E outra vez ela se pegou à beira do lago, olhando para o céu cheio de estrelas que refletiam nas águas a sua frente. Não era a primeira vez que fazia isso. Nem a primeira vez que sentia seu peito doer ao ver o estado dos amigos que tentaram protegê-la.

Há exatos três anos ela passava pela mesma aflição, sem conseguir um jeito de quebrar aquela maldição, mas quem poderia culpá-la? Como ela poderia saber que seu melhor amigo na verdade era um feiticeiro acostumado a sempre ter o que queria e nunca aceitava um “não” como resposta definitiva? Todos os dias ele descia de seu refúgio e lhe fazia o mesmo pedido. E ela sempre o rejeitava.

E parecia que ele também não deixaria-a ir embora para ficar aos cuidados de outro. Da primeira e última vez que ela tentara fugir com outro homem, o feiticeiro o matara a sangue frio e ela, a pequena princesa, não poderia deixar que outra pessoa morresse por sua causa.

O sol já começava a surgir e assim que ele ficasse acima daquelas árvores que envolviam o lago sua maldição seria despertada. Ela já estava acostumada com os fatos dos últimos três anos.

Levantou-se da grama e pós-se a andar, molhando os pés nas águas frias assim como a barra de seu vestido branco, olhando para o reflexo do sol que a chamava para o centro do lago. E por incrível que possa parecer ela caminhou por sobre aquele lago, e sua pele dourada pelo sol começou a ser rodeada pela água, como se esta lhe formasse um frágil ninho em forma de esfera.

E quando o sol surgiu sobre as árvores, a princesa amaldiçoada, já não estava mais no lago...

… pelo menos não na forma que nossos olhos estavam acostumados a ver ...