- Como… como você chegou até aqui? - murmurei com a voz trêmula.

Ele deu uma risadinha que poderia ser considerada maligna.

- Te segui - ele disse com um sorriso de lado.

Eu não precisava de Maggie* para saber que era mentira. Se ele estivesse me seguindo, Alice teria descoberto, não teria? Ela teria visto, não? E mais, os outros vampiros teriam ouvido, ou sentido o cheiro de seu sangue. A menos que… ele fosse um vampiro.

Antes que eu pudesse perceber, estava arfando. Então ele era realmente um…

- Você está bem? - ele perguntou, a expressão tomada por uma preocupação que eu julguei ser passageira.

Um vampiro…? Bem, se ele era um vampiro, porque não havia cintilado ao sol esta manhã? Em minhas conversas com Nahuel descobri que apenas a pele dos híbridos não cintilava o suficiente para olhos humanos perceberem, e Collin andava pelo sol tranquilamente, sem brilho.

- Sim - respondi tarde demais - Estou bem.

Ele deu um sorriso sem mostrar os dentes e se virou, indo embora.

- De fato, ele cheira como um humano - meu pai me disse em tom casual, embora eu soubesse que estava tentando me arrancar algumas informações - Mas não há dúvidas de que tenha alguns talentos de vampiro.

- Híbrido também? - perguntei.

Ele assentiu. De certa forma me senti aliviada. Ash, Meg e Bem corriam menos perigo agora.

- Não se engane Ness - meu pai disse - Ele pode ser híbrido, mas isso não significa que ele tome sangue de animais ou coma comida humana.

Tentei não pensar naquelas palavras. Fingir que a escola era segura era o melhor caminho, não era?

- Ness? - uma voz conhecida me chamou da porta dos fundos.

- Jake?! - eu disse sorrindo e correndo até ele - Que saudade!

Em parte eu estava confortável de Jacob não vir mais aqui. Eu sempre me sentia confusa ao seu lado. Jake era mais que um amigo pra mim, e eu tinha certeza de que não era assim com ele. Eu não podia estar apaixonada! Ele era o Jake… meu irmão.

Eu o abracei fortemente e ele passou os braços fortes ao redor de minha cintura. Senti meu coração se acelerar e me soltei, envergonhada.

- Ahn… eu preciso caçar - disse, me dirigindo para os fundos da casa.

- Eu… te acompanho - Jake disse e me seguiu. Eu não poderia negar a sua companhia. Eu nunca neguei.

Enquanto nós corríamos até a floresta, me lembrei de cada momento que passei com Jacob. Desde quando era criança, quando ele me contava histórias até hoje, tentando achar o dia em que as coisas começaram a mudar. Quando eu comecei a me sentir estranha perto dele?

- Eu senti saudades, Ness - ele me disse quando terminei de caçar alguns veados.

- Não suma mais e não sentirá saudades - eu disse com um sorriso.

- Eu tive motivos - ele disse, e parecia sério. Há quanto tempo eu não via Jacob com aquele semblante preocupado? - Podemos ir até nosso riacho?

Assenti, o seguindo para o caminho do nosso “lugar secreto”. Fazia certo tempo que eu não ia até lá, mas apesar de mal cuidado, continuava lindo. Tratava-se de uma pequena lagoa escondida pelas arvores e arbustos. A água era cristalina e calma, e existia um pequeno banco de areia que formava uma “praia”. Havia um pouco de grama rodeando algumas árvores e arbustos por todo o local. Lembro que quando eu era pequena, nós deitávamos na grama e brincávamos de descobrir desenhos em nuvens.

- Eu vinha muito aqui - eu puxei assunto, já que ele não falava nada - Quando você se foi. Eu ficava te esperando. O dia inteiro. E voltava arrasada para a casa no fim do dia, depois de perceber que você não vinha.

Repreendi-me mentalmente pela quantidade de detalhes. Eu o faria sofrer desnecessariamente se contasse que chorava todos os dias, me perguntando onde ele estava.

Ele suspirou.

- Eu fiz você sofrer - não era uma pergunta.

Jacob enterrou o rosto nas mãos, se sentando na grama. Sentei ao seu lado, afagando seus cabelos.

- Ei, está tudo bem - eu disse. Não era minha intenção fazer ele se sentir magoado.

- Você não entende Ness! - ele disse, se virando para mim e pegando minhas mãos entre as suas.

Seu rosto não era mais de preocupação, nem dor. Ele estava decidido, e de certa forma, eu sabia o que viria.

- Eu preciso te falar uma coisa importante - ele disse, olhando em meus olhos.

* = Maggie é uma vampira do clã Irlandês. Seu poder é detectar as mentiras nas palavras de outras pessoas [Amanhecer, página 459]