Três por Quatro escrita por Nightnyu


Capítulo 6
Capítulo VI - Beach




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Este será um grande dia para a Turma do Bairro! Finalmente, depois da última batalha que tivemos, pudemos reservar este fim de semana para irmos à praia. Oras, nós também merecemos aproveitar as férias de verão, certo? Ainda bem que consegui convencer o Número 1 a aceitar minha ideia, senão minha vontade de relaxar sobre uma areia fofa estaria destruída.

- Mas ainda acho que deveríamos ter terminado aquele projeto do Número 2 enquanto temos tempo, Número 5. – Ele resmungou, ao meu lado, dentro do ônibus. Convenci este cabeça dura, mas obviamente ainda tenho que aturá-lo com suas reclamações.

- Não esquenta, Número 1. – Sorri despreocupadamente. – Use a sua cabeça para decidir o sabor do picolé, não o próximo passo do projeto. – Ele ajeitou os óculos escuros, parecendo parcialmente conformado. Eu falaria mais alguma coisa, se o grito do Número 4 no banco de trás não me fizesse quase pular de susto.

- Eu não vou usar calção dos Macacos Coloridos! – Eu juro pra vocês, ainda espero o dia em que o Número 4 vai acordar carequinha como o Nico. Como esse garoto é estressado! Virei meu rosto para trás a tempo de ver o enorme beiço da Kuki.

- Por que, Wally? O meu maiô é deles também! – Ela puxou-o pela gola da camisa laranja, tentando convencê-lo. Ainda me pergunto de onde a Número 3 tira tanta energia para contornar as explosões do Número 4 e tentar enfiá-lo no meio dos vícios dela.

- Pior ainda! – Ele enrubesceu bruscamente por debaixo da tigela loira, tentando livrar-se dos puxões dela. – Vamos parecer um c-casal de idiotas! – Levei a minha mão à boca, reprimindo uma gargalhada. A forma como ele gaguejou o ‘casal’ deixaria óbvio até para o Horácio o quanto ele gosta dela. E olha que eu já percebo isso desde a época que o próprio Número 4 não sabia.

- O único idiota aqui é você! – Desta vez, até o Nico se virou para contemplar a dupla, enquanto Horácio levantava de leve a sobrancelha com uma cara de ‘Eu é que não vou me meter nessa’, no banco atrás deles. Número 4 arregalou os olhos – não vi por causa do cabelo, mas tenho certeza absoluta que ele o fez -, e abriu os lábios, como se quisesse dizer algo, mas as palavras tivessem fugido. Kuki se levantou, indo se sentar na frente do ônibus quase vazio, longe do seu parceiro. Só eu mesma iria compreender que o brilho nos olhos dela era de frustração.

- Mas o que...?! – Número 4 balbuciou, olhando pra mim e para Nico de forma perdida. Este deu de ombros, voltando-se para frente, murmurando algo como ‘Ótimo, uma briga. Deveríamos ter ficado na base, eu sabia.’ Ignorei-o, segurando o pulso do Número 4 quando ele tentou levantar-se, com os punhos cerrados.

- Você não vai querer ir discutir com ela agora. – Disse calmamente. Ele voltou o olhar pra mim, numa raiva desinformada. Maldito garoto impulsivo. – Ninguém aqui quer ver a Número 3 explodindo. – Aquela frase pareceu acalmá-lo momentaneamente. É, as memórias da Kuki mortífera surtiam efeito.

- Só quero saber o que diabos eu fiz! Eu, idiota? Idiota é ela! Onde já se viu, calção de Macacos Coloridos... – Não sabia mais se ele estava falando com ele mesmo ou comigo. Voltou ao seu lugar, cruzando os braços com força. Enquanto um resmungava atrás de mim, um resmungava do meu lado, e tenho certeza que a Kuki estava resmungando lá na frente.

Às vezes eu acho que só eu e o Número 2 somos sensatos por aqui.

- Falando em calção, eu esqueci o meu! – Exclamou, horrorizado, Horácio.

Pensando bem, acho que estou sozinha nessa.

____________________________

O trajeto de ida até a praia ficou silencioso após a briga, mas as coisas melhoraram quando chegamos lá. A praia que escolhemos estava até bem vazia para um dia de verão. Número 3, como sempre, soltou uma gargalhada enquanto despia-se e ficava só de maiô – verde, dos Macacos Coloridos, claro. – sem pudor nenhum, na frente dos garotos. Tudo bem que ela estava de roupa de banho, mas só o fato de vê-la despir-se das calças e da camisa fez com que o Número 4 ficasse com a cara mais vermelha que já vi na minha vida. Parecia até que ele havia tomado sol o dia inteiro, e só havíamos chegado agora.

- Acho que alguém ‘tá precisando mergulhar na água fria. – Murmurei perto dele, fazendo com que ele quase saltasse ali mesmo. Dirigiu um olhar incerto pra mim, mas sem dúvidas, coberto de raiva.

- S-Sim, a idiota da Número 3! Quem sabe isso ensina a parar de chamar os outros de idiota! – Eu não entendi a lógica dele. E acho que nunca irei entender.

Pouco tempo depois, encontrei-me sozinha debaixo do guarda sol. Ao visto, Horácio foi testar alguma invenção a prova d’água, e Nico foi acompanhá-lo. Kuki continuava nadando, enquanto Número 4... não sei onde aquele nanico se meteu. Mas é bom, ao menos aqui está bem silencioso. Agora nada pode atrapalhar meu descanso sobre a areia fofa...

- Hey, Abigail... – Uma voz macia me chamou. Okay, algo poderia me atrapalhar. Algo vestindo maiô verde e com o cabelo liso coberto de sal. Ergui meu rosto sob o boné, fitando seus olhos confusos. Ela não estava mais feliz como estava quando chegou à praia. Kuki e seus fingimentos.

- O que houve? – Levei as mãos à minha nuca, endireitando-me sobre a areia. Minhas costas pareciam que estavam recebendo uma massagem naquela areia divina, ainda bem que decidi usar biquíni desta vez. Senti minha amiga sentar-se ao meu lado, juntando areia como quem vai montar um castelinho.

- Ele ainda ‘tá bravo? – Perguntou, num fio de voz.

- O idiota? – Ela se inclinou, se forma que os cabelos esconderam seu rosto. – Você sabe como ele é. Se bobear, deve estar agora mesmo chutando conchas, imaginando que elas são Macacos Coloridos. – Ela ficou em silêncio por um tempo.

- Ele ficaria bonito com o calção. D-Digo, foi edição limitada! Um garoto gostaria de usar essas coisas, né? – Confessou. Reprimi um riso. Que vontade que tive de provocá-la!

- Então por que não pergunta se o Número 1 ou o Número 2 querem usar? Se quer ver um garoto vestir... – Ela se remexeu.

- Eles não usariam, não gostam de Macacos Coloridos.

- Mas o Número 4 também não gosta. Aliás, ele odeia.

- Porque ele é um idiota!

- Então o Número 1 e o Número 2 também são?

- Não, eles só não gostam. – Aquele assunto não ia terminar nunca. Kuki poderia mais cabeça dura que todo mundo, quando ela queria. Virei de costas, apoiando a cabeça sobre meus braços. Tinha que tomar cuidado para não ficar bronzeada de um lado só.

- Você está entediada, e tenho certeza que quer ir brincar com o Número 4. Não acha melhor deixar ele ficar com o calção que ele quiser e aproveitarem juntos essa folga do que ficar cada um pra um canto, chutando conchas e montando castelos sem jeito? – Ela pareceu refletir bastante a respeito do que eu disse, pois demorou para responder.

- Acho que gosto de calções pretos também. – Murmurou, referindo-se ao calção que ele usava naquele dia. Sorri por debaixo do boné, enquanto ela se levantou e sacudiu a areia das pernas. – Obrigada, Número 5.

____________________________

Eu havia acabado de deitar novamente de costas para cima após ficar um tempo no mar, quando alguém se sentou ao meu lado. Abri os olhos de leve, mas me deparei com a careca brilhante do Nico ao invés dos longos cabelos da Kuki.

- E a máquina, funcionou? – Perguntei. Ele se espreguiçou de leve.

- Não mais. – Respondeu, simplesmente.

- Como assim? – Ele levou a mão à testa, soltando um longo suspiro.

- Estava dando tudo certo, até a Número 3 a chutar para o Número 4, achando que era uma bola. Por ser um protótipo, os danos foram grandes. – Imaginei o tamanho da força que Kuki tinha e torci um pouco o rosto. Nico continuou seu relato. – Agora o Número 2 está... bem, veja por si mesma.

Virei-me de lado para poder olhar na direção onde Número 1 apontava. Minha amiga e seu pretendente tigelinha corriam de mãos dadas, às gargalhadas, enquanto fugiam de Horácio, que esbravejava e corria com os restos da máquina em mãos, como se quisesse quebrá-la até o fim na cabeça deles. Foquei-me no rosto do casalzinho. Eles realmente pareciam cintilar quando estavam juntos e felizes. Sorri de canto, voltando a me deitar.

- Tudo parece estar bem agora. – Nico estranhou meu comentário, como se eu estivesse sem lógica. Comecei a rir, entregando-lhe o protetor solar. – Minhas costas vão queimar.

Cobri meu rosto com o boné, e não precisei aguardar muito para sentir a mão de Nico coberta de creme nas minhas costas. Ao longe, ainda podia ouvir as gargalhadas e os berros, mas aquele momento estava estranhamente em paz.

Ah, como eu adoro praias.


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Notas finais do capítulo

Adorei escrever sob o ponto de vista da Número 5. Ela é aquele tipo de amiga centrada que todos nós gostaríamos de ter. ♥