O Continente das Trevas escrita por Narsha


Capítulo 20
Recordações II - O Poder de um Deus


Notas iniciais do capítulo

Caros leitores, após grande demora finalmente trago a vocês o novo capítulo de minha fanfiction. Peço desculpas pela demora e espero que apreciem ao capítulo.

Uma ótima leitura a todos!

Dedico este capítulo ao meu Querido Amor, Lyon Heitor! S2

PS: * Trecho retirado da fanfiction Edyel, escrita por Heitors, com autorização cedida por parte do autor.
Revisão: Melissa Rubio



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/135492/chapter/20

Nas ruínas de um Antigo Reino, os matizes dourados do sol nascente começavam a reluzir tímidos ao leste. Um vento brando soprava trazendo consigo ainda a umidade noturna.

Observando o horizonte, às margens de um rio – próximo à base de um alto monólito do que restara da velha civilização de Calnat, podia-se ver, como pequenos vultos na imensidão daquele local, um grupo formado por cinco pessoas. Era chegado o dia marcado pelo Deus Alkyraz para o Ritual que traria Edna Verbier Pon Zec de volta à vida. Um misto de nervosismo e ansiedade pairava entre os presentes.

Com certo receio e curiosidade, Rey Von Crimson se aproximou de Duel, o qual tinha o corpo de Edna em seus braços. E viu aquela pessoa, cuja alma havia trazido a cura para seu corpo. Observou, impressionada, que seu estado de conservação era impressionante. Também notou que se não fosse a cianose nos lábios, unhas, e as marcas de ferimentos escurecidos, ela parecia estar na verdade apenas dormindo. Uma energia escura proveniente do misterioso e infinito poder da Espada Eclipse a rodeava. Rey, sem conseguir evitar, levou sua mão direita até o rosto da jovem. Porém, ao tocar a face fria de Edna, um calafrio a acometeu de forma intensa, seguida de uma visão vívida da Guerreira e do Bruxo Oz — a quem nem sequer conhecera. Num impulso afastou-se, e uma forte tontura — semelhante àquela que tinha em sua infância doentia — fez com que quase perdesse os sentidos, sendo rapidamente amparada por Dio. James também se aproximou apreensivo.

— Rey você está bem? — inquiriu o rapaz muito preocupado.

— Senhorita Rey. — disse quase ao mesmo tempo seu mordomo.

Ela levou uma das mãos ao rosto e respirou fundo retomando o equilíbrio.

— Estou bem. Foi só um mal-estar passageiro. Não se preocupem.

— Tem certeza mesmo de que vai querer ir adiante com isso, Rey? – indagou Dio, claramente temeroso.

—Tenho. Quero ter uma vida só minha.

— Mas, senhorita, e se algo ruim lhe ocorrer? Eu não poderia suportar... E pense também no seu pai. Começo a arrepender-me por ter contado sobre as circunstâncias de como a senhorita se curou... – lamentou-se o mordomo.

Rey fitou-o. Ela sabia o quanto James havia relutado em lhe contar a verdade e que o velho mordomo a queria muito bem. Entendia o que este estava sentindo e podia também ver o mesmo receio nos olhos de Dio. Afinal, ele sem querer, acabou presenciando a conversa em que essa verdade foi revelada. Sentia medo, reconhecia a si mesma, contudo, ela iria até o final. Cada vez mais sentia a presença de Edna dentro de si. Isso fluiu com mais força ainda durante as longas batalhas contra Bardnard. De modo que, junto ao sentimento forte que a levava para Dio, passou também a se sentir atraída por Duel, mas não como um desejo real de seu coração. Forçou um sorriso confiante em seus lábios e olhou para ambos, de forma resoluta.

— Nada de ruim vai me acontecer. Deixem de olhar para mim desse jeito! Estão sendo pessimistas! Se fosse para isso, teria sido melhor eu ter vindo sozinha! — disse procurando aparentar seu habitual modo de ser e ocultando qualquer sombra de receio que também a envolvia. Duel fitou-a pensativo, e depois pousou os olhos na mulher que estava em seus braços. Seu coração estava inquieto e uma ansiedade envolvia todo o seu ser, na expectativa da chegada daquele que traria novamente a vida para sua amada; enquanto em sua mente as palavras do grande soberano de Astrynat ecoavam:

“Você sabe que tudo tem um preço, não? ... Você está disposto a pagar esse preço?” — Os olhos de Duel se estreitaram. Sim, ele estava disposto, mas seu receio era saber como pagaria esse preço. Afagou, então, o rosto pálido de Edna com ternura.

— Por você, meu amor, eu cumprirei a minha promessa.

Um forte clarão iluminou o céu ofuscando os matizes tímidos do sol com uma luminosidade radiante. E o vento que soprava invasivo por entre cada recanto das velhas ruínas, cessou repentinamente, ao mesmo tempo em que uma sensação grandiosa de poder e magnitude invadiu a tudo de modo solene. Todos ergueram seus olhos para o alto, na direção de onde a forte luz irradiava e, apesar da dificuldade para visualizarem, puderam ver silhuetas em meio à claridade; silhuetas aladas que pareciam emergir em meio àquela intensa energia luminosa. E quando o clarão diminuiu e seus olhos mortais puderam observar com mais nitidez, eles tinham diante de si a figura de dois homens que se encontravam ali. Ambos eram muito altivos e trajavam longas túnicas. Sendo que um deles possuía longos cabelos prateados e usava uma coroa de soberano. Sua túnica cor de vinho e suas longas asas alvas reluziam sob uma aura dourada. Já o homem ao seu lado, por sua vez, usava uma túnica negra e seus cabelos dourados eram curtos; em sua cabeça uma coroa indicando sua posição como Divino Ministro de Astrynat reluzia em ouro maciço, cravejado de pedras preciosas, contrastando com o negror de suas longas asas que se abriam imponentes.

Vendo-os, Duel fez uma expressão de alívio, pois finalmente estava diante do Divino Imperador de Astrynat novamente. Embora não entendesse bem o motivo do meio-irmão do mesmo, o Deus Atron, também estar ali presente. Alkyraz fechou suas longas asas e caminhou até Duel, desceu os olhos para a mulher que estava nos braços do Guerreiro e fitou-o novamente.

— Você tem certeza de sua decisão?

— Tenho. — respondeu Duel.

O Deus meneou a cabeça e então olhou para Rey, de quem se aproximou.

— Não precisa ter medo... Nenhum mal te ocorrerá... Confie... — ela assentiu, mas seu coração manteve-se inquieto. Ele sorriu, e, com suavidade, tocou na testa da jovem que imediatamente perdeu os sentidos e foi amparada pelo próprio Deus. Dio e James sobressaltaram-se diante da cena e fizeram menção de se aproximar, contudo uma força grandiosa os deteve, sob a forma de uma misteriosa energia que se originou de um simples movimento do dedo do Deus da Misericórdia Atron.

Alkyraz fitou seu irmão e, depois de uma troca significativa de olhares com o mesmo, solenemente, abriu mais uma vez suas asas e seus olhos cor caramelo envolveram-se por uma luz intensa. Um ruído forte ecoou e pilares feitos de chamas prateadas ergueram-se do solo dando sustentação a duas mesas rituais que, translúcidas, pareciam refletir o céu infinito. Com cuidado, depositou o corpo desmaiado de Rey por sobre uma das mesas e, sem precisar dizer nada, Duel levou o corpo de Edna, deitando-a na mesa ritual ao lado.

Recuou, após, para trás afastando-se. Dio e James, ainda envoltos no poder de Atron, também recuaram sentindo diminuir sua ação paralisante sobre eles. No mesmo momento, a um movimento das mãos do Deus da Misericórdia, uma parede circular de energia cristalina rodeou o local onde Ele, juntamente do Deus Alkyraz e das duas jovens, se encontravam. Dio tentou tocar a parede, mas uma força poderosa o repeliu, arremetendo-o para trás.

— Rey!!! – ele gritou, mas Duel o conteve.

— Ela está bem, acalme-se!

— Ora me largue! Se algo ocorrer com Rey eu juro que mato você! – o Guerreiro apenas olhou-o e voltou seu olhar para a Cúpula, apreensivo. Entendia muito bem o temor de Dio e ele próprio havia depositado sua última esperança naquele momento.

Com veemência, Alkyraz posicionou-se diante de ambas as mesas. Nesse instante, o Deus Atron se aproximou dele, pousando com firmeza sua mão direita em seu ombro. Alkyraz voltou-se e fitou-o, vendo a preocupação que habitava nos olhos dele. Uma preocupação que ele entendia bem a razão, pois o que estava prestes a fazer selaria o seu destino. Contudo, assim como Duel, ele também já havia feito sua escolha.

— Querido irmão, ainda há tempo para voltar atrás nessa decisão. O povo de Astrynat precisa de tua sabedoria como Governante. Por que razão vais abdicar ao milênio que te resta no Trono para impetrar este Ritual? — disse no idioma restrito dos Deuses; sinceramente decidido a tentar dissuadir seu irmão de seus intentos.

— Tu sabes muito bem a razão, amado irmão. Não lamente por minha decisão, a qual será a única coisa que trará o mínimo de alento a meu ser. Quanto a Astrynat, em quatro anos entregarei o Trono Real à pessoa em quem mais confio neste universo: Tu, meu irmão. Tenho certeza de que pela virtude e pela nobreza de sua alma — em honra a tua mãe Lisnar e a nosso pai Thanatos — tu serás um grande soberano para o povo de Astrynat.

— Assim como tu, que em tua grandiosidade honrou vossa mãe, a venerável Ernasis, e ao nosso pai.

Alkyraz sorriu e se voltou elevando seu olhar ao horizonte, na direção de Xênia. Nesse momento, uma misteriosa luz parecia irradiar daquele lugar intensamente. O céu dourado pelos matizes do sol nascente, se tornou escuro e de um azul infinito — reluzindo o brilho pálido de milhares de estrelas — tomou lugar, deixando estupefatos todos que testemunhavam àquele momento.

— Meu pai — disse o Deus Imperador de Astrynat, ainda na língua restrita dos Deuses, fazendo seu espírito sintonizar-se com o do Deus Governante em Xênia, apesar da distância física que os separava naquele momento —, por minhas mãos o Sopro Divino fará renascer a vida. E um grande mal será desfeito...

Em seu trono, Thanatos que ainda remoía o ódio por haver se deixado enganar por Astaroth — que na verdade era o inescrupuloso e profano Bardnard — estava pensativo quando a voz grave de seu filho chegou-lhe aos ouvidos. Ele imediatamente ergueu-se e caminhou alguns passos. Os seus olhos, ocultos pela máscara, reluziram fazendo-o ver Alkyraz nitidamente.

— Contudo... Bem o sabeis, esse será o marco do meu retorno a Xênia. — prosseguiu o jovem Deus. — Meu corpo mortal deverá extinguir-se em quatro anos... Mas eu poderei estar definitivamente junto a vós, meu pai.

— Não entendo tuas razões... Mas se assim desejas... Que se cumpra teu desejo Alkyraz... Que seja feita tua vontade meu filho. Que o trono de Astrynat seja depois entregue a teu irmão Atron.

— Obrigado meu pai. — disse respeitosamente. E a imagem de Thanatos aos poucos foi dissipando-se por entre feixes de luz.

Alkyraz baixou os olhos fitando Edna, mas foi sua amada Hanna quem ele viu por um momento. A dor da saudade tocou seu coração e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Com seriedade, o Deus elevou sua mão direita e abriu-a. Feixes luminosos prateados e fantasmagóricos em formato de círculos começaram a descer do céu e se aglutinaram dando forma à Sagrada Espada Nyattur — uma longa espada, com lâmina serrilhada e pontiaguda, ornada com estrelas talhadas e com safiras azuis aderidas à ela e ao seu cabo. Ventos circulares rodeavam-no e seus cabelos prateados estavam revoltos.

Fitou por uns segundos a Sagrada Espada e deslizou a mão esquerda por sua lâmina até impor pressão contra a superfície afiada da mesma, de modo que filetes de sangue tornaram-se visíveis descendo por sua mão. A lâmina de Nyattur, ao calor daquele Sangue Divino, emitiu uma energia fantasmagórica em tom prateado que fez com que o mesmo desaparecesse rapidamente e fosse absorvido por essa energia. Diante disso, o Deus movimentou a Espada com ambas as mãos e deitou-a na horizontal a mais ou menos meio metro do corpo inerte de Edna. Mas, ao pronunciar uma palavra ritualística, a lâmina começou a verter seu Sangue Sagrado que banhou o corpo da jovem e desapareceu ao tocar sua carne. Em seguida, repetiu o ato junto à Rey e, no mesmo momento, esta se contorceu; um feixe de luz translúcida deixou seu corpo pairando no ar até adquirir a forma etérea de Edna: sua alma. Rey, então, começou a ter convulsões ininterruptas até que seu corpo paralisou e de seus pulmões o último ar partiu. Seu coração parou.

Dio vendo essa cena desesperou-se. Ele, com todas as forças de seu amor pela Asmodiana, lançou-se contra a Cúpula formada pelo Deus da Misericórdia transpondo-a e surpreendendo a este, que voltou-se imediatamente na direção do intruso. Os olhos imersos numa espécie de transe e envoltos por uma aura violácea. Frações de segundo se passaram entre o ato desesperado do rapaz e quando este deu por si o Deus Atron estava diante dele, interpondo-se entre ele e o Deus Alkyraz — que permanecia totalmente concentrado diante do corpo de Rey e que agora lhe tocava a fronte.

— Saia da frente!!! — gritou, com dor e desespero o Asmodiano. Enquanto James, que estava sendo impedido por Duel de ir adiante, olhava a cena com temor impresso nos olhos.

Atron fitou-o com um olhar severo que abrandou-se vendo o sofrimento real do rapaz. Então, tocou seu ombro fazendo com que as forças do mesmo se esvaíssem e ele caísse de joelhos diante dele. Dio tentou reagir, mas não conseguia. Seu corpo não respondia e apenas seus olhos marejados por lágrimas pareciam vivos.

— Aquiete seu coração, não há sentido no seu medo. — disse o Deus da Misericórdia em linguagem comum; a voz grave e séria era calma. Ele afastou-se um tanto para o lado de modo que Dio pudesse visualizar a mesa do ritual onde Rey estava deitada; e foi com um misto de emoção e alívio que o Guerreiro percebeu o suave arfar dos pulmões da jovem que novamente respirava, apesar de se manter inconsciente. Soluços acometeram-no e ele fechou os olhos, mas, quando tornou a abri-los novamente, estava fora dos limites internos da Cúpula Divina — a qual novamente havia se fechado e emitia uma energia ainda mais forte do que antes. Suas forças ainda estavam enfraquecidas, mas seu coração estava mais esperançoso. Finalmente dava-se conta da realidade de estar mesmo diante de poderes inimagináveis e que só lhe restava esperar e, sobretudo, confiar.

Duel, por sua vez, tinha os olhos inteiramente voltados para o interior da Cúpula e, com expectativa, ora fitava a silhueta espiritual de sua amada e ora seu corpo inerte sobre a mesa ritual, enquanto o Deus da Temperança Alkyraz dava continuidade ao Rito.

No céu estrelado, figuras etéreas, angelicais, pareciam pairar e feixes luminosos prateados desceram como cascatas por sobre a Redoma Divina. Alkyraz agora havia se convertido em pura luz, cuja magnitude ofuscava a visão dos olhos meramente mortais. Ao passo que, o Deus Atron, totalmente concentrado e circunspecto, mantinha apenas uma postura de neutralidade; em torno de sua Divina imagem apenas uma aura violácea estava a circundá-lo.

Uma sensação forte de benevolência e sublimidade invadia cada recanto das velhas ruínas transpondo os limites da Divina Cúpula. Uma sensação vívida e solene de amor infinito e compaixão fez com que Duel, Dio e James se sentissem, ao mesmo tempo, hipnotizados e aterrorizados com tamanha onipotência. Sem sombra de dúvida, eles estavam diante de algo além de suas possibilidades e a presença Sagrada do Deus da Temperança e do Deus da Misericórdia no local era algo único.

Tomado por uma luz, Alkyraz voltou-se para seu irmão e depositou em suas mãos a Sagrada Espada Nyattur. Reverente, este tomou a Divina Arma ficando a observá-lo silenciosamente. O ar agora parecia tomado por uma força sufocante, oriunda dessa estranha sensação de amor transcendental e misericordioso. Um suor frio envolveu involuntariamente a todos que ali estavam a presenciar o Rito. Com mãos unidas Alkyraz tocou o próprio peito e, após pronunciar solenemente uma palavra do Ritual, seus olhos estreitaram-se e seu rosto contraiu-se como que acometido pela forte dor, enquanto em sua mão uma energia oriunda de seu próprio corpo começou a aglutinar-se sob a forma de uma esfera em tom violáceo com matizes prateados: era a sua Essência Sagrada.

Ergueu-a ao alto fazendo com que se mantivesse em suspenso a flutuar. Atron dele se aproximou e entregou Nyattur ao seu portador. Tendo sua espada novamente em mãos, o Deus sem hesitar elevou a mesma acima de sua cabeça, com ambas as mãos firmando seu punho e, num movimento preciso, desceu a lâmina serrilhada por sobre a Essência Sagrada dividindo-a em duas esferas menores. Embainhou Nyattur e tomou em cada uma de suas mãos uma esfera; aproximou-se das mesas ritualísticas, ficando entre elas, e levou lentamente seu braço direito na direção do corpo inerte de Edna e o esquerdo na direção de Rey. As luzes que irradiavam de seu ser, agora se expandiam sob a forma de filetes luminosos que envolveram ambas as guerreiras de modo intenso. No céu, as silhuetas etéreas e angelicais pareciam em prece e raios luminosos penderam do infinito ao som grave da voz do Deus Alkyraz.

— Nos sepulcros sombrios, ao frio da noite, o sono repousa imerso no silêncio... Que o Sol Divino mergulhe no abismo escuro e faça emergir a Vida pela Luz e pelo Sopro Divino... – disse em linguagem restrita e, com movimento tênue de suas mãos, fez com que as esferas mergulhassem nos corpos de Rey e Edna ao mesmo instante.

Alkyraz fechou os olhos e concentrou ao máximo toda sua Divinal Energia, e se aproximou de Rey tocando-lhe a fronte. Uma espécie de vento, como ondas caprichosas tocaram-na e no mesmo instante o tom violáceo de seus lábios e o ar doentio de seu semblante desapareceram por completo, dando lugar a uma tez impressionantemente corada e saudável. A moça movimentou-se e seus olhos tom de esmeralda abriram-se levemente. Encontrando os olhos caramelos e iluminados do Divino homem, que fitava-a de modo benevolente. Alkyraz sorriu e afastou-se dela, aproximando-se agora do corpo sem vida de Edna; com cuidado, ele depositou ambas as mãos sobre a fronte da jovem guerreira permitindo que as ondas energéticas também adentrassem em seu corpo. E à medida que esta era absorvida, a sombria energia de Eclipse ia lentamente deixando–lhe o corpo — o qual por tanto tempo preservara.

Um vento gélido irrompeu repentinamente envolvendo-a e por sobre ela surgiram, envoltos em energia escura sete contas malignas. As sete contas das trevas que selaram o feitiço de Magia Negra contra a mesma. Também junto delas o semblante sombrio do Mago Oz Von Reinhardt fez-se presente, como reflexo de um grande mal ainda vivo. O Deus da Temperança, porém não se abalou com a visão e fitando o bruxo diretamente desembainhou Nyattur e ergueu-a apontando-a na direção do espectro.

— O mal que fizestes agora será finalizado e eu, Alkyraz, Deus da Temperança e da Justiça, amaldiçoo-o tua alma ao tormento eterno! Nunca mais renascerás e lamentarás por todo mal que em vida fizestes!

O olhar zombeteiro do espírito do velho mago que fitou o Deus com deboche, agora havia se convertido em um medo tétrico; ele foi ladeado por chamas escuras que começaram a tragá-lo para um abismo infinito, em meio à dores inenarráveis que por toda eternidade corroeriam sua carne e sua alma.

Uma forte luz envolveu Edna, cujo corpo agora estava limpo do mal que havia a maculado. Com olhos totalmente convertidos em feixes de luz, como todo seu ser, Alkyraz baixou Nyattur e voltando-se novamente para a jovem aproximou lentamente seu rosto do dela e soprou-lhe a face. No mesmo instante, a energia etérea que possuía o formato astral da guerreira pousou suavemente sobre o corpo da mesma unindo-se a ele com suavidade. E, segundos depois, a palidez cadavérica da moça começou a ceder, seu peito inflou-se e arfou intensamente o ar puro que ali existia. E ainda mesmo inconsciente, seu coração novamente pulsou ao milagre da Vida.

O Deus da Misericórdia Atron, nesse momento, cerrou o punho direito e movimentou seu braço para o lado num gesto brusco, para assim a Cúpula energética começar a desaparecer. No céu, o negror e as estrelas deram lugar ao brilho intenso do sol que agora reluzia com força naquela manhã primaveril. Então, Atron aproximou-se de Alkyraz, o qual estava apoiado em sua Sagrada Espada Nyattur, parecia exausto e ofegante. Amparou-o e postou sua mão direita sobre a testa do irmão fechando os olhos e concentrando-se. Uma forte energia emanou sob a forma de feixes luminosos violáceos que envolveram o Deus da Temperança revigorando-lhe as forças pelo poder curativo do Deus Atron.

Rey sentou-se à mesa do ritual, sentindo-se extremamente leve e com uma sensação grandiosa de bem-estar a qual jamais houvera experimentado antes. Vendo-a desperta, Dio correu ao seu encontro, com o coração acelerado. James seguiu-o ficando apenas alguns passos para trás. Vendo-o a Asmodiana sorriu e, sem mais conter os reprimidos sentimentos, enlaçou seus braços em torno do pescoço dele abraçando-o fortemente. Dio emocionou-se. Tivera tanto medo de perdê-la que nada mais importava agora, nem mesmo seu orgulho ou dignidade. Abraçou-a e fitou-a com olhos repletos da paixão que nutria pela jovem. E num impulso uniu seus lábios aos dela num cálido e demorado beijo de amor, o qual, para sua surpresa, ela correspondeu intensamente. James vendo a cena corou e afastou-se um pouco.

*Duel estava tenso e seu coração palpitava descompassado. Sua respiração estava ofegante, não pela pequena corrida que havia feito segundos atrás para estar junto a sua amada, mas pelo sentimento enorme de esperança que existia em seu peito. Havia dado certo? Implorava para que sim. Fitava a mulher em seus braços com aflição, ânsia, impaciência, temor, carinho, ternura, amor... Seus sentimentos misturavam-se num furacão e pareciam indecifráveis até mesmo para ele. Tudo que queria era ela, que ela estivesse bem, que ela estivesse a salvo, que ela estivesse viva. A mulher respirava, mas ela não abria os seus olhos. Por quê? Minutos que se assemelhavam mais a uma eternidade passaram naquele momento. Por que ela não estava acordando?

Ela, então, abriu suas pálpebras, seus olhos verdes esmeraldas que brilhavam com vida, imediatamente encontraram os olhos dele. Duel chorou.*

Sentindo-se mais revigorado, Alkyraz se aproximou do casal e fitou-os com olhos brandos.

— Obrigado, meu Senhor. — disse Duel com olhos aquosos e com incomensurável gratidão, ajoelhando-se diante do Deus.

Ele sorriu e olhou para Edna. Ela também chorava acometida por forte emoção, de modo que tentou dizer algo e sua voz saiu entrecortada. Ele meneou a cabeça e assim deixou claro que a entendia e que não precisava de palavras. A jovem sorriu entre lágrimas — junto a Duel — e o poderoso Deus largou sobre a mão da guerreira um pingente sob a forma de estrela pendente a uma corrente em ouro branco reluzente.

— Minha estrela estará sempre junto a vocês... Na hora certa coloquem esse pingente junto ao que será seu maior tesouro... Ele sempre o protegerá...

Duel e Edna fitaram o pingente sem compreenderem claramente as palavras do Divino Imperador de Astrynat. Este sorrindo, então, juntou-se a Atron abrindo as longas asas brancas. Uma forte luz rodeou ambas as Divindades de modo ofuscante. Todos olharam para a direção em que eles estavam, mas a grandiosidade da luz tornava impossível visualizá-los nitidamente. Contudo, antes de deixarem as Ruínas do Antigo Reino, o Deus da Temperança e da Justiça Alkyraz voltou-se e dirigiu-se a Duel — o qual não conseguiu vê-lo em função da magnânima claridade. Entretanto, este pôde ouvir as palavras que Ele disse:

— Não se esqueça de sua palavra, Duel Pon Zec.

— Jamais, meu Senhor! Jamais! Cumprirei o prometido nem que seja a última coisa que eu faça antes de cerrar para sempre meus olhos neste mundo...

Alkyraz sorriu; segundos depois um grandioso clarão rasgou o céu. E, junto a ele, as Divindades de Astrynat sumiram deixando um rastro de luzes douradas que desceram como uma névoa cristalina que desapareceu ao tocar seus corpos.

O calor de pequenas mãos tentando cobrir-lhe os olhos o fez despertar de seus devaneios. E ele, com um sorriso, voltou-se e viu seu filho Edyel de três anos que, com a inocência infantil, olhava-o com um sorriso puro. Retribuindo ao sorriso do filho, de forma carinhosa e paternal, ele envolveu a criança em seus braços e o levou ao seu colo, erguendo-se da pedra onde havia sentado para refletir um pouco. Edna se aproximou deles; Herathor – seu leal General a quem criara como um filho após tê-lo salvo a vida séculos antes em Calnat — estava junto dela. No entanto, este se manteve imóvel apenas observando enquanto Edna aproximava-se do marido e do filho do casal.

Ela tocou a mão de Duel com suavidade e fitou o marido e o filho com ternura.

— Dio e Rey aguardam sua resposta. Tem sua decisão? Duel voltou a ter um ar sério e seus olhos pareceram mergulhar em seus próprios pensamentos novamente.

“Não se esqueça de sua palavra, Duel Pon Zec...” A voz grave do Deus Alkyraz tornou a ecoar em seus ouvidos. Edyel, então, se movimentou em seu colo e um feixe solar fez reluzir o pingente sob a forma de estrelas que pendia na corrente junto ao pescoço do menino. O clarão prateado reluzente, por breve segundo, foi tão intenso que seus olhos não puderam ver nada. Esse foi o mesmo tempo em que uma certeza começou a crescer velozmente em seu coração.

Ele acarinhou o filho e pousou os olhos em sua amada com um semblante resoluto.

—Irei ajudar. Herathor, prepare as tropas! Rumaremos para Xênia com brevidade! Ajudaremos a Grand Chase!

— Sim, Senhor! — disse o General batendo continência e saindo com rapidez.

Vozes ergueram-se em uníssono junto do brandir de armas e as tropas agruparam-se rapidamente sob o comando de Herathor; escudos reluziram aos raios do poente próximo enquanto arcos negros eram preparados e as longas flechas eram colocadas em suas aljavas. Havia inquietação, ansiedade e um desejo combativo nos olhares dos soldados, os quais vibravam na expectativa da Guerra.

Altivo, o grande líder Duel caminhou até a beira do penhasco e olhou atentamente seu Exército com orgulho. Em seu colo, o filho Edyel parecia olhar para os soldados com ar de divertimento. Enquanto Edna, sedenta por combater às tropas de Atron, contemplou o esposo com brilho especial em seus olhos.

Dio e Rey observaram-nos em silêncio sentindo seus corações aliviados e esperançosos. Sabiam da gravidade da situação em Xênia; a ajuda de Duel e seu Exército seria crucial para trazer maiores esperanças de vitória às Forças de Vermécia e para a Grand Chase.

Duel olhou para o filho e para sua esposa e, com firmeza, ergueu seu braço direito. O seu Exército silenciou-se; todos estavam em formação e prepararam-se para ouvir as palavras de seu Líder.

— O tempo de calmaria agora nos deixa e ventos de guerra sopram por este mundo! Em nome de Alkyraz, o Venerado, eu vos conclamo a brandirem mais uma vez suas armas! — ecos de apoio soaram pelo vale; Duel sorriu. Com carinho, então, colocou Edyel nos braços de Edna e desembainhou Eclipse.

— Unamos nossas forças para ajudar à Grand Chase e ao Exército de Intercontinental de Vermécia! Acabem com as tropas do Deus Atron! — disse erguendo Eclipse ao alto. — Por Alkyraz!!!

Gritos elevaram-se em louvor ao Deus da Temperança — mencionando com fervor seu honorável Nome. O nome do Deus a quem o povo de Duel passou a venerar após a bênção concedida ao seu Líder e o retorno de sua Senhora. Matizes dourado-avermelhados repentinamente desceram do céu proporcionando um ar solene e misterioso ao local. Sob esse céu, o gigantesco Exército e Duel partiu, desaparecendo em meio a uma fenda dimensional.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O Livro I chega a seu ápice, mas isso não significa exatamente que seja o Fim. E episódio final desta saga deixará claro isso...
Grandes surpresas, Decisões Importantes e Romances marcarão os próximo episódios — últimos deste Livro! Estejam preparados!
Obrigada por acompanharem minha fic.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Continente das Trevas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.