Meu Inferno Particular escrita por Ohana_GF


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo, vamos lá :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/131825/chapter/2

Eu estava muito irritado. Multiplicando esse muito por três ainda nem chegaria aos pés do quão transtornado me encontrava. Aquela multidão de policiais entrando pela porta, vestidos em seus uniformes escuros com suas esposas ao lado. Gordas ou descaradas, isso se não fossem os dois. Mas, antes de tudo, o casamento. Maldito casamento! Como eu precisava de um cigarro naquela hora. O maço pesava no bolso de meu sobretudo preto. Já podia sentir o gosto amargo na boca, a fumaça se esvaindo por meus lábios. Deus, que paraíso! Começava a deleitar-me com minha ilusão, quando da mesma fui arrancado por um braço que se agarrava ao meu, aquecendo-o.




– Jack! Tudo bem? Sua cara está péssima. Hoje é um dia inesquecível, coloque um sorriso nos lábios, meu amor.




Diana Nuñes era o nome da mulher de pele dourada ao meu lado. Seus cabelos negros, caindo pelos ombros cobertos por um casaco emplumado - que também encobria os seios médios. Pernas groças e roliças, e uma bunda que qualquer um gostaria de apertar com gosto. Era Porto-Riquenha e vivia comigo a cerca de dois anos. Sua companhia era indispensável para mim. E o sexo, simplesmente maravilhoso. Mas, como nada é perfeito, eu não conseguia amá-la – ao menos não do jeito que ela gostaria.



Seus olhos negros me encaravam. Pensei que escondia bem meu desconforto. Aparentemente havia falhado naquela tarefa.




– Pff! É... Realmente inesquecível. Vamos entrar logo, não aguento mais esse frio dos infernos.




Dirigimo-nos a porta da pequena capela, nos embrenhando entre as diversas pessoas na entrada. Hora ou outra era abordado por algum policial em seu uniforme preto, felicitando-me pela entrada de um novo membro a família, insinuando o como eu deveria estar feliz com aquele casamento. Eu realmente deveria ter botado fogo naquela bendita capela. Terrível pena que não o fiz – o pouco bom senso que me restava não permitiu. Droga!



Sentei-me com Diana ao lado, na penúltima fileira, um tanto distante do altar. Quem sabe eu não conseguiria dar uma rasteira na noiva quando ela passasse. Seria uma cena bem interessante.



Logo, todos se encontravam em seus lugares – ansiosos –, e aquela musiquinha irritantemente clichê começou a ser dedilhada no piano. O noivo já em seu posto, próximo ao padre, e entrando pela porta principal daquele ambiente, a noiva.



Meus olhos não foram de encontro a ela em nenhum momento. Resignei-me a observar apenas o homem loiro, alto e imponente, vestido em um terno preto bem cortado, que tratava de esconder seus não muitos, mas bem talhados músculos.



Os orbes verdes estampados em minha face ficaram presos nos seus de um azul suave. A pele branquinha e delicada, que não mais combinavam com sua figura masculina. Ainda era difícil crer que aquele era a quem a primeira vez que avistei, acreditei fielmente ser uma garota. O tempo realmente havia passado, nós havíamos crescido. Ele não era mais aquele ser andrógeno, e eu não lembrava em nada o menino franzino de cabelos castanhos. No entanto, ainda estava longe de ser um bom garoto.



Quando a mulher posta em um volumoso vestido branco chegou a sua frente e sua mão lhe foi entregue, nossos olhares se afastaram, e não mais o encarei até o fim da cerimônia. Ficando perdido em meus pensamentos e memórias, alheio a tudo e a todos, principalmente ao ocorrido naquele altar.



O casal desfilou pelo tapete vermelho jogado ao chão e se dirigiu a limusine que os esperava para levá-los a festa. Era isso que estava acontecendo, mas eu não observei. Fiquei apenas sentado, com uma das mãos sobre as pernas de Diana e a outra dentro do bolso, puxando para fora um cigarro. Encarei-o por alguns instantes e o direcionei aos lábios. Somente o prazer de tê-lo em minha boca era o suficiente para dar-me forças a levantar e sumir daquele lugar. Sem dizer nada a ninguém, sem olhar para trás.




_______________________





A música alta entrava por meus ouvidos, e a fumaça do cigarro, finalmente acesso entre meus lábios, ficava por onde eu passava. Os corpos na pista se moviam freneticamente, suados, se esfregando uns nos outros, mantendo a temperatura do ambiente elevada. Ao contrario do frio e da neve que encontravam-se do lado de fora. As luzes coloridas se dispersavam, hora ou outra indo de encontro aos meus olhos, algo que já não mais me incomodava.



Sentei-me no bar e chamei o garçom. Perguntei-lhe se tudo estava bem e o estoque de bebidas em alta. Recebendo uma afirmativa, apenas pedi um copo de uísque, ordenando em seguida ao homem seminu que voltasse ao trabalho. Aquela boate era regada a bebidas, drogas e muita, muita luxuria. Não era por nada que seu nome era “In Hell” ¹. Tudo que você considerasse um pecado, ali eu poderia lhe oferecer sem medo ou pudor. In Hell, era o paraíso. Meu paraíso particular. Situada em uma parte menos nobre de Manhattan, a fachada vermelha chamava atenção e, em um simples resvalar de olhos, qualquer um poderia ouvir minha voz em seus ouvidos, chamando-lhe, persuadindo-o a entrar e conhecer aquilo que muitos negavam a si mesmos – o prazer.



A música entrava pelos ouvidos, o compasso definindo a velocidade das batidas do coração. O sangue passava a circular mais rápido e a temperatura corporal aumentava. Em minutos, eu, qualquer um, já se encontrava completamente envolvido. Perdido.



Aquele lugar era meu trabalho e meu orgulho. Algo que demorei muito a conquistar. Anos em que dei minha alma em troca de meus ganhos. Somente ali eu conseguia esquecer-me dos problemas e relaxar. Isso se os mesmo não viessem até mim, como muitas vezes acontecia.



Quando o copo ficou vazio e o cigarro já não me cabia entre os dedos, senti mãos em meus ombros, aplicando uma leve pressão. Os cabelos da nuca arrepiando-se. Diana sentou-se em meu colo, e tomou meus lábios de maneira violenta e faminta. Os sugando, prendendo-os entre seus dentes, compartilhando comigo o gosto do pecado. Que convenhamos, era uma delícia.


Ao separar nossas bocas, olhou-me com aqueles grandes orbes negros, que reluziam sob as luzes do ambiente, pedindo-me mudamente para que saíssemos dali e fossemos aproveitar em outro canto qualquer. Levantei com ela enroscada em meus braços. Mas, no fim das contas, seus olhos não eram azuis.




_______________________





Acordei com o toque do celular, que vibrava sobre a mesinha de cabeceira. Afastei Diana – que dormia sobre meu peito – lentamente com as mãos, procurando não acordá-la. Levantei colocando a calça que estava jogada próxima a cama, indo com o celular já em mãos para a varanda, onde poderia falar calmamente com quem quer que fosse o infeliz que tinha me acordado, retirando a pouca oportunidade que tinha de dormir, de driblar minha inconveniente insônia.




– Quem é o desgraçado que 'tá me ligando a essa hora?




Um muxoxo irritado foi ouvido do outro lado da linha. Já tinha uma idéia de quem era.




É assim que você chama sua mãe agora, moleque? Desculpe interromper seu sono de beleza, mas você está sendo requisitado aqui em casa hoje.


– Requisitado? Eu já cumpri minha obrigação e fui ao casamento. Almoço de domingo não é comigo, Mama Pin.

– Brian e Júlia estão esperando, e Mama já está começando a preparação. Por favor, apareça, certo? Você sabe que não sou de pedir, mas hoje é uma ocasião importante.




Por que todos davam tanta importância aquilo? Por que insistiam em me arrastar para aquela situação? Às sete horas da manhã eu já precisava urgentemente de nicotina correndo por meu sangue.




– Certo, mãe! Mais tarde apareço.


– Obrigada, querido. Estamos te esperando.




O aparelho foi fechado entre meus dedos. Além de um cigarro precisaria de uma boa dose de aspirina. Voltei para o quarto, onde encontrei a mulher ainda em sono profundo. Peguei as roupas largadas pelo chão e as ajeitei sobre uma cadeira no canto do cômodo antes de deitar-me ao seu lado e fazer o que fosse, menos, dormir.




___________________________





Eram duas horas da tarde e eu estava atrasado. De propósito, lógico. Quanto mais eu adiasse aquele almoço desastroso, melhor seria. Assim menos tempo eu teria que ficar naquela casa e com aquelas pessoas. Eram minha família, eu sei. Mas em meio a eles eu chegava a me sentir deslocado, eu era diferente. Por opção, mas era.



Estava sozinho em meu conversível preto, empesteando-o com a fumaça branca do cigarro. Como eu fumava! Acho que sempre foi um meio de fuga, um calmante para mim. Um vicio detestável. Mas grande coisa, apenas outro para a lista.



Estacionei em frente à pequena casa vitoriana. A cerca que a rodeava um dia havia sido branca, mas com o tempo sua cor se desfez e a madeira começou a apodrecer. Ninguém jamais levantaria um dedo para refazê-la, isso era certo. Mas creio que como compensação, a casa em si estava sempre perfeita: grama aparada, a cor da fachada viva e lisa, distante das manchas apresentadas pela singela cerca. Passei pela pequena trilha de pedra, que me levaria à porta entalhada, perdido na nostalgia que era passar por aquele mesmo caminho novamente. Há tempos eu não adentrava aquela casa, me sentava à mesa e conversava sobre coisas amenas. Pena que nada seria ameno aquele dia.



Bati na porta algumas vezes. Tragando a fumaça do cigarro com ainda mais empenho, fazendo-a adentrar rapidamente em meu corpo, relaxando-me. Logo o pedaço de madeira foi aberto, e uma figura baixinha e rechonchuda, com cabelos agora não mais loiros e sim grisalhos, apareceu em minha frente. Deus, como o sorriso daquela mulher estava estonteante! Nunca poderei dizer se por minha chegada ou se pelo casamento do dia anterior, quem sabe pelos dois. Esperei – por incrível que pareça – ansiosamente por um abraço seu, que não veio de imediato. Antes que pudesse retrucar ou dar-me conta que o sorriso sumia de sua face, seus dedos ligeiros agarraram o pequeno vicio que pendia entre meus lábios, levando-o ao chão e o pisoteando com seus pés pequenos, para então me enlaçar com seus braços.



Minhas bochechas devem ter ficado vermelhas de ódio e desespero. O que seria de mim sem meu cigarro, e ainda por cima dentro daquela casa? Eu iria surtar com toda certeza. Soltou-me e encarou meus olhos com suas amêndoas castanhas. O sorriso dançando pelo rosto novamente. Mama Pin. É, eu adorava aquela mulher!




– Por mais que eu esteja com saudades, nada de cigarros na minha casa, moleque. Já me basta seu pai, Jesus! Vamos entre, você está muito atrasado.




Arrastei-me para dentro da casa como se estivesse indo em direção a minha sentença de morte. Que seria muito bem vinda naquele momento, isso se eu não tivesse tanto amor à vida.


Sem a nicotina passando por minhas veias, tudo parecia ainda mais difícil, o ambiente ainda mais sufocante, o suor começou a escorrer por minha face. Acabaria tendo um colapso.



A salinha cheia de quinquilharias por onde passava, estava vazia. Graças a Deus! Mais alguns segundos de adiamento. Depois, um pequeno e estreito corredor, que nos encaminharia aos fundos da casa. Georgina falava algo sobre comida em uma velocidade pouco inteligível, mas eu não prestava atenção. Apenas notava que o corredor havia acabado, e o grande jardim coberto por Camélias, Jasmins, Rosas, entre outras, se encontrava a minha frente.



Sentados a mesa que se embrenhava entre as flores, três pessoas. Uma delas eu queria distancia, a outra eu queria espancar, e a que restava eu queria espancar ainda mais. Estar ali me irritava e transtornava. Mas haveria de me conformar... Um dia.



Quando me aproximei, senti o peso dos olhares sobre mim. Todos esperando, nem que fosse um simples “oi’, sair por meus lábios. Oh, como eu gostaria de ter o dom da impassibilidade. Porque aí sim, eu diria um simples e monótono “oi”, invés do show que estava louco para dar. Mas, olhando pelo lado bom, ao menos eu não teria um colapso.



Levei minha mão aos lábios, aderindo a uma jocosa face emocionada e um tom choroso.




– A família toda reunida. Nossa, isso é... Quase emocionante!




Formei um sorriso desdenhoso e me dirigi a cada uns dos presentes. Enquanto isso, Georgina já se acomodava em sua cadeira, não se importando com a atitude que estava vendo. Ela sabia muito bem que eu não queria estar ali, e entendia, mesmo que pelas razões erradas. Ela não sabia a verdade.




– Pai, há quanto tempo! Achei que estaria se divertindo com sua arminha por aí, à uma hora dessas. Mas que bom que está aqui, o senhor não poderia perder essa ocasião maravilhosa, certo?




O homem de sessenta e três anos, cabelos grisalhos ralos e olhos mel, enrijeceu seu corpo ainda em forma, demonstrando grande desconforto. Entrelaçou os dedos em seu colo e pigarreou antes de deixar a voz grave e eloqüente deslizar por entre nós.




– Minha “arminha”, está no bolso de meu paletó, somente esperando um deslize.




Encarou-me com olhos duros, apenas um aviso: que eu não aprontasse. Ele era o chefe. Não só de seus policiais subordinados, como daquela família também. Sempre regendo a vida e os costumes de todos com mãos de ferro, e ainda sim, um amor incondicional. Arthur era e não era o homem perfeito. Pois, tudo relacionado a ele precisava, necessitava ser em excesso. Severo demais, carinhoso demais, responsável demais, sonhador demais. Não possuía padrões. E todos davam graças a Deus, que seus excessos simplesmente se anulavam. Sorte! Na maioria das vezes...



Dirigi-me a mulher de cabelos castanhos ondulados, que sustentava feições delicadas e um grande sorriso em seus lábios finos. O corpo era magro, quase raquítico, se não fosse pelo leve relevo em sua barriga, e os seios que começavam a tomar tamanho.




– Minha nova irmãzinha, Júlia! Não se esqueça, se o casório não der certo, o mais “bem dotado” da família sou eu e, estou solteiro.




Deu uma subtil gargalhada, que fez com que suas bochechas corassem. E ao seu lado, uma discreta movimentação se fez.



Retirei minha atenção da vagabunda... Ops, Júlia. Direcionando meu olhar a figura sentada próxima. Não reparei, mas tenho certeza que conforme meus olhos escaneavam aquele ser, o sorriso morria em meus lábios.



Os sapatos pretos lustrosos, a calça jeans azul clara, um pouco mais justa do que deveria ser, a camisa de botões branca com um belo blazer preto por cima. Os fios loiros, que iam até um pouco acima do queixo, mas que se encontravam firmes para trás, com o auxilio do gel. O corpo magro, mas ainda sim delineado por uma boa camada muscular. A pele branquinha e lisa, os lábios rosados e... aqueles azuis suaves... Parei.



Maldita aliança que resolveu reluzir naquele instante. Justo naquele instante!



Postei-me atrás daquele corpo. Levando uma das mãos ao seu ombro direito, aplicando ali uma pressão um pouco maior do que se usaria normalmente. Oh, e como ficaram tensos aqueles ombros.




– Brian, o pau pequeno da família...




Todos se remexeram em suas cadeiras. Mama Pin engoliu em seco e Arthur não deixou passar a oportunidade de mandar um “Jackson” dito entre dentes.




–... Mas que pelo jeito faz um bom trabalho. Reconheço uma grávida à milhas de distância... De quantos meses, minha querida?




Os motivos para as reações foram distintos, mas as ditas foram as mesmas. Olhos arregalados, bocas entre abertas. Pelo jeito havia falado o que não devia. Que coisa!




– Grá... Grávida, meses? O que ele está dizendo, Brian?




Georgina perguntou. As expressões se normalizando. Um suspiro cansado por parte do corpo sob minha mão, o sorriso sarcástico reinando em minha face. Adeus, colapso!



Mas então a voz. Ah, aquela voz! Havia perdido as contas de há quanto tempo não a escutava. Quem sabe um mês, dois. A lembrança da última oportunidade ainda estava viva – muito viva. Porém, não por opção.



– Nós queríamos contar, esperávamos apenas o momento correto. Júlia e eu teremos um filho. Mais um membro pra nossa família. E tenho certeza, que será muito bem vindo, por todos...




Podia imaginar a expressão que se estampava em seu rosto. Como estava fora de meu campo de visão, não a observei, mas o conhecia demasiadamente bem para prever qualquer ação. Aquele todos havia saído enfático demais. Na primeira oportunidade me daria um soco. Espere e verá...




– Bem... Então me diga o que sua esposa está fazendo aqui fora, exposta a friagem? Vamos, leve-a para dentro e a acomode em um lugar confortável.




Arthur deu a ordem. Brian a cumpriu.


Rapidamente todas as atenções voltaram-se para aquela mulher e sua barriga um pouco espichada. Um circulo se formou a sua volta, enquanto era conduzida para dentro da casa.



Podia ouvir a voz de Georgina, alta como sempre, ecoando pelo jardim, questionando a vinda daquela criança. Perguntando sem pausas tudo o que lhe interessava. E enquanto os quatro corpos passavam pela grande porta de vidro, eu me sentava folgadamente em uma das cadeiras, levando minhas pernas para cima da mesa.



Como eu estava cansado!




______________________________





Demorou certo tempo para que dessem por minha falta. E sinceramente, isso não me incomodou. A verdade é que o ocorrido foi muito bem vindo. Apesar de o jardim ser ao ar livre, quando todos estavam ali o ambiente me pareceu mais sufocante.



E claro, sem Mama Pin por perto meu cigarro pode ser acesso novamente. Senti-lo em meus lábios foi quase como a visão de um Oasis no meio do deserto, em um momento de extrema sede. Ou seja, o Paraíso!



Mas então ele apareceu, em sua forma sempre impecável, nenhum fio fora do lugar. Caminhando em minha direção com sua típica expressão irritadiça. Eu já deveria ir preparando um saco de gelo. Sua figura passou por mim, lançando-me apenas um olhar, indicando que o seguisse. Virei meu pescoço para averiguar aonde ia, constatando que se encaminhava a copa, que possuía uma porta voltada ao jardim.



Com um suspiro derrotado e o coração aos pulos – infelizmente –, retirei meus pés de sobre a mesa e afastei-me da cadeira, seguindo-o.



Estava parado, com as mãos espalmadas sobre a mesa de vidro – onde fazíamos as refeições quando pirralhos, e outras coisas quando mais velhos –, me encarando ferozmente.




– O que foi “papai”, algum problema? Bom, além o de ser pai?




Certo, eu sei que pedi pelo que veio a seguir. Talvez até estivesse querendo aquilo inconscientemente, mas, caramba, não lembrava que doía tanto. Eu disse que ele me daria um soco!




– Qual o seu problema, Jackson?


– Huuum, agora é “Jackson”? Na última vez que nos falamos, não foi bem assim que você me chamou. Mas, é difícil distinguir entre gemidos.




Sim, ganhei outro soco. Que acabou por causar um pequeno ferimento em meu lábio inferior, que imediatamente começou a sangrar. Passei a língua sobre o corte, saboreando a combinação de dor e o gosto metalizado do sangue.



Brian sempre foi uma pessoa agressiva, estourada, e gostava disso. Mas gostava mais do modelo de homem perfeito que observava em nosso pai, por isso se tornou um mestre em reprimir emoções. O que por algum motivo, ele não se via obrigado a fazer comigo. Algo notável depois de dois socos na minha face e aqueles olhos azuis borbulhando.




– Por que tudo isso, Jackson? Já havíamos conversado e pensei que estávamos resolvidos. Você não consegue se segurar mesmo, não é, idiota?


– Sinto muito se não sou tão bom ator quanto você, Brian. De qualquer forma, pensei que me conhecia o suficiente pra saber que não perderia a oportunidade de apimentar essa reuniãozinha escrota.




A última vez que o havia visto respirar fundo como fez naquele instante, fora há alguns meses. Em nosso último encontro antes daquele casamento. Eu gostava de sua expressão irritada, dos seus lábios rosados se comprimindo. Atingi-lo me deixava extasiado. Duvido que a vadiazinha o conhecia como eu o conhecia. Sem mascaras.




– Não deveria ter vindo. Deveria ter usado a desculpa que inventamos para Georgina e ficado com aquela sua espanhola.


– Porto-Riquenha.


– Que seja!




Agora já se encontrava de costas para mim. Com apenas uma das mãos sobre a mesa e a outra apoiada em sua cintura, respirava descompassadamente, preocupado em reprimir emoções que nunca aceitara.



Não pude me conter, e logo já havia dado alguns passos e me encaixado à suas costas. Deslizando minhas mãos sobre as suas, ajeitando minha face na curva de seu pescoço. Como odiava estar sentindo falta daquele cheiro.




– Pare!




Disse entre dentes, mas não se afastou um milímetro sequer. Juro que até mesmo senti seu corpo estreitando-se mais ao meu.




– Odeio suas atitudes, odeio esse seu casamento, mas, acima de tudo, odeio sentir sua falta, Brian.


– Não estrague tudo, Jack. Já discutimos o que tinha de ser discutido. E... não se aproxime assim outra vez.




Então se afastou de mim, como se nunca estivesse estado em meus braços. Naquele instante, a decepção foi inevitável. Talvez, decepção por ainda querê-lo, depois de tudo. Senti que Diana teria sido minha melhor opção.



Antes de atravessar a porta e voltar para sua esposa de conveniência, virou-se e me encarou como há muito não fazia. O mesmo olhar que usara no momento que nos aproximamos mais do que deveríamos. Um olhar repleto de medo...



– Nunca mais atrapalhe meus planos, Jackson. Ou levo meus homens naquela sua boatizinha e faço o que outros deveriam ter feito há muito tempo.




... Medo de ser quem era. Quem sabe uma visita a In Hell fosse o que ele precisava.






Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹ In Hell - No Inferno.
Olá!
Postando o primeiro capítulo. Espero que tenham gostado.Tenho em mente uma fic não muito longa, mas com capítulos grandes. Vamos ver no que é que vai dar HAHA
Como não tenho beta, caso vejam algum erro, me avisem por favor ;D Ah, quero reviews, certo? hahaha
Até o próximo, galeri.
Bjoo's