Bom, é meio complicado explicar o que aconteceu desde o dia em que eu ganhei uma nova cicatriz na testa. Primeiro, depois do meu coma de 3 horas fiquei com mau humor, o que geralmente acontece depois da perda de uma das minhas amadas lutas. Segundo, tive que ir ajudar o Rupert porque eu sou uma pessoa que cumpre as promessas que faz. Terceiro, tenho que contar o que aconteceu naquela noite.

            Era lá para as 22 horas quando cheguei ao lugar marcado, ou seja, estava bem atrasada. Rupert me esperava pacientemente deitado no banco, enquanto tentava acertar pedrinhas na fonte. Respirei fundo, e enfrentei os “fantasmas do meu passado”.

            -Você está atrasada. –ele disse sem se mexer.

            -Eu sei, desculpe. Mas eu estava dormindo por causa do grande impacto realizado por um tênis de um certo alguém contra meu rosto. –ele deu um risinho, tentando disfarça- E, por acaso, esse certo alguém me fez perder a luta também. –ele teve que morder o lábio inferior para não rir.

            -Desculpe Sophie. Desculpas sinceras. –disse, levantando-se.

            -Tudo bem, quanto antes acabarmos com isso, melhor. –o garoto concordou.

            Comecei a me esticar um pouco, alongando as pernas. Eu estava meio dura naquela noite. Talvez seja por causa do lugar, ele me assombrava. Rupert tentou seguir meus movimentos, mas não deu muito certo e acabou desistindo.

            -Você vai ficar se contorcendo mais ou já podemos começar? –impaciência e desgosto elevados ao máximo.

            Ignorei. Apenas coloquei as luvas que ganhei daquela mesma pessoa e disse para começarmos com o básico. Mas o básico parecia o que tem de pior nas lutas para ele.

            Comecei a explicá-lo como ele se posicionava para melhor equilíbrio, defesa e ataque, porque, se não sabe nem ficar em cima de seus próprios pés, quem dirá dar um soco no rosto de outra pessoa ou desviar de um. Nem isso deu certo. Rupert caia toda vez que eu gritava para que lado ele devesse desviar. Estava claro que essa semana seria uma tortura.

            -Eu desisto! –foi o que ele gritou depois da sexta vez que ralou o joelho no chão- Eu não tenho capacidade para isso. É melhor a gente desistir agora e nenhum de nós sofrerá mais!

            -Ave, está parecendo um daqueles caras dos filmes de ação que levam um tiro bem no começo.

            -É sério Sophie. Isso é ridículo! Eu não consigo nem ficar parado nessa posição tosca sem cair ao primeiro sinal de um golpe. Não sou feito para isso. - revirei os olhos.

            -Achei que você fosse um menino irritante e arrogante que não levava desaforo para casa.

            -Eu sou um menino irritante e arrogante que não leva desaforo para casa... Quando não tem nenhum soco envolvido na situação... –ele foi ficando cada vez mais cabisbaixo, e foi estranho ao extremo ver ele assim.

            -RUPERT! Coragem moleque! -ele levou um susto com meu grito repentino- Para com isso! Você vai ver, quando eu te ensinar a parar de pé direito, tudo vai ficar muito mais fácil! Você não é o tal que sabe tudo, é um máximo e não sei o que mais? Hein?

            -Sou...

            -Eu não te ouvi?!

            -Sou!

            -É o que?

            -Um máximo!

            -Isso aí! Você é um máximo!

            Eu, meio que sem querer, fiquei animada de mais com essa coisa de animá-lo e acabei elogiando ele enquanto dava um pulo. Rupert levantou uma sobrancelha para mim. Fiquei meio sem graça e, disfarçando, abaixei os braços e continuei a falar sobre posições durante uma briga. Ele ficou me olhando com o rosto irônico o resto da noite toda. E de vez em quando dava um sorriso estranho.

            Foi uma noite dura.