Acordei de bom humor, saindo com o pé direito da cama, literalmente, e dando bom dia para minhas flores imaginárias, já que estamos no outono e as únicas folhas são as do chão. Coloquei um lindo casaquinho azul claro de lã, com uma camiseta branca de manga comprida por baixo, e uma calça de jeans escuro. Tinha ganhado a, mais ou menos, uma semana de minha tutora. Adorei.

Fui meio saltitante para a aula. Eu estava assim porque tinha dormido bem noite passada, e me empolguei com minha disposição. Só que tem certas pessoas que não gostam de ver os outros felizes e precisam arrumar confusão. Tipo o Rupert.

-Sophie!

Ele parecia estar bravo, já que entrou no meu quarto batendo a porta. Eu estava ajeitando minha presilha no canto do cabelo, após a aula, me olhando no pequeno espelho de meu armário. Praticamente cantarolei uma resposta para ele.

-Siiiiiiim?

-Você que deu a brilhante idéia para o Michael ficar me enchendo o saco?

Olhei totalmente confusa para ele enquanto guardava meu material. Ele encostou-se à parede próxima de mim com os braços cruzados e os olhos estreitos.

-Você sabe do que estou falando.

-Desculpa, amore mio. Mas você não vai estragar meu bom humor hoje, ta legal? Pode ir desistindo.

-Mas quem disse que eu quero estragar seu humor, queridinha? Eu nem disse nada que te afete. Isso é preconceito, sabia? Você me vê e já acha que quero te irritar ou coisa assim...

Rupert franziu o cenho e fez um biquinho de triste. Eu revirei os olhos. O sarcasmo dele já não me atingia mais. Anos de prática.

-Rupert, eu não sei do que você está falando. Eu mal falei com Miguel. Estou de bom humor, estou com deposição, por favor não acabe com tudo isso. –fiquei olhando para ele esperando uma resposta, ele apenas me fitava indiferente- Grata.

-É que parece que estamos em guerra.

-Quem?

-Eu e Miguel. O irritei muito ontem e ele acabou querendo se vingar. Tenho que prestar atenção em tudo se não ele me pega.

-Tipo um Primeiro de Abril?

-Exatamente.

Ele deu um sorrisinho de lado e foi se virando para ir embora. O cutuquei no ombro.

- Siiiiiiim?

Ele imitou minha voz com um sorriso falso.

-Você não vai brigar com Miguel, vai? –ele fez que não com a cabeça- Promete?

-Sim, mamãe.

Revirei os olhos.

-E...Rupert!

ele se virou novamente para mim, mas eu esqueci o que ia falar. Ele ficou me olhando nos olhos esperando, mas eu travei. Não sei o que aconteceu, mas eu não conseguia falar. Os olhos dele me bloquearam, me impediram. Tive que desviar o olhar para o chão para pensar. Fiquei uns minutos tentando me lembrar o que eu queria falar.

-O que foi?

-Esqueci...

-Quando lembrar me avise.

Ele foi saindo novamente mas eu o puxei, dando um susto nele. Eu sentia que não queria que ele fosse. Ele tinha que ficar lá. Precisava falar alguma coisa mas...deu pane no meu sistema operacional.

-Rupert. –ele me olhava assustado com uma sombracelha erguida- Não vá, espera.

-Tá...

Ficamos vários minutos assim, eu segurando na manga de seu casaco preto, ele olhando para mim confuso e eu com cara de parede fitando o chão.

-Se você quer me assustar, não vai conseguir assim.

Rupert falou calmamente. Soltei sua manga e respirei fundo olhando para ele novamente.

-Tem razão. Quando eu me lembrar te falo. Tchau.

Ele deu de ombros e saiu.

Não vai dar nem  boa noite?

Senti um grande vazio depois que fechei a porta do meu quarto e me joguei na cama. Senti que tinha deixado algo muito importante escapar. Mas...o que era? Ainda bem que eu tive uma noite boa de sono, ontem. Porque eu não consigo dormir com algo tão grande me incomodando.

Suspirei e me levantei.

Esqueça, Sophie. Apenas vá para sua luta. Sem nada para lembrar...apenas você e seu esporte preferido.