Melanie estava totalmente imersa na pesquisa que estava fazendo em seu notebook. Uma pilha de pratos sujos crescia na pia ao seu lado.

            - Vamos Melanie! – Disse Oliver que aparecera na cozinha para bisbilhotar – Você está diminuindo a produtividade do restaurante!

            Melanie ergueu se dedo médio na direção do namorado que somente saiu rindo dali após pegar um copo d’água no bebedouro. Ela ainda estava com muita raiva pelo que ele havia feito algumas noites antes e talvez ela nunca o perdoasse.

            A Tia Kelly apareceu. Ela era uma velha vesga com uma verruga sobre a sobrancelha esquerda. Ela obviamente não era tia de ninguém, as pessoas somente a chamavam assim respeitosamente.

            - Melanie, podemos não ter muitos clientes, mas pelo menos temos de tentar manter a cozinha organizada...

            A cozinha era pequena e suja, escorria óleo nas paredes e ninguém mais sabia a cor original dos azulejos do chão. Melanie tinha certeza que caso a inspeção sanitária passasse ali, a Tia Kelly seria presa por violação dos direitos humanos, afinal nenhum humano merecia comer a comida que saia daquela cozinha.

            - Tudo bem tia, eu já estou indo!

            Melanie movimentou o mouse e selecionou o texto inteiro de uma página de recados da rede social de uma garota e em seguida copiou e colou o texto em uma arquivo de texto.

            Agatha Pinheiro

            Ela salvou o arquivo e fechou-o, atrás dele estava outro arquivo de texto, uma pesquisa enorme sobre outra garota.

            Jade Almeida

            O nome de pedras preciosas não era a única semelhança entre as duas garotas. Ambas estavam no terceiro período da faculdade de Medicina e estudavam no mesmo campus que Pedro, Melanie e Dalila.

            Pela pesquisa superficial que Melanie e Dalila já haviam feito, elas não tinham nenhum tipo de ligação mais íntima além da relação comum entre duas colegas de classe. Elas participavam de grupos diferentes, atividades diferentes e praticamente só se viam na escola, mas não tinham uma relação de amizade.

            Por algum motivo não esclarecido, elas haviam faltado à aula prática no laboratório durante o período em que o The Pointer iniciou um chat no campus, o que as coloca imediatamente na lista de suspeitos de Melanie.

            Caminho das pedras

            Esse era o nome nada original (Idéia de Pedro) da investigação ao redor das garotas de Medicina. Melanie fechou a pasta e depois o notebook, indo até sua montanha de pratos sujos que não parava de crescer.

            ...

            Pedro e Melanie haviam acabado de entrar no campus. Melanie estava constantemente olhando para os lados, em busca das duas garotas de medicina.

            - Um... Melanie?

            Ela não ouviu. Estava imersa em seus pensamentos.

            - Melanie?!

            - Hã? O que foi? – Exclamou Melanie – Não me atrapalhe, estou investigando.

            Pedro suspirou. Ele já estava ficando irritado, pois Melanie só falava da investigação desde que essa história começou. Ela própria está mais fissurada nisso que Dalila, que parece encarar isso como um hobby.

            - Só que nós temos um seminário hoje, lembra?

            - Seminário? De quê?

            Pedro bateu em sua própria testa.

            - Oi Melanie, oi Pedro!

            - Quem é você? – Exclamou Melanie.

            - Eu sou o David! – Disse o garoto nerd – David Djer! Sou do seu grupo do seminário!

            - Ele estava com a gente quando o The Pointer começou o chat, lembra? – Explicou Pedro.

            - Ahhh tá! Lembrei! – Disse Melanie, que parecia estar mais avoada que o normal naquele dia, exatamente como no dia em que ela planejou roubar o notebook de Pedro.

            Os três foram até sua sala, e lá encontraram Dalila com o trabalho já impresso sobre a carteira.

            Melanie sentou-se, mas parecia não estar lá. Seus olhos estavam fixos na parede e sua mente vagava longe dali.

            De súbito ela se levantou e disse:

            - Vocês tem que apresentar sem mim!

            “Tá foda”! Pensou Pedro.

            - De jeito nenhum! – Exclamou ele – Pra onde você vai?

            - Hoje a turma do terceiro período de medicina não vai ter os dois primeiros tempos! – Disse Melanie como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

            A garota de mechas roxas caminhou impetuosamente para fora da sala, deixando sua bolsa lá dentro. Pedro correu atrás dela e no corredor segurou-a pelo braço dizendo:

            - Melanie! Para com isso! Você está ficando doente, obcecada!

            A garota olhou pra ele, de início com uma expressão de surpresa, mas depois esboçou um risinho insano e soltou um gritinho com sua voz mais feminina:

            - TARADO!!

            Melanie deu um tapa na bochecha de Pedro e saiu correndo dali rindo. A vermelhidão do tapa misturou-se com o rubor de vergonha habitual de Pedro, que precisou de algum tempo pra se recompor e voltar pra sala, cabisbaixo.

            “Eu odeio ela”! Gritava Pedro em sua mente.

            ...

            Na grande área aberta do campus os alunos se reuniam com seus notebooks. Não demorou para que ela visualizasse um grupinho de medicina, eram uns nerds que se divertiam com um joguinho de tabuleiro.

            Entre eles estava Jade, uma geek bonita e de acordo com seu boletim, também genial. Haviam outras duas meninas entre eles, mas nenhuma era Agatha.

            Como quem não quer nada, Melanie se espreguiçou e olhou ao redor, não tardou para que encontrasse um outro grupinho, dessa vez formado só por garotas, onde estava Agatha Pinheiro.

            Elas de fato eram de dois mundos diferentes, como ela já havia constatado. Ambas tinham aproximadamente 0,6% de ser o The Pointer, Melanie decide investiga-las separadamente.

            ...

            Agatha caminhou calmamente até o banheiro, alimentava seu ego enquanto andava e percebia os olhares de todos os garotos calouros e veteranos seguiram-na pelo percurso. Ela amava aquilo.

            Chegando no banheiro, sacou seu poderoso estojo de maquiagem e começou o seu tratamento.

            - Er... Com licença...

            Quem poderia ser? Agatha odiava quando lhe atrapalhavam enquanto ela se arrumava. Olhou de esguelha e viu uma caloura com mechas roxas, ridículas em sua opinião. Examinando seu corpo rapidamente invejou sua silhueta magra.

            - Sim? – Disse Agatha – O que foi?

            - Você é de medicina, não é? – Disse a garota de mechas roxas – Você sabe onde eu encontro o Prof. Locke?

            - Você já procurou na sala dos professores? – Disse Agatha rispidamente.

            - Bem, parece que ele não veio hoje... Você se lembra de onde o viu pela última vez? – Havia algo de estranho na entonação da caloura.

            - Eu não o vejo há um bom tempo...

            - Mas na sexta-feira passada a sua turma não teve uma aula no laboratório com ele? – Melanie tentava regrar as perguntas, mas não conseguia.

            - Eu não fui a essa aula... – Disse Agatha, distraída com seus cílios.

            - Então o que você estava fazendo na sexta-feira passada durante essa aula?

            Agatha assustou-se com o tom inquisidor da caloura e olhou para trás assustada. Ela a encarava por detrás de uma de suas mechas roxas.

            - Por que você quer saber? Some daqui, caloura! – Disse Agatha.

            - Por que não quer me dizer? – Perguntou Melanie – Fez alguma coisa errada nesse dia?

            Agatha arregalou os olhos assustada, pegou seu estojo de maquiagem e saiu correndo do banheiro.

            “Como ela sabe”? Perguntava-se a veterana enquanto fugia, mas Melanie ainda estava parada no banheiro olhando para seu reflexo.

            - Estranho... Muito estranho...