Darkness And Light escrita por Catherina, claudia00


Capítulo 14
Cap 13 - The Golden Bar


Notas iniciais do capítulo

Novo capitulo, novas personagens =)
Boa leitura*



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Que tédio...

As poças de água estavam irregularmente espalhadas por todo o asfalto onde apenas eu circulava, sozinha e silenciosamente feliz. Apesar de aborrecida...

As paredes sujas e vandalizadas dos prédios davam um ar aconchegante e rebelde às ruas conhecidas por serem as mais perigosas da cidade, embora nunca ter havido qualquer furto ou homicídio por aquelas bandas.

Nas últimas semanas, nada mudara. Alphonse e Edward continuavam a querer que me mudasse para casa deles ao mesmo tempo que me queriam comprar a minha querida e actual habitação.

Greed continuava fugido. E o pesadelo igual àquele que tivera a algumas semanas atrás ficou mais frequente, atormentando-me quase todas as noites.

Ao inicio, era Light quem estava comigo na cama mas quando estava pronta a tê-lo dentro de mim, Light dava lugar a Greed que tentava a toda a força ter-me debaixo dele, agarrando-me para que não pudesse fugir.

Os sonhos prolongavam-se pela noite toda, sem me deixar dormir, e nem mesmo com toda a droga que tomasse ou inalasse (pois... agora andava a fugir à rotina) não me conseguia sentir mais calma ou esquecer tudo o que me chateava.

O problema é que eu não costumava sonhar... Mesmo nunca! Pelo menos, desde que a minha mãe partira, nunca me lembrava de um sonho que fosse... E nunca tinha sonhado com... Greed. Nem mesmo depois de ele me ter... tocado.

O facto de ele ainda estar fugido não me surpreendia.

Ele conhecia aquela cidade como a palma da sua mão e tinha um QI algo elevado, para além de uma extraordinária memória fotográfica... Sim, o meu pai podia parecer o homem mais inteligente vivo à face da Terra, no entanto, não passava de um animal nojento e sem escrúpulos. Na verdade não o podia considerar meu pai... A única coisa que me dera foram os seus estúpidos genes que me fizeram ficar com estes olhos negros e com a inteligência acima da média.

Para além do asfalto molhado, havia um cheiro fresco e intenso a chuva no ar, de qualquer forma não me incomodava. Para ser sincera, a única coisa que estava a fazer naquele momento era a tentar ter um pouco de silêncio e encontrar Light... Pelo que soube, ele havia de andar por aqueles lados...

Queria pedir-lhe desculpa pela minha atitude nas semanas anteriores e dizer-lhe tudo muito rápido para que não houvesse tempo para uma segunda conversa. No entanto, não sabia porque me importava com o facto de ele estar chateado...

Num campo de basquete, do outro lado da rua, alguém estava a tentar fazer cestos contra a tabela. Pelo barulho e os resmungos não estava a conseguir.

Do meu lado da rua, fiquei a observar sorrateiramente o jogo individual.

O rapaz corria até ao meio campo e voltava para a tabela sempre a driblar. No último momento, tentava encestar... e errava.

Ele movia-se com uma destreza e uma rapidez que nunca tinha visto, mas não se comparava a um profissional. Pelo que conseguia ver, vestia apenas um casaco branco sem mangas, uns calções beges e uns ténis. O corpo dele parecia reflectir a luz, o que lhe dava um ar transpirado...

Devia estar ali há horas.

Atravessei a rua devagar, sem nunca tirar os olhos dele e continuei a estudá-lo.

Estava totalmente longe da realidade que o rodeava e a única coisa que parecia ver era o cesto. O rosto e os músculos pareciam tensos, quase como se ele tivesse de fazer uma força enorme para os mover... Aquilo era um sinal de que estava longe dali mas também não estava concentrado no jogo.

Aproximei-me do campo e retirei o capuz.

Light continuou a tentar acertar no cesto, sem sequer reparar em mim. Falhou... Tentou outra vez e falhou novamente.

Raios, nem está a dar pela minha presença!

-Light? – Chamei-o.

A bola parou de bater no chão e ele deteve-se, no entanto, não olhou para mim.

-Quero dizer-te... falar contigo. Só um pouco... Não demoro.

Ele virou-se para mim e olhou-me atentamente, estudando-me. Estava zangado, era certo.

-Agora queres falar? – Falou sem expressão. – Uau... é uma novidade!

-Apenas quero pedir desculpa pelo meu comportamento nos outros dias... – Céus... sentia-me totalmente atrapalhada... O olhar dele centrado em mim. O corpo dele totalmente tenso e suado... Alto e lindo... – Falei demais e fui muito indelicada.

O som da bola recomeçou e ele deixou de me prestar atenção.

-Eu disse-te tudo o que queria, disse-te a verdade... Não quero ter qualquer tipo de amizade ou assim... Quero apenas pedir desculpas pela maneira como me comportei e...

O som da bola a driblar começou a deixar-me desorientada e a perder a linha de raciocínio... o facto de ele não acertar no cesto deixou-me totalmente chateada e aborrecida. Desequilibrada, até.

-Se continuares com essa tenção toda, nunca mais acertas na porcaria do cesto! – Quase gritei. Depois, bufei e olhei-o a medo, dando conta da minha reacção.

Ele estava a olhar para mim igualmente espantado e confuso. A incredulidade estava estampada no seu rosto. Teria gritado assim tanto?

Eu suspirei e fiz tenção de voltar a pôr o capuz e ir embora. O som da bola a cair no chão quebrou o silêncio.

-Não metas o capuz. – Pediu ele, numa voz baixa. Eu virei-me para o encarar.

A bola parecia abandonada no chão enquanto os olhos dele estavam fixos em mim. Engoli em seco e deixei cair o capuz. Light começou a aproximar-se muito lentamente...

-O teu cabelo parece negro com o capuz... Assim, sem ele, é muito mais bonito... com todas essas ondas... – Light falava pausadamente, num tom que não conhecia. A voz dele, profunda, não rouca... falava sem tirar os olhos de mim, os passos curtos, o seu corpo sem qualquer tenção.

-Gosto do teu cabelo. – Falou, por fim, parando à minha frente durante uns segundos. Depois o seu corpo endireitou-se muito rápido, como se lhe tivessem dado um choque eléctrico, e ele voltou para trás, apanhando a bola laranja.

Eu virei costas e cruzei as grades, saindo do ringue algo assustada com que tinha acontecido.

Era suposto eu ser estranha, mas Light... ele ficava mesmo muito estranho comigo. O que dizia, o que fazia... Nada nele fazia sentido perto de mim.

Nada, para além daquele corpo e daqueles olhos...

-Anda... – Falou Light passando por mim. – Vamos almoçar!

-O quê? – Perguntei, surpreendida. – Eu não vou almoçar contigo.

-Eu não estou a pedir, Darkness... – disse ele, sorrindo lascivamente.

-Porque haveria de almoçar contigo? – Perguntei arrogante.

Light riu alto e fitou-me intensamente.

-Eu aprendi, no pouco tempo que estivemos juntos, que a melhor maneira e a mais furtiva de fazer as coisas é não pedir, é simplesmente dizer-te o que vamos fazer a seguir. – Disse ele enquanto sorria, glorioso.

-O que ganhas em almoçar comigo? – Perguntei confusa.

O rosto dele ficou sério e o sorriso mais ténue.

-O mesmo que tu.

Bolas. Agora estava confusa... para além de irritada!

A única coisa que ainda me mantinha ali era querer descobrir o porquê daquela ligação...

Porque me importava com ele?

Porque me importava se ele estava chateado comigo?

Porque tinha vindo à procura dele? Porque tinha escrito o nome dele na parede do meu quarto?

Porque e que ele não saía da minha mente?

Porquê???

Não arranjava resposta... quer dizer... apenas uma. Talvez estivesse a apaix...

Não!

Era impossível... ser verdade.

Light ainda me olhava. E eu o olhava...Aquele silencio era tão constrangedor que me causava arrepios e eu não conseguia pensar em mais nada, para além dos olhos dele, do rosto dele, do corpo dele...

-Que merda... – Murmurei enquanto me afastava.

Naquele momento queria pôr o capuz, mas apenas me lembrava da voz dele a dizer o quanto o meu cabelo era bonito...

MERDA... Estava outra vez a pensar nele.

Suspirei, desagradada comigo mesma, e fui andando, sabendo que ele me seguia.

Eu nem sequer tinha aceitado o pedido, no entanto, era como se o meu corpo me obrigasse a ir almoçar com ele. Como se eu tivesse dito “ ’Bora lá almoçar!” em voz alta...

Estava tudo tão confuso e a acontecer demasiado rápido...

-Espera aí... – pediu ele, uns metros mais a frente. Eu esperei, como idiota que sou...

Ele tinha parado perto de um BMW preto enorme, com a luz reluzindo nele mostrando-o totalmente limpo, como se fosse novo. Light foi até atrás dele e abriu-o, deixando lá dentro a bola de basquete.

-É teu? – Perguntei, de voz baixa. Ele olhou-me de relance e veio até mim, parando mesmo a meu lado.

-Sim. É bonito, não é? – Falou, olhando o carro de novo.

-Sim. – Concordei.

Na hora que se seguiu, apenas andámos silenciosamente até ao restaurante e almoçámos sem grandes conversas. Todas elas, por mais breves que fossem, iam parar a comida.

Tanto eu como Light pedimos hambúrgueres vegetarianos, algo que nunca tinha provado antes. O almoço foi demorado pois ambos comíamos devagar e tínhamos perfeita noção que quase todos os olhares (se não mesmo todos!) estavam direccionados para a nossa mesa.

Ninguém ousava murmurar alguma coisa ou bisbilhotar. Quase para não nos incomodar.

A única coisa que realmente me incomodou foi os olhares sitiantes das mulheres.

A empregada que nos atendeu nunca me dirigiu o olhar ou sequer a palavra. Falava apenas para Light, com todo aquele sorriso expectante e aquele corpo, desejoso de devorar Light por inteiro.

E depois, ele também retribuía o sorriso para elas e eu simplesmente... morria! Ficava tão furiosa que quase era capaz de agarrar na porra do hambúrguer e esfregá-lo mesmo no peito dela, estragando-lhe a roupa e tudo o que aquela miúda gostava de mostrar.

Céus, nem sabia em primeiro lugar porque tinha aceitado almoçar com ele!

Mas não me parecera despropositado, até agora...

Ver o quanto ele era desejado por outras mulheres, algumas mais velhas que ele, fazia-me sentir pequena, feia e franzina comparada com elas.

E mesmo assim, ele queria almoçar comigo. E no fim do almoço, quando a empregada lhe deixara o número de telefone junto com a conta, ele não guardara o papel. Fingira que não tinha visto...

Em parte, senti-me grata pela cortesia. Bastante grata...

-Hum... Darkness? – Chamou-me Light, assim que passámos a ombreira do café.

Eu estaquei e olhei para cima, para o rosto dele. Senti-me aquecer debaixo da pele.

-Estava a pensar em irmos ao Golden... Um bar que fica ao fim da rua. Conheces?

A voz dele era baixa e falava quase a medo.

Eu conhecia o bar... Toda a gente conhecia, mesmo que nunca tivesse lá entrado. Era propriedade de um pugilista da cidade e era conhecido por ser dos poucos bares onde nunca tinha havido problemas com a polícia.

O bar/discoteca estava dividido em duas partes. Uma mais caseira tipo rock, indie e blues, ou seja, a parte VIP e a segunda parte, onde se misturavam rap e techno.

Conhecia-se a existência de drogas ilegais para consumo e/ou venda e de atendimento em excesso para serviço de álcool, mas nunca se soubera de um caso de coma alcoólico ou overdose... Também se sabia de alguns atendimentos especiais por parte das empregadas e dos barmen mas não havia provas de nada...

Já fora inspeccionado dezenas de vezes, mas nem uma única razão para o fechar. Os vídeos das câmaras de segurança tinham sido também inspeccionados... nada!

O bar era um autêntico mistério e um bom esconderijo. Um santuário para adolescentes.

-Ele está aberto a esta hora? – Questionei. Era praticamente hora de almoço.

-Eu conheço pessoal que nos abre a porta... O filho do proprietário é um dos meus melhores amigos e tenho uma amiga que trabalha como empregada de mesa. Vamos?

-Vamos... - murmurei, enquanto analisava aquela nova informação.

Não demorou muito tempo até chegarmos.

O nome do bar, que era constituído por lâmpadas de néon, estava por cima de umas portas duplas negras e fechadas. À luz do dia podia ser confundido com mais um prédio, feito em tijolo e com aspecto algo velho, com umas escadas de incêndio do lado direito. No entanto, tinha um parque privado para estacionamento, que podia dar para uns 15 a 20 carros, a partir de onde se ia dar às traseiras do bar.

Light levou-me por esse parque de estacionamento e fomos ter a umas portas iguais àquelas que se encontravam na frente do bar. Ele bateu à porta, que foi aberta segundos depois, e deu-me passagem enquanto segurava a porta.

Ao passar por ele, não pude deixar de notar no seu cheiro. Era limpo e agradável, como se Light tivesse acabado de sair do duche... Depois lembrei-me que ele tinha estado horas a jogar basquete e ainda não tivera oportunidade de ir a casa.

Assim que dei alguns passos para dentro do Golden, tive de parar imediatamente e avaliar o local, totalmente pasmada.

Tudo parecia ser feito de madeira negra e quase que tinha o aspecto de um quartel de bombeiros.

Tinha primeiro andar e as janelas eram quadradas, grandes apesar de serem bem lá em cima, perto do tecto. Tive a certeza que aquela era a parte VIP...

Era muito ampla, com mesas altas perto das paredes e com um balcão muito comprido que parecia ter, pelo menos, uns 4 metros. Os bancos eram altos e negros (tal como o balcão e as mesas) e as prateleiras atrás estavam a abarrotar de tantas garrafas cheias de todo o tipo de álcool. Do meu lado direito, estava uma escada em espiral vermelho sangue. No segundo andar, parecia haver várias portas para várias divisões...

Não entendi para que serviam e consegui ver a existência de uma longa mesa de mistura.

Procurei Light e reparei que se tinha dirigido ao balcão, onde estava sentado num dos bancos altos, a olhar para mim, com uma expressão sombria e que eu já tinha visto em qualquer lado...

Oh céus... Era aquela expressão do meu sonho. Aquela em que ele parecia ávido... Esfomeado... De mim.

Raios... Ficava tão sexy quando me olhava assim.

Eu passei pela escada em espiral e detive a minha atenção na parede do meu lado direito. Tinha um armário enorme cheio de troféus e fotografias. Era tão familiar e tão perigoso ter aquele tipo de coisas ali...

E se lhe roubassem os troféus? Ou as fotografias? Céus...

-Light! – Gritou uma voz feminina.

Eu quase que saltei, com o susto que apanhei!

Olhei para Light e vi um corpo muito feminino abraçado ao seu pescoço, quase a esmagá-lo pela força que fazia e pela maneira que estava em cima dele.

A rapariga tinha o cabelo loiro com madeixas cor-de-rosa apanhado no alto da cabeça e o seu corpo era totalmente esguio e as pernas torneadas... Devia medir 1,70 m. Vestia uma micro mini-saia juntamente com um top branco e calçava umas extravagantes, mas belas, botas com um salto de 8 a 12 centímetros... Pelo que dava para ver, os ombros e as costas dela estavam totalmente cravadas de tatuagens coloridas, que pareciam ir desde os antebraços à nuca...

Não me consegui aproximar e fiquei apenas a ver a cena... Aquela devia ser a tal amiga empregada de mesa.

-Oi Kinky... – falou Light com um sorriso gigantesco enquanto também a abraçava. Kinky? Oh, boa...

Ela deixou de o abraçar e afastou-se um pouco dele, pondo as mãos atrás das costas, como que envergonhada.

-Desculpa a reacção, mas como não vieste ontem... – falou Kinky. A voz dela era muito, muito doce... Como se fosse uma criança. Uma voz melódica e que ficava na cabeça como que a enfeitiçar-nos.

-É que... ontem decidi ficar por casa. – Explicou Light, sorrindo enquanto coçava o pescoço e desviava o olhar para o lado. Depois, olhou para mim e sorriu um pouco.

Kinky virou-se no mesmo instante e eu pude realmente vê-la.

A sua pele era tão pálida quanto a minha. Tinha os olhos pintados de um tom carregado e piercings nas orelhas, dois no lábio inferior e um pequeno no nariz.

As feições dela eram belíssimas... Maçãs do rosto bem esculpidas, lábios carnudos... Tudo bastante proporcional. E depois ela sorriu-me e mostrou os dentes bastante brancos e direitos.

De repente, a ideia de que havia mais piercings por ali pareceu-me bastante possível.

-Então, Light? Não me apresentas a tua amiga? – Perguntou Kinky, sem tirar os olhos de mim. As minhas suspeitas confirmaram-se quando vi algo cor-de-rosa dentro da boca dela, atravessando-lhe a língua.

-Kinky, essa é a D. Foster... – Falou ele, fazendo gestos com a mão alternadamente entre nós as duas - D? Esta é a Kinky Adams.

A amiga de Light avançou na minha direcção e o som das suas botas fez eco por todo bar. Quando chegou perto de mim, abraçou-me com força e eu comecei a tentar respirar. Por cima do ombro dela, consegui ver Light a reprimir uma gargalhada.

-É um prazer, miss Foster... – Falou Kinky no meu ouvido, fazendo-me arrepiar com a sua voz demasiado sensual.

As suas mãos percorreram ainda as minhas costas antes de me largar. Sorriu-me mais uma vez e voltou-se, indo para trás do balcão. Eu tentei raciocinar depois daquilo e esperei para ver o que acontecia depois...

Decidi observar o armário dos troféus, enquanto conseguia ouvir perfeitamente a conversa entre os dois amigos.

-Queres o mesmo de sempre? – Questionou Kinky Adams.

-Não. Almocei à pouco...

-Com ela? – A voz de Kinky era expectante.

-Sim...

Soube imediatamente que Light o tinha dito com um sorriso...

-Ela é muito gira... – falou ela parecendo divagar.

-Nem penses nisso, Kinky! – A voz de Light era tão cortante como brincalhona. – Ela não é assim...

-Não é como eu, já sei... Estava só a constatar um facto, Light. Não te estou a pedir que a dividas comigo...

Aquilo fez-me gelar e eu consegui ver a minha cara de espanto através de um troféu de 1992... Kinky Adams era... lésbica?

-Eu entendi, Kinky... Só estava a... avisar-te, ok? – Light deu uma gargalhada. – Apesar disso, o pessoal que trabalha por aqui, tal como o meu melhor amigo, não te chegam?

Foi a vez de Kinky se rir. O que soou a um ruído sublime...

-Oh, Light! Tu sabes que eu gosto de variar, não sabes?

-Ah, pois sei! – Respondeu ele de novo a rir.

Ok... Então... Kinky Adams é bi?

As gargalhadas pararam e ouvi o som de vidro a bater no balcão.

-Ouve, Light... Ontem não vieste porquê? Ainda não entendi... – falou ela no seu tom doce.

-Depois falo contigo sobre isso... Agora não dá.

-Tens a certeza que não queres uma bebida?

-Tenho.

-Olha, hum... Lamento pela investigação não ter dado em nada. – falou Kinky numa voz triste. O silêncio tenso que se seguiu era demasiado óbvio e percebi que, qualquer que fosse o assunto, não era fácil.

-Já devíamos estar habituados à justiça deste país, não? – Disse Light, numa gargalhada reprimida e falsa... Aquilo gelou-me e fez-me sentir triste, mesmo não entendendo o porquê... – Eu sempre soube que a polícia não ia arranjar provas conclusivas sobre a morte da Crys... E mesmo que se arranjassem provas de alguma coisa, era bem provável que a Lux fosse ilibada perante o tribunal...

O Light disse Lux? Eles estavam a dizer que a Lux Vaughner tinha... matado alguém?

Bolas... a miúda era a popular da cidade. Tinha tudo o que queria e quando queria, graças aos montes de dinheiro que o pai recebia por mês do seu pequeno negócio de marketing.

Se ela tivesse mesmo matado alguém, ela nunca seria condenada, pois o seu pai tinha dinheiro suficiente para ela nunca ter de passar uma única noite na cadeia.

Ainda assim, Lux não seria capaz de acabar com a vida de alguém... Pelo menos, não na minha opinião.

Movimentei-me um pouco, afastando-me deles e observei umas fotografias de equipas de basquetebol. Continuei a ouvir a conversa.

-A verdade é que nunca houve provas conclusivas sobre nada, Light.

-Eu deixei a Crystal com a Lux, apenas durante umas horas. Deixei-as sozinhas para que a Lux pudesse... sei lá, fazer o trabalho dela enquanto...

-Eu entendo, Light – interrompeu Kinky – Mas o problema foi exactamente esse! Elas ficaram sozinhas... Ninguém estava lá para presenciar alguma coisa, percebes? Ninguém viu nada...

-Eu nunca devia ter ido embora... – disse Light numa voz baixa.

Estava prestes a dirigir-me ao balcão, quando alguém veio contra mim. O choque foi tão repentino que quase caía se um braço não me tivesse agarrado.

Quando olhei para quem pertencia o braço, fiquei ainda mais confusa.

O rapaz era do mais moreno que já vira, quase com uma pele avermelhada. O cabelo era curto, muito negro, os olhos rasgados, os lábios cheios, as feições claramente tribais como no sul da América. Os óculos de aros negros que usava faziam-no parecer inteligente e universitário.

Ele puxou-me, dando-me de novo equilíbrio e eu não entendi de onde veio toda aquela força quando ele era muito pouco musculado e mais baixo que Light, ficando exactamente da minha altura.

-Desculpa. Estas bem? – Perguntou o rapaz com voz grossa. Eu continuei a olhá-lo e tentei falar sem gaguejar.

-Hum... Sim, acho que sim. Obrigada...

-Brain! – Chamou Light atrás de mim.

O rapaz largou-me e sorriu por cima do meu ombro.

-Como ‘tás, pá? – Falou o miúdo.

Os dois rapazes cumprimentaram-se com um forte aperto de mão e rapidamente Light virou-se para mim com uma expressão preocupada. Consegui sentir a mão dele no meu ombro.

-Tudo bem? – Questionou-me baixo e olhando-me nos olhos. Eu desviei o olhar para o rapaz e depois para Light.

-Brain?

Light sorriu abertamente e tirou a mão do meu ombro. Foi ter com o rapaz e este passou-lhe algo para mão esquerda com um sorriso trocista. Kinky observava a cena com um sorriso e os seus olhos apenas seguiam os movimentos do rapaz chamado Brain.

L veio ter comigo e pegou-me na mão, deixando-me chocada e sem reacção.

-Vamos lá para cima. – Disse-me em voz baixa, direccionando-me para as escadas vermelho sangue.

Enquanto subíamos, a mão direita de Light era muito firme contra a minha e até suave...

Ao chegarmos, entrámos no corredor das divisões que parecia ter 5 ou 6 portas, todas elas na parede do lado esquerdo.

Com a outra mão, Light abriu a ultima porta do corredor e fez tenção para eu entrar. Antes de passar por ele, consegui ver o seu sorriso desvanecer e dar lugar àquele olhar intenso do meu sonho.

Engoli em seco e entrei.


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Notas finais do capítulo

Kinky - excêntrico, bizarro, estranho
Brain - cérebro, intelecto, juízo

Gostaram?
Beijoos *-*