Daquele brilho intenso iniciou-se uma série de cenas estranhas. As coisas começaram a voltar, pessoas desaparecer, aparecer, abrir a porta, fechá-la só que em uma velocidade incrível e por incrível que pareça fazendo movimentos inversos. Hermione permanecia de cabeça baixa, como aguardando algo, até que tudo voltou ao normal e ela tirou o colar em volta do meu pescoço e o guardou dentro de sua camisa.

- Certo. O que aconteceu? O que é esse colar? – Disse eu completamente atônito daquela situação atípica.

- É um vira-tempo. Permite voltar um pouco no tempo – Respondia ela, com um tom de preocupação.

Minha cabeça então assimilou tudo o que havia ocorrido. Mas antes que eu pudesse raciocinar mais um pouco, Hermione surpreendeu-me com uma pergunta:

- Onde acha que estava na noite passada?

- Eu? Não consigo lembrar... – Até o final desta frase eu realmente não sabia onde estivera, porém ao terminá-la lembrei-me imediatamente o local: estava à porta da Hermione falando tudo o que me vinha a mente.

- Bom, eu sei onde estava e isso não é nada bom. – Dizia ela com ar de preocupação.

- Onde estava e por que a preocupação? – Interroguei.

- Eu estava aqui, no meu quarto, ai do lado de fora do guarda-roupa. – Ela dizia mordendo os lábios e em um tom de reprovação. – Nós não podemos ver a nós mesmos quando usamos o vira-tempo, isto traria conseqüências terríveis... poderia ficar louca, ou até morrer.

- O que acha que devemos fazer? – Disse olhando ao redor.

- Bem, eu me lembro de ter entrado no guarda-roupa, mas não sei por que, podemos esperar eu entrar e sair pela outra porta sem que eu me veja.

- Ok, eu olho pela porta e aviso, fique próximo da porta.

Abri levemente a porta do grande guarda-roupa feminino e vi a Hermione sentada na cama virada de costas. Passou-se um tempo e ela permaneceu imóvel, algo estava errado.

De repente um estrondo vindo de dentro do guarda-roupa me fez assustar, eu vir-me-ei de costas e vi várias caixas e adereços no chão, ao lado da Hermione. Sussurrei então:

- O que você fez?

- Eu lembrei, entrei no guarda-roupa pelo barulho. Era isso que estava faltando.

Neste momento, a “outra Hermione”  levantou-se e olhou ao redor, em seguida, vindo em direção do guarda-roupa. Então soltei um: “vai para a porta” e a Hermione assim o fez.

Tentei ser o mais rápido para sair também, e assim conseguimos passar para o lado de fora.

- Temos que sair logo! – Dizia Hermione ansiosa e analisando o que poderia fazer  até que uma voz conhecida chegou a porta:

- Hermione, você está ai?

A voz era a minha e o desespero tomou conta de mim, não queria me ver e ficar louco.

- Rony, o que você está fazendo na porta do meu quarto? – sussurrava Hermione. – Ah não importa não o deixe entrar, vou pensar em algo para sairmos daqui!

Rapidamente fui à porta e a tranquei, a Hermione estava procurando algo em uma bolsa, “ o outro eu” insistia em entrar mas por incrível que pareça eu não me deixava. Tranquei novamente a porta. O som do outro lado parecia ir embora, mas em troca a porta do guarda-roupa começava a abrir

- Rápido! Para trás da cama! – Dizia Hermione enquanto acomodava-se ao lado de um armário.

A “outra Hermione” saiu e olhou em volta. Veio até o pé da cama onde estava escondido e suspirou e sentou-se.

- Rony idiota! – saia de seus lábios em meio ao suspiro.

Hermione do outro lado do quarto fazia um sinal tentando dizer que eu prestasse atenção. Com um toque da varinha, um dos livros que estavam sobre a cama próxima a janela foi ao chão.

Com um novo susto, levantou-se novamente a “outra Hermione” para ver o que acontecia. Isso nos deu tempo de ir perto da porta e sair com a mais rápida e leve passada.

Após o susto, tivemos a cautela de sair do dormitório feminino sem que qualquer menina nos percebesse, conseguimos atingir o lado de fora de Hogwarts sem prejuízos.

- O que você foi fazer no meu quarto? – Interrogou-me Hermione andando rapidamente a minha frente como indo em direção a cabana do Hagrid.

- O que importa agora? Afinal eu sou o Rony idiota. – Neste momento ela parou, olhou em meus olhos e disse:

- Temos que falar com o Hagrid.

- Outras pessoas podem nos ver, sob efeito do vira-tempo? – Perguntei a ela, aumentando o passo e passando à frente.

- Não, não sabemos o que se pode mudar se falarmos com alguém, pode alterar o futuro de uma maneira que não estejamos aqui.

- Ah! Que maravilha, então falar com o Hagrid está fora de questão. – Dizia eu olhando fixamente a imagem da loira com seu tom explicativo.

- Mas não falamos com o Hagrid há algum tempo. Ele não notaria a diferença e creio que isto não influirá no futuro.

- Tenho medo dessa sua palavra: creio. Não podia dar uma palavra de maior certeza? – Disse eu com medo incrustado no rosto.

Ela apenas olhou em meus olhos, abaixou a cabeça e seguiu em direção a cabana de Hagrid.

-Mas o que você tem para falar com o Hagrid? – Eu insistia em que algo fosse esclarecido.

- Preciso saber por que ele foi para Ascabam. E mais ainda... por que ele saiu. – Disse ela à porta da cabana do Hagrid.

Estremeci com tais palavras, o que o Hagrid poderia ajudar? Não era óbvio que o único culpado por isso era o Draco? Ele era o único que deveríamos procurar.

- Por que não vamos atrás do Draco? Hermione você sabe que ele é o culpado por tudo isso.

- Não podemos simplesmente atacar o Draco. Ele é apenas um fantoche do Voldemort, se queremos salvar o Harry precisamos saber o que realmente está acontecendo em Hogwarts.

- Que barulho é esse ai fora? – Dizia uma voz dentro da cabana.

Em seguida a esta fala a porta abriu-se, Hagrid portava uma arco e flecha grande e pontudo que nos fez dar um passo para trás.

- Ah! São vocês, entrem logo! – Disse Hagrid com um olhar distante.

Dentro da cabana, Hermione não perdeu tempo:

- Hagrid, não temos tempo! Precisamos saber por que você foi preso em Ascaban.

- Ora, vocês não deviam estar aqui a essa hora da noite, e cadê o Harry? – Disse Hagrid tentando mudar de assunto.

- Hagrid você precisa dizer-nos, tem algo muito importante em jogo. – Disse Hermione um pouco impaciente, quando de repente ela tira o colar do pescoço e mostra o pingente a Hagrid.

Ele estremeceu ao ver o objeto, arregalou os olhos e pronunciou: Um vira-tempo. Em seguida veio a pergunta:

- O que está em jogo?

- O Harry. – Respondi ligeiramente em meio as lágrimas da Hermione.