Em meio a tanta confusão na minha mente, decidi tentar recuperar os pedaços que deixei no caminho em que trilhei para chegar até aqui. Deixei de dar atenção necessária à minha família. Nem sempre podia estar presente devido aos compromissos da Sweet Poison, principalmente depois que a banda ficou reconhecida mundialmente.

E quanto a Bruno... Não me doei completamente em nosso relacionamento e nem me esforcei para gostar dele na mesma intensidade que ele gosta de mim. Eu gosto da pessoa dele, mas mais como um amigo do que como companheiro, namorado. Acho que no fundo, por já ter percebido isso, o medo dele sempre foi me perder. E quando me mudei do Brasil, esse medo deve ter aumentado mais ainda.

Mas eu não quis ver isso.

Tapei meus olhos e ouvidos e fixei toda a minha atenção e meus esforços na minha carreira, em realizar meu grande sonho de ser uma guitarrista famosa e levar música boa para o mundo inteiro ouvir.

Algumas coisas levam tempo para serem notadas. O eu sei agora é que Bruno merece uma segunda chance e era isso que eu estou determinada a fazer.

Ele sempre foi tão bom comigo, atencioso, tentando se fazer presente mesmo nas minhas ausências. E ainda saiu do Brasil só para vir atrás de mim, me encontrar... Isso mostra o quanto ele se importa comigo! Mesmo sendo rodeado de groupies assanhadas por todo lugar que ele passa, praticamente todos os dias, ele me escolheu!

Era meu dever pelo menos tentar resgatar tudo isso.

Mal consegui pregar os olhos desde que Tom me trouxe até em casa. Ele foi extremamente atencioso comigo, algo que me fez sentir confortável, apesar da situação em que me encontro.

Ele é diferente de todos os caras que eu já conheci. Confesso que nunca imaginei que ele era da forma que demonstrou ser... Eu sempre o vi com outros olhos, antes de conhecê-lo de verdade. Com todo esse seu jeito diferente, ou melhor, de fazer a diferença, ele vem me surpreendendo a cada dia. Mesmo sendo todo irônico, irritado e se fazendo de chato, no fundo tem um lado meigo e carinhoso.

Gaby não soube da minha saída repentina de madrugada até eu contar. Ela estava dormindo que nem uma pedra e não percebeu nem quando cheguei.

— Que cara é essa? Parece até que virou a noite... – ela diz, ao me ver assim que acordou.

— Eu realmente não dormi. – digo, murcha.

— Mas por que, o que houve? – ela questiona, preocupada.

— Turbilhões de pensamentos passaram pela minha cabeça depois que Bruno apareceu aqui de surpresa... – faço uma pausa – E eu decidi que vou dar uma segunda chance à ele.

— Amiga, você tem certeza dessa sua decisão?

— Tenho, eu acho...

— Porque – ela continua. – isso envolve muita coisa! Você e o cantor terminaram o lance de que tinham justamente pela conturbada vida que levam e Bruno está na mesma situação! Só que no Brasil, o que distancia vocês dois mais ainda.

— Eu sei, isso passou pela minha cabeça... Só que ele merece uma segunda chance, pelo tanto que o mantive afastado desde que mudei para cá! Eu me coloco no lugar dele e imagino o quanto deve ter sido difícil suportar toda a minha indiferença, por mais que não tenha sido totalmente intencional da minha parte. – passo a mão pela minha cabeça. -  Eu só... Não consegui ser suficiente em tudo.

— Entendo seus motivos, mas ainda acho que você precisa pensar bem se será bom para você... Ambos terão que se adaptar com as peculiaridades um do outro, inclusive ele com sua amizade com os caras do TH.

— Sim, disso eu não abro mão jamais. Ele vai ter que entender que são meus amigos de uma vez por todas.

— Torço por você, minha amiga! Tomara que dê tudo certo e consiga achar a paz que precisa em meio a isso tudo!

— Obrigada Gaby, por tudo! Vou tomar um banho, me arrumar e ir até o hotel que ele está hospedado.

— Vai lá! – ela incentiva.

***

Dez e trinta e cinco. Do jeito que conheço Bruno, ainda deve estar dormindo. Chego na recepção do hotel, onde me informam que ele está no quarto 602. Entro no elevador e olho no espelho para ver se minha cara de “eu não dormi essa noite” ainda está visível, mas graças à maquiagem consegui esconder bem. Subo até o andar dele, um pouco tensa, mas sei que depois de tudo o alívio será recompensador.

Bato na porta e aguardo.

— Alicia? – ele me olha, surpreso e abre um enorme sorriso. – Não esperava que você viesse! Entre, por favor... – abre caminho para que eu possa passar.

— Estou atrapalhando? – pergunto, notando o cenário ao meu redor.

— Não, claro que não! É que eu achei que você não viria e já estava arrumando minhas malas para voltar ao Brasil...

— Pois é, mas eu vim. Precisamos ter uma conversa definitiva, Bruno. – digo, me sentando no sofá do quarto.

— Sim, claro. – ele se senta em frente a mim.

— Por que você veio até aqui e como me achou?

— Eu vim, pois tenho tanto a dizer... – ele faz uma pausa dramática. - Nesse tempo em que estivemos separados, pensei em tudo que aconteceu. – suspira fundo. - Sei que fui precipitado em te pedir em casamento, entendo isso. Mas eu tive medo de te perder, mais ainda depois de todos aqueles rumores na imprensa, de você saindo com outro cara... – balança a cabeça como gesto de reprovação. - Isso tudo me deixou louco! – diz sem me olhar. – Sua mãe me deu seu endereço, se eu fosse te pedir sei que não me passaria. – ele dramatiza.

— Olha só Bruno... Independente das circunstâncias eu não teria aceitado o seu pedido aquele dia, nem se fosse feito hoje. Realmente você foi muito precipitado. – coloco meus cabelos atrás das orelhas. - Somos tão novos, com carreiras tão promissoras! Olha o tanto de coisas que temos que aprender com as situações que ainda viveremos... Eu não tenho maturidade nenhuma para encarar um compromisso com essa seriedade nessa fase da minha vida em que me encontro.

Ele me olha, prestando atenção nas minhas palavras. Não consigo saber ao certo, pela sua expressão, se concorda ou não comigo.

— Entendo seus motivos, – eu continuo. – apesar de não concordar com alguns deles. Sei que não me mantive tão presente como deveria e que isso te magoou. Entendo meus erros, quero até me desculpar por eles... Mas saiba que não foi nada proposital. As mudanças foram surgindo de forma tão rápida e de uma maneira que eu não tive como controlar.

— Você mudou muito depois que mudou para cá. Nem parece a Alicia que eu conheci há quatro anos.

— Tem razão. – concordo, por mais duro que seja.

— Se pudéssemos tentar retomar as coisas de forma diferente, prometo que vou fazer dar certo! E é por isso que vim até aqui. Quero nosso namoro de volta, Alicia!

— Eu andei pensando em tudo que aconteceu, tudo o que passou. – digo, olhando para os anéis em minha mão. – E eu realmente vim aqui decidida a tentar recuperar nosso namoro... – vou direto ao ponto.

Bruno vibra. Acho que ele não esperava que eu iria tomar essa atitude.

— Não sabe o quanto me faz feliz ouvir essas palavras! – ele segura minha mão.

— Mas tem umas questões que você precisa entender, até para evitar brigas desnecessárias...

— Sim, o que você quiser! Prometo que não falo mais nada de casamento, filhos...

— Não é só isso Bruno, - o corto. - Você tem que entender que eu tenho uma vida diferente da que levava no Brasil, da que você leva, por exemplo. A cobrança em cima de mim é muito maior e automaticamente, o tempo menor. Desencontros podem acontecer devido à isso.

— Tudo bem, não vou questionar quanto o motivo for esse... Até mesmo porque eu também posso estar sujeito a isso por causa da Neon.

— E tem mais uma coisa... – enfim chego no ponto que quero tocar desde o início.

— O que?

— Bill e Tom são e sempre serão meus amigos, nada além disso. E você terá que aprender a conviver com eles, gostando ou não.

Sinto que ele ficou incomodado com o que eu disse. Mas não posso abrir mão dos meninos e nem de nenhuma das minhas amizades por conta de um namoro. Assim como Bruno também não deve abrir mão das amizades dele.

— Não se preocupe quanto a isso.

— Obrigada por me entender, Bruno. Não sabe o quanto é importante para mim. E mais uma vez me desculpe por ter te decepcionado tantas vezes.

— Não se preocupe minha lindeza! Prometo te fazer a mulher mais feliz do mundo! – ele me beija.

Sinto que fiz a coisa certa, apesar de estar um pouco insegura. Dessa vez estou disposta a me empenhar para criar um sentimento realmente sólido, da forma que ele merece.

— Preciso ir, Bruno. Tenho uma reunião da Sweet Poison daqui a meia hora... Você vai ficar aqui em Los Angeles até que dia?

— Até amanhã. Tenho mais alguns shows da Neon no fim de semana e depois entro de férias. Quando você vai para o Brasil?

— Não vou tão cedo! Vamos começar a produzir um novo CD e todas nós precisamos estar aqui. Mas já que você estará de férias, pode vir pra cá passar um pouquinho delas comigo. – sorrio.

— Lógico que virei! Não desgrudo de você por nada! - ele me enche de beijos e me leva até a porta em seguida e nos despedimos.

***

[Narrador Mode-On]

Assim que Alicia sai, Bruno pega seu celular e faz uma ligação.

— Alo? Sou eu! Só estou ligando para dizer que eu e a Alicia voltamos! Agora vai! – diz animado, para a pessoa do outro lado da linha.

[Narrador Mode-Off]