Á Sua Procura escrita por HopeL


Capítulo 2
I. Apenas Viva


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu não coloquei antes, mas vou colocar agora: Essa é um short-fic, bem curtinha (cinco capítulos, algo assim). Espero que estejam curtindo.



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Isabella PDV

Era o fim, eu sabia disso e não havia como evitar… eu estava morrendo.

- Você pode ir para casa Isabella. – meu medico disse.

- Posso? – perguntei surpresa.

- Não há mais nada que possamos fazer por você aqui. Você será mais feliz passando esse tempo em casa. – ele me respondeu serenamente.

- Três meses? – indaguei segurando as lágrimas.

- Mais ou menos isso minha querida. – ele tocou minha mão.

- Obrigada. – disse antes de ele sair e me deixar sozinha no quarto.

Fitei o teto do quarto branco onde eu estava a quase seis meses, e não pude evitar a lembrança do dia em que as coisas mudaram, mudando meu destino e me trazendo para esse lugar.

“Eu estava no parque com meu irmãozinho Pedro, nós brincávamos embaixo de um grande carvalho e ele corria atrás de mim, quando de repente tudo ficou borrado em minha visão, eu não conseguia ver mais nada, e o ar não vinha mais e eu me sentia cair.

- Isabella? – ainda ouvi a voz de meu irmão chamar, mas eu não conseguia responder, eu não tinha mais voz, eu estava desmaiando.”

Quando abri meus olhos eu estava nesse quarto. No inicio seria rápido, eu só entraria e tomaria um pouco de soro, esperaria meu organismo melhorar e voltaria para casa. Mas uma semana se tornou duas, três… e agora seis meses.

Um simples desmaio se tornou algo muito mais grave que eu só fui ficar sabendo dias antes, junto com a notícia de que eu tinha apenas três meses de vida… eu tinha câncer, não em apenas um lugar do corpo, já era uma metástase, se espalhara por meu corpo todo e não havia mais salvação. Começara no pulmão, uma pequena célula que em semanas se espalhara por todo o órgão e em mais algumas semanas se espalhara para vários outros.

Era tudo tão absurdo, como alguém de vinte anos estaria morrendo assim? Mas eu estava, de garota saudável eu passei a moribunda em dias, e vi minha família morrendo comigo.

- O que eu vou fazer vendo meu fim se aproximar? – perguntei a mim mesma em voz alta.

- Apenas viva. – a voz de meu anjo soou pelo quarto.

Pode parecer loucura, mas ele me salvava, uma voz que não tinha corpo me salvava de não morrer por dentro, eu me mantinha viva para poder tê-la perto de mim. Eu não conhecia o rosto do anjo que me ajudava, mas não era preciso, só por ele estar ao meu lado já era o suficiente, era apenas o que eu precisava.

Eu nem sabia ao certo se era um anjo, ou se era apenas minha consciência, me mantendo forte e me fazendo seguir em frente, eu só sabia que eu estava satisfeita por não perder a lógica, continuar racional, mesmo ouvindo vozes, eu sabia que não enlouqueceria.

Suspirei pesadamente ao ver meu pai entrar no quarto com a cadeira de rodas.

- Eu preciso mesmo disso? – perguntei, visivelmente triste.

- Sim meu amor, você está muito fraca, o certo seria ficar aqui, mas a queremos em casa, perto de sua família. – minha mãe respondeu e beijou minha testa, ela estava esgotada. Seu rosto era cor creme, com olhos castanhos, que costumavam ser vivos, mas no momento estavam parados e sem brilho, junto com a palidez que a tomava.

- Ei, eu estou feliz, quero que vocês fiquem felizes também. – falei tocando seu rosto e beijando sua mão.

- Nós vamos ficar meu amor, porque você está feliz. – ela disse deixando as lágrimas escaparem.

- Vai dar tudo certo. – a confortei.

Eu estava incrivelmente controlada diante de tudo o que acontecia, nem se podia dizer controlada, mas sim conformada. Não havia como mudar o futuro, então o que me restava era seguir vivendo o presente, como se eu não corresse o risco de morrer a qualquer momento.

Eu passava pelas portas dos quartos do hospital onde havia pessoas como, ou pior do que eu.

Olhei cada uma das pessoas que eu havia convivido durante tanto tempo, meus amigos, era isso que eles eram agora, pessoas que partilhavam minha dor comigo.

- Papai, espere. – pedi diante da porta 171, que estava fechada.

- Ela deve estar dormindo. – meu pai disse.

- Vovó Judith gostaria que eu me despedisse dela. – disse pausadamente me levantando, com dificuldade, da cadeira e caminhando até a porta.

- Entre. – a voz fraca respondeu a minhas batidas na porta.

- Oi vovó. – falei colocando a cabeça para dentro do quarto.

Dona Judith foi a primeira pessoa que conversou comigo quando eu cheguei aqui, quando não aceitava falar com ninguém ela entrou pela porta do meu quarto e me contou sua historia, mesmo eu fingindo não ouvir, e desde então ela se tornou minha avó de coração. Uma mulher que tinha membros curtos e bochechas rechonchudas, rodeadas por cabelo quase todo branco, como toda a avó deveria parecer, eu não sabia, não tinha avós. Ela tinha câncer nos ossos, e seu único filho morava longe demais, não tendo muitas chances de visitá-la, então nós, que estávamos internados, éramos sua família.

- Oi minha querida, o que faz aqui? – ela sorriu calorosamente para mim.

- Estou indo para casa vovó, vim dizer adeus. – me aproximei de sua cama e toquei sua frágil mão, ela não podia se mexer muito em conseqüência da doença.

- Adeus não minha querida, apenas até logo. Quando nos reencontramos lá no céu eu ainda serei sua vovó. – levantou a mão com dificuldade e tocou meu rosto, as lágrimas banharam minhas bochechas.

- Você não vai morrer tão cedo, e saiba que eu vou cuidar de você lá de cima. – falei com dificuldade.

- Oh minha querida, queria ter toda a sua força. – ela disse.

- Eu te amo vovó. – sussurrei entre as lágrimas.

- Também te amo minha querida, nunca se esqueça disso. – beijei sua bochecha e sai do quarto, meu pai me impediu de cair logo que pisei no corredor.

- Está bem? – ele estava preocupado.

- Estou. – disse me sentando na cadeira, olhando mais uma vez para o quarto 171, antes de seguir em frente, para minha casa que eu nem sabia se era minha, ou se eu havia me tornado uma estranha em meu lar.

Meu pai estacionou o carro na garagem e veio até minha porta para me ajudar a sair, olhei as paredes descascando e as bicicletas penduradas ao fundo…

“Era aqui que eu cresci?” perguntei a mim mesma varias vezes.

Eu não reconhecia minha própria vida, fazia tanto tempo que não a estava vivendo que ela se tornou quase um sonho ao invés de realidade.

- Está em casa querida. – meu pai disse enquanto entravamos na cozinha.

Sim, era minha casa, mas mesmo assim eu me sentia uma estranha ali, eu não me conhecia mais há tanto tempo, e agora tinha tão pouco tempo para me reencontrar.

- Onde está Pedro? – perguntei.

Fazia quase duas semanas que eu não via meu irmão, meu pai não gostava de levá-lo ao hospital, e eu, mesmo morrendo de saudades, concordava com sua opinião, crianças não devem freqüentar um lugar tão triste.

- Está na escola minha querida, ele está com muitas saudades. – minha mãe disse, só então olhei o relógio em cima da geladeira, 15:30, ele estava quase saindo.

- Papai, posso ir buscá-lo com você? – perguntei.

Fazia tanto tempo que eu não via animação, a doença me fez largar a faculdade de biologia que eu fazia, não via meus amigos há tanto tempo, e estava com tantas saudades de meu irmão.

- Claro. – meu pai sorriu e me ajudou a voltar para o carro.

Enquanto ele dirigia, eu fitava a paisagem… Por que tudo parecia tão bonito agora? Por que antes eu não via a beleza das arvores, das flores, dos pássaros? Por que antes, quando eu podia, eu não quis um cachorro? Por que quando não se tem mais tempo… se vê o quanto você ainda quer fazer e não fez?

Senti as lágrimas tomando meus olhos, eu perdi tudo, e não tinha mais como recuperar… só podia seguir durante esses três meses aproveitando o que me restava.

- Minha querida, Pedro vai se assustar ao vê-la assim… - meu pai tocou meu braço.

Respirei profundamente e sequei meu rosto.

- Eu estou bem, quero ir lá dentro, buscá-lo…

- Tem certeza?

- Tenho. – respondi abrindo a porta do carro e sentindo depois de tanto tempo o sol e o vento tocando minha pele, como eu sentia falta daquilo.

Caminhei dentro do colégio, procurando meu irmão, e nossos olhos da mesma cor pareceram se grudar como dois imãs.

- Isa? – ele falou, piscando duas vezes, estávamos longe, mas mesmo assim eu já podia sentir o quão falta ele me fazia.

- Oi. – disse com os lábios.

- ISA. – ele gritou e correu até mim se jogando em meus braços, lutei contra meu corpo fraco para ficar de pé.

- Olá meu amor. – me agachei e o abracei.

- Isa, estava morrendo de saudades. – ele se afastou para olhar meu rosto e vi que chorava.

- Não chore meu amor, eu estou aqui agora… - falei alisando seus cabelos pretos.

Ele tinha apenas onze anos, era tão jovem, como lidaria com a minha morte, como Deus me deixaria partir sem cuidar dele? Por que isso estava acontecendo comigo.

- Não vai mais para o hospital? – ele perguntou.

- Não meu bem, vou ficar em casa agora. – disse sentindo um nó em minha garganta.

O abracei forte por algum tempo até me levantar pegar sua mãozinha e guiá-lo até o carro dando um pequeno aceno para sua professora.

A viagem para casa foi silenciosa, mas nem sequer por um minuto Pedro soltou de minha mão.

Eu voltei a olhar a paisagem. O parque que eu brincava quando era criança, a praça onde eu dei o primeiro beijo no meu primeiro namorado, a rua sem saída onde eu aprendi a andar de bicicleta. Lembranças. Lembranças de uma época em que eu pensava que havia muito tempo, que eu não precisava apressar momentos, porque toda uma vida se estendia diante de meus pés. O que acabou se tornando mentira, não havia mais tempo, não havia mais futuro, muito menos vida.

Quando eu descia do carro ouvi gritos vindos da casa vizinha.

- EU QUERO MORRER. – um rapaz gritou.

- Como pode falar isso meu filho? – uma mulher mais velha disse.

- Minha vida é um inferno. – ele respondeu e logo um baque muito alto soou, uma porta batendo.

Não havia percebido que chorava até sentir meu pai me abraçar.

- Por que não me dão a vida dele? Já que ele não quer… - falei com a voz abafada pela camisa de botões de Afonso, meu pai.

- Querida, Deus escreve certo pro linhas tortas… cada um tem seu destino. – ele alisou meu cabelo, e eu chorei em silencio encostada em seu peito.

- Não entendo, eu tento aceitar, tento entender, mas não consigo… tudo o que eu queria era poder viver. – disse entre soluços.

- Eu queria poder dar a minha vida a você. – meu pai disse me apertando mais forte contra seu peito.

Eu já chorava incontrolavelmente, mesmo com Pedro ali, alisando meu braço, eu não conseguia me controlar, eu tentava ser forte, mas às vezes vacilava e me derretia em lagrimas que não ajudavam em nada.

- Vai dar tudo certo. – disse mais a mim mesma do que a eles.

- Nós sabemos minha querida, sabemos disso. – meu pai disse contra meu cabelo.

Edward PDV

Como continuar uma vida assim? Eu não agüentava mais, a cada segundo eu chamava mais uma morte que nunca vinha, eu nunca teria meu pedido atendido?

Olhei mais uma vez o rosto de minha mãe, ela era tão jovem, por que estava condenada a ser tão infeliz? Meu pai não a merecia.

- EU QUERO MORRER. – gritei a ela, não agüentava mais aquilo tudo, queria paz, uma vida, não aquilo que eu tinha…

- Como pode falar isso meu filho? – ela soou magoada, sabia que ela não tinha culpa nenhuma. Toda a culpa era de Pietro, aquele viciado que estava acabando com nossa vida.

- Minha vida é um inferno. – respondi, saindo pela porta e a batendo com força.

Corri pelos fundos da casa e pulei o muro em direção ao terreno baldio. Tudo era culpa dele, aquele irresponsável que estava acabando com nossa vida por culpa de seu vicio, ele queria nos matar… mas na verdade, eu queria morrer.

Se fosse para viver assim, sim, eu queria morrer.

Há seis anos não tínhamos vida, sempre nós mudando, sempre fugindo… salvando uma vida que não merece ser salva.

Raphaela, minha mãe, sempre tão boa, tão amorosa, por que ela ainda agüentava? Por que não se libertava? Por que não nos libertava?

Caminhei rápido, subindo o morro, eu precisava pensar, precisava esquecer aquela vida… se é que se pode chamar de vida.

Cheguei ao topo e me sentei debaixo da macieira que ali havia, ali eu me sentia bem, me sentia livre e em paz.

Passei a mão pelo tronco e alisei mais uma vez o nome que havia marcado ali. “Isa”, quem seria a garota que gostava deste santuário tanto quanto eu.

Meu celular tocou, o peguei e olhei o visor: “Pietro”.

- Morra. – disse em voz alta, desligando o celular e jogando-o para longe.

Nós éramos tão felizes, há seis anos nada tiraria de nossa família o titulo de “Família Perfeita” e agora isso. Estávamos morrendo vivos, e não havia como salvar, não havia nada o que salvar, não havia salvação para o fim.

Culpa do baralho, se Pietro não começasse a jogar, se não tivesse perdido tudo, nós estaríamos bem, mas não… ele perdeu tudo e agora fugíamos pelo mundo, para não morrer nas mãos dos agiotas a quem ele devia.

Eu tentava de alguma forma conservar o que sentia por Pietro, mas nem meu pai ele parecia mais.

- Por que isso está acontecendo comigo? – perguntei ao ar que bagunçava meus cabelos cor de bronze, senti meus olhos verdes arderem de lágrimas.

Eu só tinha vinte anos, não estava preparado para isso, não estava pronto para segurar essa barra.

- Por que uma vida só para sofrer? – perguntei mais uma vez ao ar, tentando entender o que eu havia feito de errado.

Respirei o ar puro por um longo tempo, mas a noite já se aproximava e eu não podia ficar ali, era perigoso, ainda mais com as novas dividas que Pietro adquirira nessas ultimas semanas.

Me levantei e olhei mais uma vez a árvore que havia sido meu porto seguro desde que cheguei aqui, seis meses atrás.

Aquilo parecia um bairro feliz, mas na verdade não era, eu não conseguia ver a felicidade que eu via em Londres, pareciam que todos estavam morrendo, meus vizinhos principalmente, eram uma família tão infeliz, às vezes os via mais infelizes do que eu era.

- Edward? – a voz soou esbaforida.

- O que foi Tifany? – perguntei a minha irmã mais nova.

- Como consegue subir aqui… ai meus pulmões. – ela reclamou e eu não consegui evitar sorrir.

- Você é sedentária. – disse a ela.

Ela ficou em silencio por um longo tempo, parecendo observar a paisagem banhada pelo fim do dia.

- Volta… - pediu baixo sem se aproximar de mim.

- Eu vou… - sussurrei.

- Quando? – ela pareceu esperançosa.

- Não sei. – sussurrei e pude sentir sua esperança sumir, mesmo sem olhá-la.

- Nós precisamos de você, Caroline está te procurando também, mas eu sabia que estaria aqui. – sussurrou.

- Oh, Caroline está perdendo seu precioso tempo comigo? – falei sarcasticamente.

- Ela também é sua irmã Edward. – Tifany me repreendeu.

- Ela é uma vadia. – rebati.

- Eu não tive escolha. – a voz de Caroline soou ao findo.

- Não teve? – indaguei ainda fitando o horizonte. – Vende seu corpo por que não teve escolha? – ri de forma amarga.

- Precisamos do dinheiro. – ela quase gritou e eu podia sentir a raiva em sua voz.

- Por que só eu vejo de quem é a culpa? Por que só eu vejo que Pietro é o vilão dessa historia medíocre? – me levantei e encarei os olhos azuis de minha irmã mais velha.

- ELE È NOSSO PAI! – ela falou raivosamente.

- NÃO! Ele é seu pai. - disse por fim lhe dando as costas e começando a descer o morro.

Elas não vieram atrás de mim, o que me deu um alívio gigantesco, eu queria pensar, longe de tudo e de todos que me conhecessem, longe da minha vida.

Queria ver o que eu devia fazer… suicido? Não queria causar mais dor a minha mãe, ela não merecia.

Caminhei pelas ruas desertas daquele bairro de classe média, sem querer pensar, mas pensando de qualquer maneira. Nós não estávamos realmente falidos, mas o dinheiro era pouco o que nos deixava em apuros. Nada que justificasse o fato de minha irmã virar uma prostituta.

Mas ninguém se importava, é obvio, só queriam que a família continuasse “unida”. Tantas vezes eu já havia pensado em fugir, ir embora e deixá-los para trás, como um passado a ser esquecido, mas eu não conseguia, apesar de tudo amava minha mãe e minhas irmãs mais do que a minha própria vida, e sentia-me no dever de defendê-las.

Só depois de algumas horas lembrei-me que meu celular estava jogado ao lado do morro, eu precisava subir para buscá-lo, não pretendia ter que comprar outro.

Lembrei-me do meu fundo para a faculdade, estava guardado, me esperando, junto com a vaga em Harvard para estudar arquitetura, mais sonhos que eu abandonei.

Abandonei pela viu necessidade de fugir de três em três meses para lugares diferentes do mundo, para salvar a minha vida, que muitas vezes eu pensava não valer à pena. No que eu era diferente de Pietro afinal? Só por que eu não jogava nem devia para ninguém? Eu era medíocre e covarde, não era capaz de denunciá-lo para a polícia, pelo simples fato de ser meu pai.

Mas varias vezes que eu pensava nisso, me vinha à cabeça se eu receberia o perdão de minha mãe, algo que eu não tinha certeza. Caroline e Tifany eu sabia que não me perdoaria nunca, mas eu merecia perdão? Outra duvida.

Peguei meu celular e mais uma vez olhei o céu estrelado que banhava aquela cidade. Era belíssimo, pelo menos havia beleza em algum lugar do mundo, algumas pessoas eram felizes, o que, eu acho, compensava minha dor.

Acabei passando a noite ali, longe de tudo o que me perturbava, acordei com o som dos pássaros cantando, anunciando um novo dia, e involuntariamente a natureza me fez sorrir.

Isabella PDV

Era por volta das sete quando eu subi as escadas com dificuldade em direção ao meu quarto, meus horários haviam se adaptado ao hospital, e depois de tanto tempo não conseguia mudá-los facilmente.

Eu parecia ter que me adaptar a minha própria casa, e naquela tarde pensei diversas vezes em voltar para o hospital, não dar mais trabalho do que já dava aos meus pais… mas a perspectiva de ficar longe de meu irmão era terrível demais.

Era por volta das dez quando eu desci novamente as escadas atrás de um copo d’água quando ouvi a conversa de meus pais na cozinha.

- O que eu vou fazer Afonso? – minha mãe perguntou segurando o choro.

- Não vai, Clarissa, nós vamos fazê-la feliz nestas ultimas semanas… - meu pai respondeu e pareceu a abraçar.

- Por que Deus a está tirando de mim? Lembro-me de quando a peguei nos braços pela primeira vez… não consigo aceitar isso… - minha mãe soluçou.

Senti meu peito apertar diante de seu desespero, eu não queria vê-los passar por isso, eles não mereciam, ninguém merecia, o que eu estava passando… minha vida estava sendo arrancada e eu nem tinha direito de salva-la.

Subi as escadas novamente, não querendo olhá-los, já era difícil sentir a minha dor, mas sentir a deles também me matava aos poucos, eu queria acabar com aquilo, nem que fosse morrendo… mas acabar com o pouco tempo que me restava antes de vivê-lo só os magoaria mais.

Suspirei e subi as escadas novamente, eu não sentia mais vontade de nada, só queria me enterrar em um buraco e acabar de espalhar sofrimento pelo mundo, mas eu não via como.

Acordei pela manha, assustada pelo sol que entrava pela janela do meu quarto, fazia tanto tempo que isso não acontecia. Fitei as paredes cor de rosa, cheia de prateleiras com ursos e fotos, era tudo tão feliz, não combinava com nada do que eu sentia por dentro.

Sentei-me em minha cama e senti meus olhos se encherem de lágrimas, como eu iria lidar com aquilo, no hospital as coisas eram mais fáceis, eu não via a dor na face de meus pais como via agora, eles se faziam de fortes, tentando me apoiar, mas agora, me esgueirando pelos cantos, eu via o que estava fazendo com eles.

Suspirei e sequei minhas lágrimas, encarei o espelho de corpo inteiro atrás da porta, não pude deixar de ver o quão mal eu estava, muito magra, com olheiras grandes, uma expressão quase morta.

Ainda tinha os meus cabelos negros, meu medico disse que no estagio em que eu estava às quimioterapias só me fariam sofrer mais, não havia nada mais o que fazer, eu era um caso perdido.

- Isabella? – a voz de Pedro soou a minha porta.

- Entra. – disse com um sorriso.

Ele abriu a porta sorridente, mas seu sorriso sumiu assim que fitou meus olhos.

- Você está triste? – sua voz era infantil, mas da mesma forma adulta.

- Não meu querido. – disse caminhando até a cama e o chamando para sentar-se ao meu lado.

- Então por que está chorando? – ele disse se sentando e encostando a cabeça em meu braço.

Passei minha mão por seus cabelos, ele era tão parecido comigo, só que muito mais forte do que eu jamais fora, sempre fui mimada e superficial, mudei muito em pouco tempo.

- Não estava chorando, era apenas um cisco. – falei baixinho ainda acariciando sua cabeça.

- Minha professora disse que cisco não faz a gente chorar. – ele falou.

- Alguns fazem meu bem. – disse a ele.

Me arrumei na cama e o deitei em meu colo, ficamos lá por algum tempo, apreciando o momento de irmãos que não acontecia a tanto tempo.


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Notas finais do capítulo

Semana que vem, provavelmente quarta eu posto mais!
Sigam: http://mannyhope.blogspot.com/

Beijos, Hope Lavelle.