Treina Comigo escrita por Carlos Abraham Duarte


Capítulo 5
O Novo Professor


Notas iniciais do capítulo

O personagem Lino Tadeu de Oliveira Pires foi inspirado numa pessoa REAL, um antigo professor meu do Ensino Médio, graças a quem tive a atenção despertada tanto para a Geografia quanto para o Judaísmo.



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- RinoTadeu... Deorivue... Piresu... Piresu-sensei!

Assim se apresentou o novo professor de geografia, escrevendo seu nome inteiro em katakana no quadro branco com uma caneta pilot, na horizontal, e pronunciando-o tal como os próprios japoneses fazem, com a devida adaptação fonética para facilitar, sendo prontamente imitado pelos alunos da turma, que repetiram sílaba por sílaba. É tal qual em uma típica escola japonesa colegial do mundo dos humanos. Tinha consciência de ser o alvo das atenções da turma, antes de tudo, por sua condição de estrangeiro, gaikokujin. Até então, o único docente de origem estrangeira a lecionar na Academia Youkai havia sido a professora de culinária, a apsará hindu Sumala, conhecida simplesmente como "Apsaras-sensei", uma ninfa celestial do Svarga, o Paraíso de Indra (um dos "distritos" ou subplanos da dimensão paradisíaca de Tengoku, Mundo Celestial, superposta à Terra. Chu!).

Estrangeiros no Japão - tanto na dimensão dos humanos quanto na dos demônios - eram olhados com grande interesse e curiosidade, como se animais exóticos fossem. Ainda havia o distinto bibliotecário africano, Rupert Kwadjo Sasabonsam, secretamente um híbrido mutado de bruxonegro e vampiro teratoide, metade homem, metade morcego, conhecido como Asiman pelos povos ashanti e Benin. Durante sua apresentação, Pires-sensei ressaltou que os brasileiros constituíam a terceira maior comunidade de estrangeiros vivendo no Japão, atrás apenas dos coreanos e dos chineses. Ele próprio, dissera, num nihongo perfeito, havia trabalhado anteriormente numa escola secundária humana nos arredores de Tóquio. Confessou-se um admirador da tradição de disciplina nipônica, em particular do grande respeito que os alunos japoneses têm pelos seus professores, ao contrário do que acontecia no país de onde viera, o Brasil (onde a educação é tratada como piada, de-chu!).

Em seguida, fez a chamada dos alunos, um por um.

Tsukune Aono, representante de classe, e Moka Akashiya, vice-representante...

Particularmente Moka e Tsukune não cabiam em si de excitação. Naquela manhã o Brasil ocupava o centro das atenções de ambos; primeiro na cantina, quando conversaram acerca da nova amiga brasileira de Tsukune, uma humana, e agora, em virtude de ser o novo professor, ele também, natural daquela parte do globo terrestre, embora fosse youkai e não humano (assim pensavam). Estranha coincidência!

Coincidências não existem. Esta frase queimou como lava na mente de Tsukune. Aquele recém-chegado despertou-lhe recordações do mundo dos humanos, outro tempo e lugar... e outro professor. Cyrus Abrahams, Aburaan-sensei. Outro brasileiro! Naturalmente que o aspecto exterior - mero simulacro de uma criatura humana dissimulando um youkai - era diferente. Não obstante, aquele ser que simulava a imagem de um homem ocidental, com 1,77m de altura, magro, porém muito forte, cabelos crespos castanho-claros coroando uma cabeça mesocéfala de rosto ligeiramente amorenado, maçãs pouco salientes, nariz reto, cavanhaque e bigodes finos em volta dos lábios estreitados, e ardentes olhos azuis por detrás das lentes miolight dos óculos fazia o jovem Tsukune lembrar-se de seu professor e amigo da velha Hikonari Chugakko, no término do ensino fundamental.

A primeira aula ministrada por Lino Tadeu Pires transcorreu com boa participação dos alunos, em clima de bate-papo bastante interativo. Pires-sensei, como todo bom brasileiro, falava mais do que escrevia, parecendo gostar de provocar uma discussão com os alunos acerca deste ou daquele tema um tanto polêmico. Partindo de noções de biodiversidade e da importância capital desta para a sobrevivência a longo prazo da vida no planeta Terra - e aproveitando a deixa para "pichar" o que denominava de "industrialismo social-capitalista predatório" que, entre outros crimes contra a natureza, sugava o "sangue da Terra" sob a forma de petróleo, o qual age como um retentor térmico, assim ocasionando um aumento da atividade sísmica/vulcânica da Terra, e desmatava a Hileia Amazônica, que abriga 33% das florestas tropicais e 30% das espécies conhecidas de flora e fauna do planeta - , o professor acabou por falar de diversidade cultural e da necessidade de respeitar as diferenças, fazendo observar que a raiz de todo o ódio e dos conflitos da História da Humanidade residia na pretensão que certas pessoas tinham de enquadrar todo mundo, à força se necessário, dentro do único modelo de sociedade que eles considerem correto, de obrigar todas as pessoas a pensarem, sentirem e agirem da mesma forma.

- Não existe uma "moral universal", absoluta, ou, se existir, não há qualquer razão plausível para se supor que seja, obrigatoriamente, aquela que a civilização ocidental e judaico-cristã consagrou - ele disse, andando pela sala de aula e provocando a discussão. - Por exemplo, para o povo lepcha, que mora nas montanhas do Himalaia, é normal um homem de oitenta anos fazer sexo com uma menininha de oito! Por outro lado, os ocidentais, ainda no século passado, taxavam os japoneses de "pervertidos" por causa dos banhos públicos mistos. O único princípio regulador universal que deveria ser reconhecido é o respeito pelo "outro", pois cada povo, cada religião e cada cultura tem seu próprio "código moral". Só assim haverá condições para o surgimento de uma fraternidade genuinamente universal.

Era principalmente Yukari quem respondia, questionava e debatia com o professor, de igual para igual. A inteligente e graciosa bruxinha gostou tanto da aula que logo ganhou da turma o apelido de "a queridinha do Pires-sensei". (Inteligentíssima, conforme esperado de uma bruxa, pois esta minoria racial, conquanto discriminada e fechada sobre si, era tida como "intelectualmente superior", de-chu!)

- Sensei, e quanto aos massacres das baleias-piloto nas Ilhas Feroe, na Dinamarca, e dos golfinhos em Taiji, no Japão, e touradas e farra do boi? - ela questionou. - E o abate de cães e gatos pra açougue na China? Os americanos matam cervos por esporte! É válido tolerar tanto desrespeito pela vida animal sob pretexto de "tradição", "cultura"?

(Como bruxa, membro de uma raça que detém o poder da Natureza, a pequena Yukari não podia deixar de ficar indignada com a crueldade manifesta dos humanos para com os animais, silvestres ou não. Chu!)

- Muito boa pergunta, Yukari-chan - ele elogiou. - Respeitar as tradições não deve servir de pretexto para perpetuação de atrocidades contra outras formas de vida animal, como as que você citou. Tradição também é evolução, inovação. Se ninguém alguma vez fizesse nada novo, de onde viriam as tradições? Há 2.000 anos as crucificações, as lutas de gladiadores e matança de gente nas arenas eram tradicionalmente aceitas na Roma imperial. Era "cultura". Há 150 anos era tradicionalmente aceito que um ser humano de pele escura fosse escravo de outro ser humano de pele clara. Tudo muda! O erro, turma, está na crença propagada pelas grandes religiões institucionalizadas do mundo humano, por séculos sem conta, de que o homem é a "coroa da criação" só porque ocupa o topo da cadeia alimentar. Mas existem ativistas pelos direitos dos animais que, na Espanha, na China, no Brasil e noutros lugares, rejeitam essa concepção e lutam por mudanças de hábitos e costumes, inclusive através da educação das crianças nas escolas. Enfim, a humanidade leva tempo para aprender. Minha mais profunda convicção é que o futuro do mundo só será grandioso se nos pusermos de acordo conosco mesmos e com os que nos rodeiam, humanos, youkais, elementais, animais. E é para isso que esta academia existe.

- Esse cara irradia simpatia, segurança, tranquilidade - Yukari cochichou no ouvido de Moka. - Tem uma aura de um amarelo bem suave em torno dele, eu posso ver, desu.

Tsukune sondou de longe o professor, tentando "ler" a youki dele. Não conseguiu. Para sua surpresa, não captou sequer a camada mais superficial de youki que podia sentir em seus amigos e colegas de classe. Nada. Zero vírgula, zero, zero... Das duas, uma: ou Lino Tadeu Pires dissimulava com perfeição sua bioenergia demoníaca, ou - Tsukune se arrepiou apenas com a ideia - ele não possuía nenhuma. Um youkai que não emite youki! A menos que...

Tsukune titubeou em levar aquele raciocínio à sua conclusão lógica, porque se lhe afigurava por demais fantasioso. A menos que não se trate de um youkai.

Seria possível? Tsukune respirava pesadamente. Pensou em si mesmo. E em Hokuto Kaneshiro, seu senpai e antagonista. Seria fantástico... inconcebível...

Momoko Tsuda perguntou a Pires-sensei o que ele pensava da poligamia. Ele riu, e, cravando seus expressivos orbes azuis nos castanhos de Tsukune (que tremeu levemente quando o olhar cerúleo por trás dos óculos do professor o atingiu), respondeu em tom de peroração:

- Uma vez, quando tinha meus nove, dez anos de idade, lá no Brasil, assisti a um documentário na TV sobre o leão africano. Um macho pode ter até quatro fêmeas sob o seu comando, e, se por acaso alguma leoa de fora do "harém" tentar se aproximar do "rei" leão com intenções, digamos, de namorar, todas as quatro "consortes" se levantarão unidas contra ela, e expulsarão a intrusa a patadas e dentadas. Ademais, elas se revezam nos cuidados com a prole, e não é incomum ver uma fêmea amamentando os filhotes das outras três, além dos seus próprios. Taí um exemplo de poligamia que funciona às mil maravilhas.

A sala inteira caiu na gargalhada. Pareceu a Tsukune que ele era o alvo das risadas.

O professor continuou sua explanação, inabalável.

- Aos eventuais interessados no assunto, recomendo a leitura do livro O Mito da Monogamia, da dupla de sociobiologistas David Barash e Judith Lipton. Ficarão surpresos em saber que a poligamia é a regra geral na maior parte das espécies animais, sobretudo mamíferos, e não a monogamia, e que, durante a maior parte da História da Humanidade, o casamento não foi exclusivamente monogâmico. No Japão feudal, por exemplo, não apenas o Imperador mas todo e qualquer daimyo possuía o seu séquito de concubinas. Monogamia era coisa de pobre e plebeu. Já no Tibete, na cultura nayar do sul da Índia, entre os maoris da Nova Zelândia, em algumas ilhas do Pacífico e em certas partes da África, a regra é a poliandria, ou seja, vários maridos para uma só mulher. Aliás, hoje em dia, os defensores do "poliamor", que é a capacidade de amar mais de uma pessoa e conviver bem com todos os parceiros, vêm ganhando força até mesmo na Europa, nos Estados Unidos e em países que se ocidentalizaram depressa demais, como o Japão. Sugiro a leitura dos trabalhos da jornalista Barbara Foster e da psicóloga Deborah Anapol, em sites e blogs na Internet sobre poliamor. A meu ver, é uma forma de amor nada egoísta, em contraste com a dedicação exclusivista, possessiva, própria do amor monogâmico, que exacerba o egoísmo e o ciúme. Sem falar que a imposição do casamento monogâmico teve como consequência, nas sociedades monogâmicas de fachada, o que chamamos de "pulada de cerca".

- Então defende a poligamia e o poliamor, sensei? - indagou Mizore.

- Pessoalmente, não defendo nem condeno, Shirayuki-san. O que eu defendo é o direito de as pessoas terem a opção de escolher o estilo de vida, de casamento ou de arranjo familiar que melhor lhes convier. Desde que respeitando as opções alheias, é claro. Monogamia, poligamia, poliandria, poliamor, casamento aberto, casamento gay, enfim, o respeito pela diversidade cultural, uma pluralidade de estilos de vida, são sinais de uma "alta civilização". Ou, como se diz no Brasil, "cada um com seu cada um".

Evidentemente que a turma não entendeu o adágio popular tipicamente "brazuca", citado por Pires-sensei, em bom português. Apesar disso, o jeito nada convencional de dar aula, desinibido, provocante, contribuiu para que o novo professor de geografia rapidamente caísse nas boas graças daqueles youkais japoneses - sem falar do meio-humano e meio-youkai Tsukune Aono, que não tirava os olhos do inusitado mestre-escola.

Tsukune reparou que, nesse instante, a fisionomia do Professor Pires pareceu entrar em colapso, dando lugar a outro rosto, nada menos - o rosto de um de seus professores no mundo dos humanos, Cyrus Abrahams. Tão instantâneo como se fora, a fisionomia de Lino Tadeu Pires reapareceu. Tsukune pôs-se a questionar se o que pensou ter visto não passava de fruto de sua própria imaginação.

Sua mente fervilhava. Pires-sensei, de que lugar você veio? Quem... o que é você?

Foi nesse instante que a porta da sala se abriu e a animadíssima Shizuka Nekonome-sensei, a youkai-gato que era a professora responsável pela turma 2-1, entrou. Vestia um conjunto de minissaia jeans azul-marinho e blusa de alcinha rosa/lilás, bem decotada, enfatizando as curvas exuberantes do corpo escultural e esguio, de pele cor de pêssego, em especial os seios túrgidos e firmes e as pernas lindíssimas. Usava óculos vermelhos de gatinho e um guizo dourado no pescoço, e calçava tamancos abertos. Duas orelhas felinas, felpudas, de uma cor de ouro velho, igual à dos cabelos curtos porém cheios, emergiam do alto de sua cabeça. Os olhos amendoados verde-jade estavam semicerrados.

Depois de cumprimentar Lino Tadeu Pires com uma mesura, ela indagou:

- Posso dar um recado para a turma, sensei?

Ele espiou o relógio de pulso e sorriu discretamente. Faltavam menos de dois minutos para o término da aula.

- Fique à vontade, Nekonome-sensei. Bem, galera, por hoje é só. - Arrumou sua coisas de cima da mesa.

- Myaah! - fez a graciosa nekomusume, tal qual uma gata. - Pessoal, a direção da escola comprou mais de 300 notebooks para distribuir entre os docentes e discentes, ou seja, nós, professores, e vocês, alunos!

Pires observava fascinado como, a despeito de sua figura humanoide, humaniforme, a Profª Nekonome conservava comportamentos e trejeitos corporais tipicamente felinos, atávicos, de seus ancestrais gatos; as mãos delicadas de punhos cerrados pareciam desferir patadas no ar enquanto ela falava, toda entusiasmada, olhos meio fechados, e uma longa cauda felina, de pelo curto e liso marrom-dourado e extremidade branca, se agitava inquieta e despudoradamente para lá e para cá, saindo de baixo da minissaia, sem que sua dona disso se apercebesse.

"Até a voz dela soa que nem miado de gato", pensou o brasileiro, divertido. Amava gatos mais do que qualquer coisa na Terra, ou nos Nove Mundos da Orbe de Urântia. Sim, agora ele entendia a antiga crença japonesa de que gatos amados e bem tratados em vida, atingindo uma idade muito avançada, transmutavam-se em bakeneko, youkais felinos que podiam assumir uma forma humanoide por imitação a seus donos. Criaturas feéricas, como os Fae de Arcádia. Nem todo youkai é um ser nascido no mundo das trevas, o Makai.

- E a data de entrega, Nekonome-sensei? - perguntou Gozuki Midorikawa, um rapaz meio baixo e gordo, de tez amarela e cabelo castanho-escuro. (Usava calças excessivamente largas para disfarçar os testículos enormes, pois sua real natureza youkai era um tanuki de pelo cinza-escuro e aparelho genital superdimensionado, que nenhuma magia metamórfica consegue esconder. Chu!)

- Está prevista para esta sexta-feira, começando pela nossa turma - ela respondeu, sempre sorridente e de alto-astral. - A Youkai Gakuen vai entrar na era da informática!

A turma aplaudiu.

- Sensei - Lino aproveitou para cochichar discretamente na orelha triangular, ereta, revestida de pelo marrom da youkai-gato. - Sem querer ser indiscreto, mas... Hum-hum... É que a sua cauda está aparecendo...

- Nhya! - miou a graciosa Shizuka Nekonome, entre assustada e envergonhada, olhos arregalados, instintivamente jogando as mãos para trás, num misto de ingenuidade e sensualidade, como que tentando em vão esconder o longo e inoportuno apêndice peludo que balançava de um lado para outro ainda mais freneticamente que antes. - Isso sempre me acontece, por que será?

Toda a classe (como sempre) prorrompeu em risadas.

- Vamos, sensei. - Pires esboçou um sorriso e apanhou gentilmente o cotovelo da colega nekomusume. - Para a sala dos professores. - Virou-se para os alunos que já começavam a se levantar das carteiras. - Sayonara, turma. Até a próxima aula, OK?

Durante o intervalo das aulas, Tsukune, Moka, Mizore, Kurumu e Yukari - que formavam um grupo à parte e bastante unido - batiam papo animadamente.

- E aí, meninas, o que acharam do Pires-sensei? - perguntou Tsukune em tom alegre. (Preferiu não comentar que havia tentado ler a youki do professor, sem contudo encontrar nenhum vestígio de energia espiritual própria de youkais, de-chu!)

- Eu gostei dele, desu - replicou Yukari com convicção. - Inteligente como é, só pode ser um bruxo.

- Por que será que os bruxos estão sempre puxando a brasa para a sua sardinha? - queixou-se Mizore num murmúrio brando, a um só tempo belo e sombrio, que lembrava o ciciar do vento nas folhas das árvores. - Parece até racismo.

- Não quero parecer preconceituosa, nem discriminar contra ninguém - redarguiu a jovem bruxa que, apesar da pouca idade, doze anos e meio, era tida como a estudante mais brilhante da Academia Youkai, a número um. - O fato é que nós, bruxos, podemos não ser os mais fortes dos youkais, mas temos uma vantagem sobre os demais: somos inteligentes. - Ela tocou com a ponta do dedo indicador a própria cabeça na região da têmpora.

- Eu também gostei muito da aula do Pires-sensei - opinou Moka, sorriso bobo brincando nos lábios. - Exceto pela defesa que ele fez da poligamia e do poliamor, é claro.

- É porque a Moka quer ficar com o Tsukune só pra ela - retrucou Kurumu rindo e abraçando Tsukune pelas costas. - Egoísta!

- Para seu governo, Kurumu-chan, eu sei tudo sobre poligamia - contrapôs Moka com o rosto afogueado. - Esqueceu que minhas irmãs e eu somos filhas de mães diferentes? Nosso pai era polígamo. Suas mulheres não se suportavam e moravam em casas separadas.

- Mudando de assunto, eu, de minha parte, não vejo a hora de botar as mãos no meu notebook - disse Yukari. - Gostaria que fosse um MacBookPro, ou um ATI Fire GL, mas, pro meu "tamanhão", acho que um UMPC seria mais conveniente, desu.

- Além de ser reta feito uma tábua essa pirralha só sabe falar língua de geek - lamentou-se Kurumu. - Explique pra gente, por favor, geniazinha da turma.

Yukari assumiu aquele ar de superioridade que gostava de exibir ao falar com a amiga súcubo. - Para os leigos, notebook é tudo igual, mas não é bem assim. Para começar, temos os Entry-level, modelos de entrada e baixo custo, os Business, mais resistentes, de linhas sóbrias e sem um design muito atraente, como os da linha Latitude da Dell, a NX da HP e a maioria dos IBMs; os desktop-replacements, que primam pela performance mais do que pela mobilidade, onde se enquadram, por exemplo, os Alienwares, os Acer 5000/6000 e os Dell XPS; já as linhas ATI Fire GL, NVidia Quatro e Precision M da Dell, assim como a maioria dos MacbookPro, são mobile workstations desenhados pra quem quer trabalhar com PCs profissionalmente. Por fim, tem também os ultraportáteis, que pesam menos de 1,5 quilo e são mais ou menos o que antigamente se chamava de laptops, e os UMPCs, ainda mais compactos, mas com os mesmos recursos. Desu.

Os queixos de Kurumu, Tsukune e Mizore caíram.

- OK, OK, Yukari-chan, o pessoal já entendeu - Moka interveio suavemente, pondo as mãos nos ombros estreitos da menina bruxa. Quando era necessário dar um freio no pedantismo da "bruxa gênio" do Clube de Jornalismo, ninguém melhor do que Moka, que, além de fazer as vezes de irmã mais velha, era, juntamente com Tsukune, um dos alvos da "paixonite" bissexual de Yukari (que almeja fazer um ménage-à-trois com AMBOS,chu!).

Naturalmente, não ocorreu nem a Tsukune nem a alguma de suas amigas do "harém" a ideia de discutir sobre a aparência física do Professor Lino Tadeu Pires com o resto de seus colegas da sala 2-I; pois, se o fizessem, ficariam todos estupefatos ao constatarque, enquanto o quinteto de amigos via o novo professor como um homem alto de cabeça mesocéfala, cavanhaque e bigodes finos, olhos azuis e nariz reto e bem talhado, para todo o restante da classe ele se afigurava como de altura um pouco menor, alguns centímetros, rosto comprido bem barbeado e cabeça de forma dolicocéfala, olhos castanhos e um nariz grosso e proeminente, quase adunco.

Mistérios da Academia Youkai!

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Lino Tadeu de Oliveira Pires, ou melhor, Cyrus Abrahams, estava paramentado com quipá, talit e tefilin, tal como convinha a um judeu praticante durante a reza da manhã, chamada de Shacharit. Estava numa sala isolada e contava tão-só com a companhia de seu gato Mizar. (Gatos possuem a habilidade biopsicoenergética de filtrar a energia negativa do ambiente e devolver a positiva, de-chu!)

Cara a cara com o Tsukune-kun, dois anos depois... E sem ser reconhecido!

Cyrus Abrahams, ocultista-cientista, iniciado nos mistérios dos Quatro Elementos (símbolos-raiz) da Tradição Ocidental e viajor interdimensional do Mundo dos Humanos, tinha a cabeça coberta por uma grande quipá de lã branca, em vez do tradicional solidéu de veludo negro dos judeus hassídicos. Trazia na fronte e no braço esquerdo (com a manga da camisa arregaçada) os tefilin, um par de pequenos estojos de couro pintado de preto contendo os versículos bíblicos (escritos a mão em pergaminho) Êxodo, 1-10 e 11-16, Deuteronômio, 4-9, e XI, 13-21, montados sobre tiras de couro, também tingidas de preto (sendo a do bíceps enrolada com sete voltas, e a frontal atada em um nó localizado na base do crânio). Um grande manto de oração, chamado de talit gadol, em sarja de lã, branco com listras nas cores do Pacto Universal, ou seja, do arco-íris, envolvia-o desde a cabeça até os quadris, e, em seus quatro cantos, franjas de cordões de lã, tsitsiyot, especialmente trançadas, recordavam ao usuário de todas as 613 mitzvot do Eterno ao povo judeu, conforme a Torá, por intermédio do profeta Moisés, o Grande Iniciado.

A Torá é um patrimônio de toda a Humanidade, e sua prática não deve ser vista como uma instituição tribal, mas como um instrumento de autoaperfeiçoamento, parte de um processo maior de evolução espiritual na árdua tarefa do autoconhecimento.

Tanto os tsitsiyot quanto os tefilin eram, por assim dizer, suas "antenas" com as quais se conectava com egrégora e holopensene próprios da religião judaica, em qualquer tempo e lugar. Por outro lado, sendo universalista, Abrahams não ignorava que os locais onde os tefilin tocam a cabeça e a mão são exatamente aqueles pontos que a acupuntura usa no procedimento de limpar a mente e dar paz de espírito para o paciente - estimulando os pontos de tonificação do meridiano Du Mai que atinge a coluna vertebral e penetra no cérebro, o "refúgio do espírito". Por conseguinte, ele o sabia, uma e outra prática se propunham a elevar a consciência espiritual, clarificar e harmonizar a mente de homem. Assim como os tsitsiyot nos quatro cantos do talit evocavam o tema dos quatro elementos, fogo, ar, água, terra e dos quatro "mundos" cabalísticos, Atziluth, Beriah, Yetzirah, Asiah, que, por seu turno, correspondiam ao Arcano 7 do Tarot - O Carro.

"Mazal tov, Abrahams-sensei, novo professor de Geografia da Youkai Gakuen", ele pensou, cônscio da ironia de sua situação, enquanto "escaneava" visualmente as sequências de caracteres hebraicos que compunham as orações contidas no sidur em suas mãos, visando capturar a energia espiritual das formas das letras, cada uma delas uma "chave" para se conectar com a "faísca divina" de sua própria alma, e, por intermédio desta, com o TODO, o Eterno e Infinito Ein-Sof, o Ser impessoal que é a causa fundamental de tudo o que existe e de tudo o que acontece. (Cyrus conhecia a origem extra-humana e extraplanar tanto das 22 letras do alfabeto hebraico quanto dos 22 Arcanos Maiores do Tarot, que o Anjo Metraton - ou Enoch - em priscas eras trouxera à Terra dos mundos superiores de Atziluth, mergulhados em "etérea luz eterna". Chu!)

No fundo a Torá é como que um "código genético universal", ou Computer Plan da Criação. O DNA espiritual, a "memória ROM" do Universo - dos Universos que formam o Multiverso - que esquematiza as forças espirituais da vida. Existe um número infinito de combinações possíveis, incluindo-se aí "programas" e "sistemas operacionais" nos quais coisas do tipo de youkais ou da Anima Nigra de Typhoon vicejam.

Convocado por uma mensagem de Mikogami, que conhecia sua antiga amizade com Tsukune, Cyrus Abrahams desembarcara de armas e bagagens na Academia Youkai, saindo de um portal dimensional nas arcadas do subterrâneo do internato. Ele, um homem de uma realidade alternativa existente em um outro nível quântico do "espaço de Hilbert de infinitas dimensões" do Multiverso, onde não existem youkais, ayakashis e congêneres, era o primeiro e único docente de raça humana a lecionar - incógnito, com a permissão do Diretor - numa escola secreta cheia de demônios que matariam qualquer humano que fosse descoberto no interior da Barreira. E o fazia justamente com o intuito de tentar ajudar o jovem Tsukune Aono, ainda ignorante do grande destino para o qual nasceu, a trilhar o caminho para crescer e tornar-se naquilo que realmente era. Todavia, Mikogami deixara claro ao recém-chegado que não lhe seria permitido interferir senão com parcas mensagens de apoio que apontassem a Tsukune o caminho a ser seguido, nem, tampouco, desvendar a ele a real identidade de seu apoiador. Seu nome tinha de ser outro, tal como sua imagem. Foi assim que surgiu o Professor Lino Tadeu de Oliveira Pires.

Tsukune-kun e suas quatro amigas formam um grupinho bastante unido. Uma verdadeira cadeia magnética. Usando de sugestão mental e "espelhamento mental" (técnicas mais sutis que a hipnose), Cyrus criara na mente de Tsukune e suas companheiras mais íntimas uma imagem ilusória de si próprio, a visão de um homem ligeiramente diferente do que realmente era, mas não muito diferente, a fim de não despertar maiores suspeitas. Para tanto, escolhera projetar por hipnossugestão a imagem de um seu antigo professor de Geografia do Ensino Médio, no Brasil, de nome Lino Tadeu de Oliveira Pires, e que, tal como ele, era um judeu sefaradita de ascendência hispano-portuguesa. Mas não podia sugestionar psiquicamente uma grande multidão. Todos os demais alunos da sala 2-I, que não tinham ligação com o "harém" de Tsukune, viram o real aspecto de Pires-sensei, ou Abrahams-sensei, sem disfarce.

"Nada mal para uma primeira aula", refletiu Cyrus, enquanto recitava o Ana Bekoach em voz baixa (quase num sussurro) e dava sete voltas na sala, meditando visualmente nas sequências de letras hebraicas da poderosa oração cabalística. Simultaneamente, visualizou a "Chama Trina", composta de três raios ou chamas, rosa, dourada e azul, representando o amor universal, a sabedoria espiritual e o poder divino, respectivamente, vibrando no imo de seu coração, qual flor tríplice ou cálice. Deixou que as três chamas, rosa, dourada e azul, se expandissem até formar um campo de força ao redor de seu corpo e preenchessem todo o recinto onde se achava, depois se alastrando por toda a escola. Posteriormente visualizou em particular Tsukune e suas companheiras imersos nas energias das chamas, rosa, dourada e azul, respectivamente. Amalgamou a labareda cor-de-rosa com a azul para formar a Chama Violeta, consumidora de toda a carga deletéria negativa e cármica acumulada, mantendo a labareda dourada sobre a própria cabeça. Enquanto pronunciava as orações em hebraico e aramaico, em voz baixa, "fazendo o ouvido ouvir as palavras", imaginou essa chama violeta a expandir-se até abarcar toda a sala, depois todas as salas e corredores do prédio, todos os prédios do campus e, enfim, os arredores da academia e as localidades externas, inclusive os dormitórios, transmutando e limpando aquela psicosfera trevosa. Também imaginou ver Tsukune, Moka, Kurumu, Yukari e Mizore envolvidos pela esfera chamejante de luz violeta, emitindo-lhes os melhores pensenes de amor e amizade e harmonia. Por fim, imaginou-se envolto na Chama Branca Cristal, uma grande bola de luz branca, que se expandia englobando todos os seres da Academia Youkai.

E recitou o Shemá Israel, a prece básica da fé judaica, cobrindo os olhos com a mão direita cujos dedos formavam a palavra Shadday, "Todo-Poderoso", fazendo com o indicador, médio e anular a forma da letra shin, dobrando o polegar na forma da letra daled e o dedo mínimo em forma de yod. - Ouve, Israel, o Eterno, nosso Deus, é UM.

Terminada a reza, Cyrus retirou meticulosamente os tefilin - primeiro desatando o da mão, em seguida retirando o da cabeça com a mão esquerda e, por fim, desenrolando a tira que envolvia o braço esquerdo - e o talit, guardando-os em bolsas de veludo bordadas. Também retirou a quipá e enfiou-a no bolso. Jogou o blazer sobre o ombro.

- Vamos voltar para a sala dos professores, Mizar - disse ele para o gato branco de pelo comprido, deitado com as patas dianteiras cruzadas sobre uma mesa de madeira rara de Okinawa. Este animal possuía ligações mentais tão fortes com seu dono que se poderia chamá-lo de telepata. Cyrus, por seu turno, sabia o que seu gato queria através do jeito dele fitá-lo ou de miar. Às vezes recebia lampejos de telepatia do amigo peludo de quatro patas.

Tsukune tem a alma de um anjo, Mizar - disse Cyrus, conversando com o gato. - Não lhe faltam pureza e coragem para proteger as amigas, manter a paz na escola, tentar entender os adversários. Ele pensa primeiro nos outros e só depois em si próprio; é um doador nato. Dentro do Clube de Jornalismo, ele é o "quinto elemento" que unifica e dá sentido aos outros quatro, ou seja, Moka, Kurumu, Yukari e Mizore. Ele sabe, mas reluta em se assumir como o líder que deveria ser. Por causa disso, o "pentagrama" não tem a quinta ponta, a ponta superior, virada para cima, porque essa é a função de Tsukune: transformar um harém confuso num pentagrama positivo, ser a "quinta ponta", a que representa o espírito, a consciência, já que Mizore representa a "água", Yukari a "terra", Moka o "fogo" e Kurumu o "ar". Ele nasceu para isso!

E no entanto... Qual a razão do comportamento passivo e pouco másculo dele?

- Por quê? - questionou-se. - A meu ver, esse rapaz carece de um modelo masculino de comportamento. Pai ausente, nada de irmãos, prima dominadora... E todos os seus amigos mais chegados, aqui na Youkai Gakuen, são garotas. - Suspirou e comprimiu os lábios. - Então, se é de um modelo masculino mais afirmativo que o Tsukune-kun precisa, talvez eu tenha que ocupar esse "nicho ecológico".

Deu uma risadinha safada. - Pelo menos, tentar ensiná-lo a não ser tão panaca, mais homem, mais macho. Foi para isso que eu me inseri como termo nesta equação.

"E de preferência, sem virar um Ginei Morioka da vida", ponderou o geógrafo, que já conhecia a fama de mulherengo do youkai-lobo que presidia o Clube de Jornalismo.

- Acorda, Tsukune! - exclamou baixinho. - Porcure o seu lugar. Conheça seu lugar, Tsukune! - O bordão da vampira Ura-Moka, conquanto eivado da arrogância peculiar à sua altiva raça, nunca lhe parecera tão oportuno.

- Iau - Mizar miou para ele, em resposta. Os olhos heterocromáticos do bichano - o direito verde-amarelado e o esquerdo azul - o observavam de forma enigmática, dir-se-ia quase inquisitiva. A cauda cheia varria a superfície da mesa, indo de um lado para outro.

Cyrus riu. - Como? Sinceramente, nem eu sei! Só sei que vou dar um jeito.

Afinal, havia crescido no Brasil. E os brasileiros eram mestres na arte do "jeitinho".

Sem querer, Cyrus Abrahams pensou nos seus próprios relacionamentos amorosos. Seu último affair tinha sido a laguz Kaguyahime Kurayama, uma youkai-pantera negra que também podia se metamorfosear numa gatinha preta. Antes dela houve a bela miko Tsukimisou Kamiyama, uma sacerdotisa guerreira de raros olhos azuis-violeta escuros e poderes espirituais. E ainda Dawn Summers, uma mocinha americana de cabelos cor de mel e grandes olhos azuis amendoados, cujo corpo de menina de catorze anos não passava de um constructo criado por monges para albergar um cúmulo de energia mística capaz de abrir os portais interdimensionais dos Nove Mundos... ou detonar todos eles!

- É, Mizar, o meu ímã para criaturas sobrenaturais do sexo feminino parece não ter mais fim - disse o Professor Abrahams, afagando a cabeça do gato com a mão direita, magneticamente energizando o chacra frontal e o coronário do animal. - É por isso que eu entendo o dilema do Tsukune-kun com as meninas do Clube do Jornal. E é interessante notar que só elas e mais ninguém se apaixonaram pelo Tsukune-kun, dentro ou fora da Youkai; a meu ver, isso mostra bem os laços cármicos que existem entre ele e elas. Será que conseguem superar suas picuinhas emocionais para formar uma "Cadeia de União"?

Apanhou o livro de rezas, guardou numa bolsa enorme de couro lilás que continha as sacolas de veludo com o talit e os tefilin e, pondo a mesma debaixo do braço, com o blazer jogado nos ombros, dirigiu-se para a porta, abriu-a e saiu. Mizar pulou da mesa e seguiu-o célere, passando a trotar ao seu lado, ligeiramente à frente, cauda firme e para cima, parecendo um cachorro. E lá foram eles pelos corredores.


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Notas finais do capítulo

Urântia: se formos dar crédito ao polêmico "Livro de Urântia" (ou "Quinta Revelação"), este seria o nome dado ao nosso planeta (c/todos os seus planos dimensionais ou "mundos" paralelos) nos arquivos cósmicos.
Para quem não sabe, ou não lembra mais, Dawn Summers (interpretada pela jovem e linda atriz Michelle Trachtenberg) era a "pseudoirmã" caçula da caça-vampiros Buffy Summers (Sarah Michelle Gellar), do seriado televisivo "Buffy the Vampire Slayer". Nas séries de fanfics (criadas por mim e por amigos) "Gorkiy" e "Beyond Heaven", é dito que ela (Dawn) e Cyrus tiveram um curto e tórrido caso de amor durante a passagem dele por Sunnydale. Mas isto foi em OUTRA Terra, outra realidade paralela, pois Cyrus Abrahams é um ser humano do NOSSO mundo que conquistou o poder de transitar entre as infinitas dimensões e universos paralelos.
"Cadeia de União": na Maçonaria, dentro de um templo, é um ritual em que as pessoas entrelaçam seus braços formando uma corrente viva de "elos" ou "anéis" que as une fraternalmente, simbolizando uma união perfeita, igual e imutável, sem começo nem fim, não só física mas tb espiritualmente - como se constituíssem um só corpo, uma única pessoa.
A "Anima Nigra de Typhoon" é uma entidade alienígena feita quase que só de energia pura (que eu e meu amigo Alexis Lemos inventamos), um superser coletivo que se fortalece ao absorver as almas de seus adversários. Habita as profundezas do gigantesco megaplaneta Typhoon (um gigante gasosos 30 vezes mais massivo que Júpiter), que orbita a estrela vermelha anã Lalande 21185, distante de nosso Sol apenas 8 anos-luz. Sua influência nefasta se estende por todos os 88 milhões de km do sistema de Typhoon e até mesmo ao espaço interestelar das redondezas. Reverenciado como deus pelos magoldans e pelos governantes de Basha - e temido por todos os demais povos do sistema estelar - , sua ira é terrível: destroi mundos! Ela está inativa, adormecida há milênios, mas...



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