- mais que Um Amigo. Jakenessie escrita por RaahBrasileiro


Capítulo 15
13 - Excluindo, Como o ar, "10 coisas..."


Notas iniciais do capítulo

Meniinas!
Obg pelos comentários lindos e por não me abandonarem *-*
Isso é mtui importante para mim e para a Fran.
Fic na reta final!
Espero que curtam o capítulo...
Temos fortes emoções! hasuashasuh
Beeijo e até a próxima



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/132602/chapter/15

~> Jacob

- Esse vestido é da Nessie? - perguntei a Alice repentinamente.
Ela baixou o olhar sorrindo.
- Sim, ela me deu.
- Por quê?
Sabia que não estava sendo muito educado, mas não entendia porque Nessie lhe daria seu vestido preto. Era um de meus favoritos, e não pude deixar de reparar que o caimento parecia muito melhor em Nessie.
- Acho que ela se cansou de usá-lo. - respondeu Alice, dando de ombros.
- Assim ela vai me frustrar muito. - comentei como se Alice não estivesse ali.
Estávamos no Anthony's, casa de massas, e minha cabeça parecia que ia explodir. Conseguira passar por todas as entradas e petiscos sem mencionar o nome de Nessie, fazendo o maior esforço para ser atencioso e enxergar Alice como alguém com quem poderia ter encontros. Quando o garçom trouxera o café, um romance com Alice já estava definitivamente fora de cogitação na minha cabeça. Do jeito que a via, ela era a melhor amiga de Nessie. Acho que ela é uma grande garota, mas toda vez que a olhava via Nessie. Agora estava me deixando discorrer à vontade sobre o assunto que tinha ocupado minha mente o dia todo: Nessie Cullen.
- Presumo que estamos falando de Nessie. - comentou ela, erguendo as sobrancelhas.
- Sim.

- Acho que você a frustrou também. - observou Alice com voz séria. Depois tomou um gole do café, esperando que eu dissesse alguma coisa.
- Eu a amo demais. - coloquei mais creme na xícara e comecei a mexer, pensativo.
- Ela ama você também.
Disse Alice com um suspiro.
- Verdade?

- Sim, verdade. E pensar que cheguei a acreditar que tinha sido convidada para um encontro hoje à noite. Parece que você realmente precisa é de um analista.
Balançou a cabeça e riu para si mesma. Naquele instante percebi a mancada que tinha dado.
-Alice me desculpe. Não tinha intenção de ficar o tempo todo falando da Nessie. Vamos conversar sobre outra coisa.Como...ah, para qual faculdade você vai?

Ela sorriu delicadamente de novo.
- Jake, não venha me dizer que está interessado em saber para qual faculdade irei. Para ser honesta, você não é tão bom ator assim.

- Puxa, sou tão transparente assim? - perguntei envergonhado.
- Desde que foi me buscar, percebi que sua mente tem estado muito longe.
Ela recostou-se, dobrando e desdobrando um guardanapo de papel.
- Pensei que se a gente saísse, esqueceria como...
Não estava bem certo do que tentava dizer.
- Esqueceria que você está apaixonado pela Nessie. - completou Alice maliciosamente.
- Não! - protestei mais que depressa. - Quero dizer, esqueceria que acabei o namoro com Jane e tudo o mais.

- Por favor, me poupe. Você e Nessie estão apaixonados e todo o mundo no colégio sabe disso há anos. Se pelo menos vocês encarassem a realidade e ficassem juntos, o resto de nós tocaríamos nossas vidas.
Meu coração estava disparado e quase perdi o fôlego.
- Você acha mesmo que a Nessie me ama?
Ela colocou a xícara de café sobre a mesa com força.
- Jacob, eu sei que ela está apaixonada por você. Precisava vê-la outro dia. Ela dizia que não se importava de que você me convidasse para sair, mas estava quase chorando!

- Você está me dizendo a verdade?
Minha boca estava seca e estiquei o braço para pegar um copo de água gelada.
Alice esfregou a testa.
- Pense nisso, Jake. Você sabe, eu tenho sentido uma queda por você nos últimos dois anos. Agora, finalmente, estamos tendo o que parecia ser um encontro. Acredita realmente que eu passaria a noite dizendo que Nessie e você deveriam estar juntos, se não tivesse cem por cento de certeza? - ela terminou de falar e fez sinal para o garçom trazer a conta.
-Entendo seu ponto de vista. - disse eu, quase sussurrando.
- Bom. Agora vamos embora. Tenho certeza de que você quer ir para casa e pensar em Nessie.

-Alice me promete que não vai dizer nada para Nessie sobre o que nós conversamos esta noite.
Prendi a respiração,esperando que ela concordasse em manter o bico fechado.
-Prometo.
Respirei aliviado.
-Como posso agradecer por você ser tão legal?O céu é o limite.
Ela apontou para a nota em cima da mesa.
-Diga você.Vou deixar que pague o meu jantar.

-Feito.
Claro que teria pago o jantar dela de qualquer modo.
-E poderia me fazer um outro favor?

-Qualquer coisa.

-Nunca mais me convide para outro encontro.-ela sorriu e pude ver por seus olhos que estava contente.
Peguei em sua mão e beijei-lhe a testa.
-Sabe,Alice Hale,você é muito legal.
Estava assoviando quando saímos do restaurante. Na verdade,cantei por todo o caminho de volta.
Assim que cheguei em casa subi para meu quarto.Em minha cabeça já estava ligando para Nessie.Tínhamos muito o que conversar.
Mas quando sentei na cama,com o telefone a meu lado,de repente me senti meio desmotivado. Conversando com Alice, tudo parecera simples. Agora que estava sozinho, meus sentimentos eram muito mais complicados. Nessie e eu temos sido amigos há anos. Nossa relação tinha se acertado de uma forma que eu não queria mudar.
Coloquei o telefone de volta na cabeceira e caminhei até o quadro de avisos pendurado na parede. Toda a superfície estava coberta com fotos dos dois primeiros anos no colégio. Nessie aparecia em quase metade das fotos. Uma das grandes chamou minha atenção.

Minha mãe tinha tirado a foto durante a primavera de nosso ano de calouro. Nessie e eu estávamos trabalhando, junto com um monte de colegas, em um lava - rápido. Recordei-me de que levantamos fundos para ajudar um hospital de crianças...
Lá pelas três horas da tarde o movimento caiu um pouco. Estávamos mortos de cansados e todos meio no bagaço. De repente, peguei a mangueira de água e espirrei em Nessie. Ela reagiu virando um balde de água com sabão sobre a minha cabeça. Depois disso todo mundo entrou na brincadeira.
Após vários minutos de água e sabão voando por todos os lados, caímos na risada geral.
Quando larguei a mangueira de lado, vi que minha mãe tinha trazido nosso carro para lavar. Ela segurava uma câmera e estava a uma distância fora do alcance da água. No momento anterior, Nessie tinha chegado perto para me cumprimentar. Ainda me lembro de que nossas mãos estavam cheias de sabão e escorregadias. Minha mãe tirou a foto exatamente nesse instante.
Mesmo em pé no meu quarto, sozinho, a imagem me fez rir alto. Rindo e me cumprimentando, Nessie era a imagem perfeita dela mesma. Foi num relance que sua essência saltou da foto e se aninhou em meu coração.
Olhei para outras fotos pregadas no quadro. Em algumas aparecíamos Seth e eu, jogando basquete ou outra coisa. Mas minhas favoritas eram todas com Nessie e eu, andando a cavalo, fazendo bonecos na neve.
O que aconteceria se dissesse a Nessie sobre os meus reais sentimentos e ela não sentisse a mesma coisa? Eu ficaria humilhado, para não dizer que perderia uma amiga. Nossas gozações e confidências estariam acabadas para sempre.
Mas e se Nessie e eu começássemos a sair juntos e o relacionamento terminasse como todos os outros? Não havia garantias de que nosso amor perdurasse. Ela poderia conhecer alguém de quem gostasse mais, resolver que meus beijos não eram tão bons assim, ou descobrir que minhas piadinhas não eram mais engraçadas. Ficaria de coração partido e eu perderia tudo o que mais importava no mundo para mim.

Suspirei profundamente e deitei-me na cama. O telefone mudo parecia estar rindo de mim, e senti como se o atirasse na parede. Em vez disso, peguei o fone e digitei os seis primeiros números da casa de Nessie.
Quando estava prestes a digitar o último, contudo parei. Por vários segundos fiquei imóvel, olhando para o teto. Não podia fazer isso, percebi. Não podia arriscar minha amizade. O preço era muito alto.
Sem me importar em tirar a roupa, apaguei a luz e me enfiei na cama. "Nessie nunca vai saber como me sinto, nunca". Prometi a mim mesmo.

~Nessie

Levantei no domingo de manhã com uma dor de cabeça de rachar. Podia ouvir que, lá embaixo meus pais conversavam sobre comprar ou não um novo aquecedor. Resmunguei e enfiei a cabeça sob o travesseiro, uma vez que as últimas vinte e quatro horas tinham sido teríveis. Jake e Alice. Alice e Jake. Nessie e ninguém. Deveria ser umas cinco e meia da manhã, sim, fiquei acordada quase a noite toda olhando as trincas no teto, quando percebi como estava me sentindo mal. Agora disse as palavras em voz alta, para ver se ainda eram verdade.
- Estou apaixonada por Jacob, mas ele não me ama.
Falar isso era muito mais difícil do que simplesmente pensar. Enxuguei algumas lágrimas do rosto. Ainda nem eram dez horas e eu já estava chorando. Uau, que vida, pensei ironicamente. Rolei na cama, forçando a mim mesma a repetir a verdade inúmeras vezes.
Quando já não agüentava mais meus próprios pensamentos consegui me arrastar para fora da cama. Ainda era cedo, mas não dava para deixar de lado o inevitável. Tinha de me afastar de Jake e teria de ser hoje.
Coloquei um jeans bem velho e uma blusa desbotada do colégio. Para completar enterrei um boné na cabeça e calcei um par de tênis já bem malhado. Enquanto brigava para pentear o cabelo, decidi que iria cortá-lo, mesmo que Jake não fizesse questão de cobrar a aposta quando eu perdesse. Para que me importar com a aparência? A partir de então, iria passar todos os fins de semana com meus pais mesmo.
Do armário da entrada peguei uma caixa de papelão e coloquei no meio da cama, ainda desfeita. Vagarosamente, caminhei pelo meu quarto, passando as mãos em cada uma das coisas que lembravam momentos dos anos do colégio. A maioria me lembrava Jake, de uma forma ou de outra, e senti mais lágrimas a rolar pelo meu rosto. Precisava me livrar dessas coisas. Até mesmo a menor das lembranças que me recordasse nossa amizade seria torturante de ter por perto.

Cuidadosamente coloquei no lugar o ursinho que Jake ganhara para mim naquela festa do colégio, no segundo ano, e que batizei de Risadinha, porque Jake sempre me fazia rir. Depois do ursinho, guardei um par de brincos pingentes de prata, que Jake tinha me dado em meu aniversário de dezesseis anos.
Fui até a parede perto de minha mesa e peguei a foto de Jake e minha no lava-rápido. Observei nossos sorrisos, com as caras cobertas por espuma de sabão, e mais uma vez meu coração doeu. Depois de colocar a foto na caixa, fui olhar nas gavetas de roupas da cômoda. Nos últimos anos, tinha acumulado um montão de camisetas dele, que nunca me dera ao trabalho de devolver.
- Ele vai gostar de receber de volta essas camisetas. - murmurei, passando uma delas em meu rosto.
Após o que pareceram alguns minutos, a caixa estava cheia. Dei uma olhada pelo quarto, que agora tinha ficado vazio e impessoal. A maior parte de minha vida estava dentro daquela caixa de papelão. Não sobrara nada.
Peguei a caixa e empurrei para a porta do quarto.
- Adeus Risadinha. Foi bom conhecer você.
A sra. Black nem tentou me impedir quando passei por ela a caminho das escadas. Eu estava em plena missão, e nada ou ninguém se interporia em meu caminho. As escadas pareciam mais compridas do que nunca, e o peso da caixa deixava doloridos [meus braços e minhas costas. Coloquei a caixa na porta do quarto de Jake. O barulho ecoou pela casa anunciando que eu estava por ali. Bati com força à porta, pouco ligando se os pais dele pensassem que eu estava doida.
- Quem é?
Sua voz era tão familiar, tão própria dele, que quase virei as costas e fui me reconciliar com meus sentimentos.Porém balancei a cabeça com toda firmeza e me afastei da tentação.Sabia que não seria fácil enfrentar Jacob.
- Sou eu. - respondi, esperando que a voz não denunciasse meu estado.
Abri a porta e empurrei a caixa para dentro do quarto com o pé. Então entrei e cruzei os braços.

-O que foi?-Jake perguntou, parecendo sonolento.
Seu cabelo estava todo desarrumado e tinha as cobertas enroladas pelo corpo. Mesmo assim parecia maravilhoso. Poderia perfeitamente ser o garoto de um comercial de colchões.
-Trouxe de volta as suas coisas.-falei direto.Não sabia como começaria a explicar que nós dois não poderíamos ser amigos nunca mais.-Saquei que tinha um monte de camisetas suas nas minhas gavetas.
Ele deu uma olhada no relógio.
-Você sentiu vontade de me devolver as minhas camisetas às dez horas da manhã de domingo?

–Tinha de fazer. - respondi, como se isso explicasse tudo.- Tenho certeza de que você deve estar muito cansado depois de seu grande encontro com Alice, então vou deixá-lo voltar a dormir.-virei as costas, pronta para ir embora.
-ESPERE! - Jake gritou, agora bem acordado. - Será que daria pra você me dizer o que está acontecendo? Você não está agindo normalmente.
Fiquei olhando para o chão, tentando achar alguma coisa para dizer. Parecia que meu plano tinha alguns furos.
-Não podemos ser mais amigos nunca mais. - disse finalmente.
Uma vez que já tinha falado, não pude segurar as lágrimas que brotaram em meus olhos. Jake estava sério, e sua aparência era tão adorável e confiável que não desejava nada mais do que me atirar em seus braços e pedir que se apaixonasse por mim. Mas meu olhar ousou em seus lábios e o imaginei beijando Alice. Eles provavelmente tinham arrastado a sobremesa por um tempo enorme, trocando amassos em pleno restaurante. Essa imagem me fez doer o coração.
-Por que não? - Perguntou Jacob com a voz alta e forte.
-As coisas entre nós já não são mais as mesmas. - explodi soluçando. - Não sei como explicar isso.
Ele estava silencioso, me encarando com a boca ligeiramente aberta. Desejei que o chão se abrisse para me engolir, mas nada disso aconteceu, nem mesmo um pequeno relâmpago cruzou o espaço.

-Você e Alice vão formar um belo casal.Desejo a vocês toda a felicidade do mundo.

-Alice e eu?Nós não...

-Não diga mais nenhuma palavra!–gritei.- Por favor, não quero ouvir nada sobre isso.

- Mas Nessie,você pirou!Ou pior que isso.
Ele tinha se levantado e caminhava em minha direção.
-Desculpe, Jacob. Eu falhei como amiga e estou sabendo disso.Mas,por favor,não precisa dizer nada.Só me deixe sozinha...para sempre.
Saí do quarto e bati a porta atrás de mim.Desci a escada com o coração partido e as lágrimas embaçando minha visão.
No final da escada rumei direto para a porta, ignorando a cara de assustada da sra. Black. Ouvia a voz de Jake gritando meu nome,mas consegui bloquear o som de sua voz.
Saindo da casa,corri para o carro de minha mãe,que eu tinha estacionado na entrada da garagem.Olhando para trás,vi Jake parado na porta da frente.Ele sacudia o braço e pulava.Bravamente,segui em frente.
Acelerei pela rua quieta,deixando meu coração para trás...
Apesar do dia muito frio,abri a janela do carro para deixar entrar o ar. Eu me sentia sufocada e o vento frio era um alívio.Dirigia inconsolável,esperando me recuperar à medida que me afastasse de Jake.
Liguei o rádio.Uma voz grave,baixa e melodiosa,se espalhou pelo carro e me afundei no assento,agradecida por ouvir uma outra pessoa. Eu tentava mas não conseguia arrancar da mente a voz de Jake me chamando.
- E agora essa bela canção antiga,"Vamos nos apaixonar",vai de Seth para Liz. Ele manda dizer que se divertiu muito ontem à noite e está muito feliz por finalmente conseguir pedi-la em namoro.
Desliguei o rádio, sorrindo amargamente.A ironia era muito grande e precisei estacionar o carro para poder me recompor.Quais seriam as chances de eu ligar o rádio e ouvir uma dedicatória de Seth para Liz?Parecia que todo mundo no colégio tinha sorte no amor.Todo mundo menos eu.

Apoiei a cabeça no volante, retomando o fôlego. Estava decidida a não ir a meu baile de formatura. Não compareceria à noite de colação de grau. Alice e eu não deveríamos nos encontrar no Baile de Inverno. Jake e eu não trocaríamos presentes no Natal, nem iríamos esquiar. A partir de agora, ficaria apenas andando pelos corredores do colégio como um fantasma de mim mesma.
Comecei a fantasiar sobre a possibilidade de fazer os exames antecipadamente e deixar o colégio mais cedo. Poderia me mudar de cidade, ir para Nova York e dançar na Broadway, ou então virar Hippie e viajar o mundo, quem sabe até mudaria o meu nome para Arco-Íris ou Lua.
Finalmente me sentei e enxuguei as lágrimas dos olhos. Por enquanto ainda era a velha Nessie Cullen. E me sentia péssima. Meus pais não me deixariam mudar para outro país, se quer outro estado ou fazer nada do que imaginara. Eles me fariam ficar e sofrer minha pobre existência, encarando um dia após o outro.
Liguei o carro e comecei a andar. Depois de dirigir não sei por quanto tempo, fui parar na frente do Cine Tivoli. O Tivoli sempre passava filmes que não eram estréias e engraçado que quase sempre eram meus filmes preferidos, aos sábados e domingos, e eu nunca soube por quê. Quando vi que ”10 things I hate about you” estava na sessão que começava à uma hora, entrei com o carro no estacionamento vazio.
10 things era o filme a que Jake e eu tínhamos assistido enquanto conversávamos pelo telefone. Naquela época, nossos sentimentos ainda eram puros e descomplicados. Se pudesse fazer voltar o tempo, desfazer tudo o que acontecera desde aquela noite inocente.
Quando comprei o ingresso, a bilheteira me olhou de um modo estranho.
- A sessão demora quarenta e cinco minutos para começar. Você pode voltar mais tarde.
Concordei, embora sabendo que não teria nenhum lugar para ir. Um cinema vazio era um bom local para ficar sozinha.
- Vou esperar. - Respondi, com voz de choro.
- Está bem, querida. Pode entrar.

~ Jake

Fiquei em pé na porta, olhando até que o carro de Nessie desaparecesse ao virar a esquina. Minha mãe, em pé ao meu lado, parecia mais chocada do que eu.
- Mas o que foi isso?

- É uma história muito comprida. - Respondi, suspirando.
Sem dizer mais nada, subi as escadas e coloquei a caixa de papelão que Nessie havia trazido em cima da cama. Com o coração partido, comecei a contemplar cada coisa que se encontrava ali dentro. Quando encontrei o Risadinha no fundo, eu o abracei e me enfiei sob as cobertas.
Não sabia o que tinha se passado pela cabeça de Nessie. Será que Alice contara sobre nossa conversa de ontem à noite? Sacudi a cabeça. Tinha acreditado na palavra de Alice, quando me prometera que guardaria segredo.
Rememorei tudo o que tinha se passado desde o feriado em que fizemos a aposta. Embora nós tivéssemos brigado mais do que de costume (muito mais), nunca pensei que Nessie fosse se desfazer de nossa amizade. Para mim a idéia de não sermos amigos era tão esquisita quanto a de não respirar. Nós devíamos era ficar juntos e, no entanto, agora ela estava nos separando. Por quê?
De todo meu coração, preferia acreditar que ela estivesse com ciúmes de Alice. Mas se fora a própria Nessie quem dera a idéia de convidar sua amiga para sair... Ela queria que eu me esquecesse de Jane e continuasse tocando a vida. E era Nessie quem estava toda entusiasmada com Chace, agindo como se o mundo tivesse vindo abaixo quando ele rompera com ela e voltara para Thais. E mais, quando eu a havia beijado na sexta-feira, fora ela quem pusera os pés na terra primeiro. Quando me lembro dela se lamentando por Chace, meu estômago dá voltas.

Por toda a manhã fiquei remexendo em tudo o que Nessie tinha colocado na caixa para me devolver.A cada vez que olhava para a cara marrom do ursinho sentia uma pontada no coração.Nessie tinha pedido que eu a deixasse em paz e não havia mais nada que eu pudesse fazer.
Finalmente fiquei zangado.Quem ela pensava que era?Desde quando tomava decisões sobre nossa amizade,sobre nossa vida?Peguei o telefone.Iria forçá-la a conversar comigo mesmo que tivesse de ir a sua casa e acampar em seu quarto.
Desliguei quando a secretária eletrônica atendeu.Não sei por que,mas a idéia de deixar uma mensagem desesperada,com a possibilidade de que ela estivesse no quarto ouvindo,era muito para minha cabeça.Não poderia forçar Nessie a falar comigo. Ela simplesmente ficaria brava e me chamaria de animal.Tudo o que eu poderia fazer era exatamente nada.
Estava em estado de choque quando o telefone tocou.Atendi ao primeiro toque,esperando que Nessie tivesse reconsiderado e voltado ao normal.
-Alô,Jake?

-Ei,Seth.
Meu coração desabou e comecei a procurar uma desculpa para desligar o mais rápido possível.
-Finalmente tomei coragem e fiz aquilo.
Ele comentou com entusiasmo.
-O que você quer dizer com isso?-perguntei,massageando o pescoço com uma das mãos.
-Liz.Ontem à noite convidei Liz para sair.Foi demais cara.Acordei pela manhã e disse a mim mesmo:"Seth, hoje você vai tomar coragem e convidar para sair a garota que está fazendo pirar a sua cabeça".Então telefonei para ela,ela disse sim e o resto é uma história romântica.

-Imagino que vocês se divertiram um bocado.-respondi,procurando disfarçar a ironia na voz.
-Foi como se tivéssemos sido feitos um para o outro.E sabe da melhor parte?

-O quê?
Apertei o Risadinha tão forte quanto pude,desejando me sentir contente por ver a felicidade de Seth e Liz.
- Ela me confessou que está apaixonada por mim desde o começo do semestre. Não é demais?

- É maravilhoso.
Não podia acreditar que Seth Clearwater estava apaixonado. Ele sempre fora o cara que mais pegava no pé pelas minhas idéias de procurar a garota certa. Agora era quem falava pelos cotovelos sobre isso, feliz como eu nunca tinha sido.
- Quer saber o que fiz esta manhã?

- Fala.
Seth não tinha percebido que eu não estava tão a fim de papo com ele.
- Liguei para uma estação de rádio e pedi ao locutor para fazer uma dedicatória. Então liguei para Liz e disse pra ela ligar o rádio. Ficamos os dois ao telefone, a gente nem mesmo falava, apenas esperando pela música.
Seth suspirou profundamente.
- Parece que o amor pegou você fundo.
Comentei, não sabendo bem o que dizer a ele naquele momento as declarações de amor eram para mim como uma faca cravada no coração.
- Até mesmo a convidei para o Baile de Inverno. Ei, quem sabe a gente pode formar uma dupla de casais!

- Bom, não sei se vou ao Baile.

- Claro que você vai. Se não tiver outro jeito, você pode ir com Nessie. Os dois estão sozinhos mesmo, e a maioria das pessoas acha que vocês namoram, então...
Comecei a rir, amargurado. Continuar a conversar com Seth iria me fazer pular pela janela.
- Olha cara, minha mãe está me chamando. Mas estou realmente muito feliz por você e Liz. Continue assim, cara.
Desliguei o telefone antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa. Eu tinha apenas dezoito anos e minha vida não era nada mais que dor e solidão. Deitado ali, não sabia quanto mais poderia suportar.

Não sei quanto tempo tinha se passado quando minha mãe colocou a cabeça pela porta do meu quarto.Podem ter sido minutos,horas,dias.
-Papai e eu estamos saindo.Quer vir conosco?
Enfiei o Risadinha debaixo do cobertor e balancei a cabeça.
-Vou ficar por aqui mesmo.
Mamãe deu um sorriso maternal,que me fez sentir como se tivesse cinco anos.
-Está bem,querido.Mas não fique na cama o dia todo.Não é saudável.
Ela fechou a porta e eu peguei o Risadinha de novo de seu esconderijo.
Quando ouvi a porta da garagem abrir, rolei para fora da cama. Fui ao banheiro escovar os dentes e lavar o rosto. Mas até mesmo pensar em pentear o cabelo me pareceu um esforço excessivo.
Ainda me sentindo como se estivesse em um vácuo, fui para a cozinha pegar uma xícara de café preto. Então me pus a folhear o jornal, meio indiferente, esperando tirar Nessie do pensamento.
Passei pela sessão de esportes, mas assim que vi os resultados dos jogos percebi que já nem lembrava de quem tinha vencido quem no futebol. Percebi que também nem me importava com isso.
Fui para a sessão de artes. Talvez um filme me distraísse da dura realidade. Notei um grande anúncio de 10 things. O filme estava passando no Tivoli, e a primeira sessão era à uma da tarde. Lembrei-me da última vez que havia assistido aquele filme. Nessie já estava na cama quando telefonei avisando, mas se levantou e viu o filme inteiro.
Dei uma olhada no relógio. A sessão teria início em quinze minutos. Corri para a porta, vesti a jaqueta e peguei as chaves. Então automaticamente fui ao telefone para chamar Nessie e perguntar se queria ir comigo.
Assim que toquei meu telefone, recuei. Por um instante tinha me esquecido de que a idéia de ir ao cinema era para esquecer o que tinha acontecido naquela manhã. Afastei-me do aparelho sentindo o estômago meio embrulhado. Nessie tinha pedido para que não a chamasse nunca mais. Precisava me acostumar a ir ao cinema sozinho. Nenhum dos meus amigos apreciava os encantos de uma comédia romântica.

Dirigindo até o cinema, saquei que assistir Julia Stiles e Heath Ledger não ia contribuir para afastar Nessie de meus pensamentos.
Comprei a entrada, de qualquer jeito. Nada iria me distrair e fazer esquecer Nessie, então achei que era melhor esconder minha depressão na escuridão do cinema.
- Você tem um encontro com alguém aqui?

- Não, muito pelo contrário.
Ela fez que não se importava.
- Deve ser alguma coisa no ar hoje. - Observou, quase que para si mesma.
- Acho que sim.
Concordei, sem saber do que ela estava falando, e pouco me importando também.
Como já estava atrasado mesmo, fui comprar pipoca. Não tinha comido nada o dia inteiro, e o estômago estava reclamando. Não tinha certeza se conseguiria comer todo o pacote, mas por via das dúvidas pedi manteiga extra.
Lá dentro do pequeno cinema meio vazio Heath Ledger estava na tela . Naquele momento me identifiquei com Ledger e seu personagem Patrick. Patrick fez uma burrada e havia perdido seu único amor. Era sempre muito frio e intocável, porque não se importava com nada. Decidi ser como ele dali em diante, um declarado bad boy que vai pela vida afora sem ser afetado por emoções ou desejos.
Perdido em meus pensamentos trágicos, esperei que meus olhos se acostumassem com a escuridão. Caminhei devagar, procurando um lugar não muito cheio de gente. Queria ficar sozinho se por acaso viesse a ter um chilique.
Quando cheguei à terceira fila do corredor, meu coração pareceu querer sair do peito. Um cabelo ruivo com jeito conhecido estava a poucas fileiras à minha frente. Parei, quase derrubando o saco de pipoca.
Com uma das mãos esfreguei primeiro um olho e depois o outro. Achei que era alucinação. Quais seriam as chances de Nessie estar sentada bem a minha frente quase como se soubesse que eu viria encontrá-la?
Fechei os olhos por um momento e , quando abri, ela ainda estava ali. Quando recomecei a andar, não conseguia controlar o sentimento que estava dentro de mim. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar hein!
Beijo ;*