Marissa guinchou quando recebeu o soco. Se de dor ou de surpresa, Olivia não sabia dizer. Mas antes que desse o segundo passo em direção ao telefone, sentiu uma pancada na perna e começou a cair, visto que a outra tinha atingido o seu ponto de equilíbrio. Os olhos de Olivia lacrimejaram quando o seu braço machucado atingiu o chão, segurando o peso do corpo e a dor foi tão intensa que pensou que os pontos tinham aberto.

 Olivia rolou para tentar se levantar, ouvindo a aproximação de Marissa. Tentou se apoiar no braço bom e levantar rapidamente, mas Marissa era rápida e antes que Olivia conseguisse se mover, a outra já a prendia no chão, segurando os seus ombros com força. Droga, ela é forte! Olivia havia subestimado Marissa e isso podia custar sua vida. Sem conseguir mover os braços e sem ângulo para acertar um chute, Olivia tentou jogar o seu peso para cima e fazer Marissa soltá-la, mas os seus esforços não deram resultado.

- Bom, se você vai resistir – Marissa comentou um pouco ofegante. O seu nariz sangrava, mas não o suficiente para pingar sangue em qualquer lugar. – eu acho que vou ter que transformar o suicídio em um assalto.

 Com um movimento rápido, Marissa passou a segurar Olivia no chão com as pernas e deu um soco do lado de sua cabeça. Olivia sentiu a cabeça rodar e um líquido quente começou a escorrer aonde o soco a atingiu. Porém, ao se movimentar para socar Olivia, Marissa deixou um colar aparecer entre o seu decote. Olivia encarou pasma por um momento os dois anéis que se balançavam na sua frente presos por uma corrente de couro envolta do pescoço da outra e se lembrou de ter visto um lampejo dourado mais cedo, mas sua mente estava muito confusa para entender o que eram os anéis.

 Em uma tentativa desesperada, Olivia deu uma joelhada nas costas de Marissa, que estava em cima dela, ao mesmo tempo em que jogava o corpo para frente, tentando desequilibrar a sua agressora. Quando tentou jogar o corpo, Olivia sentiu os pontos do braço que Marissa segurava firmemente no chão se repuxarem e trincou os dentes para não gritar de dor. O desequilíbrio que causou à outra não foi o suficiente para se libertar, mas Marissa duplicou a força nas pernas que prendiam Olivia no chão.

- Acho que já brincamos o suficiente. É uma pena, Olivia. Eu gostava de você. – Marissa exibiu um sorriso cruel ao dizer isso e retirou a corrente do pescoço. Enrolando a corrente uma vez na mão e deixando os anéis fora do caminho, Marissa a esticou e pressionou contra o pescoço de Olivia.

 Arquejando por ar e ao mesmo tempo tentando controlar o anseio de tossir, Olivia tentou encontrar uma maneira de se livrar de Marissa. A falta de ar já começava a deixar o seu cérebro mais lento, e ela podia sentir as próprias pernas se debatendo involuntariamente. Sua visão começava a escurecer quando Marissa ofegou. Ela tossiu uma vez e arquejou, como se fosse ela quem estivesse sendo sufocada.

 Lentamente, o aperto da corrente de couro foi relaxando do pescoço de Olivia, enquanto Marissa arquejava desesperadamente, com uma expressão confusa. Quando o cordão se afrouxou o suficiente, Olivia respirou fundo, tentando recuperar o tempo perdido e olhou por cima do pescoço de Marissa, que ainda tossia e levava as mãos à garganta. Uma forma sorridente tremeluzia ali. Amber.

 Quando conseguiu se recuperar do choque, Olivia tossiu algumas vezes antes de conseguir falar alguma coisa. Marissa ainda segurava seus braços com as pernas, mas sua perna tremia enquanto a falta de ar a atingia e seus olhos começavam a rolar para trás, inexpressivos. Amber a estava sufocando, assim como ela tinha planejado fazer com Olivia.

- Chega. – sua voz saiu estranha depois de ter a garganta comprimida. Olivia pigarreou e falou mais alto. – Amber, já chega! Você vai matá-la!

 Mas a fantasma nem sequer piscou. Seus olhos praticamente brilhavam e seu sorriso se intensificava a medida que o rosto de Marissa embranquecia lentamente. Percebendo que só tinha segundos, Olivia agarrou a corrente que pendia frouxa na mão de Marissa e a empurrou para o lado. Dessa vez, Marissa caiu no chão com um baque e ficou parada lá, com os olhos vidrados e o corpo espasmando.

 Usando as poucas forças que tinha, Olivia correu para a cozinha o mais rápido que pode. Quando passou ao lado de Amber, ela nem lhe deu atenção, ainda focada no rosto de Marissa, observando sua vida se esvair. Praticamente derrapando, Olivia agarrou a caixa de fósforos e tateou os anéis, procurando abrir os dois ao mesmo tempo. Quando encontrou o mecanismo, os anéis soltaram um clique agudo e duas mechas de cabelo caíram na palma da sua mão. Sem ter tempo para discernir uma da outra, Olivia riscou o fósforo e colocou fogo nas duas mechas.

 Amber soltou um grito quando percebeu que estava pegando fogo. Ela se virou na direção de Olivia com um olhar extremamente raivoso, mas acima de tudo, magoado.

- Eu sinto muito, Amber. – Olivia conseguiu murmurar antes da fantasma se extinguir em fogo. Assim que ela desapareceu, Marissa arquejou alto, finalmente conseguindo respirar. Levantou a cabeça e olhou para o rosto de Olivia, antes de desmaiar.

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 Olivia encostou-se à bancada da cozinha pelo que pareceu um longo tempo antes de ter coragem de se mover. Ainda segurando os anéis e a corrente em sua mão trêmula, foi para perto de Marissa e se abaixou para sentir sua pulsação. Quando viu que a outra estava viva, jogou a corrente e os anéis em cima dela e se levantou.

 O caminho até a mesa onde estava o seu celular pareceu muito longo. Ela o pegou e se arrastou para a poltrona mais próxima. Digitou uma mensagem, dessa vez para Sam.

 “Esperem algum tempo antes de voltar e voltem como federais. Marissa esteve aqui. Amber também. Acabou.”

 Ela esperou que essa mensagem fosse clara o suficiente para que eles a entendessem. Fechou os olhos por um instante, sentindo um cansaço súbito. Ela já não sentia dores, o seu corpo estava completamente entorpecido. Temendo uma concussão, Olivia reabriu os olhos e fez a única coisa que nunca pensou que precisaria fazer em uma caçada. Chamou a polícia.