Quando Matt e Mello entraram na sala, o silêncio se fez de imediato. Eu até acharia essa cena interessante, se a situação fosse outra.

Mas não agora.

Como Mello estava aguentando? Fazia três dias já... Ele realmente era impressionante.

Ouvi Corliss chamar Matt da porta pouco depois, e não pude evitar de me perguntar o por que disso.

Nos últimos dias, aquele monitor acabou se tornando bem popular entre o pessoal do orfanato. Os professores, os outros monitores, e principalmente as garotas, gostaram bastante dele e pareceram aprovar seu trabalho por aqui.

Eu até podia entender o motivo; ele era bonito, calmo, tinha presença, e sabia ser autoritário quando necessário.

Parecia que apenas Matt e eu sentíamos algo estranho nele.

...

Bom, talvez Mello também tivesse notado algo, mas acho que ele estava concentrado demais em tentar manter o controle, para pensar mais a fundo sobre isso.

Mas Corliss continuava tentando conversar comigo. Eu não conseguia entender o por quê, afinal, a maior parte do orfanato ficaria extremamente satisfeita em manter uma longa conversa com o monitor de olhos verdes charmoso e atraente, e eu apenas respondia à ele com monossílabos. Isso quando eu respondia.

Era diferente das outras vezes em que algum professor ou monitor tentava se aproximar de mim; eles sempre desistiam quando eu os ignorava por um tempo.

Mas Corliss continuava tentando.

E o que será que ele quer com Matt agora?

Matt olhou preocupado para Mello antes de enfim seguir o monitor para fora da sala de aula.

Eu queria falar com Mello, tentar conversar um pouco com ele, mas isso não era exatamente a ação mais sensata de se praticar no momento. Matt disse que por algum motivo, ele agora estava se recusando a desobedecer Roger, e eu gostaria muito de descobrir esse motivo.

Mas eu acho que ele conseguirá aguentar essa semana inteira, realmente acho. Se ele decidiu, então ele vai conseguir. Claro que podiam haver alguns ossos quebrados e rostos inchados espalhados pelo orfanato durante esse tempo, mas ele ia conseguir.

O professor entrou na sala, e como ontem, pareceu ficar um pouco desconsertado ao chegar e não ver necessidade de mandar fazer silêncio.

Cortesia do Mello.

– Ahn... - o professor começou - Hoje eu tenho um aviso para dar à vocês - novamente ele encarou surpreso os alunos, provavelmente estranhando ninguém o ter interrompido ainda. Oras, não era porque todos aqui eram prodígios em algo, que todos eram comportados e respeitosos. Era um orfanato para superdotados, e não uma academia militar - Amanhã nós iremos à cidade.

Mais silêncio.

– Eu achei que seria uma boa idéia, para seus estudos de História, se nós visitássemos a Catedral de Winchester - ele prosseguiu. Mas justamente quando ele estava tomando confiança com aquele silêncio incomum, Matt entrou na sala. Nem fez barulho ao entrar, mas no ambiente de agora, foi o bastante para interromper.

– Matt, você está atrasado - ralhou o professor, parecendo feliz por ter um motivo para chamar a atenção de algum aluno.

– Notei -Matt resmungou, mas eu acho que o professor não ouviu.

– Pois eu estava falando que amanhã nós iremos visitar a Catedral de Winchester - acho que Matt resmungou algo parecido com "Uhu, que divertido", mas não tenho certeza - Sairemos logo após o almoço, então estejam prontos, está certo?

Ninguém se manifestou.

Acho bom ele não se acostumar com toda essa disciplina, porque muito provavelmente ela só irá durar essa semana.

Mas... O que Corliss tinha dito para deixar Matt daquele jeito? Eram muito raras as vezes em que eu o via irritado...

O que será que foi?