Amz escrita por MissBlackWolfie


Capítulo 7
Um pedaço da verdade.


Notas iniciais do capítulo

Clair vai atras... o q será q ela vai encontrar???????



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Não sei exatamente quanto tempo passou, durante a minha tentativa frustrada de encontrar em mim algum rastro de calma. Afinal Ernesto havia me encontrado a caminho da casa do Fonseca, em estado quase que enlouquecida de ódio por Carlos.

A atitude abusada dele de surrupiar as folhas do diário de Sarah me trouxe um sentimento de invasão, junto com uma ira imensa. Isso tudo me fez conhecer uma faceta nova minha, a de corajosa, aquela que luta pelo que quer.

Meu irmão ficou surpreendido com toda minha postura ensandecida de raiva, seus olhos entregavam toda sua surpresa. Ele nunca tinha me visto naquele estado. Mesmo sem entender direito o porquê dessa minha raiva, quase homicida, ele se dispôs a me acompanhar na busca por Carlos, e principalmente da páginas arrancadas.

Ao passar pela porta, que ficava na parte posterior da casa, adentrei a cozinha com passos firmes. Nunca havia caminhado daquela maneira, Ernesto me olhava muito assustado, afinal era uma postura totalmente nova para ele, e também para mim. Agora isso estava me incomodado, parecia que meu irmão encarava uma estranha.

Por alguns instantes minha mente vagou, em um questionamento: por que eu estava tão ressentida por Carlos ter roubado aqueles pedaços do diário? Não fazia sentido, ter aquele vulcão dentro de mim, que desejava expelir toda sua fúria em cima dele. Enfim o que aquele diário representa para mim afinal?

Conseguia sentir as conexões sendo feitas, sei que teria a resposta em algum momento. Como ao final de um longo problema matemático, houve o resultado da equação. Aquele diário, junto com todos os acontecimentos estranhos ocorridos ao longo do dia, tinha feito surgir em mim um sentimento que nunca pensei antes provar. Esperança em uma mudança, um tipo de recomeço de sua vida.
   
Isso tudo só poderia ser loucura. Porém aquela inquietação, que me perturbava desde do meu encontro com Lisa, fazia eu sentir de forma profunda, quase dentro da minha alma, que as palavras de Sarah me levariam para um novo caminho. Sempre fui desprovida de tal sentimento de fé em uma reviravolta em minha vida. Todos os dias eram iguais, inúteis e vazios.

Finalmente podia enxergar um novo destino sendo traçado a minha frente. Mesmo não sabendo aonde ele iria me levar, não sentia medo, não queria sentir nada. Eu ansiava por algum tipo de aventura na minha vida melancólica, podendo até ser algum tipo de fantasia por mim imaginada. Pois toda essa loucura por mim vivida no dia hoje poderia ser fruto de minha imaginação fértil. Eu realmente espero que não.

Meus devaneios não atrapalharam minha busca por Carlos, eu andava pelos cômodos, com olhar atento na busca do meu alvo. Podia sentir Ernesto atrás de mim, vasculhando junto comigo. Seu rosto agora estava atento, ele realmente estava junto comigo nessa missão, na verdade ele sempre esteve comigo em todos os momentos.

Além da nossa parceria eterna, desconfio seriamente, que ele tinha uma esperança de dar alguns socos em Carlos, enfim isso era algo um dos seus maiores desejos.

No primeiro andar da casa não havia ninguém, buscamos todos os lugares desse pavimento. Desde várias salas, como banheiros e quartos de hospedes. Não encontramos nenhum vestígio de Carlos. Cada minuto que passava meu corpo parecia ficar mais alerta com o suspense, que crescia dentro da expectativa do encontro. Nenhum livro havia me dado àquela sensação de adrenalina no mistério.

Seguimos então para o segundo andar, onde ficavam os quartos e o escritório. Enquanto subíamos a escada, fazendo menos barulho possível, começamos ouvir uma discussão, as vozes pareciam distante.

Olhei para trás vi que meu irmão, que só mexeu os lábios, dizendo que as pessoas responsável por aquele barulho estavam no escritório. Esse ficava ao final do corredor. Subi mais alguns degraus e pude ver no final do longo corredor a porta, que só tinha uma pequena fresta aberta.

Meus sentidos se aguçaram, queria identificar os donos daquela conversa. Imediatamente reconhecia uma voz, na verdade eu poderia identificá-la em qualquer circunstancia, a conhecia muito bem. Era dele, de Carlos.

Meu primeiro instinto, produzido pela minha inquietação, foi correr ao seu encontro, e arrancar dele as folhas que pertenciam a Sarah e o obrigá-lo a me responder o porquê o interesse dele por aquilo.

Contudo quando comecei a ensaiar minha disparada pelo corredor à fora, fui detida pela mão forte de Ernesto no meu pulso. Virei meu rosto para encará-lo, sua primeira expressão era de susto, talvez ele tenha visto a fúria correr livre dentro de mim. Mas sua fisionomia logo em seguida ficou séria.

-Você está louca? – ele sibilou para mim.
-Eu preciso saber o que tem escrito naquelas páginas. – Sussurrei para ele.
-Essa sua pressa não vai ajudar em nada.  

Tentei desvencilhar do aperto de Ernesto, pois tinha notado que não adiantaria aquela conversa sussurrada entre nós. Comecei a balançar de um lado para o outro meu braço, meu corpo acompanhava o movimento de esquiva.

Quando comecei a escapar entre seus dedos, meu irmão foi mais rápido e enlaçou seus braços em volta do meu corpo. Começou a me apertar ainda mais o contra o seu corpo frustrando a minha tentativa de espaçar de seus braços.

Debatia-me muito mais agora, não estava gostando de ser impedida de encontrar Carlos. A minha inquietação mostrava que ela não gostava de ser detida em seu propósito. Então escutamos a conversa de repente cessar dentro do escritório, acredito que minha pequena luta com Ernesto havia feito algum barulho e tenha os assustado. Ao final dessa minha conclusão mental, senti meu irmão me abraçar e me conduzir rapidamente à porta que estava aberta ao nosso lado.

Entramos em um dos vários banheiros da casa. Ainda nos braços de Ernesto, vi por cima do seu ombro, no reflexo do espelho Carlos abrindo a porta. Ele olhou por alguns segundo o longo corredor, deu alguns passos, talvez quisesse investigar a origem do barulho, que havia interrompido sua conversa.

Minha respiração era entre cortada, temia ser pega de surpresa por ele, porque eu o queria pegá-lo. Ele seria a minha vitima da minha raiva, senti meus olhos umedecerem por esse sentimento de possível fracasso. 

Então ouvi Alex o chamar de dentro do escritório. Carlos virou seu pescoço para trás para ouvir o pai, quando virou para frente lançou mais um olhar para o corredor. Seu rosto estava desconfiado, sem duvida ele tinha ouvido alguma coisa. Girou seus calcanhares e voltou para o escritório. Encostou a porta, mas ainda podia ver um filete de luz na parede do corredor, a porta estava entre aberta.

Ernesto estava com ouvido atento a toda aquela cena, podia ver o desenho de apreensão em seu rosto. Ao final ele olhou nos meus olhos refletidos no espelho e disse no meu ouvido.

-Você pode se acalmar agora? – Eu assenti com a cabeça – Vamos ouvir atrás da porta sobre o que eles estão falando.

Ernesto começou a me soltar vagarosamente. Talvez atento a uma possível nova tentativa minha de fugir e invadir o escritório. Minha fúria queria sem duvida fazer isso, meu tigre desejava essa loucura, principalmente com a possibilidade de ficar próximo de Carlos.

Mas meu dragão trouxe a razão perante a esse sentimento: “Ouça seu irmão. Antes de atacar saiba como esta o território inimigo”. Esse lado estrategista do meu animal racional me surpreendeu, eles tinham razão. Eu tinha que acalmar essa loucura dentro de mim.

Meu irmão pegou minha mão, vendo que havia me acalmado, fez um gesto para eu permanecer em silencio, e saímos do banheiro nas pontas dos pés. Nossos passos eram contidos e calculados. Não queríamos fazer nenhum novo som, que atraísse a curiosidade de Carlos para o corredor.

Quanto mais nos aproximávamos daquela porta entre aberta, agonia da curiosidade para desvendar todo aquele mistério me consumia. Era audível o meu coração batendo de forma frenética. Ele doía ao encontro com minhas costelas, que estavam o segurando para que ele não escapasse do meu peito.  

Ao nos aproximarmos da porta, as vozes de Carlos e Alex eram fortes, pareciam exaltadas. Ernesto olhou pra mim e fez um sinal para ficarmos agachados na porta. Assim poderíamos ver toda conversa deles.

Colocou o dedo indicador na sua boca, em um claro pedido para eu continuar quieta e ouvir sobre o que eles estavam falando. Concordei positivamente com a cabeça. E vimos à cena de Alex sentado uma poltrona e Carlos a sua frente.

-Pai, como será que esse diário foi parar nas mãos da Clair? – Carlos sacudia as folhas nas mãos. Meu tigre urrou dentro de mim, ele também estava angustiado com a toda aquela curiosidade. Afinal ele era alimentado pela as emoções.
- Não consigo nem imaginar. – Respondeu Alex bebendo em seguida um longo gole de uísque. – Deixe me ver o que há escrito nessas folhas.

Carlos as entregou ao pai, que por sua vez permaneceu em pé lendo as paginas do diário próximo a janela. Já seu filho logo em seguida desabou seu corpo na poltrona que estava ao lado. Passou a mão no seu cabelo curto, mostrando certa impaciência. A certa angustia começava a aparecer no seu rosto.

Confesso que intimamente aquilo me incomodou intimamente, senti uma vontade de lá abraçá-lo e reconfortá-lo. Mas toda racionalidade caiu sobre mim ao lembrar-me como ele havia violado o diário de Sarah.

Após alguns minutos, vi um sorriso se formar nos lábios de Alex. O que havia escrito naquelas folhas realmente tinham o agradado, estava gostando do que estava lendo. Aquilo me deixou mais apreensiva. Não sei por quanto tempo aguentarei respirar dentro dessa atmosfera tensa.

-Meu filho você sabe por quantos anos eu busquei a comprovação da existência delas? – Seus olhos tinham um brilho de vitória. – E principalmente a confirmação da fonte da criação e vida. – Sorriso desenhou-se na sua totalidade em sua boca.

Carlos olhava para o pai de forma admirada. Sem duvida, se conheço ele bem, dentro da sua mente perversa já estava arquitetando um plano para conseguir uma vantagem financeira com a descoberta do pai. Contudo seu rosto mostrava certo mistério dos seus pensamentos, isso deixava sua figura mais atraente, não conseguia negar isso para mim. Meu tigre suspirou com meu comentário mental.

-E como o senhor conhecia essa historia anteriormente? – Carlos perguntou inclinando seu corpo em direção ao pai.
- Você quer saber todos os detalhes? – Perguntou Alex.

O rapaz balançou a cabeça para frente, mostrando que queria sim ouvir aquela historia. Então Alex jogou as folhas que estavam em suas mãos em cima da mesa de mogno escuro, que estava a sua frente. Respirou fundo, pegou o copo de uísque e virou todo na sua boca. Recostou-se na poltrona, buscando ficar confortável. E começou a falar.

 - “Quando eu cheguei Jilas, eu tinha apenas treze anos de idade. A cidade era muita mais provinciana do que hoje. Havia um terço de moradores do que há hoje. Dessa maneira, todo mundo se conheciam muito bem.
Lembro-me que todos comentavam que na colina do sul, onde tem a praia dos Desejos, que tem envolta dela aquela imensa mata, ali diziam que morava um grupo de mulheres lindas. Alguns achavam que elas eram um tipo de lenda e outros nem gostavam de comentar sobre elas. Mas os poucos que insistiam em falar, contavam que elas não envelheciam, e tomavam conta de um a gruta, que localizava no meio dessa mata.
Alguns diziam que elas zelavam por um tesouro imensurável, que enriqueceria qualquer homem. Ouvi um velho senhor me contar que eram ouro e pedras preciosas em uma quantidade jamais vista.
Quanto mais ouvia sobre elas, mais e mais minha curiosidade aumentava. Afinal eu ainda era um moleque, mas sempre tive faro para bons negocio. Eu pensava quem gosta de envelhecer? Ninguém. Eu precisava saber o que elas faziam para se manter jovens e bonitas. E talvez lucrasse com isso. Além que havia a hipótese de achar uma montanha de ouro.
Comecei a buscar informações com alguns antigos habitantes, esses acreditavam piamente na existência dessas mulheres, contudo muito tinham medo delas. Não compreendia o porque daquilo, afinal eram um bando de mulheres. Alguns diziam que elas eram bruxas, feiticeiras e até que elas eram sereias”.

Alex riu dessa ultima hipótese e Carlos o acompanhou. Então o pai entregou o copo para o filho, lhe pedindo silenciosamente que lhe servisse mais uísque. Carlos pegou a garrafa, que estava na sua frente em uma bandeja de prata e serviu uma dose dupla do malte. Alex bebeu, degustando lentamente a bebida.

-Afinal o que elas são? – Perguntou Carlos que agora se servia.
-Meu filho não importa a nomenclatura que elas utilizam. O que interessa é o que elas guardam.
-E como o senhor descobriu o que elas guardavam?
- “Comecei a ir para colina, todos os dias depois da escola, na tentativa de descobrir mais alguma informação, pois ninguém sabia exatamente onde era essa gruta. Em uma das minhas visitas conheci um homem, de uns trinta e poucos anos, que morava próximo ao começo da mata. Era moreno, bem alto e forte, tinha sido marujo por muitos anos.
Ele também tinha ouvido as historias e também tinha o mesmo interesse financeiro de descobrir como usufruir o tesouro guardado por elas.
Passávamos dias e mais dias vasculhando a área da mata. Entretanto ela era muito densa, pois nunca tinha sido explorada por ninguém. Afinal mesmo que as pessoas de Jilas fingiam não acreditar nas lendas das mulheres, ninguém ousava desrespeitá-las invadindo seu território, contavam que poderia ser muito perigoso, até fatal.
Contudo eu e meu sócio não tínhamos medo. Afinal era somente um bando de mulheres, provavelmente indefesas. Bem isso era o que a gente achava.’

-Como assim pai? – Carlos parecia apreensivo.

Eu também estava, e pelo suspiro que Ernesto tinha acabado de dar ao meu lado, ele estava no mesmo estado que o nosso. A cada informação da historia contada por Alex, fui guardando dentro da minha mente. Ao final eu ia analisar tudo e tentar encontrar alguma lógica. Porque tudo aquilo junto com o que eu havia vivido no dia hoje parecia ser algo irreal. 

“Um dia, depois de passar a tarde toda caminhando entre as arvores e arbustos, encontramos um campo, repleto de flores. Vimos que no meio dele havia duas mulheres, com mais cinco meninas, que tinham aparentavam terem entre dez e doze anos.

Todas brincavam animadamente, elas estavam felizes e contentes. Entretanto chamava atenção, aquelas crianças eram muito ágeis, não havia descoordenação motora, tão típica da infância, elas corriam de um lado para outro com firmeza.
Elas eram realmente maravilhosas, belezas singulares. As mulheres me chamaram atenção, logo me lembrei de que já tinha visto elas na cidade, mas sempre separadas. Porque se elas andassem juntas chamariam muita atenção.
Outro fato que chamou a minha atenção foi que elas não ostentavam nenhum tipo de joia, nem aqui e nem na suas visitas a cidade, como me recordei. Então a hipótese de que havia um baú repleto de ouro, por mim foi descartado. Mas sabia que havia algo interessante naquelas mulheres.
Uma era morena clara, com cabelos castanhos claro, com grandes cachos e um corpo maravilhoso. E a outra parecia ser um pouco mais velha, contudo ainda havia uma beleza exótica e hipnotizante. Ela era mais morena, tinha o cabelo negro liso, preso em tipo de trança e os seus eram olhos lilás. Aquilo me fascinou, eu nunca tinha visto alguém com aquela cor de olho.”

Arregalei meus olhos ao ouvir a descrição de Lisa feita por Alex. Só poderia ser ela afinal não havia muitas pessoas com olhos lilás e cabelos negros andando por ai. Fitei os olhos de Ernesto que pareciam em choque como os meus.

Então a minha mente demonstrou algo obvio: Lisa não envelhece e continua linda. A cada nova peça que Alex me dava, o quebra-cabeça que tentava ser montado em minha cabeça parecia estar faltando espaço para tantos novos elementos, e assim elas se embaralhar mais ainda. Entretanto precisava continuar ouvindo, para obter novas peças.

-“O meu sócio também gostou do que viu, principalmente por elas parecerem tão normais, frágeis como qualquer outra mulher. Porém algo dentro de mim ficou atento, aquelas crianças eram incomum, suas agilidades não eram compatíveis com suas aparentes idades. Mas não dei importância a esse meu alerta interno e comecei a compartilhar da mesma idéia do meu sócio.
Lógico deixando de lado sua beleza, elas pareciam não apresentar nenhum risco físico, para quando encontrássemos o misterioso tesouro. Começamos a sorrir com as altas possibilidades de vitoria.
De repente no meio da nossa análise, vi uma das meninas, que tinha uma cor muito branca, nunca tinha visto alguém tão branco em minha vida. Ela olhou para nossa direção, por um segundo seus olhos cinza pareciam ter visto as nossas almas, senti um arrepio correr da ponta do meu pé até os fios do meu cabelo.
Então ela virou para o lado e olhou para uma menina loirinha que estava próxima a ela, lhe estendeu a mão. Elas ficaram se olhando por alguns segundos, sem dizer uma palavra sequer. Depois as duas lançavam seus dois pares de olhos novamente na nossa direção. Juro que naquela hora, sentia algo mais entranho ainda, uma espécie de vento frio envolver todo meu corpo.
As duas mulheres perceberam que as meninas estavam estranhas e viram para onde elas estavam olhando. Com medo de encará-las, afinal não estávamos preparados, não queríamos ser pegos desprevenidos. Saímos correndo entre as árvores, tropecei em alguns galhos e pedras. Mas continuei correndo, sem olhar para trás.
Nos outros dias que seguiram a esse primeiro encontro, descobrimos onde ficava a casa delas, eram próximos daquela área onde elas estavam juntas. Porém, nunca mais havíamos encontrado com elas da mesma maneira, sempre as víamos de longe, tentávamos ser muito mais discretos, quase que invisíveis. Então montamos um plano de ataque.
Que era o seguinte: Meu sócio iria procurar a gruta onde elas mantinham o segredo, pelo nosso mapa só havia um lugar possível, só poderia ser ali. Ele faria na madrugada, para ver se conseguia ver o que havia dentro dela. A minha parte seria ficar de vigília na casa delas, qualquer movimentação estranha eu correria para avisá-lo.
No dia que chegou o momento para execução, confesso que fique bastante nervoso, algo naquelas meninas me gerava arrepios. Ficamos o dia inteiro escondidos na mata observando a movimentação da casa delas. Quando todas finalmente elas pareciam ter ido dormir, meu sócio disse que ia executar a outra parte do plano. Mas eu queria ir com ele, não queria ficar lá sozinho, enquanto ele descobre o que elas guardam.
Depois de alguns minutos de discussão ele, disse que eu não iria e ponto. Que o combinado era eu ficar de ali esperando, que se eu fosse estaria comprometendo todo plano. Depois, no final da noite, agradecia sorte por não ter o acompanhado.”

Os olhos de Alex estavam sombrios, poderia arriscar que havia medo ali. Ele terminou de virar o copo, e em seguida pediu com dedo que Carlos enchesse novamente. O filho o atendeu prontamente, enquanto Carlos fazia o que lhe foi pedido, vi Alex se levantando e seguindo para direção da janela. Aquela lembrança tinha mexido com ele, era visível isso.

Dessa maneira ela pegou o copo das mãos de Carlos, bebeu um longo gole. Parecia enquanto o liquido descia pela sua garganta, ele tentava organizar suas emoções tensas que apareceram junto com essa historia.

Ouvi o liquido escorregar com dificuldade por dentro dele, provavelmente deveria ter um nó ali, pois o barulho da dificuldade que o uísque teve para seguir o seu caminho foi enorme. E continuou.

- “Não sei por quanto tempo o esperei. Cada hora que passava ali parado a espera dele as minhas pálpebras iam ficando cada vez mais e mais pesadas, implorando o meu descanso. Assim sem perceber eu adormeci, mas antes de fechar os meus olhos, vi de novo os olhos cinzas no meio da escuridão da noite, depois não lembro de mais nada.
Não sei por quanto tempo fiquei adormecido. Lembro-me de ter sido arrancado do mundo dos sonhos com os gritos de dor do meu sócio. Quando olhei para os lados vi que estava deitado no chão da casa dele.
Antes que eu pudesse pensar em algo, que tentasse esclarecer aquela situação, os meus olhos viram meu sócio no chão da sala todo ensanguentado. Havia vários cortes de faca pelo corpo, seus olhos estavam roxos, tinham perdido vários dentes, hematomas preenchiam sua pele. Nunca havia visto tanto sangue na minha vida.
Tentei levantá-lo, mas ele urrava de dor, me mandava sair de perto dele e buscar ajuda. Disparei pela rua, corri ate a casa do único médico da cidade. Comecei a socar a porta dele, não sabia que horas eram, mas ainda havia as estrelas no céu.
O médico abriu a porta ainda tentando acordar, quando comecei a falar desesperado que um homem estava muito machucado. Isso o fez despertar de imediato, assim ele pediu que eu ficasse calmo, pegou sua maleta e saímos para casa do meu sócio.
Ao chegar lá pude ouvir o susto que o doutor levou ao ver aquele homem forte naquele estado deplorável. Foi uma das piores cenas que eu vi na vida.
O médico perguntava o que tinha acontecido com ele, que simplesmente gritava em plenos pulmões que tinha sido atacado por vários animais, porque era o mais próximo disso que parecia ter acontecido com ele. Lógico que o doutor não acreditou, como eu também não. Entretanto não havia muito tempo para perguntas.
Meu sócio recebeu doses cavalares de morfina e dormiu. Somente com ele inconsciente que o doutor conseguiu cuidar dos seus ferimentos. Em meio aos procedimentos, perguntei ao medico o que poderia ter feito aquilo com aquele homem forte.
Não queria acreditar nas minhas suposições que eram bem obvias, sobre o responsável sobre aquele ato violento. E assim ele me respondeu friamente, enquanto lava suas mãos ensangüentadas, que meu sócio tinha apanhado muito, havia muitos ferimentos de faca. Era um milagre ele estar vivo
Agradeci por não ter acompanhado.”

Posso dizer que essa parte da história me fez assustar, talvez me apavorado um pouco. Minha mente, não sei porque, fez eu imaginar Ernesto no lugar daquele homem. Afinal meu irmão era forte e musculoso, não consigo visualizar algo lhe machucar tanto assim.

O que o teria ferido gravemente daquela maneira? Então mais uma vez minha mente me mostrou uma imagem. A de Ernesto caído no chão quando esbarrou com Lisa, na rua hoje mais cedo. Meu irmão parecia ter ido de encontro uma parede soída de pedra, ficou com algumas leves escoriações. Já ela estava perfeita, como se nada ou ninguém tivesse se encostado a ela. Ela seria forte o suficiente para machucar um homem? Para bater em um homem até quase sua morte?

Minha mente estava latejando, avisando que não aguentaria mais novas informações. O turbilhão de acontecimentos que me atacava a cada hora daquele dia, começou a mostrar que eu precisava de um tempo para digerir tudo aquilo.

Pois nada parecia ter sentido, e cada hora que novas coisas aconteciam mais louco tudo parecia ficar. Então vi Alex sentando novamente na poltrona ao lado do filho. E voltou a continuar sua historia. Meu Deus eu ia enlouquecer com todas essas informações.

 - “No dia seguinte meu sócio contou para mim que elas o tinham atacado. Contudo era visível seu desconforto em assumir que aquelas mulheres eram muito fortes, que tinham o deixado naquele estado lamentável. Quando eu perguntava como tinha sido a briga, ele desconversava, não falava nada sobre como ele tinha sido atacado.
A todo momento ele repetia que iria se vingar delas. Seus olhos mostravam que ele era um homem ferido tanto fisicamente como o seu orgulho estava destruído.
 Passou algumas semanas, e finalmente ele conseguiu se colocar de pé, com a minha ajuda, na mesma hora ele me pediu um favor, que eu voltasse de madrugada até sua casa e o ajudasse ir até a casa delas.
 Particularmente achava aquilo uma loucura, afinal elas tinham mostrado o que eram capazes, e então perguntei o que ele pretendia fazer, mas ele não me respondeu. Só pediu para eu pegar uma mala que estava no canto da sala.
Fomos em direção à mata, ele ainda andava com muita dificuldade, gemia às vezes de dor. Quando finalmente chegamos a casa branca observei que ele suava frio, não sei se foram seus sentimentos ou pelo seu grande esforço físico.
Em seguida ele pediu para eu abria a mala, vi que tinha duas garrafas de álcool, e outras várias garrafas menores de vidro e varia tiras de pano. Fiquei assustado com aquilo tudo, logo captei o plano por ele pensado.
E assim com muita dificuldade para falar, ele pediu que o ajudasse a por álcool nas garrafas menores e no gargalo por o pedaço de pano. Enquanto eu fazia isso ele pegou a outra garrafa de álcool e foi em direção a casa, e começou a jogar o liquido a sua volta.
Assim que ele terminou o seu serviço veio verificar o meu, eu já tinha terminado. Ele colocou fogo nas garrafas e começou a jogar contra casa como elas fossem bombas.
O fogo logo consumiu toda construção. Não ouvi ninguém gritando ou gemer de dor. Talvez elas não estivessem mais lá ou estivessem dormindo. Não importava, aquele homem estava tendo sua vingança. Deixei-o saboreá-la, com gritos de viva e assovios.
Depois desse episodio o meu sócio sumiu, na mesma noite, e fiquei tão assustado com aquilo tudo que fui atrás de novas aventuras, as que não me ferissem fisicamente. E permaneci em Jilas.
Nunca mais eu vi ou ouvir falar sobre aquelas mulheres. Olha que ficava atento quando eu andava pela cidade, procurando por elas. Mas elas sumiram por longos anos.
Até o dia de hoje.”

-Você viu quem hoje? – o rosto de Carlos era visível a curiosidade.
-A mulher dos olhos lilás, ela estava conversando com Ernesto na festa. E ouvi-a falar de um diário, e que ele deveria entregar uma chave para Clair. Então deduzi que o diário só poderia estar com Clair, por isso pedi para você ir procurá-lo.
-E por que essa mulher se interessaria pela retardada da Clair? – Disse Carlos num tom zombeteiro.

Meus punhos se fecharam ao lado do meu corpo, a fúria da minha inquietação que tinha sido domado a um tempo atrás voltou mostrar sua força. Eu trinquei meus dentes. Era isso que ele achava de mim? Eu ouvi essa pergunta ecoar como um grito dentro de mim. Minha cabeça agora iria explodir, já estava saturada com aquele volume de informações mais agora com o xingamento de Carlos.

Quase me coloquei de pé, contudo Ernesto me conteve, fez um gesto amplo para que eu me acalmasse, bufei irritada e ele me lançou um olhar bastante severo. E junto continuamos ouvir os dois dentro de escritório continuarem a falar.

-É isso que temos que descobrir meu filho. – Alex terminou de virar seu copo – E ai que você entra em ação.

Em um relance vi um brilho diferente nos olhos Carlos, não sei muito bem como denominá-los, contudo ele parecia admirado com plano silencioso do pai.  Mesmo que as palavras não foram ditas, sabia exatamente o que eles planejaram através das duas trocas de olhares.

Ele aproveitaria do sentimento que nutro por ele, para arrancar qualquer informação, nunca havia me sentido tão fraca e impotente em minha vida, pois sabia que ele poderia conseguir isso facilmente, graças do meu coração burro e cego. Aquilo me irritou, pois eles tinham certeza da minha fraqueza por Carlos, como seria fácil executar o plano.

-Pode deixar papai. – O sorriso malicioso de Carlos apareceu no seu rosto. Era um dos mais bonitos que eu já tinha visto. Logo vi que realmente eu era louca e masoquista – Agora eu preciso dormir. Se senhor me dá licença.
-Claro meu filho - Alex pegou mais uma vez a garrafa de uísque nas mãos, e encheu seu copo.- Lembre-se do seu objetivo, e concentre-se nele. Eu preciso saber qual o interesse da mulher dos olhos lilás em Clair.
-Pai não se preocupe, será mais fácil do que o senhor possa imaginar.- Os olhos de Carlos faiscaram luxuria. – Será até divertido.

Carlos pegou as folhas que estavam na mesinha de centro na frente das poltronas, arrumou-as em suas mãos. Despediu mais uma vez do pai, que parecia estar distante em seus pensamentos. Eu poderia identificar alguém divagando muito facilmente, afinal eu sou uma especialista nessa pratica.

Assim Carlos começou a caminhar em direção a porta do escritório. Então eu e Ernesto vimos que deveríamos nos levantar e sair dali rapidamente, para não sermos vistos. E também não poderíamos fazer nenhum som que denunciasse a nossa presença ali.

Dessa forma prendemos a respiração em conjunto, ficamos um segundo sem saber o que fazer. E tudo pareceu ter acontecido por alguns minutos, mas na verdade tudo ocorreu em alguns segundos.

Ernesto me levantou rapidamente do chão, me prendeu em seus braços, começo a me carregar pelo corredor a fora. Agradeci por não usar meus pés, afinal era tanta coisa para se absorver em meu cérebro, que agora trabalhava tanto para assimilar aquela loucura que nós estávamos vivendo que acredito não seria capaz de comandar meu andar.

Notei que meu irmão nos levou de novo para o banheiro, encostou a porta lentamente, e me colocou no canto no chão atrás dela. Levantou-se e ficou observando pela fresta a movimentação do corredor.

Ouvi Carlos indo a direção ao seu quarto, que ficava no mesmo corredor, algumas portas do escritório. Meu tigre queria acompanhá-lo podia sentir sua agitação dentro de mim, ele só poderia ter prazer mórbido em se machucar, afinal ele ouviu que Carlos não gostava de mim e sim que tinha interesses maliciosos direcionados a mim. Contudo isso não parecia abalá-lo de maneira alguma.

Eu sou a prova viva do ditado que diz o amor nos cega, não nos deixando ver à razão com clareza. Meu tigre é o exemplo concreto dessa teoria. Só pude suspirar pesadamente com esse meu lado emocional tão teimoso que possuía.

Ernesto olhou para mim ao final do meu longo suspiro, deve ter feito um barulho alto, porque seu olhar era acusatório, e seguido por um sinal para que eu fizesse silêncio. Sibilei para ele desculpa. Ele voltou a olhar para o corredor. Depois de alguns minutos, ouvi Alex, apagando a luz do escritório. Nesse momento Ernesto agachou ao meu lado. Então ouvimos a porta do quarto dele se fechar.

Finalmente podíamos respirar aliviados, os dois tinham ido dormir. Não conseguíamos falar nada por algum tempo, nossos pulmões estavam tentando normalizar a nossa respiração, que estava bastante ofegante, devido aos minutos de tensão que acabamos de viver.   

Não conseguia movimentar nenhuma parte do meu corpo. Parecia que toda minha energia estava concentrada para a minha mente, que trabalhava de maneira muito rápida, tentando organizar o caos de informações que continha dentro dela. Ainda havia as emoções se misturando aquilo tudo. Não conseguia saber o que eu deveria pensar e sentir, talvez eu não conseguisse lidar com aquilo tudo e explodiria, não conseguiria lidar com toda essa enxurrada que inundou a minha pacata vida inútil.

Afinal hoje foi o dia mais estranho e mais surreal da minha vida. Nessa hora comecei repassar o dia de hoje mentalmente: acordei sem animo nenhum, como sempre. Arrastei-me até a casa do Fonseca, servir o café da manhã para toda família.

Continuei me sentir morta por dentro, como sempre, arrumei os quartos. Tive um pouco de alegria, extremamente incomum para mim, quando Ernesto me chamou para acompanhá-lo até a praia. Ficamos lá relaxando e conversando por algum tempo, e decidimos retornar para casa.

Foi a partir desse momento que tudo começou a ficar esquisito e nada começou a fazer sentindo. Encontro com Lisa, o surgimento dessa inquietação dentro de mim, o comportamento angustiado do meu irmão, o surgimento do diário de Sarah, a necessidade de eu ter que ler, Alex conhecer um pouco da história de Lisa. E no meio dessa loucura toda, eu sentir milhões de sentimentos novos. Nunca experimentei viver tanta coisa em um dia somente.

O que mais me intriga é a sensação nítida, que tudo isso era somente o começo. Lembrei-me agora especificamente do conteúdo da minha conversa com Ernesto na praia. Ter algo maior esperando por nós, que ansiávamos desesperadamente por isso.

Acredito que o produto mais importante de todo esse processo foi o surgimento de um sentimento por mim nunca experimentado: A esperança. Tudo que aconteceu no dia de hoje, me trouxe uma certeza que minha vida ia mudar.

Ao concluir isso nesse segundo, imediatamente fui invadida por uma emoção muito forte: a da felicidade. Quase por mim experimentada, talvez as raríssimas vezes que ela apareceu na minha vida. Agora ela foi traçando junto com a minha esperança dentro de mim, a possibilidade de me libertar daquela vida escrava e vazia que eu vivia na casa dos Foncesas. Quando seu traçado chegou até o meu peito, senti meu coração se acelerar, aquilo era ser feliz pelo amanhã. E finalmente ela chegou à minha face em forma de sorriso.

-Tudo vai mudar. Eu posso senti. – Sussurrei, e olhei para Ernesto, que estava ao meu lado.

Meu irmão levantou a cabeça e me encarou com uma feição preocupada. Contudo quando leu minha expressão de felicidade, vi que seus olhos também transbordavam esse meu sentimento. Abriu um sorriso lindo, mostrando toda sua alegria de me ver naquele estado eufórico. E meu deu um abraço gostoso.

-Nunca te vi tão feliz. – Agora ele sussurrava entre meus fios de cabelo.
-Eu quero ter essa sensação sempre. – Eu respondi.
-Você vai ter eu lhe prometo.
-Ernesto, não consigo entender como eu estou envolvida nisso tudo. – Desvencilhei de seus braços e encarei seus olhos. - Mas eu sinto que algo vai acontecer e a espera não será longa. Mesmo não sabendo como eu me encaixo nisso tudo.

Ele me deu um beijo no rosto, sem conseguir tirar o sorriso dos lábios. Acho que era a primeira vez que alguém conseguiu entender e sentir o que ele sempre teve dentro do seu peito. Aquela certeza de um destino certo e diferente para nós. Ele estava aliviado e feliz.

-Ernesto tudo está muito confuso dentro de mim. – Fui me colocando de pé. E puxando-o pela mão para me acompanhar. – Mas eu não tenho medo. E tenho certeza.
-Clair eu não sei o que vai acontecer, porque tudo ainda está muito solto. Mas saiba que estaremos sempre lado a lado - E me abraçou novamente.
-Temos que pensar o que vamos fazer. Porque Carlos vai para cima de mim. – meu tom de voz era um pouco receoso, temia ser traída pelo sentimento que nutria por aquele monstro. – Eu ainda preciso ler aquelas páginas.
-Primeiro vamos sair desse banheiro, porque eu não quero ficar sussurrando o tempo todo. E também você tem que me contar o que você leu para podermos juntar algumas peças.
-Sim você tem razão. – eu respondi pegando sua mão, e saindo pela porta. Quando ele me segurou.
-Tenta não fazer barulho. – Ele me olhou com aquele olhar de moleque - Você tem a delicadeza de um elefante em uma loja de cristais.

Fingi um sorriso deboche, e fiz com as mãos um gesto indicando que ele passasse na minha frente, para poder nos guiar. Ele agradeceu a honra, realizando um gesto espalhafatoso, ao final dele sua mão direita bateu na porta, fez um barulho de um baque.

-Depois eu que sou barulhenta – Respondi prendendo o riso.
-Doeu tá bom. – ele afagava a mão – Vamos parar de falar e vamos.

Seguimos pelo corredor, alguns momentos Ernesto parava para verificar se não havia ninguém nos seguindo. Descemos cuidadosamente os degraus, no ultimo vi que ele desequilibrou e quase caiu. Seu rosto ia encontrar o chão sem piedade. Entretanto, de forma quase que mágica, eu o segurei pela mão, impedindo o seu fatídico encontro com o assoalho.

Ele me encarou impressionado. Suas feições mostravam para mim milhões de perguntas sendo feitas. Também tive que me perguntar mentalmente. De onde tinha saído força suficiente para segurar um homem de quase 1,80 e musculoso com tanta facilidade?

Não consegui obter nenhuma resposta. Ele ainda me lançava um olhar curioso, talvez esperando alguma explicação. Só pude lhe dar os ombros, demonstrando que eu não tinha nenhuma resposta.

Continuamos andar pela casa, fomos em direção a nossa cabana, não falamos um minuto sequer durante o percurso. Provavelmente o cérebro de Ernesto também estava tentando absorver toda aquela loucura que a gente estava vivendo.

Fiquei pensando o que passava na cabeça dele. Seu rosto mostrava que ele estava intrigado, sem duvida as peças dele também não estavam se encaixando como as minha. Ainda faltavam algumas informações para termos conclusões certas sobre aquilo tudo.
Ao passarmos pela soleira da cabana pude escutar Ernesto inspirar e respirar de forma lenta e compassada. Ele passava a mão na cabeça, bagunçava os cabelos, olhava para um lado e para outro, seus passos o acompanhavam. Agora sem dúvida eu tinha certeza que ele estava tentando organizar tudo em sua mente.

Eu me joguei no chão, era uma habito que eu tinha desde pequena. Sempre que eu precisasse relaxar eu me deitava no chão, era única maneira de alinhar o meu corpo. Eu sinceramente me sentia esgotada, acho que tudo que eu vivi no dia de hoje tinha consumido toda a minha energia.

Contudo o interessante que eu não sentia sono, meu corpo não queria dormir. Na verdade ele estava mais alerta do que nunca. Talvez ele nunca tenha sentido tão vivo.

-Me conte o que você leu naquele Diário. – Ernesto disse impaciente andando de um lado para o outro.

Fechei meus olhos e comecei a contar toda linda historia de Sarah. Eu queria que aquelas páginas fossem escritas por mim, elas eram tão apaixonadas e cheias de amor. Que me fez ter inveja de sua vida, na verdade eu queria é fazer parte daquela família. De certa maneira eu me sentia parte dela, afinal meu desejo era imenso sobre isso.

Durante o meu relato meus ouvidos perceberam os passos de meu irmão cessar, ele sentou ao meu lado. Ele estava tão calado, que se não fosse por sua respiração, eu poderia jurar que ele tinha deixado a sala.

Também falei sobre o turbilhão de emoções que senti ao ler as folhas escritas por Sarah. Afinal nunca houve segredos entre nós, agora muito menos. Pois estávamos juntos nessa aventura.

Falei-lhe também a minha raiva ao perceber o que Carlos tinha feito contra o diário. Como em pouco tempo eu tinha me apegado a Lisa e a aquela historia escrita. Mesmo sem entender eu iria defender a qualquer custo. Ao final parei no momento que o encontrei no jardim.    

Abri meus olhos para fitar o meu irmão. Ele estava encarando o chão. Eu o chamei, mas ele não respondeu. Novamente disse seu nome, um pouco mais alto. Então ele me encarou e disse.

-Nós não sabemos o que está escrito nas páginas arrancadas por Carlos. – Seu olhar era urgente. – Precisamos de mais informações, para tentarmos entender. Afinal não temos certeza que encontraremos com Lisa.
-Eu vou pegar as folhas que estão com ele. – Respondi determinada.
-Pode ser perigoso
-Não me importo. Eu vou dar um jeito. - olhei diretamente nos seus olhos. - e será hoje a noite.


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Notas finais do capítulo

carlos tem algumas peças....

mas ela ainda vai pegar as folhas. será???

bjs



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