Doce Insanidade escrita por Monny


Capítulo 3
Ás Quintas - Feiras




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Hospital Psiquiátrico de Baltimore, quinta-feira, 10:05 A.M


Numa sala de paredes decoradas com estantes carregadas de livros e outros utensílios, com paredes bordô e móveis em madeira de cerejeira, Dr.Frederick Chilton, 58 anos, está sentado diante de uma moça com cerca de vinte e três anos; cabelos negros, lisos e longos presos num rabo de cavalo simétrico, rosto oval, com linhas delicadas, olhos profundamente azuis, pele pálida, trajada casualmente. O doutor mantém os olhos fixos nas águas profundas dos olhos de Morgan Ayelleen Morrigan.

 


— Então se formou recentemente em Medicina, senhorita Morrigan?
— Sim senhor.
— Trabalha no necrotério do hospital de Washington e na biblioteca nacional como arquivista...
— Sim senhor.
— Você deve ter visto muitas coisas 'feias' trabalhando no necrotério não é mesmo? E provavelmente ouviu histórias sobre Hannibal Lecter...?

— Sim senhor.

— Tenho de dizer que, sua presença tende á agradá-lo... Mas pode irritá-lo... No mais uma coisa é certa: sua beleza é de espantar qualquer um. - Dr. Chilton mantinha um corte 'á lá grease', mostrava os dentes amarelos ao sorrir e tinha bolsas abaixo dos olhos. Ayelleen mantinha o olhar em linha reta, admirava sem ser percebida um quadro na parede atrás da poltrona do doutor Chilton.- Bom, vamos até lá então.

Ele a levou até a porta e seguiram juntos por diversos corredores e escadarias até chegarem ao porão.

— Eu o mantenho aqui, essa ala é para os agressivos. Os livros estão todos aí? (Ayelleen fez que 'sim' com a cabeça e ele prosseguiu dando sinal para o guarda abrir o portão.) São todos de brochura como eu pedi?

— Sim senhor.

— Ótimo. Bom, as regras são as seguintes: passe os livros através da gaveta de correr, se ele tentar lhe passar algo não aceite, acho pouco provável que ele vá falar com você mas caso o faça, não dê ouvidos; não fale nada pessoal, acredite você não gostará nenhum pouco de tê-lo em sua mente.

Chegaram até a sala de vigilância, um enfermeiro grandalhão pediu para que ela desse seu casaco a ele e ela o fez, os seguranças não conseguiam tirar os olhos da jovem, sua beleza exalava juventude, coragem, interesse. Os olhos dela brilhavam feito pedras preciosas, mal conseguia conter a ansiedade de vê-lo.

— Senhorita Morrigan, a cela de Hannibal Lecter é a última. Bom, Barney, quando ela terminar leve-a até a porta sim?!

— Claro doutor.

O portão de grades foi levantado, a jovem entrou no corredor chamando a atenção de outros internos, ela permanecia fitando a sua frente, com o coração de certo modo, 'acelerado.'
Chegou próximo a cela, estava bem iluminada... Mais alguns passos e estava diante da figura de Hannibal. Seus olhos azuis, frios, fitaram o belo rosto de Ayelleen, houve uma ligeira falta de expressão em seu rosto seguido por um sorriso irônico e um olhar interessado.

— Bom dia Dr. Lecter, meu nome é Ayelleen, trouxe os livros que o senhor pediu.
— Muito prazer senhorita Ayelleen... (permanecia imóvel com as mãos para trás do corpo.) Soube que a biblioteca de Baltimore não autorizou alguém para trazer os meus livros, creio que por medo... A senhorita pelo contrário, deve ter uma reputação, digamos, 'excêntrica' em seu trabalho... Diga-me Ayelleen, já leu algum destes livros que eu pedi?

— Sim doutor Lecter, li todos, o senhor tem um bom gosto incrivelmente fantástico para a leitura.

Hannibal admirava a maneira como ela não recuava, como falava com ele fitando-lhe os olhos.

— Gosta de Dante, Ayelleen?

—Sim.

— Hmmm... Interessante. Diga-me, você não me parece com uma mera bibliotecária, o que faz além disso?

— Me formei recentemente em... Medicina, estou em minha Pós Graduação em... Psiquiatria Forense e trabalho no necrotério do Hospital de Washington.

— Hum, Washington? Psiquiatria Forense?....Necrotério? Você é no mínimo... 'Estranha', gosto disso. (sorriu ligeiramente deixando as maçãs do rosto de Ayelleen vermelhas.)

Meio sem jeito ela fitou o chão e disse: - Gostaria de receber os livros agora doutor Lecter?

— Se me entrega-los agora terá de ir embora o que me deixará muito chateado... O que eu quero é conhece-la melhor Ayelleen... Começando pelo seu nome. Ayelleen de quê?

— Morgan Ayelleen Morrigan, na verdade há um 'Bonnet' antes do Morrigan mas eu não costumo usá-lo...

— E porque não? Não gosta do sobrenome de sua mãe? Ela é do Kansas, não é mesmo?

— Sim, Kansas. Não tenho recordações boas dos meus pais, principalmente da minha mãe...

— E porquê?

—... Ela... Traiu o meu pai com um funcionário dele e ele, um dia, os pegou em casa e os assassinou...

— Interessante...

— Depois se suicidou. Eu vi da janela.

— E quantos anos você tinha quando isso aconteceu?

— Dezesseis.

— Você tem irmãos, Ayelleen?

— Sim, um irmão... Infelizmente...

— Hmmm, creio que também não tenha boas recordações de seu irmão...

— Ele é um criminoso. Está preso á alguns anos.

— Que tipo de criminoso ele é? (havia muito interesse nas palavras de Hannibal. Aquela garota, de estatura baixa, olhos brilhantes e claros, aquela garota recém formada, com conhecimento em Dante, ela tinha muito mais á oferecer e ele queria, queria saber tudo, tudo que pudesse fazê-lo entrar na vida dela como um protozoário, como um mentor.)

— Ele começou com pequenos furtos, depois com assaltos mais elaborados e daí partiu para as drogas e assassinatos...

— O viu desde então? Já foi até a prisão visitá-lo?

— Ele me mandou uma carta certa vez, me culpando pela morte dos nossos pais, disse que se um dia conseguisse fugir, me mataria.

Dr. Hannibal Lecter moveu as sobrancelhas revelando um ligeiro espanto.

— Diga-me Ayelleen, mataria seu irmão se pudesse?

Houve um ligeiro refletir.

— ...Sim.

— Por favor, me passe os livros agora.

Ela caminhou até a gaveta e depositou os cinco livros, empurrou-a de volta, caminhou até o local onde estava e fitou Hannibal que continuava na mesma posição, encarando-a de cima a baixo com aqueles olhos arregalados e curiosos como os de uma criança.

— Bom... eu voltarei na quinta - feira para buscá-los Dr. Lecter, se quiser outros, é só fazer uma lista e eu os trarei com muito prazer. (Ele sorria somente, parecia meio perplexo com a jovem.)

— Esperarei ansioso para vê-la novamente Ayelleen. Tchau...

 

Ayelleen fitou profundamente os olhos do doutor, de uma distância suficientemente boa para reparar nas fagulhas vermelhas que possuía nos olhos, aqueles olhos eram como areia movediça e nesse momento ela não conseguia se mover, somente era puxada para dentro deles e de sua imensidão de mistérios... Demorou um pouco para Barney perceber que algo acontecia e ir buscá-la.

 

Hannibal Lecter não recebia a visita de uma mulher há anos. A última vez foi da agente especial Clarice Starling do FBI, no caso do Buffalo Bill que terminou de forma assustadoramente errada, mas Clarice e Ayelleen eram completamente diferentes: Clarice tinha receio ao ouvir as verdades que ele lhe dizia e Ayelleen parecia envolta em uma áurea de curiosidade e fascinação. De fato, ela o surpreendera quando disse que mataria o irmão se tivesse oportunidade... Aquela garota tinha muito mais para mostrar e ele faria o impossível para ter o prazer de sabê-lo. Pegou seus livros, deitou na cama, folheou-os mas não conseguiu a atenção esperada. A imagem daquela garota não saía de sua mente e se eternizava nos pilares de sua memória.

 

 

Ayelleen estava no necrotério, fazendo autópsia em uma mulher que morrera de uma parada cardíaca. Apesar de estar atenta ás incisões, uma parte de sua mente ainda permanecia em Baltimore, naquele porão úmido e frio, diante da visão do Canibal, daquele homem tão imensamente interessante, educado... Ela estava certa, os tabloides mentiram de maneira absurda referente a ele... Deus! Como parar de pensar nele se ELE era tudo em que ela queria pensar? De novo a mesma ansiedade de hoje de manhã... A ansiedade que aumentaria até quinta - feira quando o veria novamente...

Ah! O que ela não daria para estar agora conversando sobre Dante com Ele....


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