Discutiam há bastante tempo. Ele já nem se lembrava mais o motivo da discussão, mas sabia que era importante fazê-lo entender o seu ponto de vista.

Enquanto falava, o outro apenas lhe deu as costas, ignorando e resmungando consigo mesmo. Aquilo era desnecessário, é por que não, infantil?

Segurou em seu braço, impedindo-o de dar mais um passo sequer. Não queria que fossem embora brigados.

Um pedido de desculpas...

Afastou-o, puxando seu braço do aperto daqueles dedos. Se ouvisse mais uma palavra iria explodir com o outro. Queria apenas um tempo para esfriar a cabeça e quem sabe, depois poderiam conversar melhor.

Atravessou a rua rapidamente, aproveitando que o sinal ainda estava aberto para os pedestres.

Correu atrás dele após ter hesitado um instante, chamando o seu nome mais uma vez, vendo com alegria que ele se voltava para respondê-lo. Mas o som de sua voz foi abafado pelo som de um carro que tentava frear desesperadamente.

Sentiu aqueles braços novamente em torno do seu corpo, até que tudo escureceu.

x-x-x

Sentou-se num pulo, sua respiração saindo rápida e entrecortada, enquanto seu corpo tremia levemente, suor correndo por sua face.

_ Foi só um sonho? – sua voz soou rouca e baixa. O olhar percorreu o quarto na penumbra, parando no relógio ao lado da cama, só então notando que ele ainda tocava, anunciando que precisava levantar.

Desligou-o, afastando as cobertas e pondo-se de pé, abrindo as cortinas e deixando o sol bater em si, inundando o cômodo de luz. Aquele tinha tudo para ser um dia perfeito.

Mas... quem era o rapaz do sonho? Ou seria um pesadelo? Afinal, sempre acordava com o som do carro derrapando. Além de relacionar a cena com um acidente, ainda tinha que lidar com o fato que não era a primeira vez que sonhava aquilo.

_ Um presságio? – fixou o olhar na parede, relembrando os detalhes.

Estava discutindo com alguém que gostava muito e sabia disso sem ter visto nem uma cena romântica entre eles durante o sonho. E o fato de gostar de outro garoto não o assustava, afinal tinha amigos que mantinham uma amizade com bônus e ele mesmo fazia parte disso. Também se lembrava de estar na frente do colégio, era final do período de aulas.

Contudo, ainda que conhecesse os lugares, por mais que a situação parecesse se encaixar, ainda havia o tal rapaz misterioso. Não o conhecia e nem se lembrava de tê-lo visto antes no colégio.

Na verdade, parando para pensar agora, não se lembrava bem do seu rosto. Era como se visse apenas um borrão. Mas se lembrava que ele era loiro e mais alto que si.

_ Querido, o café está pronto! – sobressaltou-se ao ouvir a voz de sua mãe, seguida de batidas na porta.

_ Já vou!

Relanceou o olhar no espelho, ajeitando o uniforme que vestiu enquanto estava perdido em pensamentos. Passou as mãos pelos cabelos vermelhos e sorriu para sua imagem, pegando a mochila e saindo do quarto.

Foi apenas um sonho e não precisava se preocupar.