Eu estaria mentindo se disesse que não fiquei surpreso quando Mello se foi sem fazer nada comigo.

 Toda vez que me encontrava, ele fazia algo, nem que fosse um simples empurrão. Era quase como um cumprimento pessoal.

 Mas... Ele estava com um brilho estranho no olhar agora. O que será que ele pretendia fazer?

 E o que será que o Corliss falou para o Matt? Eu queria tanto saber...

Eu não entendo por que nós precisamos ir até a cidade para escrever sobre aquele lugar. Quero dizer, todas as informações necessárias e todas as imagens da catedral estão disponíveis na biblioteca do orfanato.

 Talvez a rara oportunidade de sair um pouco da Wammy's seja motivo de alegria para a maioria, mas pessoalmente, eu preferiria ter ficado. Aquela ida ao nosso objeto de estudo era deveras cansativa e, na minha opinião, completamente desnecessária. Poderíamos nos virar muito bem com os livros e as fotos.

 Andei por todo o lugar, fazendo anotações ocasionais sobre a arquitetura, e após alguns minutos sentei no chão e comecei a escrever mais longamente.

 A Catedral de Winchester é uma das maiores da Inglaterra; a construção se iniciou por volta do século XI, prolongando-se até o século XVI, sendo que sua base foi um mosteiro beneditino fundado no ano de 642. O lugar serviu de local de descanso de diversos reis ingleses antigos, além de aqui também ser onde Eduard, o Confessor, o penúltimo rei saxão, foi coroado e onde Maria I, da Inglaterra, casou-se com Filipe II, da Espanha.

 Agora me digam: qual dessas informações não têm em um livro?

 Mas uma coisa eu tinha que admitir: era lindo!

 Sempre apreciei a arquitetura gótica, e essa construção foi um dos locais onde ela foi explorada da melhor forma possível.

 Bom, tinha que ser bonito mesmo, afinal, ela levou praticamente cinco séculos pra ser construída!

 Quando percebi, não tinha mais ninguém dentro da catedral, apenas... Matt continuava aqui.

 Levantei e fui até ele.

 - Já terminou, Matt? - perguntei lançando um rápido olhar para o caderno dele.

 Eu sei muito bem que o Matt só está em terceiro lugar na Wammy's por causa do Mello. Se ele se esforçasse, poderia com certeza ficar em uma posição melhor.

 Mas nunca pareceu que ele ligasse para isso.

 - Quase. Só falta eu escrever um pouco sobre os esqueletos famosos que estão aqui - ele respondeu indo um pouco para o lado, dando espaço para eu me sentar no banco.

 Passamos alguns minutos em silêncio, mas não existia qualquer necessidade de tentar quebrá-lo. Era um silêncio... Confortável.

 Estremeci um pouco com o vento gelado que entrava e batia em nós. Foi bem de leve, mas Matt percebeu.

 - Está com frio? - ele perguntou, e eu me apressei em responder que não.

 Mas ele não acreditou em mim. Tirou seu casaco e o colocou em cima de mim sorrindo.

 Eu o estava vestindo quando o sorriso dele sumiu.

 Eu teria gritado, eu queria ter gritado, eu deveria ter gritado, mas meu corpo não me obedecia, e eu nem ao menos conseguia juntar ar suficiente para formular um grito.

 Tudo o que consegui foi observar chocado Alex Corliss retirar a ponta de uma seringa do pescoço de Matt e após isso, observar com igual choque Matt caindo, impedido de atingir o chão pelo encosto do banco da frente.

 - Shiuu - Corliss fez baixo colocando o indicador nos lábios, sorrindo.

 Seu lábio inferior estava cortado e seus olhos verdes me encaravam e me engolfavam de uma maneira assustadora.

 Ainda não conseguia me mover, e sem, vergonhosamente admito, oferecer resistência alguma, observei Corliss pegar mais uma seringa e senti ela sendo enfiada em meu pescoço.

 Caí também.