O Continente das Trevas escrita por Narsha


Capítulo 17
Ira Divina - Parte II


Notas iniciais do capítulo

A segunda parte da trilogia envolvendo as lutas dos Deuses de Xênia contra os Generais de Atron finalmente foi concluída.
Desculpem-me a pequena demora. E espero que apreciem a leitura.
Agradeço ao amigo e colega escritor KCoyote, cuja colaboração trouxe grande luz a este trabalho. E a todos aos amigos que acreditam e me apoiam, fazendo crer que devo seguir adiante e dar continuidade a esta grandiosa saga.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/135492/chapter/17

A tensão pairava no Solo Sagrado de Xênia, e um misto de perplexidade e temor espelhava-se nos olhos daqueles que fitavam o alto do Pico Delevon — onde grande energia assomava-se e erguia-se ao alto, espalhando-se por todo o céu do Continente Divino. Uma força grandiosa, e que se equiparava quase ao poder infinito que se via emanar ao longe, na região do Território de Thanatos — onde agora, próximo ao Templo da Sintonia — outro Santuário Sagrado erguia-se monumental e tétrico, envolto por uma poderosa bruma em tom vinho negro.

Sieghart caminhou até a borda da colina onde se encontrava junto dos Altos Oficiais e, pensativo, fitou na direção sul, onde ficavam as Terras do Deus Governante. De onde estava podia ver vagamente a silhueta de torres pontudas — que lembravam agulhas, e das quais a forte energia emanava. E, após dar uma rápida olhada na direção do Pico Delevon, saiu caminhando por entre as macas ali improvisadas e foi até onde Jin estava. Lá chegando observou o rapaz, que parecia mergulhado em seus próprios pensamentos, enquanto afagava Amy no rosto com muito cuidado. Lothos e Elyedre também ali estavam, mas com a chegada de Sieghart afastaram-se, o deixando a sós com seus companheiros.

— Como ela está? — indagou Sieghart tocando com a mão no ombro do rapaz.

— Dormindo finalmente. Estava inquieta. Mas depois da visita de Lothos e de Elyedre ela serenou.

— Interessante isso — pensou o Imortal, recordando-se de que Mari recobrara a consciência poucos minutos após Elyedre ter estado junto a ela e ter-lhe segurado a mão. Aproximadamente uns cinco minutos após a Oficial haver se afastado.

— O médico disse que ela vai ficar bem, mas foi por pouco... Se eu tivesse demorado mais meia hora poderia ter sido muito pior... — prosseguiu Jin, olhos aquosos. E eu não suportaria viver sem a Amy... Eu preferia morrer a isso...

— Agora ela ficará bem, então não se preocupe. — confortou-o Sieghart.

— E a Mari, como está? — disse Jin levantando-se.

— Recobrou os sentidos. Está apenas um pouco tonta ainda. Deixei-a repousando. O médico falou que ela precisa descansar, e então me afastei um pouco.

— Entendo.

 Um forte clarão esverdeado elevou-se ao alto, e ambos olharam na direção do Cume do Pico Delevon.

— Alguma coisa está ocorrendo lá. — disse Jin, com preocupação. — Espero que esteja tudo bem com eles...

— Também espero. Mas essa energia é dos Deuses. O Selo foi rompido, isso não há dúvidas. Contudo, sinto algo sombrio... Estou pensando em ir até lá e ver o que está havendo.

— Eu iria com você, não fosse pela Amy. Não quero deixa-la sozinha.

— Tudo bem, Jin, eu entendo. Sei como se sente. Também não me agrada deixar Mari só, ainda mais com ela assim tão fragilizada. Mas, melhor não descuidarmos. Seja o que for, é algo sério o que está ocorrendo lá em cima.

— Por que não leva Elesis com você?

— Elesis está ferida. Lutou bravamente, a Ruivinha — ele sorriu com orgulho. — Melhor que repouse. Lass e Elsculd estão com ela. Ryan e Lire melhor poupá-los também, ambos estão um tanto machucados, especialmente o Ryan. Vou só.

— Boa sorte então. Sieg. Mas use o comunicador se precisar de ajuda, ok?

Sieghart assentiu, e fixou novamente seu olhar no topo do Pico, com ar apreensivo.

Os olhos de Juriore haviam se fechado ao perceber que não teria como evitar ao ataque de Vikka, pois tinha tido grande parte de suas forças drenadas pela magia sombria da mesma. Mas, nesse momento, uma enorme barreira formada por grossos troncos de árvores se formou entre a Deusa e a Gram Maga de Atron — recebendo todo impacto do golpe da Feiticeira e fragmentando-se tão logo neutralizou o mesmo. Juriore abriu os olhos ao ouvir o forte ruído e, surpresa, percebeu que Gaia a havia ajudado. Sendo que a energia intensa da Deusa da Vida recaía naquele momento por sobre ela, de modo que sentiu suas forças revigorando-se com impressionante rapidez.

— Obrigada! — agradeceu Juriore voltando-se para Gaia, e, após, num movimento circular, apontou a energia de seu cetro na direção do solo, formando um círculo, do qual seres etéreos e translúcidos ergueram-se.

— Espíritos do Gelo eu vos invoco! — clamou a Deusa da Harmonia, e estes a rodearam. Os olhos dela se tornaram mais claros e uma armadura de gelo cobriu seu corpo, sendo que nas luvas que envolviam suas mãos, afiadas garras congeladas salientaram-se. Outro grupo de seres etéreos emergiu do círculo e se aglutinaram dando forma a uma reluzente espada de gelo, a qual Juriore ergueu com solenidade. A imagem da Libra tornou a formar-se, só que por detrás dela, e ela apontou a espada para frente — na direção de sua oponente.

— Grande Nevasca! — invocou.

Um vento gélido e cortante soprou repentinamente e rumou impetuoso para cima da Guerreira de Atron, carregando uma grandiosa quantidade de neve, que fez com que tudo em torno de Vikka e de Juriore ficasse congelado em segundos.

Gaia impediu que a energia se espalhasse pelo local todo — auxiliando Juriore ao formar uma barreira vegetal, de modo que apenas ela, Vikka e a Deusa da Harmonia permanecessem em seus domínios. Contudo, o ar congelante não a afetava — e o seu poder divino a aquecia.

Sentindo a força gélida de Juriore, Vikka fechou momentaneamente os olhos, e a pedra na ponta de seu cajado começou a brilhar em um tom vermelho incandescente; e ela, ao abrir seus olhos, movimentou-o na direção de sua oponente, e, deste, uma forte rajada de energia fervente saiu com fúria, num turbilhão que se espalhou fazendo com que a neve derretesse e se transformasse em uma chuva morna que molhou o local, junto do gelo derretido que se espalhou em longas poças encharcando o solo. Uma aura negra rodeou a Gram Maga e ela manteve-se totalmente seca, pois nenhuma gota sequer conseguiu toca-la.

Sem se intimidar com o poder de Vikka, Juriore tornou a movimentar sua espada e fez com a mesma um corte no ar para frente — e o vento gélido recobrou uma força ainda mais imperiosa, congelando as gotículas de chuva, fazendo com que se transformassem em espinhos de gelo, os quais foram lançados com furor para cima da Feiticeira. Mas antes mesmo que estes a alcançassem, com apenas um tênue movimento de seu Cajado — a Gram Maga parou a investida dos espinhos — que ficaram suspensos no ar por uns segundos —, e, então, evaporaram diante do calor malévolo da energia que os envolveu.

Juriore fitou-a impressionada, e deparou com o olhar tétrico de Vikka — que parecia ainda mais estranho. Sombrio.

Tornou a invocar os Espíritos do Gelo — cuja essência trazia um grande aumento de intensidade ao seu poder —, e, nesse momento, Vikka movimentou seu Cajado para o alto, apontando-o em seguida para o solo.

— Abismo dos Espíritos famintos! — disse, de modo frio. E embaixo de Juriore surgiu um círculo negro de magia sombria, e dele dezenas de espíritos maléficos saíram famintos em busca de suas presas. Ao passo que um pavor hediondo corroeu a mente da Deusa por longos minutos de uma tortura por ela jamais experimentada. Os espíritos sombrios se grudaram às silhuetas etéreas dos Espíritos do Gelo e começaram a devorá-los de forma brutal, ao mesmo tempo em que os arrastaram para dentro de seu próprio círculo, desaparecendo junto com os mesmos; poucos foram os que restaram.

Com os olhos fixos na Guerreira, Juriore, sem deixar-se desanimar, com grande velocidade e leveza, saltou para cima de sua oponente atacando-a com suas longas garras de gelo, as quais mergulharam em sua armadura, rompendo suas defesas e atingindo sua pele. Um frio glacial percorreu o corpo da Gram Maga de Atron, que se sentiu congelando de forma violenta em frações de segundo.

Com avidez, reagiu e, aglutinando grande energia, impulsionou seu corpo chutando violentamente Juriore na região do abdômen. A Deusa, com a força do golpe, foi arremetida para trás; Vikka saltou ao alto e deu uma reviravolta, atingindo-a com a ponta de seu Cajado na região do ombro direito. Uma energia translúcida e negra se espalhou pelo corpo de Juriore, e sua armadura começou a fragmentar-se.

Percebendo-se do que estava ocorrendo ela girou sua espada, elevou sua aura e expulsou as sombras que a envolviam, mas parte de sua armadura fora totalmente aniquilada. Ela rapidamente pousou sua mão direita por sobre o corpo e a mesma se reconstituiu, porém mais transparente. Sem os Espíritos do Gelo, o poder para isso havia se reduzido e Juriore estava reunindo sua energia para algo maior.

Vikka caiu em pé, e posicionou-se um pouco afastada; viu a Deusa erguer-se tendo nos olhos um brilho congelante e repleto de ódio. A Libra reluzindo com grandiosa força por detrás de suas costas. Ela postou sua espada, de forma vertical, e segurou em seu cabo com ambas as mãos diante de si, de modo que a lâmina da mesma tocou o chão. Uma espécie de vapor gélido emergiu do solo e, sob a espada, e elevou-se. A esse vapor as três formas remanescentes dos Espíritos do Gelo uniram-se, originando uma pequena esfera de um tom azul glacial. E essa esfera girando em torno do próprio eixo — cobriu-se por pontas afiadas de fino cristal congelado —, sendo que dentro das paredes formadas pela barreira de Gaia, Vikka pôde sentir a grandiosidade do poder que emanava da esfera e da própria Divindade, de forma avassaladora.

Pressentindo o pior, a Gram Maga segurou fortemente seu Cajado e elevou-o ao alto, enquanto postou-se a invocar uma magia das trevas. Uma esfera negra então se formou a partir de uma fumaça escura, que emanou do longo Cajado e se aglutinou, sob o aspecto de um globo negro incandescente — cujo calor nivelava-se ao próprio magma.

Estalidos grandiosos começaram a irromper no local, enquanto que a intensidade de energia em ambas as esferas, a cada segundo, ia ganhando força. Os olhos de Vikka, mergulhados em um tom opaco cinzento, demonstravam que ela estava em total transe, ao passo que Juriore tinha a força glacial a irradiar por seus olhos Divinos. Seus cabelos prateados estavam elevados ao alto, e fragmentos de gelo erguiam-se em torno da Deusa. Gaia, por sua vez, envolta por sua Aura Sagrada permanecia imune ao poder ali invocado.

Foi quando Vikka e Juriore, praticamente ao mesmo tempo, ergueram suas armas apontando-as na direção uma da outra, e ambas as esferas começaram a movimentar-se de modo que, em segundos, suas circunferências colidiram. Uma violenta explosão se sucedeu pelo choque de energias, e estilhaços de Gelo Sagrado saíram por todos os lados atingindo a Gram Maga diretamente, pois sua energia sombria foi incapaz de defende-la por completo.

Do mesmo modo que a força malévola, que provinha do globo negro invocado pela Guerreira, recaiu em grandes feixes de fogo negro por sobre a Deusa da Harmonia, desintegrando sua armadura e provocando queimaduras escuras em seu corpo. Ambas caíram, cada qual para um lado, rompendo a parede criada por Gaia — que também acabou sendo arremessada para longe.

Vikka cambaleou ao tentar reerguer-se, e apoiando-se no próprio Cajado percebeu que várias partes de seu corpo estavam dormentes pelo congelamento intenso — assim como grande extensão do Cajado. Juriore, por sua vez, perdera a consciência e jazia ao chão, desacordada.

Keran, com esforço, afastou os escombros que cobriam parte de seu corpo. Sua armadura e seu elmo estavam destruídos e estava coberto por profundos ferimentos, que vertiam seu sangue de um tom vermelho muito escuro. Mas ele não estava vencido e, deixando-se envolver por uma forte energia escarlate, juntou as palmas das mãos na altura de seu peito, e, no mesmo instante, um Selo Mágico — sob a forma de uma pedra rubra em seu ombro — reluziu envolvendo-o com uma espécie de energia translúcida, a qual curou por completo todos seus ferimentos em poucos segundos.

A energia era sútil, mas poderosa, e Dio e Rey sentiram sua familiaridade de modo vívido.

— Eu sabia... Esse poder... — disse Dio franzindo o cenho, e Rey aproximou-se dele.

— É o poder de uma das tribos. — falou a Asmodiana. Era isso que você tinha sentido? Ele é como nós?

— Com certeza o é, mas está oculto nessa forma humana...

O casal Asmodiano deu um passo à frente e apoiou-se à beira do rochedo; de onde estavam tinham uma visão privilegiada do que estava ocorrendo a apenas uns cinquenta metros deles. Zero, por sua vez, se mantinha em silêncio. Também havia sentido a presença de um membro das Tribos dentre os Inimigos chegados, mas sua mente estava virada num turbilhão, e ele ainda estava imerso na luta que tivera com Duel e no que ocorrera com Grandark.

A batalha que os Deuses haviam assumido para si passava por ele sem prender seu interesse, e nem estava disposto a fazer nada — somente por alguma razão extremada fosse obrigado a auxiliar no combate. Coisa que, a seu ver, tinha certeza seria desnecessária.

Arme e Ronan, no entanto, observavam a tudo com grande atenção. Mas a jovem estava fraca demais e Ronan a mantinha aconchegada em seus braços, aquecendo-a. Ela estava um tanto fria e ele, apesar de também muito debilitado, ainda tinha forças para ajudá-la. O poder de Ashiva fora descomunal e, apesar do Deus, no último momento, ter neutralizado a ação malévola de seu ataque, seus corpos mortais haviam sido já muito castigados – apesar da Joia dada por Yavos ter absorvido e neutralizado boa quantidade do mesmo. E certamente levariam bom tempo até recuperarem-se por completo. Sem dúvida, Ashiva era um Deus de poder supremo e, sendo agora o Deus Governante, muitas indagações e incertezas pairavam na mente do casal a esse respeito — sem falar na Guerra contra o perverso Imperador de Astrynat, o Deus Atron.

Perceberam que Dio e Rey estavam conversando algo entre eles, mas de onde estavam não conseguiram ouvir sobre o que falavam, e voltaram seus olhos para os Deuses novamente e para o General Inimigo, cujo corpo agora estava totalmente curado.

Zig e Periett observaram a estranha técnica utilizada pelo General com atenção, e trocaram um olhar significativo. Samsara, porém, estava decidido a pôr fim ao ímpio, e partiu para cima do mesmo com olhos determinados. Em suas mãos surgiu então um globo de energia azulada — a qual ele arremeteu contra Keran violentamente — e este, com impressionante habilidade, saltou ao alto e movimentou seu grandioso machado, absorvendo-o, e lançou-se para cima de Samsara numa velocidade alucinante. O Deus da Luz acompanhou-o com o os olhos, mas o homem sumiu a poucos metros dele.

— Atrás de você! — gritou Periett.

Mas já era tarde, e a lâmina pesada do machado caiu por sobre o ombro de Samsara — cortando sua carne divina, e fazendo seu sangue banhar sua túnica dourada. O Deus agachou-se e levou a mão ao ferimento, sentindo forte dor. Os demais Deuses tomados de horror e ódio fitaram a cena, boquiabertos — assim como Ronan e Arme. Zero ergueu os olhos na direção do Deus da Luz e afastou-se um pouco da rocha onde havia se recostado, levando automaticamente a mão às costas, na altura da bainha, onde Grandark estava fixada. Rey e Dio mantiveram-se imóveis.

O General olhou para Samsara, cujo ferimento o fizera abrir a guarda, e ergueu novamente seu machado, com um olhar diabólico em seu rosto. Mas, antes mesmo que descesse o mesmo contra o Deus, Zig saltou e interpôs seus longos Sabres contra a lâmina de Keran — e seu poder fez com que uma cratera se abrisse sob eles, fazendo com que afundassem um pouco no solo. Rochas caíram das laterais do topo do Pico, por entre as paredes agudas que se erguiam feito dedos apontando o firmamento.

— Periett! Leve Samsara daqui! Eu cuidarei de retirar a imortalidade desse maldito! — falou de modo austero.

O Deus meneou a cabeça assentindo, e Zig, com grande força, impulsionou seu inimigo para trás e saltou, girando seus sabres e formando ondas de chamas, as quais direcionou violentamente contra o General. Porém, este movimentou seu longo machado e, com o mesmo, formou uma parede de vento que repeliu ao ataque do Deus do Fogo como um escudo. Nos olhos de Zig, a fúria celeste se espelhou, evidenciada nas labaredas que emaram dos mesmos; ele intensificou seu poder de modo que o calor irrompeu o céu noturno — formando uma espécie de massa vermelha que fundiu-se às energias emanadas pelos demais Deuses em combate.

E tendo o corpo totalmente envolto por suas próprias chamas, ele se lançou contra Keran, cujo escudo rompeu-se fazendo com que ele recebesse diretamente o ataque do Deus. O Guerreiro foi arremessado para trás, mas conseguiu firmar-se em sua própria arma e recobrou o equilíbrio antes de cair; com impressionante destreza então aglutinou seu poder e, num movimento vertical com seu machado, lançou contra seu adversário uma poderosa rajada sob a forma de ventos sombrios.

Rochas erguem-se do solo diante da magnitude do poder do Oficial de Atron, e Zig lutou para impulsionar seu corpo e avançar rompendo a força do mesmo. Mas, fracassou, e acabou sendo lançado contra o solo com violência. Vendo-o cair, sem hesitar, Keran se lançou por sobre a Divindade, mas Zig ergueu-se velozmente, antes mesmo de seu oponente chegar até ele, girou seus Sabres e sob seus pés fez surgir um círculo mágico. Observando-o, Keran interrompeu sua investida e viu emergir do círculo uma gigantesca serpente circular de chamas que, a um movimento do Deus, avançou contra ele com ímpeto destrutivo.

A velocidade da serpente era grandiosa e seu corpo expandia-se a cada metro que ela avançava na direção de seu alvo. No entanto, sem demonstrar temor em seu rosto suado, o General apenas movimentou seu machado, e, em aspirais, uma onda sônica formou-se sendo lançada contra a criatura de chamas. A qual, diante disso, acabou sendo parcialmente destruída; contudo, para surpresa do homem, ela se regenerou em segundos e, com fúria infernal, recaiu por sobre ele de forma avassaladora.

Uma dor latejante envolveu-o e sentiu-se carbonizando vivo. Seu grito ecoou pelos rochedos do Pico, com horror. As chamas cessaram, e seu corpo tomado por queimaduras violentas ficou desfigurado. Cambaleante, Keran tornou a invocar seu Selo e a pedra mágica reluziu vermelha em seu ombro. Vendo isso, Zig esboçou um sorriso pérfido. O momento que tanto esperava havia finalmente chegado. E com velocidade incomensurável — de modo que fez queimar o ar à sua volta — o Deus do Fogo surgiu na frente do General de Atron, no exato momento em que seus ferimentos começavam a ser curados, e com uma força brutal, usando um de seus Sabres, transpassou a pedra mágica no ombro do rapaz, fazendo com que esta se partisse em mil pedaços, após sua cor torna-se imediatamente opaca.

— Não!!! — gritou o Oficial com certo desespero, e Zig, fitou-o com ar vitorioso.

— Sua imortalidade findou-se! Prepare-se para seu fim! — disse o Deus, e a rudez em sua voz era notória.

Enfurecido e surpreendendo Zig, Keran ergueu seu machado — em meio à dor de seu corpo, que diante do ódio que lhe consumia pareceu desaparecer —, e partiu para um contra-ataque, num movimento brusco e preciso na direção do peito de seu  Divino Adversário, que havia se descuidado por achar-se vencedor; este, dando-se conta de seu erro tentou proteger-se lançando mão de seus Sabres, mas a força do golpe foi tamanha que ele acabou sendo arremessado para trás, chocando-se violentamente contra o rochedo alto da borda do Pico, na parte norte do mesmo. Num impacto tão profundo que parte deste desmoronou por sobre ele, fraturando algumas de suas costelas devido ao choque; Zig caiu inconsciente.

— Zig!!! — gritaram — Periett e Samsara, sendo que este último fez menção de levantar-se e ir até ele, mas o outro o impediu.

Arme, junto dos demais olhava a cena, estupefata; embora também estivessem atentos aos demais enfrentamentos que ocorriam simultaneamente no topo do Pico Delevon — com exceção ao que se travava entre o Deus da sintonia e a General Pietra, pois o negror em torno de uma cúpula criada pelo Deus envolvia uma parte do Pico, impedindo que qualquer coisa se tornasse visível.

Apesar de derrotar ao Deus do Fogo, Keran também sentia profundamente os resultados danos do combate, de modo que mancava muito, ao mesmo tempo que sentia seu corpo arder e repuxar em meio a uma dor lancinante. E sem o auxílio de seu artefato mágico, não podia mais se recuperar.

Thanatos surgiu atrás de Pietra, e esta com agilidade virou-se e o fitou, sentindo sua omina energia causar-lhe calafrios gélidos no corpo, ao simples toque sombrio do Cajado do Deus em seu ombro esquerdo. Uma tontura forte a acometeu, e ela recuou saltando para trás erguendo sua espada. Estreitou os olhos, e partiu para uma investida violenta contra seu Divino Oponente; um novo Sataniel surgiu entre os dois, oriundo do círculo mágico remanescente, e Pietra atingiu-o perfurando-o no abdômen. Vendo seu servo sem vida, o Deus da Sintonia jogou-o contra Pietra, mas esta intensificou o poder que concentrou em sua arma e, com a espada envolta pelas chamas, transformou o corpo do Sataniel em cinzas.

Com ímpeto combativo, saltou em direção a Thanatos e desferiu um golpe vertical com sua espada, mas este facilmente o bloqueou, e sem ao menos necessitar fazer qualquer movimento. O deus simplesmente utilizou-se de uma quantidade ínfima de seu poder para criar uma forte barreira que impediu que a Guerreira sequer conseguisse tocá-lo. Percebendo-se disso ela não se abateu, e continuou suas investidas com determinação, mas do mesmo modo o Deus continuou a bloquear seus ataques, e nos lábios dele um sorriso de divertimento esboçou-se diante da insistência, a seu ver, patética daquela criatura mortal.

Pietra suava, e os sinais de exaustão começavam a dominar seu corpo, uma vez que a barreira criada por Thanatos também parecia estar a absorver suas forças. Concentrou ao máximo sua energia e procurou manter seu foco, de modo que sua aura irrompeu com maior força, em forma de um vapor flamejante de tom azul-negro. E num movimento ascendente com sua longa espada desferiu um corte na direção da barreira, arremessando contra a mesma uma poderosa rajada sob a forma de labaredas intensas. O Deus apenas riu à aproximação do golpe, mas foi surpreendido com a intensidade do mesmo, que conseguiu, milagrosamente, transpor sua defesa e assim tocar seu Sagrado Corpo de forma direta, fazendo chamuscar sua túnica de cor roxo escuro.

Ele olhou para sua veste e para os leves ferimentos que haviam maculado seu corpo, e, então, com olhos tomados de fúria, fitou Pietra de um modo tão assustador que ela sentiu-se petrificar por dentro.

— Isso já foi longe demais! — vociferou o Deus da Sintonia. — Você vai pagar por usa ousadia!

Uma grandiosa energia começou a emanar do corpo do Deus da Sintonia, de modo que seus longos cabelos prateados pareceram seguir as ondas da aura que se elevou. Sua pele adquiriu um ar mais cinzento e seus olhos mergulharam num negror sombrio. Seus dedos pareceram alongar-se e suas unhas transformaram-se em longas garras enegrecidas. Um tom negro começou a matizar seus cabelos, e longas asas igualmente escuras surgiram em suas costas.

Pietra, diante de tamanho poder, foi tomada de um repentino pavor e, com desespero, percebeu que seu corpo não queria obedecer aos seus desejos, mantendo-a presa numa aterradora paralisia.

Thanatos, totalmente imerso na grandiosidade de seu Poder Divino, formou diante de si um grande globo de energia sombria em tom arroxeado negro, o qual, sem piedade, lançou por sobre a Guerreira de Atron, que — indefesa e presa na paralisia — recebeu o impacto do mesmo de forma direta, sendo arremessada para trás e batendo na parede dimensional criada pelo Deus. Com a força da explosão formada pelo toque da esfera negra, a armadura de Pietra foi praticamente toda destruída e seu corpo ficou gravemente ferido. Um frio a invadia, e ela ergueu-se com esforço, apoiando-se na sua espada.

Uma lágrima negra nesse momento rolou do olho esquerdo do Deus da Sintonia e tocou o solo árido, e dela uma poça de energia escura se formou e aglutinou-se numa espécie de líquido escuro. Thanatos cerrou os olhos e movimentou sua mão esquerda, erguendo seu punho. E, por entre o líquido sombrio, uma Foice feita de um metal escuro emergiu, reluzindo sua lâmina negra ao reflexo da energia que envolvia a tudo.

O Deus a ergueu em direção a Pietra, e esta, num último esforço condensou sua energia e bloqueou a lâmina da mesma com a sua espada. Mas a força divina de seu Oponente agora transcendia o infinito, e ela deu-se conta de que só agora Thanatos mostrava a grandiosidade de seu real poder — como se houvesse até então apenas brincado com ela. E a um tênue movimento da Foice executado por Ele, ela caiu novamente ao chão, sendo atingida pela lâmina da mesma em sua perna.

Uma dor terrível a acometeu e ela tentou atacá-lo, após esquivar-se para o lado e erguer-se com dificuldade. Mas novos golpes da Foice Divina tocaram seu corpo transpassando o pouco que restara de sua armadura.

Desesperada, ela segurou com força o cabo de sua espada — o sangue escorrendo abundantemente por seus ferimentos —, enquanto Thanatos saltava em sua direção, com os olhos clamando por morte.

Com rapidez, Pietra girou seu corpo para trás e, assim, o golpe da Foice atingiu o solo árido, mergulhando no mesmo. Movimentou sua espada e lançou contra seu Divino Oponente uma onda incandescente formada por chamas de sua energia, mas este nem sequer foi incomodado por esse poder, e, com um ataque vertical com sua Foice, transpassou o abdômen de Pietra com violência.

Uma dor indescritível percorreu o corpo da jovem à medida que Thanatos, enfurecido, elevou ainda mais a Sagrada Arma — enterrando a lâmina por completo no corpo da Oficial e erguendo-a, como se a mesma não passasse de um inseto frágil ante o castigo de um Deus. A cúpula dimensional em torno deles nesse momento começou a desfazer-se, e os olhos aquosos de Pietra puderam por uma última vez ver seus companheiros.

Keran, ao fitar sua amada jazendo nas mãos do Deus da Sintonia, tomou-se de pavor e correu em sua direção.

— Não!!! Pietra!!! Pietra!!!! — gritou com desespero.

— ke... ran... eu te...amo... — ela disse quase que em um sussurro, e seus olhos se fecharam deixando uma lágrima descer por seu rosto. No canto esquerdo de sua boca um longo filete de sangue surgiu, caindo em gotas ao solo.

Thanatos deixou o corpo da jovem Guerreira cair ao chão, e Keran postou-se de joelhos ao perceber que já era tarde demais. Não havia conseguido ouvir suas últimas palavras, mas seu coração as compreendera.

Lágrimas banharam o rosto do General intensamente e ele, tomado de dor pela perda da mulher amada, foi acometido por um ódio voraz que emanou por seus poros aflorando numa energia que e se expandiu ao alto.

Dio, sentindo tamanha força, arregalou os olhos, e se voltou para Rey.

— Sim, é ele, essa energia pertence ao Líder do Clã do Sul. Não tenho mais dúvidas!

Rey fitou o homem, cujas feições iam mudando e adquirindo ares demoníacos. Sendo que Zero, como os demais membros da Grand Chase, pousou seus olhos no General, enquanto segurava agora em mãos Grandark. Ele, mais do que ninguém, reconhecia a energia de um antigo oponente dos tempos da Primeira Guerra Mágica. E seu coração foi envolvido pela ânsia de lutar.

Longe dali, ao abrigo da serena paisagem da Floresta da Vida, Yavos sentiu um aperto forte em seu coração. E ao olhar para o céu na direção das Terras de Periett pôde sentir a intensidade das energias conflitivas que se erguiam ao alto, oriundas do cume do Pico Delevon, e foi com pesar que sentiu a luz de uma vida extinguir-se. Ele meneou a cabeça, com tristeza, e se apoiou em seu longo Cajado.

Seus olhos sombrios se fecharam, e ele apertou o punho esquerdo. Havia dado sua palavra e não podia esquivar-se a isso.

Movimentou o Cajado e pronunciou palavras antigas, de modo que seu corpo tornou a cobrir-se pela alva túnica que vestira ao deixar Narazy. Montou seu unicórnio alado, alçando o alto e mergulhando nas sombras daquela noite, cujo brilho do luar também parecia haver se apagado.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A luz de uma vida se extinguiu dentre os Generais do Deus Atron, e a verdadeira face de Keran foi revelada.
Preparem-se para emoções ainda mais grandiosas com relação ao capítulo que encerrará a aventura de nossos heróis no Continente Sagrado.
Mas muita coisa ainda será contada; e importantes pontos esclarecidos nos próximos episódios.
Não deixem de acompanharem a todas emoções finais do Livro I desta grandiosa saga.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Continente das Trevas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.