— mesmo tendo ciência de que isso representava na verdade  o retorno do  espírito  do deus  ao seu corpo no Mundo Sagrado —, sentiu-se desorientado, e não conseguia aceitar os desígnios do novo Imperador, por mais que se esforçasse.  Por essa razão decidiu fingir apoiá-lo com o intuito de, dentro do possível, retardar seus intentos, bem como manter vivos os ideais daquele a quem jurou lealdade eterna e por quem nutria um amor filial; embora soubesse que não merecesse tal honraria, pois não passava de um mero plebeu mortal, e que não possuía  nem a  nobreza  e nem a divindade do sangue imperial.
Para ele, Alkyraz fora como o pai que não lembrava ter tido, e o único que sabia alguma coisa sobre sua origem. Algo que vinha revelando a ele aos poucos: como sua real idade, na casa dos 656 anos, a qual se mantinha oculta na  aparência de um rapaz de vinte e seis.
Através dele, soube ser filho de um grande mago com uma sacerdotisa, mas com a “morte” do Imperador, suas esperanças de desvendar seu passado haviam desmoronado e a única coisa que o mantinha vivo era a certeza de que deveria honrar aquele que tanto o havia ajudado. Mesmo que para isso fosse necessário arriscar sua própria vida.
E esse foi o motivo pelo qual salvara Sieghart, usando a magia da Esfera de Naruz, onde por cinco minutos pode se desdobrar, estando em dois locais diferentes ao mesmo tempo. Um poder que lhe fora concedido secretamente pelo finado Imperador. Mas que, em contrapartida lhe consumia setenta por cento de capacidade vital, fazendo com que ficasse vulnerável em caso de qualquer ataque por parte de um eventual oponente.
Por isso mesmo, tão logo conseguiu livrar o Oficial de Vermécia, tratou de sugerir o encerramento dos treinos de combate aos demais Generais. De seu Grupo. Uma vez que um simples arranhão com a lâmina de uma espada poderia levá-lo à morte naquele momento.
E agora, diante de Feryus — um Comandante astuto e sagaz — teria de usar de toda sua frieza e passionalidade para poder continuar com seus planos, e ajudar os guerreiros, sob as ordens da experiente e sábia Comandante Lothos, a sobrepujarem o mal que se instalou em Astrynat, após o deus da Misericórdia Atron haver tomado em definitivo seu lugar no Trono do Império.

— Meus caros, que bom que vieram. Juntem-se a nós e acomodem-se. — disse o Supremo Líder do GCA com muita seriedade. E todos se sentaram à grande mesa.
— Estávamos falando a respeito da fuga do Oficial de Vermécia.
— Imaginávamos. — disse Venon, de modo frio. – E só estávamos aguardando seu regresso para ter com você Comandante.
— E o que me dizem a respeito disso? Viram alguma movimentação suspeita? Desconfiam ou sabem de algo? Yavos?
— Estávamos num rigoroso treino de combate quando o incidente ocorreu. E na região onde nos encontrávamos não havia nada anormal, nem tampouco a presença de alguém suspeito. – disse Venon, analítico.
— Acredito que não. Mas temos fortes evidencias de que o prisioneiro escapou tendo ajuda de gente aqui de dentro. — falou o Duque Feryus, de modo seco.
— Um traidor? — disse Yavos, fingindo surpresa.
— Sim. Um soldado, muito do provavelmente, ou mais de um. Alguém que na verdade se oponha os desejos de nosso Imperador, e que se oculte sob a armadura de um militar. — os olhos do Duque, enquanto falava, percorriam os rostos de cada um dos ali presentes.
— Mas isso é uma vergonha para o nosso Grupamento! Precisamos encontrar esse ou esses traidores e dar-lhes a punição que merecem! — explodiu Venon.
— Certamente. — concordou a Duquesa.
— E que punição um soldado como esse merece ao vosso ver, meus caros?
— Que mais seria do que a morte, estimado Comandante! —retrucou Yavos. — E se me der a honra, gostaria de poder eu mesmo dar a esse traidor ou traidores o fim que merecem. — disse, com frieza.


 Feryus o fitou e, analisando-o, afastou definitivamente a suspeita que tivera em relação ao Oficial.


— Honra concedida. - Yavos assentiu com a cabeça.
— Mas falemos de coisas mais agradáveis agora. — disse o Comandante mantendo a sobriedade em sua voz. — Hoje nossos exércitos, sob comando de três grandes Generais de nosso Grupamento, adentraram nos continentes de Aton e Xênia e os conquistaram efetivamente. Ao menos, grande extensão dos mesmos. Sendo que o domínio total deve ocorrer em no máximo dois dias, segundo este relatório que observo agora. — falou folheando as diversas páginas que se agrupavam em um grosso livro de anotações.
— Soubemos, e essa é uma grande e maravilhosa notícia, Senhor.
— Certamente Elyor. Principalmente porque Xênia já é totalmente nossa e os seres que habitam Aton, em sua maioria, não se entregaram a um confrontamento direto com as tropas lideradas pelo General Pheratz. Em contrário, por temerem  ao deus Atron ou por simplesmente comungarem dos objetivos de nosso Imperador, se colocaram à disposição de Astrynat como aliados nesta guerra.
— No entanto, a Grand Chase já se encontra par sobre nós. Sieghart chegou a Serdin e atrapalhou nossos planos de conseguirmos mais informações a respeito deles de um modo direto. — disse Vikka com certa irritação.
— Não pense mais nisso querida. De qualquer forma, a notícia sobre a invasão de nossas tropas nos dois Continentes chegaria rapidamente ao conhecimento deles.
— Isso é verdade. — concordou a Duquesa.
— E o que tem em mente, Comandante? — indagou Alryn, com um olhar gélido.
— Seguir em frente com os nossos planos. E avançar com nossas tropas por Ellia e os demais Continentes. No entanto, agora quero que agilizem isso e alcancem Vermécia. Desejo que este Continente caia o quanto antes sob o domínio de Astrynat, e junto dele  almejo o aniquilamento de sua Grand Chase!
— Se esse é o seu desejo. Pode contar conosco. — disse Yavos. - Acabaremos com a GC e levaremos a bandeira de Astrynat por todos os Continentes.
— Não esperava outra postura de um General GCA. E vocês, comungam dessa opinião?
— Os demais Generais então também manifestaram seu apoio ao Grande Líder do GCA. E este, satisfeito, fitou-os e, após, abriu um mapa, onde, enquanto lhes falava, apontava locais específicos, exemplificando sua estratégia de guerra.


E quando finalmente foi junto de Vikka para o aposento do casal — um dos mais confortáveis e mais espaçosos do QG — já se fazia muito tarde. E ele e a esposa ficaram por um bom tempo a fitarem o berço, disposto no quarto ao lado, onde a filha de sete meses do casal dormia serenamente.

— Ela está cada vez mais parecida com você querida...
— Você acha?
— Sim. Tão linda quanto à mãe. — ele sorriu.
— Ainda quero te dar um filho homem, Feryus.
— Você me dará...
— Esperemos apenas essa guerra findar-se. E mesmo, acho que agora que ela começou, devemos levar nossa filha de volta a Shalay e deixá-la com minha irmã.
— Também acho querida. Não quero que ela sinta a energia sombria da guerra.
— Nem eu, amor.
Ele cobriu a filha e beijou-a na testa. Vikka a acarinhou, e os dois então se afastaram do berço e seguiram para seu quarto. E ela serviu ao marido um copo de uma bebida forte.
— Acho que você está precisando...
— Estou mesmo. Você realmente me conhece Vikka.
— Dez anos juntos, como eu não conheceria... — disse o ajudado a retirar a armadura.
Ele a tocou no rosto com carinho.
— Prepare um banho pra nós... Quero esquecer um pouco essa guerra... E apenas achar que meu mundo é só você e a nossa filha...
— Também quero isso... Ainda mais que a felicidade dela e de nosso povo em Shalay depende de nosso êxito. — os olhos da Duquesa pareciam distantes.
— Tem horas que sinto ódio por isso tudo Vikka! Ódio por não poder fazer nada. Por ter de me sujeitar...
— Mas era isso ou você sabe... Devemos pensar em Kyria.
— Mas é nela que tenho pensado. Tudo que faço é por nossa filha.
— Esqueçamos isso agora... Ao menos agora... Deixe-me cuidar de você. — ela disse acarinhando o marido.
— É o que mais quero querida... — disse, abraçando-a forte e beijando-a de modo cálido e demoradamente.


O olhar sombrio da Comandante Luryen Lothos evidenciava a gravidade dos acontecimentos, pois, além do que fora relatado pelos membros da GC sobre o ocorrido em Serdin, estava diante de relatórios que lhe haviam sido entregues há pouco, e que eram oriundos do QG situado no continente de Arquimidia, bem como de um outro situado nos limites de Ellia com Aton, e também do existente na Base Marítima no Mar de Patusei.


Sua aparência em pouco havia mudado, e continuava uma mulher muito bonita por detrás do jeito sempre sóbrio. Sendo que há três anos havia se tornado esposa de um Alto Oficial do Reino de Canaban. E foi  com seiedade que ela ergueu os olhos dos relatórios a sua frente, e voltou-se para os membros da GC que se encontravam sentados em torno da gigantesca mesa redonda ali existente no Quartel General.

— Não restam dúvidas com relação à Astrynat e à guerra que se instaurou. Acabei de receber relatórios oriundos dos QGs de Arquimidia, Ellia e da Base Marítima no Mar de Patusei. E através deles fomos informados de que as tropas do Exército de Atron invadiram e dominaram grande extensão dos Continentes Aton e Xênia.
Diante do comentário, um alvoroço tomou conta do local e todos se manifestaram de modo, ao mesmo tempo, chocado e surpreso.

— Eu peço a todos que permaneçam em silêncio. A situação é muito grave, e ainda não terminei de falar! — disse com altivez, e o grupo silenciou-se.
— E pelo que consta — prosseguiu  com gravidade —, o próprio Imperador de Astrynat, o deus Atron, ao lado de dois Oficiais, foi o responsável pelo domínio de Xénia. Aton caíra pelas mãos de mais um General do GCA — um grupo semelhante ao nosso GC, e que outrora se incumbiam apenas de velar pela manutenção da Paz e do Estatuto de Território Neutro.
— E quando foi isso? — indagou Elesis, com ar muito sério.
— Ontem à noite – provavelmente no mesmo horário em que vocês combatiam a criatura que levou ruína à Serdin.
— Maldição! Siegh estava certo, eles calcularam tudo! — disse Jin, com indignação.
— Jamais diria mentiras sobre algo tão sério, criança.
— Sieghart, a meu pedido, há três meses partiu para Astrynat a fim de cuidar de questões diplomáticas. Só que nesse meio tempo ocorreu a morte inesperada do Soberano de Astrynat, o deus da Temperança Alkyraz, e fazia um mês que havíamos perdido contato com ele. Sendo que as autoridades do GCA diziam não ter qualquer conhecimento do fato e que investigariam o ocorrido. No entanto, agora vocês já sabem quais os reais motivos.
— E comandante Lothos... Diante disso tudo, o que nós da GC devemos fazer para impedir que Atron e suas forças venham a dominar a todos Continentes? — inquiriu Elesis verdadeiramente preocupada.
— Primeiramente precisamos reverter a situação em Aton e Xênia, e também garantir que mais nenhum Continente venha a ser invadido pelo exército inimigo. E, por isso mesmo, hoje já estarei enviando tropas para Ellia a fim de guardarem as fronteiras, enquanto outros dois pelotões deverão se encaminhar rumo à Xênia, de onde posteriormente seguirão para Aton. E eu mesma encabeçarei o contra-ataque em Xênia. Mas preciso que vocês me auxiliem a devolver a ordem a esses Continentes, bem como no aniquilamento dos propósitos de ocupação por parte do Império Astrynat.
— Será uma honra poder tornar a lutar pela restauração da paz em todos continentes. — disse Ronan com seriedade. E os demais assentiram.
— Eu fico satisfeita ouvindo isso. Em meia hora estarei entregando a  todos vocês um cronograma completo sobre as novas missões. Mas vou adiantando que tenciono enviá-los em duplas para as mesmas.
— Duplas?
— Sim. Os riscos se tornam menores  e os resultados mais rápidos. E não temos tempo a perder.
— E como serão essas duplas, qual o critério?
— Eu avaliarei isso e quando entregar os pergaminhos a vocês já terei definido a dupla que irá para cada missão. Mas adianto que tenho em mente que sejam casais.
— Casais? — surpreenderam-se todos.
— Sim. Mas por agora é isso. Em meia hora tornarei a esta sala e terei novamente com vocês. Fiquem à vontade.

Lothos então deixou a sala de reuniões e se dirigiu, junto de Sieghart e de outros Oficiais, rumo ao seu gabinete a fim de analisar e definir as missões. E a pedido dela, Ronan os acompanhou.

Pontualmente meia hora após, Lothos tornou a adentrar na sala onde o Grupo estava reunido, e todos estavam um tanto curiosos a respeito de quem seriam suas duplas nas missões iminentes.
Ainda muito séria, a Comandante então pediu silêncio mais uma vez e fitou-os.

— Já defini as novas missões de vocês. E agora direi como ficaram as duplas — ela parou por um breve momento antes de prosseguir. — Sieghart e Mari devem partir rumo a Aton e restaurar a paz e a autonomia naquele Continente; Jin e Amy devem partir imediatamente para a Terra de Prata. Quero que os Cavaleiros de Prata sejam restituídos sob vosso comando, Jin.
— Pode contar comigo — disse o rapaz de cabelos cor de fogo, sentindo-se honrado com a missão a ele designada.
— Sei que seus esforços nesse sentido já tem obtido sucesso, e conto com seus soldados para nos auxiliarem nesse combate e guardar nossas fronteiras.
— Pode contar, deixarei nosso Exército de prontidão. E pela honra da Terra de Prata lutaremos para defender nosso Continente e todas as fronteiras!
— Obrigada Jin.
— Mas eu queria ir com o Ronan... — deixou escapar a mimada Amy, fazendo um beicinho. Contudo, o olhar severo de Lothos fez com que se calasse.
— Ryan e Lire devem rumar para Ellia e aguardar instruções. Enquanto o Shinobi Lass e Elesis Sieghart devem rumar junto de Ronan Erudon e da Gram Maga Arme de Serdin para Frosland, próximo à costa oeste de Astrynat, e aguardarem instruções, pois dali vocês deverão  seguir e adentrar naquele Continente para uma abordagem inicial conforme o desenrolar dos acontecimentos.

— Mas e o Continente de Vermécia, ficará desprotegido? — disse uma voz suave que se fez ouvir repentinamente, e todos fitaram em sua direção.

E quando Mari pousou seus olhos na mulher, em trajes de Alto Oficial Militar, que ali havia chegado empalideceu e sentiu leve tontura acometer-lhe, de modo que se apoiou rapidamente em Sieghart. E este olhou para ela preocupado.

 Com um gesto breve com a mão ela tranquilizou-o, e tornou a olhar para a mulher que, por sua vez, também a fitava de modo significativo, e cujos olhos pareciam ter algo de intensa comoção, embora contida.

 — Esta é a Subcomandante Elyedre Khennyel. Vocês ainda não a conheciam. — apresentou-a Lothos.

A Oficial movimentou levemente a cabeça em um cumprimento a todos ali presentes e recebeu por parte dos membros da Grand Chase semelhante gesto respeitoso.

Era uma mulher muito bonita, aparentando ter em torno de uns 24 anos de idade, de tez muito alva, cabelos longos e cacheados cor verde escuro muito intenso, e seus olhos eram de um tom ametista profundo.

Lothos aguardou um momento antes de prosseguir.

— Temos um destacamento bem treinado que ficará responsável pela segurança do referido Continente, não se preocupem.  E você, Elyedre — disse fitando diretamente a Oficial —, como Subcomandante, terá a missão de nos auxiliar com isso. Quero que fique responsável pelas tropas que guardarão Vermécia.

 A jovem surpreendeu-se com a decisão de sua Oficial Superior, mas prontamente respondeu-lhe sem hesitação.

— Será uma honra, Comandante Lothos.


Lothos então entregou os pergaminhos às respectivas duplas.


— Devemos partir no início da tarde e quero que todos estejam aqui logo após o almoço. — prosseguiu  com seriedade. — E estejam preparados porque a guerra que se anuncia será uma das mais cruéis pelas quais já passaram. Digo pelo conhecimento que tenho sobre os exércitos de Astrynat e de seus generais do GCA. Não é a toa que nem mesmo Cazeaje ou Astaroth tenham conseguido estender seus domínios malignos por sobre aquele Continente.
— Não se preocupe Comandante Lothos. Estamos preparados para dar nossas vidas se preciso for, mas colocaremos um fim ao sonho utópico de Atron de tornar a todos os Continentes em meras colônias sob o domínio de Astrynat. — disse Elesis, que se adiantou falando em nome do Grupo.
— Eu tenho plena confiança em todos vocês. Mas agora peço licença, tenho muitas providencias a tomar antes de nossa partida. Fiquem à vontade, e organizem-se também.  Tornarei a encontrá-los por volta da uma da tarde.
— Sim Comandante. — disseram. E esta então deixou a sala.

Um grande burburinho tomou conta do grupo após a saída de Lothos , especialmente no que dizia respeito ao itinerário das novas missões, e a decisão por parte da comandante de fazer com que formassem duplas para seguirem nos iminentes combates.


Lire e Ryan ficaram satisfeitos com a resolução de Lothos. Afinal estavam casados faziam dois anos e, embora cientes de que suas obrigações na Grand Chase pudessem vir a trazer momentos de distanciamento em função de uma eventual batalha, era gratificante saber que poderiam trabalhar juntos para trazer novamente o equilíbrio  e a  paz a todos Continentes.

Mari e Sieghart também se sentiam motivados perante a escolha. E por detrás da aparente formalidade, discretamente trocavam olhares significativos.

Haviam se conhecido há alguns anos, no território pertencente ao deus da Destruição Periet. Mas a verdade era que, na época, Mari sentira uma forte sensação de familiaridade quando deparou pela primeira vez com o Imortal — que junto dos demais membros da Grand Chase seguia pelo Continente Sagrado em busca de respostas. Sua memória naquele momento ainda encontrava-se fragmentada, e poucas e evasivas eram suas lembranças sobre si mesma ou quem realmente era.

Sieghart, no entanto, a reconhecera prontamente — embora tenha mantido para si tal fato —, e pensando na própria segurança de Mari aceitou que esta o acompanhasse e passou a conviver mais diretamente com ela.

O tempo passou, e a amizade entre os dois se solidificou, a jovem recobrou completamente a memória, e a Grand Chase conseguiu dar fim aos planos maléficos de Astaroth — a quem Mari reconheceu como Bardnard, o Primeiro Ministro de seu Extinto Reino, Calnat, e que fora um dos homens de maior confiança por parte de seu pai, o Rei Hadunak Mu Onete. E sem que este pudesse imaginar também havia sido o maior e pior traidor dentro da Corte de Calnat.

Com a paz que se sucedeu após a derrota de Bardnard, os membros da Grand Chase seguiram por caminhos diferentes, cada qual em busca de sua própria jornada. No entanto, Mari e Siegnhart jamais perderam o contato, e em contrário, o vínculo afetivo que os unia se tornou muito mais intenso, sendo que faziam mais de três anos que os dois estavam envolvidos amorosamente.

No começo, um envolvimento superficial e sem compromisso, mas que há bom tempo vinha ganhando força, de modo que, tanto ele como ela, se sentiam cada vez mais atraídos um pelo outro.  E deixavam-se conduzir por aquele sentimento se entregando por completo, vivendo um relacionamento que ia muito além de apenas prazer a dois e trivialidades, e que mesmo ainda não admitindo um ao outro, há muito havia deixado de ser apenas uma simples paixão tola tendo se convertido em algo muito mais grandioso: o amor.

Um amor que Sieghart de certo modo ainda temia por sua condição imortal — algo que o fez evitar entregar-se a um relacionamento mais sério com qualquer mulher durante os longos séculos de sua eterna vida.  E atribuía a algum tipo de desdobramento temporal — ocasionado durante os minutos que antecederam à grande explosão que levara à extinção do Reino de Calnat, no exato momento em que a princesa Calnatiana encontrava-se na cápsula de fuga —, a razão para a jovem ter transposto séculos vindo parar na atual era onde se encontravam agora. Mas nem mesmo ele — assim como Mari — ainda sequer poderia imaginar que um fato muito importante envolvendo o passado da remanescente de Calnat, e que ocorrera no também extinto Reino Angelical de Elyos, teria poder de mudar tudo e extirpar por todo o sempre seus mais profundos receios.

Amy, porém, tinha o rosto um tanto contrariado. Não mentira quando dissera que queria seguir missão junto de Ronan, e olhava para o pergaminho desanimada, assim como para Jin. Que, apercebendo-se disso, sentiu-se chateado.
Não era de hoje que amava a jovem e que aturava-lhe o egoísmo e imaturidade, assim como sua instabilidade amorosa.
Fora seu namorado por duas vezes, e sentiu a dor do abandono e da traição em inúmeras ocasiões. Mas mesmo assim a amava e tinha uma esperança vã de ainda fazê-la o amar do mesmo modo. No entanto, aquela atitude da moça doía-lhe muito e era difícil fingir que não se importava. Principalmente por vê-la dependurar-se ao pescoço de Ronan reclamando atenção.

E assim como ele, Arme também observava a cena sentindo uma tristeza abater-lhe, pois imaginava que Ronan também gostaria de estar junto de Amy, uma vez que estava apaixonado por ela, e que, devido à escolha de Lothos, agora seria obrigado a ficar ao seu lado nas missões e não junto da moça. Sentiu vontade de pedir a Comandante que reavaliasse sua decisão, mas a conhecendo como conhecia, sabia que Lothos não o faria — ainda mais por um motivo que certamente consideraria fútil e tolo, diante da gravidade da situação que se instaurara.

Elesis, por sua vez, analisava o pergaminho atentamente e pouco se importava pelo fato de ter de partir ao lado de um colega da GC para a guerra. Estava plenamente focada na missão a cumprir e conhecia relativamente bem a Lass. Que, apesar de sempre se mostrar mais calado e de optar muitas vezes por isolar-se, era um homem leal e que como ela mergulharia de corpo e alma na missão. E por isso mesmo, sentia-se bastante tranquila.

Ele, porém, de modo discreto, fitava a jovem de cabelos ruivos atentamente. E sentia-se satisfeito com o que o acaso havia-lhe reservado. Seguindo em missão com Elesis, poderia ter uma chance de “domar àquela fera selvagem”, e assim viver com ela o sentimento que calava em silêncio consigo. Mas sabia que não seria algo fácil, visto seu próprio modo de ser, bem como ao dela, sempre tão esquiva e fugidia, também parecendo agir com frieza quando se referia ao amor. Mas estava determinado, e não era um homem de se deixar vencer por nenhum obstáculo. Ainda a teria como sua e disso tinha absoluta certeza.
Sorriu de um modo meio passional, diante dos próprios pensamentos, e caminhou na direção de Ronan — que estava afagando Amy no rosto, consolando-a.

— Não fique assim... Eu e você ainda nos encontraremos... Veja pelos pergaminhos, após sejam concluídas as missões todos rumarão para Astrynat. E aí nos encontraremos. A ideia é de que todos nós partamos ao mesmo tempo de lá.
— Mesmo assim, Ronan... Eu vou sentir sua falta... Por que a Comandante Lothos não me deixou ir com você? Você não sugeriu?
— Ela decidiu. Não pude fazer nada. Não sei quais critérios ela usou em sua decisão. — disse, ocultando dela a verdade.
— Botou você com aquela Maga sem graça! Que ódio! E eu com o chato do Jin! Ai que raiva!
— Calma! Não quero te ver assim...
— Eu amo você Ronan! Você me ama? — disse enlaçando-o pelo pescoço, e aproximando seus lábios dos dele de modo convidativo. Ele, porém, sentiu-se um tanto desconfortável diante da atitude da jovem, embora não entendesse a razão disso. Foi quando a voz grave de Lass, o chamando, acabou por trazê-lo de volta à realidade.


— Ah, pelo visto atrapalhei os pombinhos! — disse o Shinobi, de modo seco.
— Não foi nada. Tudo bem Lass. — retrucou Ronan, totalmente sem graça.
— Tudo bem nada! Sabe Lass, você não tinha nada que vir aqui agora! Ai que saco!
— Amy! — censurou-a, Ronan.
— Eu vou aonde eu quero e quando quero, fique você sabendo! — falou Lass, lançando-a um olhar gélido.
— Ah me irritei, vou ver o que o chato do Jin ta querendo! Fica lá acenando pra mim! É outro irritante! — disse olhando com ar zangado e caprichoso para Lass. Então se voltou para Ronan — a quem se dirigiu de modo meloso e suave.
— Depois continuamos... — disse piscando para ele, e saindo de modo atraente na direção do Guerreiro da Terra de Prata.
— Não sei como você consegue querer ter algo com isso! — disse o rapaz de cabelos prateados com voz séria, enquanto observava a jovem de cabelos cor-de-rosa distanciar-se.
— A bem da verdade, não sei se quero. — ele deixou escapar, pensativo.
— Como assim?
— Eu não sei se é o momento de eu começar um relacionamento. Estamos às vésperas de uma guerra...
— Hum.
— Mas fale o que você queria me dizer?
— Acho que terei uma oportunidade. Essa coisa de duplas veio a calhar.
— Imaginei que você iria ficar feliz com isso. Mas não foi por acaso que sua dupla foi a Elesis.
— O que quer dizer?
— A comandante Lothos tencionava colocar você com a Arme, e a Elesis com o Jin. Eu iria seguir com a Amy porque segundo a Comandante seria um bom modo de amadurecê-la em combate, e de diversificar as duplas. Mas ela me inquiriu sobre o que eu achava, e disse que respeitaria minha decisão.
— Então você... — ele disse fitando Ronan atentamente.
— Disse que não desejava ter ela como parceira porque a achava pouco preparada para ir de imediato à Astrynat. Que me sentiria mais confortável ao lado de Arme, e que achava que a Elesis deveria seguir com você, e não Jin, nas missões. Que isso seria o mais adequado, visto a gravidade da situação.
— Mas se você está interessado na Amy, eu não entendo essa sua atitude. Por que fez isso?
— Eu sei o quanto você ama a Elesis, e o que eu mais gostaria era vê-la também feliz. E como te falei acho que agora não é o melhor momento para eu me envolver com alguém. — ele realmente não se sentia seguro sobre seus sentimentos com relação à Amy.
— Eu não sei nem o que te dizer... — Lass estava realmente surpreso com a atitude do amigo.
— Não diga nada... Só me prometa que vai lutar por Elesis! Quero ver vocês dois juntos ainda! - Lass sorriu.
— Pode ter certeza de que farei isso.
— É assim que se fala. Mas não comente isso com ninguém, por favor, muito menos com a Amy...
— Até parece que você não me conhece.


Pensativa, a Subcomandante Elyedre Kennyel posicionou-se junto à porta de entrada. Ainda não possuía muita intimidade com o grupo e, particularmente, vivia naquele momento um grande dilema interior, pois sentia e tinha grande necessidade em conversar com Mari Ming Onete — a quem não via desde o fatídico dia em que deixara Calnat para ir até o vilarejo Asmodiano de Khalyr, séculos antes. E por relativo tempo chegou a acreditar que a princesa Calnatiana, em função do terrível destino que tivera Calnat, houvesse perdido a vida, e só teve conhecimento de que ela havia sobrevivido e que estava ligada à Grand Chase algum tempo depois de haver adentrado para o Exército Intercontinental há poucos anos.

Sempre soube que chegaria o dia em que novamente se encontrariam, contudo, não sabia se aquele seria o melhor momento para a delicada conversa que por certo teriam, e isso fazia com que relutasse e ficasse a avaliar com seriedade a situação.

 Mari também a fitava, e seus olhos bicolores possuíam um ar inexpugnável, ao qual ela não sabia dizer se lhe guardavam surpresa, alegria, tristeza ou simplesmente mágoa. Embora dentro de si própria Elyedre sentisse que apenas tristeza e pesar verdadeiramente habitassem, em meio à genuína alegria que também sentisse por saber que Mari, como ela, de alguma forma conseguira escapar a todo horror pelo qual havia passado em um tempo já tão remoto, em cujas lembranças insistiam se fazer presentes transcendendo aos próprios séculos.

À exceção de Ecnard Sieghart, que havia deixado a sala de reuniões pouco tempo depois da saída da Comandante Lothos, ninguém ainda havia deixado o local e todos se mantinham em uma conversação moderada a respeito das importantes decisões ali tomadas, o que dificultava ainda mais qualquer iniciativa por parte da Oficial. Amy dela se aproximou.

— Hei, não se isole mulher! Garotas bonitas, como nós, merecem holofotes! Aprenda comigo! Ela sorriu. — Obrigada Amy.—- esta piscou, e se afastou deixando a sala. Foi quando Arme veio em sua direção.


— Sou Arme do Reino de Serdin. Prazer.
—  O prazer é meu.
— Vim dizer que será uma alegria tê-la na liderança do nosso Exército. E te desejar boa sorte em sua missão.
— Obrigada, senhorita Arme. Precisarei.
— Se a Comandante Lothos confiou Vermécia a você é porque tem plena certeza de sua capacidade, Subcomandante, e, sendo assim, você pode se sentir muito segura.
— Pretendo me empenhar ao máximo. — disse educadamente a Oficial. Arme sorriu.
— Mas e você, senhorita Arme, que achou do Novo Sistema de Duplas para as missões da GC?  — disse tentando afastar a sombra que a consumia interiormente, ao mesmo tempo em que desejava se fazer cordial para com a jovem Grã Maga.

 Arme ficou pensativa, e então fitou a Oficial.
— É inovador. Raramente trabalhamos assim antes. No entanto, penso que uma dupla é sim importante, mas desde que ela queira de fato estar com você...
— Por que diz isso?
— Por nada...  — O olhar de Arme pareceu-lhe triste.

Nesse momento Mari fez menção de aproximar-se, mas parou ao ver que um soldado do exército intercontinental havia ali chegado e se colocado junto das jovens e, após dizer algo para Elyedre, junto desta, deixou o local apressadamente. Sem ao menos perceberem que, de forma discreta, a bela moça de olhos bicolores os fitava, em seu semblante uma expressão indecifrável.

 Ecnard Sieghart, ao lado da Comandante Luryen Lothos, seguiu por um vasto corredor, o qual desembocava em uma escadaria circular. E, depois de deixarem para trás seus inúmeros degraus, chegaram numa saleta, cuja porta estava cerrada por grossas trancas. Lothos pegou as chaves e descerrou-a. Ambos então adentraram na mesma, a qual possuía uma forte luminosidade. Ela então foi até uma espécie de Armário feito de madeira nobre e em tom escuro, o qual tomava toda extensão da parede do pequeno cômodo, buscou uma nova chave e com ela abriu suas portas. Sieghart dela se aproximou, e ficou a observá-la enquanto ela retirava o tecido aveludado que envolvia a grande espada. Lothos  deu-lhe o lado, e o Imortal aproximou-se da mesma, e fitou-a com um brilho intenso em seus olhos.

— Aí está Ashtanus. - falou a Comandante, sem alteração na voz.


 Ele nada disse, e então tomou a espada, segurando-a firme com sua mão direita.


— Pensei que não precisaria ter de usar você tão cedo. Mas me enganei... — disse pensativo, sentindo a força da energia de sua Espada. — Obrigado por mantê-la segura.
— Foi uma honra, tenha certeza. —disse Lothos, com sobriedade, enquanto olhava o Imortal manusear sua lendária e raríssima Espada Sagrada. A qual lembrava a Soluna, mas que, ao contrário desta, era formada por duas lâminas exatamente iguais, porém uma reluzente e a outra escura como a noite. E dela emanavam energias nesses mesmos tons, sendo que em seu ponto de elo pareciam ficar arroxeadas. E não havia como não sentir o poder contido naquela Espada — a qual Sieghart recebera das mãos do próprio Deus Governante, Thanatos, e que fora forjada com a energia dos Cristais Divinos ofertados por todos os Deuses de Xênia, e que compunham a lâmina de tom prateado; enquanto que a escura continha um fragmento da Essência Divinal pertencente ao Deus Ancestral do Caos, Ashiva. E assim representando o Bem e o Mal no seu equilíbrio perfeito, como forças necessárias uma a outra.

Eram praticamente quase uma hora da tarde quando o grupo novamente se reuniu junto a Comandante Lothos.
Trajavam armaduras de guerra — as quais foram disponibilizadas pela Líder Suprema das Tropas de Vermécia aos membros da GC, e que refletiam a imponência de sua Quinta Classe, a mais alta na hierarquia do grupo.


A movimentação era grande, e o Exército pertencente a Coroa de Canaban estava de prontidão, bem como os soldados e Oficiais ligados diretamente à grande coalizão sob o estandarte do Exército Intercontinental de Vermécia — uma poderosa aliança militar formada entre os mais significativos Reinos e Ducados existentes em Vermécia e que atuava em toda Ernas, através de bases espalhadas estrategicamente por vários Continentes, à exceção de Xênia e Astrynat por serem Territórios Sagrados. Sendo que o Império Astrynat, após o incidente ocorrido com Astaroth, e por determinação do Deus Governante Thanatos, permanecia ainda como um território neutro e tinha como única responsabilidade atuar no campo diplomático, de modo que a seus Exércitos somente era permitido agir em caso de risco real para a manutenção da paz, tanto no próprio Continente como em qualquer localidade de Ernas. Não obstante para tal fim seria necessário que o deus Regente, melhor dizendo o Imperador a governar o Território recebesse a permissão do Deus Governante. Uma responsabilidade violada e esquecida pelo deus da Misericórdia Atron, o novo Imperador do referido Continente, que, ao invés de zelar pela paz, voltava-se contra os desígnios de seu Senhor e enviava seus exércitos trazendo novamente a guerra para o mundo.

O clima era de expectativa, tensão e certo nervosismo, como o era de se esperar diante da gravidade da situação e da iminência da guerra.  Os rumores sobre o poder do deus Atron, bem como a grandiosa força bélica de seu magnânimo exército, começavam a chegar até eles e corriam à boca pequena no Forte.  Tinham ciência de que a batalha que se anunciava seria indubitavelmente árdua e cruel, e que em cada soldado inimigo encontrariam por certo terríveis oponentes, mas isso não lhes diminuía de modo algum a confiança. Estavam preparados para cumprirem seus destinos.

Um destacamento acompanharia Lothos rumo à Xênia — o qual seria acrescido de reforços durante o percurso. Outro grandioso pelotão, porém, permaneceria com Elyedre. Enquanto a Grand Chase partiria, como de costume, sem apoio militar para suas missões estratégicas. Embora guerrear em Astrynat, como não podiam evitar sentir, os enchia de dúvidas e indagações, por ser o mais distante dos continentes, o mais fechado, de paisagem mais exótica e muitas vezes inóspita, segundo o que se ouvia falar. E onde o Inimigo conhecedor de cada recanto de seu próprio território, certamente saberia obter suas vantagens.

No entanto, estavam prontos para o desafio, e quando se separaram seguindo, cada um com sua dupla, rumo à missão estabelecida, carregaram consigo a esperança de todos pelo retorno da paz a todos Continentes e a confiança de que teriam êxito em seus objetivos.

A voz determinada de Lothos ainda ecoando em suas mentes no discurso que antecedeu a partida: “Por Vermécia, pela Terra de Prata, por Xênia, Ellia, Aton e Arquimidia, e pela lembrança do antigo Imperador de Astrynat , o deus da Temperança Alkyraz, nós derrotaremos Atron e suas tropas, e traremos novamente a Paz a todos os povos desses Continentes! Não será fácil bem sei... E muito sangue inocente certamente será derramado pela ação do mal que se instaurou. Mas acredito em cada um de vocês e nas suas potencialidades. E eu mesma lutarei até a morte, se assim for preciso, para restabelecer a Ordem e a Paz aos Continentes! Acreditem na vitória e partam sob a proteção da Luz do meu Anel de Aryan!”


A luz foi tamanha — tal qual o poder daquele anel raro —, e envolveu a todos que ali estavam de modo à quase ofuscar-lhes. Mas que deu a eles o alento que precisavam no início daquela árdua jornada rumo à guerra e ao desconhecido.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Hoje, vocês puderam conhecer um pouco mais o Inimigo que a Grand Chase terá de enfrentar, bem como a primeira menção as 5ªs classes. Fiquem atentos, pois vocês leitores poderão ainda cooperar diretamente comigo com relação a elas muito em breve. Aguardem!
Com relação ao Deus Ancestral Ashiva – no próximo darei mais detalhes a seu respeito. Mas uma parte da trama terá relação direta com esse Deus.
Espero que tenham gostado!



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