“O primeiro dia do amor nunca retorna,

Um momento apaixonado nunca é desperdiçado

O violino, a mão do poeta,

Todo coração descongelando toca a sua canção com cuidado.”

            O jogo estava ficando mais difícil, peças teriam que ser eliminadas... peças que poderiam mudar a vida de ambos completamente.

oOo

            A brisa da manhã invadia a grande mansão através das janelas e das portas abertas. Um novo dia em Paris se manifestava através do canto dos pássaros e do brilho intenso do sol. Os criados faziam suas tarefas como sempre, a não ser por uma individualidade. Naquela manhã, Isabella estava em seu piano tocando uma linda canção, porém apesar de ser uma linda melodia era triste, tentando demonstrar que dentro de si havia uma batalha.

Isabella nunca pensou que pudesse se sentir tão aflita como atualmente. Metade de um mês se passara e sentia que a cada dia sua alma se partia em algum ponto que não sabia definir o motivo.

Talvez fosse o fato de sua vida não valer nem um segundo a pena ou o fato de a cada dia se sentir mais suja, sendo duas pessoas, enganando a todos.

            Enganando a si própria.

Sua mente vagava longe em cada nota que dedilhava em seu piano, as lembranças vinham a tona, seus medos, tudo aquilo que jamais imaginou que um dia seria capaz de suportar.

Quando entrou na vida, nunca imaginou que não conseguiria carregar um fardo como aquele. No começo foi divertido... conheceu muitos homens... ganhou muito dinheiro... teve uma diversão que não lhe parecia ser falsa.

            Mas o tempo passava e com isso sentia que o fardo estava cada vez mais pesado.

            Quatro meses passaram desde que Edward Cullen cruzara seu caminho, parecia que ele tinha tornado as coisas tão difíceis.

A brisa da manhã inundou sua face como se a tocasse e se sentisse leve, mas por fim agora não era tempo de sentir remorso ou algo do tipo, era tempo de ser feliz, de ser a melhor... de ser a mulher mais bonita e desejada de Paris.

E não foi com muito tempo que preparara um show magnífico para aquela noite. Precisava esquecer-se de todos aqueles momentos que passara com aquele Conde e necessitava se concentrar em um de seus objetivos.

            Lorde Denali havia voltado de sua viagem e esperava encontrar Lady Lestrange... já havia dito que se não a encontrasse as coisas poderiam ficar ruins para o Moulin Rouge e as pessoas que ali habitavam.

            Ninguém nunca soubera, mas Lorde Denali era o investidor mais poderoso daquela casa de perdição. E a única coisa que o fazia ser o investidor daquele lugar era poder ter Lady Lestrange e um dia, descobrir quem estava por trás daquela máscara.

            Isabella fechou os olhos por um momento e uma lágrima desceu de seus olhos... se pudesse voltar no tempo e não ter entrado naquela vida... se pudesse ao menos voltar ao ventre de sua mãe e nascer novamente.

            Mas a vida não era fácil pra ninguém e por isso deixou que seus pensamentos voassem para longe de si e voltou seu pensamento para o grande espetáculo que preparava esta noite, fazia tempos que não apresentava algo digno de seu grande talento.

~~

            Alice preparava as pompas para o grande show que Sophie preparou para os meros mortais que frequentavam o Moulin Rouge.

            - Mais a frente Janice, aqui está um pouco fora de ângulo... Nossa Lady precisa ser bem iluminada por todos os ângulos! – disse Alice enquanto a jovem colocava algumas bolas de cristal que ajudavam na iluminação.

            Uma jovem novata olhou aquilo como se fosse um exagero. A tal da Lady Lestrange não precisava de tudo aquilo, era mais uma dançarina igual a elas.

            - Para quê tudo isto? Para apenas uma dançarina? – resmungou a jovem.

            As outras moças ficaram em silêncio enquanto viam o sangue de Alice subir. Alice encarou a jovem de olhos azuis oceano e se aproximou lentamente. – Creio que não devas dizer algo desse feitio entre nós, afinal... a senhorita está sobre proteção de Lady Lestrange... acho que não deveria se esquecer que a qualquer momento ela pode coloca-la porta a fora, minha querida...

            A jovem engoliu em seco e revirou os olhos, sua inveja parecia transpassar sua pele.

            - Eu só deixei transparecer minha opinião...

            Alice a cortou – A única que deve ter opinião em alguma coisa aqui, é a Lady Lestrange! Espero que esteja entendido e que senhorita não venha nos dar problemas...

            As bochechas da moça queimaram de tão vermelhas que ficaram, era difícil alguém levar uma bronca de Alice, a moça era tão quieta e brincalhona que as vezes parecia impossível alguém tirá-la do sério.       Mas isso acontecia, principalmente quando alguém ousava dizer algo referente à Lady Lestrange.

~~

            - As noticias que tenho são boas, meu caro, Lady Lestrange está preparando uma grande estréia para esta noite... soube que será algo marcante – Emmett dizia enquanto sentava-se em uma poltrona perto de Edward – Mas me diga, está tão desapercebido ultimamente... algum problema com as negociações com meu cunhado?

            Edward fez uma careta ao ouvir a palavra “cunhado” mas ignorou.

- Não, com ele está tudo certo... eu creio.

Emmett sorriu – Então voltará para Londres no final do mês? – perguntou

            Edward respirou fundo e desviou seu olhar para a janela – Sim Emmett, voltarei para Londres assim que terminar com Marcus Windsor.

            O jovem suspirou e continuou pensativo, sem nem ao menos dar bola para as baboseiras que Emmett estava lhe falando. Tudo o que conseguia pensar era em sua Isabella, em como a deixaria nas mãos daquele marginal denominado “marido” que só sabia maltrata-la e fazer dela como se fosse algum objeto.

            Por Deus, porque estava com aqueles pensamentos? Ela nem ligava para sua existência e queria mesmo é que fosse embora de uma vez por todas, ela mesma dissera.

            Haviam tantas perguntas que Edward não sabia responder, não sabia nem que aquilo que sentia por aquela mulher lhe traria consequências graves e irremediáveis.

            Mas por não ser qualquer homem, colocou em sua cabeça que aqueles dias que lhe restavam na cidade de Paris deveriam ser diferentes e não monótonos como estavam sendo. Faria de tudo para descobrir o que verdadeiramente nutria por Isabella e talvez pudesse voltar para Londres sossegado, sabendo o que sentia por aquela mulher e que aquela seria mais uma que ficaria em sua memória.

~~~

            - Sabe já estamos conversando por mais de uma hora e a senhorita ainda não me disse o que está fazendo na cidade com essa chuva irritante... – Jasper disse enquanto dirigia seu olhar à jovem Alice.

            A jovem sorriu envergonhada – Eu vim comprar algumas coisas... – disse tentando disfarçar seu nervosismo. – Mas agora eu tenho que ir... estão me esperando e não posso me demorar!

            Alice saiu em disparada de encontro com as jovens que trouxera consigo para comprar algumas coisas que faltavam no Moulin Rouge. Jasper, apesar da aparência jovem e infantil não era nenhuma criança tola que acredita em tudo o que dizem.

            Assim que Alice virou a esquina a vontade de segui-la e descobrir aonde morava e quem era sua família lhe intrigaram. Não seria o correto seguir uma jovem dama... mas ele precisava de respostas para suas perguntas... ela nunca lhe dissera aonde morava... nunca mencionara seus pais e o mais estranho é que parecia esconder algo.

            O jovem de cabelos claros decidiu então segui-la, mas quando virou a esquina se decepcionou, já era tarde... havia pensado demais e a jovem desaparecera...

~~

            Rosalie se achava sentada em seu aposento esperando por Emmett... que até aquelas horas não havia dado sinal de vida. Respirou fundo e uma lágrima desceu de seus olhos ao imaginar que seu marido pudesse estar nos braços de outra.

            E foi quando menos esperava que a porta se abriu e o Barão com um grande buquê de rosas vermelhas entrava, somente para alegrar o dia de sua esposa.

            - Emmett! – ela exclamou envergonhada – Pensei que estivesse por ai... – iria dizer, porém achou melhor se conter.

            O homem sorriu – Como assim por ai? – a questionou queimando-a com o olhar do desejo. – Sabes que estás tão linda com esta criança em seu ventre?

            A jovem sentiu suas bochechas ficarem quentes. – Emmett... eu preciso de você... estou sentindo sua falta! – a jovem protestou, arrancando de seu marido uma risada doce e suave.

            - Eu também preciso de você... – e assim levou seus lábios aos dela, beijando-a com todo fervor;

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            As horas se passaram rastejando, pelo menos era isso o que o Conde achava. Estrava frustrado... o nível de nicotina em seu corpo havia se elevado de tanto charuto que fumara aquele dia. Precisava vê-la e rápido... precisa tê-la... precisava fundir seu corpo no dela e senti-la apertando-se contra ele chamando seu nome.

Respirou fundo e ouviu a porta de seu quarto sendo aberta lentamente. Não quis nem olhar, afinal já sabia quem abria a porta daquela maneira... talvez pensando se ficaria bravo ou não.

            - O que quer, Tânia? – perguntou bruscamente. Ouviu a mulher respirar fundo e se aproximar mais, abraçando-o por trás.

            - Vim ver se meu marido quer minha companhia... afinal, desde que chegamos aqui você nem me procura mais...

            Edward rapidamente se separou do abraço frígido de Tânia e respirou fundo. A mulher com toda a sua pose artística tratou de encher os olhos d’agua e se jogou aos pés do Conde.

            - Eu te imploro que me ame assim como eu te amo! Por quê você faz isto comigo? Você não sabe me dar valor... eu faço tudo por você e mesmo assim vai saber quantas passam as noites em seus braços!

            O jovem assustou-se com a reação infantil que sua esposa estava tendo e por um triz não lhe despejou todo o arrependimento que trazia consigo por ter se casado com essa mulher dissimulada!

            - Tânia, faça me o favor e saia daqui! Pare com essas atitudes infantis!

            A mulher o olhava com os olhos vermelhos de tanto chorar! Por Deus, como conseguia ser tão falsa?

            - Você vai se arrepender disso Edward! – ela apontou o dedo em seu rosto – Eu sei que há outra mulher e eu vou descobrir quem é... e você vai me pagar por isso!

            E depois de cuspir estas palavras a mulher se retirou do aposento, deixando um Conde confuso e sem saída... se descobrissem seu caso com Isabella as coisas poderiam ficar perdidas, não somente para ele, mas principalmente para ela. Respirou fundo e repetiu para si mesmo “Se Tânia fizer algo eu juro que a mando para onde a tirei um dia”

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            E a grande noite enfim havia chegado! As luzes estavam mais interessantes do que eram, as bailarinas estavam com trajes diferentes e máscaras bem mais chamativas. As mesas estavam arrumadas como nunca!

Alice olhava todo o seu trabalho com orgulho, não fora fácil colocar certas bailarinas para trabalhar, mas conseguira e o resultado estava magnífico!

Cada vez mais chegavam carruagens e os senhores lotavam o salão do Moulin Rouge. Todos estavam ansiosos para a apresentação que Madame Lestrange preparara.

Em uma das carruagens chegara Emmett, Edward e Jasper... que já estava se acostumando com aquele ambiente. De longe puderam avistar Marcus Windsor, acompanhado por uma dama que sempre o recebia na entrada da casa.

Edward lançou um olhar para Emmett que acabou por disfarçar... não iria falar dos podres do cunhado para Edward... o mesmo já devia saber;

Eles entraram no salão e se impressionaram como as coisas haviam mudado... havia um tom bem mais charmoso e podiam sentir a sedução que tentavam lhes transmitir.

Como sempre, Edward não admitiria passar seu lugar privilegiado para outro senhor, então ficou com seu lugar preferido, onde podia admirar sua Isabella e poder encará-la bem nos olhos.

Tudo estaria ótimo se não tivesse a infelicidade de ver Lorde Denali, que o olhava com tom de deboche.

            - Ainda está dividindo-a com Denali? – perguntou Emmett, enquanto entornava o copo com um pouco de rum.

            Edward fez uma careta – Eu não a divido... ela pertence só a mim!

            Emmett e Jasper riram – Será que é esta dama que tem lhe deixado desnorteado ultimamente?! – o Barão perguntou.

            - E por que seria esta dama? – Edward perguntou presunçoso – Sabes que esta és uma dama da vida... porque teria eu algum interesse além de passar algumas noites com ela?

            Emmett riu novamente, porém, algo no olhar de Edward chamou a atenção e soube que ele mentia.

            - Quando você fala sobre ela... seus olhos brilham... - disse e novamente riu.

            Edward revirou os olhos – Pare de bobagens Emmett!

            - Será mesmo que é bobagem? – Jasper comentou – Já pensou meu primo apaixonado por uma cortesã!

            Ambos riram, porém o Conde não vira graça na brincadeira e continuou sério.

            - Me desculpe Edward, é apenas brincadeira... sabemos que você não seria deste tipo... sabe, se apaixonar por uma cortesã? Não mesmo... – Concluiu Emmett;

            Edward respirou fundo e imaginou qual seria a reação daquelas pessoas se soubessem que Isabella Windsor além de ser uma cortesã era a mulher que ele precisava para sobreviver.

~~

            Isabella se maquiava, estava um pouco animada com aquele show. Alice a ajudou a se vestir e colocou sua máscara.

            Era a hora de seu show! Era a hora de mostrar que não precisava se abater com as situações ruins que a vida colocava em seu caminho.

            - O Conde está aqui, Madame! – disse Alice animada – Veio ele, o Barão Emmett e o jovem Jasper – disse o nome do ultimo com uma voz encantada.

            Isabella a olhou feio, repreendendo-a por suspirar por um jovem como Jasper. Não que ele fosse um jovem mau ou algo do tipo, mas era tão inocente que se soubesse quem era Alice talvez não medisse esforços para destruí-la ainda mais perante a sociedade;

            - Estás tão linda Madame! Mal posso esperar para ver o que preparaste para esse público!

            - Obrigado Alice – Isabella acariciou o rosto da jovem coberto por uma máscara na cor do ouro.

            Assim ela saiu para seu palco, para seu público. Estava na hora de fazer um show de verdade! No qual ninguém nunca iria esquecê-la.

            O palco de repente ficou escuro e somente flashs rápidos mostravam a mulher entrando no palco com um vestido vermelho provocante.

            Isabella dançou e cantou uma canção; a dança era com um jovem dançarino, algo provocante, que tirava o folêgo principalmente do Conde, que não sabia como reagir diante daquela cena. Ela estava perfeita, provocante... marcante!

            Havia um balanço todo feito por diamantes... aonde fazia parte da música. Isabella se sentia como um anjo subindo mais alto e vendo aqueles pobres homens despejando toda a sua fortuna aos seus pés!

            E foi na última nota, a mais alta... que encerraria sua canção com chave de ouro que não sentiu mais a sua voz, seus olhos se escureceram e o ar lhe faltou nos pulmões. Ninguém soube dizer o que havia acontecido, somente viram quando Madame Lestrange despencava do alto do balanço sem nenhuma explicação.

Continua...