Três por Quatro escrita por Nightnyu


Capítulo 5
Capítulo V - Foto


Notas iniciais do capítulo

Descobri que não sou o único que baba litros por esse casal, que felicidade! JOPJOPSAJPJOSA



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Finalmente completei o último jogo que o Número 2 me emprestou! E em tempo recorde! Eu devo ser um gênio no videogame, mas isso eu já sabia desde o início. Decidi devolver todos que peguei emprestado de uma vez, antes que acabasse sumindo algum. A Número 5 me chama de cabeça de vento, mas é claro que é uma mentira. Minha cabeça é genial, é só que, às vezes, as coisas simplesmente fogem de mim.

Quando entrei no quarto – sem bater, mas acho que ele não iria esquentar com isso -, ele estava trabalhando em alguma invenção nova. Parecia alguma máquina esquisita de fazer raspadinha de gelo, mas vindo do Horácio, com certeza não era o que parecia.

- Vim devolver seus jogos. – Falei, quando ele olhou de relance para mim, na porta. Só deu um aceno com a cabeça e voltou ao que estava fazendo, concentrado ao extremo. – O que essa máquina faz? – Perguntei, colocando os jogos em cima de uma mesinha.

- Não é uma máquina útil para alguma batalha, mas será muito útil para nossa vida pessoal: O restaurador de chicletes! Qualquer chiclete já mascado que for inserido nesta máquina sairá perfeitamente em condições para um novo uso! Genial, né, Número 4? – Perguntou, claramente orgulhoso do seu trabalho.

Eu soltei um sorriso, satisfeito com a resposta dele. Isso daria um novo destino para os chicletes grudados debaixo das carteiras da escola, que por sinal, eram muitos.

- Yeah, teremos chicletes infinitos! – Os olhos dele brilharam por trás dos óculos. Eu perguntaria a respeito de alguns detalhes dela, mas algo me impediu. Meu amigo inventor estava tão distraído com sua máquina que não percebeu a presença de uma sombra humanóide, na janela, disfarçada pelas cortinas. Parecia estar observando-o. Ergui uma sobrancelha, por baixo da minha franja. Horácio era um alvo muito fácil quando estava concentrado em seus trabalhos.

Iria alertá-lo, se, ao observar melhor a sombra, eu não a reconhecesse. Fiquei meio confuso, de início. Sem dúvidas, parecia ser a Kuki. Voltei minha atenção novamente para o Número 2. Nenhuma alteração, perfeitamente concentrado na construção da máquina. Saí do seu quarto, sem dizer nada. Caminhei, quase correndo, até o teto, onde era mais fácil descer em apoios especiais para chegar até os quartos de cada um, que eram usados no caminho inverso para fugirmos para o telhado em caso de ataque.

Conforme fui me aproximando do largo apoio de madeira sobre a janela do Número 2, notei que havia dedos branquinhos sobre ela, numa extremidade. Céus, isso é o que dá viver com o casaco sobre os dedos! Parecem até dedos de fantasmas! Subi naquele apoio sem fazer ruído, sentando-me. Ela perceberia minha presença caso não estivesse tão concentrada no que estava fazendo. Coloquei apenas meu rosto à vista, olhando para baixo. Ela estava pendurada facilmente, como se fosse uma Macaca Colorida – e lá vão esses macacos novamente assombrando minha mente. Na sua mão, havia uma câmera digital, que ela encaixava perfeitamente num espaço que não estava coberto pela cortina, tirando algumas fotos.

Espera um pouco. Fotos? Por que diabos a Kuki está tirando fotos do Horácio? Parece até uma espiã! Mal pensei nisso, a pergunta pulou dos meus lábios.

- ‘Tá espiando o Horácio, Kuki? – Ela contorceu a expressão, pelo susto. Se não fosse treinada, com certeza iria cair do apoio onde estava. Olhou para cima, cruzando seus olhos puxados com os meus. Confesso que aquela expressão surpresa dela, com os lábios entreabertos, era até agradável de se ver.

Mas pra falar sério, sem essa coisa do rosto da Kuki ser agradável ou não, aquela situação era muito estranha. Não importava o ângulo que eu visse aquilo, ela claramente parecia uma espécie de stalker tirando fotos do seu alvo. E eu não gostei nem um pouco disso, e não me pergunte a merda do porquê. Simplesmente não gostei.

- Shiu! – Ela ergueu seu corpo magro, sentando-se na bancada de madeira, ao meu lado. A câmera digital pendeu em seu pescoço, repousando em seu colo. – Eu não estava espiando o Horário, Wally. – Murmurou. Ergui uma sobrancelha, desacreditando na resposta. – Aliás, como sabia que eu estava aqui?

- Entrei no quarto do Horácio e vi sua sombra na janela. Pensei até que era algum inimigo. – Respondi. – De qualquer jeito, é melhor explicar isso direito, pois parece que você tava espiando ele. – Tentei fazer um tom de repreensão, disfarçando qualquer sinal daquela pontada de um sentimento esquisito que eu tava sentindo. Ela fez apenas um bico de manha, inicialmente, como se não quisesse falar. Mas não demorou muito para o seu olhar ficar conformado, como se eu tivesse descoberto algo importante.

- Você tem que prometer duas coisas, antes: que não vai contar a ninguém até chegar a hora e que vai me ajudar!  – Ela fez uma expressão séria. Séria demais para a Kuki. O meu sangue gelou. Apenas uma conclusão se formou de imediato na minha mente: Kuki estava gostando de Horácio e queria minha ajuda para se aproximar dele. Tão óbvio!

Primeiramente, pensei em como iria espancá-lo quando ele estivesse sozinho.

Segundo, pensei em como invadiria o quarto de Kuki e quebraria aquela câmera cheia de fotos do Número 2 em mil pedaços.

Terceiro, tive vontade de gritar dali mesmo pro Horácio me devolver todos os meus jogos que eu havia emprestado.

Mas no fim, me rendi à conclusão de que não poderia fazer nenhum dos anteriores.

Horácio é meu amigo. Kuki é minha amiga. Eu não tenho nada a ver com isso, a não ser que eu queira deixar claro para todo mundo que não quero ver a Kuki com mais ninguém. Merda. O que claramente seria mal interpretado – principalmente pela Número 5 – como coisas femininas como amor. Amor que nada! Eu estou apenas... protegendo uma amiga, isso! Evitando que ela se machuque nas mãos de um garoto!

E o pior de tudo é que eu tenho que prometer ajudá-la. Há! Como se eu fosse ajudá-la com uma coisa dessas. Nunca, nunca, nunca!

- Hey, Wally, você está ouvindo? – Foquei meus olhos verdes no rosto dela, como se eu tivesse sido desperto de um transe. De fato, era o que tinha acontecido. Pela expressão confusa da Kuki, é bem provável que eu tenha feito uma cara muito esquisita.

- A-Ahn... – Levei a mão até a nuca, num verdadeiro choque com a realidade. E pra falar em realidade, estou sentindo outra coisa estranha dentro do peito, como se tivesse um peso a mais. Mas vou ter que prometer o que ela quiser, já que preciso saber a verdade. – Prometo, claro. – Murmurei.

Claro. Eu sou o amigo confidente, claro. E Horácio é o alvo de uma Kuki stalker. Claro. Muito claro.

- Então lá vai! – Ela disse animada, mas em tom baixo. Horácio poderia ouvir. – Estou fazendo o álbum KND! – Ela colocou a câmera nas minhas mãos, de repente.

Minha mente parecia ter parado no espaço por alguns segundos. Álbum KND? Abaixei os olhos, percorrendo-os avidamente pelas fotos que a câmera continha. As recentes do Número 2 trabalhando, seguidas pelas da Número 5 lendo revistas e do Número 1 pensando em algum plano. Todas espontâneas, como se tivessem sido tiradas de forma escondida, da forma como Kuki estava fazendo, pendurada na janela.

Tive uma vontade louca de rir, me sentindo um idiota. O peso em meu peito sumiu momentaneamente. Kuki gostando do Horácio... Número 4, ficar conversando casualmente com a Número 5 deve estar deixando seus pensamentos muito altos! Segurei-me o bastante para que apenas um sorriso largo surgisse no meu rosto, o que eu acho que a Kuki interpretou como se eu tivesse gostado da ideia. De fato, gostei. Não é ruim ter fotos dos amigos, afinal.

- Sabia que você iria gostar! Será o álbum especial da nossa turma, mostrarei a todos quando estiver pronto. – Ela sorriu como era do seu normal. Porém, enquanto eu olhava para seu sorriso, notei algo estranho. Ainda não havia fotos minhas, e nem dela.

- O álbum é da turma, mas está faltando nossas fotos. – Comentei. Ela corou um pouco, e não entendi o porquê. Tirou repentinamente a câmera das minhas mãos, erguendo-a um pouco do lado contrário. Aproximou-se um pouco mais de mim, até que nossos braços se tocassem. Acho que também corei. Mas que diabos ela está fazendo?

- Então vamos tirar nossa primeira foto! – Ela riu, sorrindo abertamente e fazendo ‘v’ com a mão desocupada, com os dedos cobertos de verde. Eu ia soltar um xingamento, mas tinha que admitir, pelo menos um pouco, que a atitude de Kuki me agradou bastante. Mas como eu não podia demonstrar isso, pelo meu orgulho, simplesmente fechei minha cara. Não poderia ficar feliz com uma garota encostando em mim, oras!

- Tudo bem, pelo álbum da turma! – Disse, como se aquilo aliviasse minha mente. Também fiz um ‘v’ com uma das minhas mãos, embora meu rosto ainda permanecesse meio sério. Caramba, a Kuki está perto demais, acho que estou suando. Um ruído baixo veio da câmera quando esta tirou a foto.

- Vamos ver, vamos ver... – Ela virou o objeto, para visualizar a foto na pequena tela. Suas bochechas inflaram, com uma vontade de rir. – Wally, suas sobrancelhas estão franzidas! Deixa de ser ranzinza, pelo menos nas fotos! – Fechei mais a cara, puxando um pouco o objeto pro meu lado. Como a Kuki é infantil, não é obrigatório sorrir feito um idiota nas fotos!

... Droga. Minha cara estragou um pouco a foto mesmo, embora tenha combinado. No fim, é sempre assim: Eu extremamente puto e a Kuki sorridente. Bem, se eu sorrisse, seria realmente estranho. Sorrisos ficam melhores na Kuki do que em mim.

- Só você para ficar tão sorridente. É só uma foto, oras. – Desviei os olhos, ouvindo a risada baixa dela. Ainda estávamos com os braços colados, mas a Kuki não aparentava estar prestando atenção nisso. Eu devo ser um idiota por estar suando por uma coisa dessas. Deve ser o nojo de garotas. Isso! Nojo de garotas! O nojo faz a gente suar, certo?

- Fotos são preciosas, Wally. – Ela disse, olhando mais uma vez para a foto recém-tirada. Enquanto eu fingia não ligar para o que ela dissera, imaginei novamente como invadiria o quarto da Kuki. E não seria para quebrar a câmera, e sim, para conseguir uma cópia daquela foto.

Não me julguem, caros leitores, eu só quero uma foto com a minha amiga da Turma do Bairro! Perfeitamente normal, certo?

~~~

As risadas de Kuki, naquele momento, serviam para disfarçar o quão sem jeito ela estava. Na verdade, ela já tinha muitas fotos de Wally, escondidas em seu quarto. Não era necessário tirar fotos dele. Mas uma ideia passou-lhe pela mente, e ela resolveu colocá-la em prática. Agora tinha uma boa razão. Finalmente conseguira uma foto com ele! Fotos eram realmente preciosas, mas aquela, então, era um verdadeiro tesouro.


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