O Milagre escrita por Beatte


Capítulo 4
Garota de ferro


Notas iniciais do capítulo

Desculpe se não ficou tão bom , mas eu fiz correndo. Espero que gostem!



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5 anos de idade

Manhattan, 2004, Orfanato Freire Louise

Ela tinha vários machucados espalhados pelo corpo, graças ao espancamento das freiras pela sua desobediência. Eles doíam muito, uns já haviam cicatrizado outros estavam em plena carne viva que lateja como sangue correndo sob um hematoma. Kristianna usava um casaco rasgado que caia até os seus joelhos e mais nada, os rostos estavam sujos e os joelhos ralados. Os cabelos negros até o ombro – há muito tempo cortado violentamente pelas irmãs – estavam desgrenhados e um leve roxo em sua testa pela sua queda nas escadas estava coberto pela sua franja. Ela e Damon estavam escondidos no armário de vassouras obrigatoriamente. As irmãs preparam todas as crianças na sala principal, pois receberiam um casal que decidiriam levar um deles. Todos os órfãos estavam animados na sala, bem arrumados como nunca estiveram - blusas brancas, shorts azuis marinho, meio três quarto e sapatos fechados. Um cheiro de sabão e água exalava de cada um, graças ao ótimo banho dado hoje. Cada um tinha seus cabelos penteados e todos estavam sentados ansiosamente na sala ouvindo o barulho leve do relógio que marcava os segundos.

- Isso é injusto. - Kristianna disse diante do fato. Damon tinha cabelos escuros desgrenhados, olhos negros espertos, pele castanho avermelhada, lábios carnudos, canelas e braços finos.

- A vida é injusta. - ele respondeu dando de ombros. Kristianna invejava as roupas de Damon, ele usava um moletom preto e calças quentes além de um par de botas – mas ela só tinha que agradecer, pois fora ele quem arranjara o seu casaco quentinho caso ao contrário teria de andar nua. Ela não sabia onde Damon arranjava seus acessórios, ninguém sabia na verdade. Ele simplesmente aparecia com eles quando menos se esperava apesar de Kristianna saber muito bem que ele tinha de sair do orfanato para conseguir tudo o que conseguia. Todos os domingos ele aparece com compras do Mc Donald´s, e aos sábados ele compra doces – de vez em quando compra óculos, casacos e moletons para eles mesmos. Mas nos outros dias Kristianna e Damon não comiam praticamente nada, as freiras os odiavam e faziam questão de deixar isso claro como estavam fazendo hoje. Talvez os odiassem por serem os únicos a terem a audácia de não seguir as regras.

- Você sabe o quanto eu espero por isso... – ela respondeu com os olhos marejados.

- Não chore. Lembra o que eu te disse? Você nunca pode chorar isso é uma demonstração de fraqueza.  Você tem que ser forte, Kris. - ele disse firme pondo a mão no pulso da menina que não devia pesar nem vinte quilos.

- Tem razão. - ela respondeu fria , engolindo as lágrimas e se esgueirando até a porta do armário apertado enquanto Damon abraçava os joelhos e observava Kristianna com o ouvido colado na porta.

- Acho que chegarão!- sussurrou apertando os olhos. Damon deu de ombros, não se importando. Afinal que o escolheria? Não era bonito , que nem a Kristin , na verdade não passava de um ladrãzinho aos olhos dos outros.

- Olá, boa tarde. -disse uma voz feminina e abafada – graças ao armário de madeira.

- Boa tarde. - ouviu-se a voz da freira . Era incrível como a freira conseguia ser doce ás vezes... – pensou Kristianna sarcástica.

- Bom, creio que todos estavam esperando essa visita apesar de nós deixarmos bem claro que queríamos pegar todos desprevenidos em suas atividades normais. - uma voz masculina disse , clara e forte fazendo Kristianna sorrir automaticamente mostrando as suas covinhas.

- Infelizmente, senhor DiNovi , uma de nossas alunas desobedientes ouviu a nossa conversa e acabou espalhando a todos num alvoroço completo e proposital para que o seu pedido não fosse atendido.- a freira disse e Kristin bufou apesar de pela única vez em sua vida , ela usou o nome de Kris para dizer a verdade – afinal ela realmente tinha feito aquilo para deixar a freira em maus lençóis.

- E onde está ela? – a mulher perguntou. A sala se encheu com o silêncio e depois burburinhos baixos dos órfãos foram escutados.

-Ela se recusou a vir... – a freira disse e podiamos ouvir a mentira na voz dela. Kristianna com raiva se virou para Damon. No fundo apesar de não admitir ela tinha a esperança que a freira deixasse as desavenças de lado , dissesse a verdade e o casal de pais maravilhosos a adote juntamente com o Damon e finalmente ela tivesse uma família.

- Nunca tenha esperança , ela só aumenta o desapontamento no final.- Damon disse se voltando para Kris que balançou a cabeça positivamente.

- Eu só queria ... uma família. Eu só queria sentir um beijo na minha testa todo dia de noite , uma voz brigando comigo , uma mãe me vestindo e um pai que jogasse videogame comigo.- ela resmungou se sentando no chão sujo e abraçando os joelhos. Ela sentiu um carinho mínimo em sua cabeça – atividade rara para Damon.

- Eu sou a sua família agora.- ela ouviu um sussurro no seu ouvido.- Mas se quer tanto uma família , corra atrás e pare de resmungar.

- Ah , é uma pena! Gostaríamos muito de conhecer essa menina!- deu para se ouvir a voz da mulher no cômodo ao lado e depois o burburinho de freiras e crianças e o possível conhecimento de cada criança e os pais. Uma daquelas crianças seria sorteada , e não seria a Kristianna.

- Como eu faço isso?- ela respondeu levantando a cabeça e encontrando os olhos negros de Damon.

- Saia desse armário agora e faça aquele casal serem os seus pais.- ele disse e ela hesitou.

- E se eles não gostarem de mim? – ela perguntou.

- Pelo menos , você vai saber que tentou. E se eles não gostarem de você , eu garanto que eles são uns idiotas.- ele disse firme e ela riu.

- E você ?Eu não vou sem você!- ela disse firme prometendo a si mesma que não se separaria dele nunca.

- Estou atrás de você.- ele respondeu comprimindo os lábios. Ela sorriu e num gesto inocente e sincero , deu um leve beijo na bochecha do menino, fazendo-o pela primeira vez corar de vergonha. Ela abriu a porta do armário com força e viu todos ao redor da sala , a encarem. A fúria da freira , era sentida na pele de Kris. O casal alto , esguio e belo no meio da sala se levantou rapidamente.

- Olá , eu sou Kristianna.- ela respondeu estendendo a mão. Eles a encararam pela primeira vez em surpresa , depois o olhar da mulher era uma completa pena graças aos machucados e a condição de suas roupas , já o homem parecia fascinado.

- Eu sou Suzana DiNovi e esse é o meu marido Alex DiNovi , gostaríamos muito de conhecê-la.- a mulher disse com os olhos brilhando afinal não era a filha que o casal idealizara , era muito melhor.

- Será uma honra.- ela respondeu mostrando as suas covinhas. Horas e horas afim , eles conversaram até o horário em que as crianças acabaram se dispersando.

- Temo que tenham de sair agora , iremos fechar o orfanato. As papeladas da adoção já foram impressas. Kristianna já poderá ir para casa se os senhores quiserem.- uma das freiras disse debilmente na sala enquanto o casal tomava chá e a filha se acomodava pelos carinhos da mãe.

- Desculpe , acabei me esquecendo completamente do meu amigo. Ele está ali!- disse Kristianna feliz e apontou para um lugar vazio.

- Ah , que meigo! Ela tem um amigo imaginário!- disse a mulher sorrindo.

- Não!Não! Ele existe ... ele estava aqui!- ela gritou e saiu correndo por todo o orfanato mas não o encontrara. Cansada parou no corredor e suspirou. Sentiu uma mão quente em seu ombro e se virou com medo. Aonde deveria estar uma pessoa , havia uma pequena pulseira de prata e havia um pequeno pingente em letras garrafais : para sempre.

- Damon? Por favor apareça!- a menina gritou , por minutos enfim e nada. Até que se voltou aos seus pais e juntos caminharam para uma nova casa. Um novo destino. Uma nova vida. E ela prometeu que se esqueceria desse orfanato mas nunca se esqueceria de Damon. Ela tinha aprendido algo ali . ela aprendeu a sofrer , a se machucar , a não confiar e a simplesmente não ter sentimentos. Ela tinha virado uma máquina naquele lugar , era uma digna princesa de gelo. A verdade é que ela não queria ser adotada para receber amor , ela queria ser adotada para sair dali e finalmente tinha conseguido. Só isso importava, o coração da garota tinha sido esquecido nas profundezas da sua racionalidade.


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