Alterego escrita por Gavrilo, Drablaze


Capítulo 16
Capítulo 16




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— Ha... ha...

A respiração era ofegante, o coração batia como se quisesse escapar do peito, a adrenalina percorria por todo o seu corpo sem pausa. Apesar de tudo, sentia-se vivo pela primeira vez desde muito tempo. O homem estava menos agitado por ter corrido pela cidade inteira incessantemente do que pela perspectiva de uma vida completamente nova.

— Ha... ha...

Tentando retomar seu fôlego, Insek deixou seu corpo deslizar apoiado na porta e recordou suas instruções. Mal podia crer no que acontecera durante as últimas semanas, sendo tudo tão rápido. Insek inicialmente começou a pesquisa com pouco interesse, apenas porque foi mandado pelo chefe de seu departamento no jornal no qual trabalhava; algo envolvendo membros do Partido da Aliança.

Como sempre acontecia quando um jornalista buscava qualquer informação adicional, Insek teve direito a calorosas entrevistas com membros e representantes do partido, que prontamente ofereceram as mais diversas desculpas e lhe presentearam com uma quantia generosa de dinheiro. Era um ritual costumeiro para espantar curiosos e acalmar a opinião pública. Nem é preciso dizer o que aconteceria se o sujeito persistisse.

Por algum motivo, isso despertou alguma coisa em Insek. Desde a graduação havia abandonado suas esperanças de "revelar a verdade" ou "informar o povo", até porque esperanças não enchem a barriga, então por que sentia-se impelido a continuar investigando secretamente? Não sabia e não se importava. Pelo menos uma vez na vida queria fazer algo por impulso, apenas por si próprio.

Logo viu-se preso dentro de círculos perigosos para obter informações confidenciais e alguma "proteção", inseguro de seus arredores. Os dias passaram e a única coisa que Insek conseguiu foram pistas vagas e um risco iminente de ser jogado na cadeia sem aviso. Pronto para desistir, foi surpreendido por seu colega da redação, um homem chamado Velter.

— Como vão as investigações, jovem detetive? — perguntou Velter em tom jovial.

Insek tentou escapar da situação, fingindo estar com pressa, mas no desespero derrubou uma pasta com documentos sigilosos.

— Não é muito bom em guardar segredos, é? Tudo bem, não tem problema. Aqui, venha a este endereço quando tiver um tempo livre — o homem lhe entregou um papel.

A partir de então, o jornalista conheceu o misterioso movimento rebelde cujos membros se denominavam "seguidores de Maxell Gumendi". Desconfiou de suas verdadeiras intenções, uma vez que nunca ouvira dizer de algum grupo terrorista que desafiasse a Aliança. Também não tinha lá muita vontade de se tornar ele mesmo um terrorista, buscando apenas informação.

Mesmo insistindo que não queria se juntar aos seguidores, Insek foi obrigado a seguir uma série de procedimentos antes de ouvir qualquer coisa da boca de Velter: preparou-se para a mudança, demitiu-se do emprego, memorizou códigos e senhas para falar com certas pessoas, conheceu lugares que nem imaginava existir. Por fim, o dia chegou!

Toda a hesitação parecia ter desaparecido quando, após um cansativo dia, contactou Velter e lhe informou já ter cumprido todas as tarefas. Realizou o percurso de sempre ao endereço indicado no papel, ao qual dirigiu-se praticamente todos os dias durante todo aquele tempo. Como suas pernas moviam-se sozinhas, Insek preocupava sua mente com questões que não tivera muito tempo de ponderar.

— Vou responder a todas as suas perguntas assim que afirmar seu pacto de compromisso com os seguidores de Maxell Gumendi — anunciou calmamente Velter.

— Ok, aceito.

Os dois entreolharam-se por um tempo, ficando Velter com um olhar fixo e penetrante sobre o jovem à frente. Alguns instantes depois, as risadas de Velter ecoaram pela espaçosa casa, para a confusão de Insek.

— Desculpe não pude me conter. Mas como pode aceitar se eu ainda nem disse o que fazemos e esperamos que você faça também?

— Ah — Insek balbuciou, percebendo o quão precipitado fora —. Bem... eu já me dei ao trabalho de fazer tudo aquilo mesmo, então não me importo com as condições.

— É, imaginava que reagiria assim. Desde o início soube que você não servia como fantoche da Aliança, que queria algo a mais, queria realmente revelar a verdade ao mundo. É justamente desse tipo de pessoa que nosso líder precisa.

— Maxell Gumendi... certo?

Até as crianças conheciam o nome, mas nem os mais dedicados historiadores conseguiam descobrir algo substancial à respeito dessa enigmática figura. Ao que tudo indica, ele teria sido um oponente formidável da Aliança nos primeiros anos após a catástrofe, almejando aproveitar a oportunidade para consolidar uma ditadura global. De onde ele surgiu e o que aconteceu depois ninguém realmente sabia.

Aliás, poucos sabiam detalhes da catástrofe, muito menos como era o mundo antes dela. Podia-se muito bem assumir que o mundo surgiu com a catástrofe. Por isso ninguém se importava em questionar quando alguma personalidade da Aliança fazia qualquer afirmação sobre esse período sombrio da história humana. Ninguém, menos os revolucionários.

De acordo com Velter, Maxell Gumendi foi o alvo número um das perseguições promovidas pela Aliança devido à sua poderosa habilidade. O homem tinha a capacidade de prever o futuro, e utilizou o dom para frustrar muitos dos planos da Aliança. Entretanto, prevendo que sozinho não conseguiria derrotar os inimigos, compilou suas visões na forma de profecias: as profecias de Gumendi.

Velter ligou a tela de um visor próximo e nele estavam sendo exibidos alguns parágrafos de texto. Insek leu um deles, que dizia:

"As mãos do escolhido derramarão muito sangue inocente a mando de um opressor, mas seu coração nunca poderá ser comandado".

— ... Não entendi — disse Insek, confuso.

— Sim, a maioria é inútil para pessoas normais, mas basta dar uma olhada e você verifica que podem ser bem poderosas nas mãos desse escolhido.

De fato, se alguém conseguisse entender o que estava sendo expresso nas profecias, poderia pelo menos se preparar para alguns eventos terríveis descritos. Batalhas, massacres, traições, desespero; tudo isso concluído por uma guerra de larga escala. Com certeza a Aliança devia estar atrás dessas informações.

— Não apenas a Aliança, companheiro, mas muitos outros grupos e indivíduos. As profecias anunciam a vinda de uma espécie de Messias que cumprirá o que Maxell Gumendi não pode realizar por si próprio. Tenha esse escolhido e não é exagero imaginar o mundo em suas mãos.

— Mas espere um pouco — interveio Insek —, esse Maxell Gumendi ainda está vivo?

— Claro, do contrário não seria nosso líder. Infelizmente, poucos têm a oportunidade de vê-lo.

— Por quê?

Devido à natureza de suas ações, os seguidores de Maxell Gumendi não formavam um grupo claramente estruturado e unido. Um membro comum só tinha proximidade com, no máximo, uma única pessoa que servia como intermediária entre ele e os superiores. Em cada missão, teria que adotar um codinome e ser designado a um esquadrão aleatório, bem como ocultar sua face à qualquer custo.

Munidos de tal organização e as profecias, é de se imaginar que os seguidores de Maxell Gumendi tinham a Aliança na palma de suas mãos, certo?

— Bem, não exatamente. Apesar de tudo, eles dominam a tecnologia e têm grande influência sobre todo o mundo. Também não podemos aproveitar nosso principal trunfo porque vários fragmentos das profecias foram perdidos ao longo do tempo, e com isso algumas informações vazaram. Mas a guerra estará terminada assim que obtivermos todas as profecias e o escolhido. Quem sabe... pode ser você, não?

— Eu? — indagou o surpreso Insek — Não, não, a única coisa que eu sei fazer...

— Não precisa ser modesto, sei muito bem a verdadeira extensão de seu poder. Agora anime-se, companheiro! — concluiu Velter, oferecendo um copo de vinho.

Dito isso, alguns detalhes adicionais foram decididos e Insek foi designado à sua primeira missão pouco tempo depois. Após tantos anos deixava sua cidade natal pela primeira vez, mas o que mais o perturbava era não ter absolutamente nenhuma recordação nítida e bonita sobre o local. Partia com as memórias daquele absurdo incidente e uma promessa de revelar a verdade iluminadora, salvar o mundo da escuridão. Então por quê?

Por que tinha aquela visão diante de seus olhos? Jurara fechar seu coração e cumprir qualquer tarefa terrorista se pudesse com isso desafiar a Aliança, mas aquilo não era terrorismo. Era um massacre. Em poucos instantes, a decrépita vila estava manchada do sangue de seus patéticos habitantes. Insek fora ordenado a ficar para trás e vigiar os arredores, mas não podia suportar em silêncio.

Em sua vida passada não teria problemas, mas não mais. Se estava ali é porque queria fazer a diferença e lutar por sua visão de mundo, não invadir vilas ao acaso e aniquilar todo e qualquer vestígio de vida. Mas o que podia fazer? Correu em direção de um dos seguidores e foi imediatamente nocauteado por um golpe misterioso, perdendo alguns dos dentes no processo.

Ao despertar, tudo já havia acabado e os restos do genocídio ardiam em chamas à luz do luar. Era uma noite bonita. Quantas noites semelhantes não havia passado admirando os astros enquanto tragédias do tipo aconteciam, sem poder fazer nada? Não sabia, mas aquela estava fadada a ser mais uma. Enquanto todos estavam sentados e conversando jovialmente como se nada tivesse ocorrido, Insek decidiu agir.

Dirigiu-se ao líder e questionou a missão, mas não recebeu resposta. Quando ameaçou revelar ao mundo a existência dos covardes seguidores de Maxell Gumendi, foi impedido e introduzido a um treinamento disciplinar. Como toda boa medida disciplinar, aprendeu seu lugar no grupo à base de pancadas, preso à uma árvore e levando inúmeros chutes e socos dos companheiros.

— Parem! — berrava Insek, com forças que excediam seu estado — Parem, por favor, não façam isso!

O processo já se arrastava por cerca de 10 minutos, mas apenas os agressores tinham sinais de cansaço, para o espanto de todos. E se à primeira vista parecia que Insek permanecia inalterado fora a condição deplorável do corpo, uma análise cuidadosa do líder revelou um quadro ainda mais surpreendente. O campo AE de Insek expandia-se lenta e progressivamente, até englobar toda a área.

— Já está bom, certo? — perguntava desesperadamente o castigado.

Mas nem Insek parava de gritar nem os seguidores impediam sua fúria, ainda mais com um saco de pancadas tão irritante clamando por sua vida a cada instante. Entretanto, Insek não temia sua vida ou integridade física. Sabia que estava ficando mais "magnético" a cada instante e não poderia controlar a situação se as coisas se excedessem mais um pouco. E então aconteceu.

Ouviu-se um ruído ensurdecedor de uma fera ao longe.

— O que é isso? Um urso? — indagou um.

— Não seja idiota, não existem ursos por aqui — respondeu outro.

— É, não por aqui — comentou em tom de brincadeira o líder, que até então observava a cena em silêncio, aguardando por algo —. Mas a uns cinco quilômetro de distância daqui sim...

Ignorando os arredores, um dos seguidores retomou o fôlego e desferiu um soco em Insek, mas errou e fez um buraco na árvore ao invés disso. Ao retornar o punho para si, notou boquiaberto a presença de uma camada escura espessa. Tarde demais, percebeu que se movia. A escuridão se alastrou pelo corpo e revelou ser um exército de sanguessugas sinistras, uma espécie extremamente rara e agressiva.

Decorridos poucos segundos, as sanguessugas deixavam o cadáver do homem, reduzido a praticamente um saco de ossos. Mas não era hora de se importar com uma única pessoa. Ao mesmo tempo, bestas infernais mutilavam e devoravam os outros homens. Habilidades sobre-humanas não significavam nada às feras, frutos malditos da radiação e suas mutações resultantes.

Um leão — ou pelo menos é o que mais parecia ser — aproximou-se rapidamente de Insek e lançou suas presas em direção ao jovem, libertando-o de seu impedimento. O recém liberto acariciou o animal e olhou ao redor, apenas para ter outra visão do inferno. Enquanto caminhava pela carnificina, foi surpreendido pelo líder de seu esquadrão, que lhe fitava interessadamente com uma cabeça de urso em suas mãos.

— Bem, desculpe por isso.

— "Desculpe"? — repetiu cinicamente Insek — Ah, por que se desculpa? Por ter massacrado aquela vila inocente, por ter mandado seus homens me encherem de pancada, por ter decapitado o urso ou por ter se esquecido de me dizer boa noite? Não consigo dizer ao certo, sabe.

— Um pouco de tudo e mais um pouco. A propósito, está uma bela noite, não?

Dizendo isso, o homem retirou o capacete que envolvia a cabeça e se revelou como Velter, aquele que levou Insek àquela loucura toda. Mantendo sua postura usual, disse calmamente:

— Ei, ei, calma aí amigão. Você queria salvar o mundo, certo?

— Fique bem aí onde está — ordenou Insek enquanto tirava sua máscara —. Então sua ideia de salvar o mundo e a de Maxell Gumendi é sacrificando inocentes?

— De Maxell Gumendi talvez, minha não.

— Como? — olhou confuso Insek — Velter, explique-se.

— Com prazer. Lembra-se da profecia que viu anteriormente?

"As mãos do escolhido derramarão muito sangue inocente a mando de um opressor, mas seu coração nunca poderá ser comandado". Esperando, na verdade desejando que Insek fosse o escolhido, Maxell Gumendi decidiu pô-lo à prova. De certa forma estavam sim lutando contra a Aliança, já que ter o escolhido era um passo primordial para vencer a guerra.

Mas era uma medida tanto desesperada quanto fútil. Velter sabia muito bem quem era o escolhido devido a suas investigações particulares, então aproveitou a oportunidade para sumir com seu esquadrão. E aí o alterego de Insek caiu como uma luva.

— Isso não faz sentido. Quem é você, Velter, e o que quer?

— Eu não menti uma palavra sequer, Insek. Temos o mesmo objetivo, você, eu e os seguidores de Maxell Gumendi. Mas você os presenciou ao vivo em ação, então já deve saber que não se encaixaria muito bem no grupo. Eles também são tolos obcecados pelos seus próprios objetivos egopistas, por um acaso tendo a Aliança como inimigo.

— Então você não é um seguidor?

— Sim, mas um seguidor da verdade. E se o segredo da Aliança deve ser revelado, podemos dizer o mesmo sobre o segredo de Maxell Gumendi. Eu e meu pequeno grupo encontramos algumas maneiras de burlar a organização dos seguidores, de modo que conseguimos encontrar brechas para agir de forma independente.

— E deixe-me imaginar: esta é uma das brechas?

— Exato. Meu pessoal já recebeu o sinal e deve chegar aqui a qualquer hora, então não devemos ter problemas se voltarmos antes da manhã.

— Espera aí, por que já está contando comigo? Aliás, eu poderia muito bem revelar tudo aos seus superiores e acabar com seus planos se quisesse.

Velter riu-se demoradamente, admirando o horizonte enquanto falava:

— Suponho que sim, mas não custa sonhar, certo?

— Você é maluco — suspirou Insek —, mas pelo visto eu também sou. Que seja, o que vamos fazer?

— Muito bem, é um assunto importante, embora um tanto ridículo. Vou contar uma história engraçada sobre alguns cientistas tolos que queriam a imortalidade...


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