Vampire Heart escrita por X-RYU, yuukiie


Capítulo 9
A Lua da madrugada de Primavera




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(POV de Kain)

Abri meus olhos... Ainda era de noite.

Senti que não estava mais no corpo de Abel. E isso me provocou certa curiosidade. Por que eu não estou mais em seu interior? Estranhei, pois estava jogado no chão do quarto. Estava sem roupa alguma, estranhei mais ainda. Será que deu um ataque ninfomaníaco em Rose de novo? Será que ela me pegou desprevenido... De novo?

Não... Não era isso. Quando eu olhei na cama levei até um susto, era Abel quem dormia lá. Ah... Bem, menos mal, agora eu tinha reparado no que aconteceu. Eu consegui encarnar no meu próprio corpo. Lembrei que quando me implantaram no corpo de Abel eu tinha a liberdade de sair durante a meia noite até as cinco da manhã.

Mesmo assim ainda achava estranho o fato de ter saído sem ao menos querer sair.

Levantei e fui até o guarda-roupa, peguei minha calça preta e minha camisa branca, meu coturno de couro e uma pequena caixa de metal. Me vesti e logo após, me olhei no espelho. Sentia falta das minhas vestimentas originais. Embora as de Abel fossem parecidas. Abri a caixa de metal, lá havia dois anéis. Com pedras de rubi, minhas pedras preciosas favoritas. Coloquei o que tinha a pedra maior no anelar direito. E o outro que tinha a pedra menor eu observei por um tempo. A prata dela era muito bem trabalhada e ela continuava linda, reluzia com a luz do luar. Coloquei no anelar esquerdo.

Novamente me olhei no espelho. Aquela era a minha real aparência. Era mais alto que Abel, meus cabelos escorriam até o fim do quadril possuindo algumas mechas vermelhas na franja.

A minha ideologia com relação as cores sempre foi assim: A cor preta: A morte. A cor vermelha: O Sangue. A cor branca: A alma.

Três perfeições do mundo. Que o Pai de Scorpius havia uma vez chamada de Trindade Perfeita.

Saí do quarto seguindo o corredor. Abri uma das portas. Sete portas depois da minha e abri. A lua iluminava a cama e o corpo que estava deitado nela. Dormia serenamente e aquela serenidade havia me lembrado certa pessoa.

Entrei no quarto silenciosamente...

Puxei uma cadeira que havia lá e fiquei a observar o anjo deitado no leito. Summer realmente se parecia muito com Maria. Tive uma vontade imensa de tocar seu rosto, mas algo me impediu.

Foi nesse momento então que ela abriu os olhos. E me viu observando-a.

A principio ela prendeu aqueles olhos verde-esmeralda nos meus vermelho-rubi.

 

- Creio que você deve lembrar de mim. – Falei e pela primeira vez em séculos mostrei um sorriso puro.

 

Ela levantou-se mostrando assim estar envolvida por uma camisola branca. Sua expressão era de ter leves lembranças de quem eu fui.

 

- Algo me diz que te conheço, mas... Ainda assim, eu não lembro. – Disse Summer.

 

Levantei-me da cadeira e encostei-me à janela, virado pra Summer.

 

- Você já teve pesadelos sobre o seu passado, não é? – Perguntei.

 

- Sim. – Respondeu. – Ele sempre acaba na mesma parte.

 

- Levante-se. – Pedi, e o pedido sem querer saiu como uma ordem.

 

Mesmo assim ela fez o que foi pedido.

 

- E como termina esse sonho? – continuei.

 

Summer pensou por um instante.

 

- Um vulto negro... Só da pra ver os olhos. – Ela hesitou mas logo fez que não com a cabeça, um gesto  que eu não entendi ao certo. – Eram olhos vermelhos.

 

- E depois? – Perguntei me aproximando dela.

 

- Tudo fica escuro, e eu sinto algo quente, como se fosse um corpo me envolvendo. – comentou. – É a única hora que consigo ficar calma, mas assim que uma voz grita de agônia, como se estivesse sentindo muita dor. Eu acordo, como se estivesse sentindo aquela...

 

- Algo como isto? –

 

Quando ela percebeu, eu já estava tão próximo, que nossos corpos quase se abraçavam sem que as mentes percebessem. Eu a abracei, ao mesmo tempo eu lembrei da dor que senti quando cravaram dez espadas nas minhas costas. Logo depois disso, veio um branco na minha mente. Mas logo eu lembrei, que ainda assim antes do meu coração de demônio parar de bater havia lembrado das minhas ultimas palavras.

 

- Podemos nos despedir aqui... Nessa cena de sangue. Mas eu vou voltar quando você mais precisar de mim. – Ainda abraçado a ela eu sussurrei aquelas palavras, pela segunda vez. Desta vez podia sentir que estava vivo. E não iria morrer como na primeira vez.

 

Nisso, eu me distanciei um pouco.

 

- Agora se lembra? – Perguntei sorrindo.

 

A principio Summer ficou sem reação. Mas depois olhou pra mim.

 

- Agora eu lembro... Não exatamente de tudo. Mas... De você eu me lembro perfeitamente. Tio Kain! – Disse a menina sorrindo.

 

Ao ouvir dela o “Tio Kain” eu ri. Me senti feliz depois de muito tempo, palavras como frieza e sarcasmo saíram do meu vocabulário temporariamente.

 

- Mas... Como saiu do corpo de Abel? – perguntou Summer curiosa.

 

- Existe um pacto que fizeram comigo antes de me selarem em Abel, eu só aceitei ser selado se puder ficar fora do corpo dele por cinco horas, da meia noite até as cinco da manhã. – Falei.  – ou seja, daqui umas cinco horas eu vou desaparecer. E voltar para o interior de Abel.

 

- Então vamos aproveitar o tempo que temos. Quero lembrar de tudo! – Disse Summer. – Conte-me, como eram meus pais?

 

- Seus pais... Scorpius era um grande homem. Eu o considerava meu irmão, Maria, sua mãe, se parece muito contigo. Muito habilidosa com a espada e com a lança. Digamos que ela foi minha professora de lança. Eu nunca fui bem com uma arma daquelas. Sua mãe e seu pai eram pessoas incríveis.  Assim como você me parece ser.

 

Summer corou um pouco...

 

- Não é bem assim. Desde pequena eu precisei de alguém pra me defender. De alguém pra que eu sentisse firmeza. Você é um exemplo. Por causa de mim, você morreu. – Disse a garota. – Depois disso eu me sentia fraca. Mesmo não lembrando de nada do meu passado, algo em mim me deixava indefesa e...

 

- Você sempre fora de certa forma sozinha, não é? – Perguntei.

 

- Exato.

 

- Eu te entendo perfeitamente... Abel e eu também sempre fomos solitários. E também teve uma época que eu e ele não nos dávamos bem um com o outro.

 

Passamos a noite toda conversando, e reparei que eu e ela éramos muito iguais. Nossos casos eram muito parecidos. Era como se ela tivesse a bela aparência da Mãe, os olhos do Pai. E o meu caráter, psicológico e mentalidade. Eu achei isso muito estranho, já que não se pode haver uma criança gerada por três.

A conversa ia e vinha, diferente do tempo que só passava. Logo já eram dez para as cinco da manhã...

 

- Por que escolheu justo da meia noite, até as cinco da manhã pra se libertar do corpo de Abel? – Perguntou.

 

- Meia noite... Horário em que a lua se situa no centro do céu. Prateada e serena, as estrelas brilham mais, e eu posso sentir a luz lunar sobre a minha pele, como costumava a fazer quando ainda estava vivo. Seu pai as vezes se perguntava se eu realmente era um Demônio, pois a minha paixão pela Lua sempre fora igual a de um Lobo. – disse observando a palidez do luar, pela janela.

 

- Não sei... Pode ser loucura, mas na minha infância, quando eu ainda tinha pesadelos com o meu passado, quando eu acordava aos prantos. Eu saia escondido para o jardim da torre Sul e ficava deitada no gramado, observando a lua... Ela sempre me tranqüilizara. - Disse Summer que me acompanhou, ficou ao meu lado observando a lua cheia que brilhava como nunca naquela primeira madrugada de primavera.

 

- Quando estivermos distantes... Quero que olhe pra lua, quando estiver insegura, quando chorar de medo. Quando nem mesmo seu pai ou sua mãe puderem te socorrer. Mas quando olhar pra ela, quero que sinta o seu brilho como se sentisse esta mão fria tocando teu rosto. – Ao relembrar de tal frase dita no passado, toquei seu rosto quente com a minha mão suavemente fria, lembrando que estava vivo por aquele momento. Sim, eu havia dito aquilo pra ela em sua infância. No sentido de proteção, óbvio. Mas desta vez havia algo mais, e acreditem, nem eu havia percebido tão diretamente.

 

Summer virou pra mim e sentiu o toque de minha mão acariciando teu rosto. Confesso que naquele momento meus olhos se encheram de lágrimas. Não era tristeza... Era algo bom, era felicidade.

E na medida em que os meus últimos minutos iam chegando nossos rostos se aproximavam segundo pós segundo. E quando finalmente estavam milímetros distantes, eu quebrei a distancia entre eles. E então senti a minha boca unindo-se a dela, os braços delicados dela envolvendo o meu corpo, e os meus envolvendo o corpo dela.

Eu juro por aquela lua que acompanhava aquela cena que, eu não sabia ao certo o porquê de ter acontecido. Mas por instinto e por algo que me dizia no fundo “você merece este momento”, eu continuei. O beijo longo e demorado... Foram anos procurando tal gesto nos braços de uma mulher e achei justo naquela criança. – Sim, criança em meu conceito, pois tenho quase quinhentos anos – eu achei o calor humano que precisava justo na filha de meu irmão de consideração, a menina que eu vi crescer.

Mas também posso dizer que tudo aquilo havia ocorrido na mais pura inocência. Assim podendo provar que mesmo os mais cruéis e frios demônios, ainda possuem a inocência e a pureza que ganharam quando ainda eram anjos.

Contei os últimos cinco minutos separando as nossas faces, mas ainda assim envolvendo meu corpo que agora parecia estar a quarenta graus de febre, as minhas asas abriram e envolveram nossos corpos. Meus olhos fechados ainda passavam cenas de alguns anos atrás.

Dois minutos... As asas voltaram ao lugar, senti meu corpo desaparecendo, como se fosse em fade out. Aproveitei esse tempo apenas para lembra-la.

 

- Quando te disse que me verá poucas vezes... Eu me enganei completamente. - falei por fim. Logo o meu corpo atravessou o corpo dela, como se eu fosse um fantasma e enfim... Eu desapareci....

 


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Notas finais do capítulo

*-* Yuukiie gostou õ/ eu também digo que não ficou ruim
agora quero saber de vocês