Amz escrita por MissBlackWolfie


Capítulo 6
Diario


Notas iniciais do capítulo

Depois de mtoooooooooo tempo volto aki

vms ler o q tem nesse diario.. mais importante o q vai acontecer depois dessa leitura...



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Olhei a capa do diário, minhas lagrimas molharam um pouco o couro. Então passei a mão vagarosamente tentando enxugar e limpar as gotas que ali caíram.

A rosa dourada desenhada nela era linda e delicada, me fez imaginar se a escritora daquelas paginas teria aquelas mesmas qualidades. Acredito que sim, pela capa tão delicada só poderia pertencer uma mulher de personalidade encantadora.

Engraçado como eu tinha certeza que esse manuscrito na minha mão não era de Lisa. Ela parecia ser uma mulher tão forte e inabalável, não combinava com a sua postura escrever seus sentimentos em um papel.

Bem eu só teria respostas das minhas teorias se começasse a ler aquela encadernação. Respirei fundo, quando abri, vi o fecho quebrado, aquilo fez um nó na minha garganta.

Ódio foi o único sentimento que veio ao ver aquele arrombamento. A culpa apertou mais um pouco a minha garganta, mesmo sabendo que não fui a responsável por aquele ato de vandalismo. 

As páginas eram de cor de marfim, as folhas eram de um papel grosso, não queria perder nenhum detalhe daquele meu tesouro. A primeira pagina só havia uma frase, com uma caligrafia muito fina, ela dizia assim:

“Minha vida começou depois das minhas meninas.”          
             Sarah.

Senti o bolo que se encontrava parado na minha garganta descer vagarosamente, junto com ele foram os meus sentimentos de culpa e vergonha.

Novamente passei meus dedos delicadamente em cada pedaço daquelas pagina. Meus lábios desenharam o sorriso da minha alegria. A inquietude sentida por mim mais cedo voltou, trazendo para mim a certeza que eu tinha que ler aquele diário.

Finalmente eu ia descobri o que estava acontecendo, senti uma faísca de esperança me aquecer. Esse sentimento que estava brotando de mim era desconhecido, pois nunca fui uma pessoa esperançosa, ao contrario sempre achei que teria a mesma vida escrava para sempre. Contudo sentia o calor de uma possível mudança na minha história, minha inquietação promocia isso dentro de mim.

Ouvi Ernesto entrar no meu quarto, com extrema urgência, seus olhos logo procuraram rapidamente pelos meus. Sua respiração estava ofegante, parecia estar sobressaltado.

Quando me viu encolhida no canto do quarto, ele se agachou na minha frente, passou a mão nos meus cabelos carinhosamente. Sem perder o contato visual comigo, perguntou:

-Está tudo bem?
-Sim – Minha voz saiu falha, então soltei um pigarro, talvez ainda houvesse algum resto do nó de culpa e vergonha. – Vou começar ler esse diário.
-Vi Carlos saltando a janela. Ele te machucou? – Sua voz não era mais que um sussurro.
-Não.
-O que ele estava fazendo aqui? – Seu olhar era repleto de preocupação.
-Estava lendo o diário.

O rosto do meu irmão tomou um aspecto sombrio, se não o conhecesse eu ficaria com medo. Seus traços desenharam um homem ameaçador e raivoso. Ele puxou o ar fortemente, fechou os olhos e esvaziou os pulmões.

Sei que ele estava buscando calma e serenidade, para não ser levado pelo instinto de bater em Carlos. Então abriu as pálpebras e me fitou calmamente. 

-Bem vou deixar você aqui lendo e vou ficar do lado de fora, bem perto da mansão. Para vigiar Dom Juan falsificado, para que ele não fique rondando o castelo da bela donzela.

Ri do seu comentário, afinal imaginar Carlos como um irresistível conquistador romântico era engraçado, já que ele era um monstro privado de quaisquer sentimentos bons.

Ernesto beijou minha testa e em seguida levantou-se, olhou por alguns segundos dentro dos meus olhos, em seguida abriu um lindo sorriso. A única resposta que poderia dar à ele, como  retribuição a sua gentileza de ver qual era meu estado, era através de um sorriso tímido.  Esse tipo gesto dele que sempre me faz pensar, que não há no mundo irmão e pessoa melhor do que Ernesto.

Enfim depois de ver meu irmão partindo, inspirei e respirei bem fundo para voltar meu foco na historia de Sarah. Queria minha mente bem tranqüila, para absorver todos os detalhes daquela vida, que certamente era muito mais interessante do que a minha. Ao virar para segunda pagina vi um longo texto.

“O nosso amor era quente e intenso como fogo. Queimava qualquer fio de sanidade que eu possuía. Ele me cegava e consumia de forma inquietante, nada mais importava quando eu estava enlaçada em seus braços. Era o nosso universo particular, vivíamos em perfeita harmonia, só existíamos nós dois.”

Suspirei com o volume de amor que havia naquele trecho. Sempre li nos livros que amor era um sentimento muito poderoso, capaz de atos dos mais insensatos. Mas ler as palavras de uma historia real, me fizeram questionar algo nunca por mim pensado. Será que um dia eu teria esse tipo de sentimento por alguém? A única pessoa que eu poderia ter algum tipo de relacionamento, nessa minha vida inútil, era Carlos. Será que eu estava condenada à ele? Não queria pensar mais nisso, e sim voltar a ler.

“Os nossos beijos nunca eram um contato suficiente, era somente o começo da nossa enlouquecedora paixão. Eu bebia, comia, respirava, vivia para ele, cada pedaço da minha alma era dele. A qualquer momento do dia ou da noite, bastava eu fechar os olhos para senti-lo ao meu lado, me tocando. Mesmo depois de anos sem o ver, consigo ainda sentir seu cheiro e seu gosto. Tudo ainda é bastante nítido aos meus sentidos.”

Toda aquela intensidade estava me fazendo arfar. Era um volume de amor nunca por mim visto ou lido. Era uma paixão avassaladora, do tipo que todas as mocinhas de qualquer romance desejariam viver.

“No auge da nossa historia de amor, tive o pensamento que talvez meu coração não agüentasse a quantidade de amor que eu sentia por aquele homem. Eu me sentia completa na prisão dos seus braços, não havia nenhum lugar vazio dentro de mim. Havia somente ele dentro de mim, acreditava que ninguém poderia competir com ele, que eu sempre seria dele, somente dele.

Mas certa noite percebo que o meu amor estava se transformando. Estava me sentindo mais completa, pensava que isso não era mais possível, já que ele já me possuía por completo. Contudo o nosso amor estava diferente, tinha um gosto mais doce.

Em minha mente o meu amado já tinha dado tudo que a minha alma ansiava, ele e seu amor. Entretanto eu estava errada, ele me deu algo mais, os meus maiores presentes, que somente alguém que ama pode entregar ao seu parceiro.  Eu nem sonhava em ter aquele tipo de amor na minha vida, o nosso amor era único na minha historia. Mas esse novo era muito mais intenso.

 Percebi depois de uma das nossas noites de paixão, que esse novo amor tinha como origem o meu ventre. A emoção que senti na certeza desse meu milagre da vida, me tomou de maneira arrebatadora. Aquele homem, que tanto amei, me deu duas das minhas maiores dádivas da minha vida: as minhas filhas.

Assim elas alimentaram de todo o meu amor, eu passei a pertencer a elas, minha vida começou a girar em torno da existência delas. E de uma forma mágica ele percebeu isso, viu que eu não era mais dele, toda a minha energia era delas. Então na nossa ultima noite juntos eu tinha certeza que nunca mais o veria. Entretanto a nossa despedida foi quase indolor para mim, eu não ficaria sozinha, havia comigo as melhores companhias que eu poderia desejar.

Acredito também que ele nunca mais voltou porque tinha receio de possíveis cobranças quanto suas obrigações. Mas eu nunca havia desejado como meu marido, não cabia dentro da nossa paixão um papel matrimonial. Eu não gostaria que as convenções sociais limitassem a intensidade do nosso amor. Fomos um do outro, nos entregamos por completo. Foi repleto, foi único. E o resultado dessa historia de amor, foi o traçar do meu destino.”

Ao terminar de ler essa frase me senti como uma invasora. Eu estava entrando na vida de Sarah sem menor pudor. Na verdade eu estava desejando aquela historia fosse a minha, que eu tivesse vivido aquilo tudo.

Nunca senti inveja por ninguém, mas a essa louca paixão, me deixou sedenta por essa experiência, queria viver aquela intensidade. Respirei longamente, precisava controlar minhas emoções e pensamentos. Eu tinha meus devaneios, devo continuar a desvendar a vida de Sarah.

Virei a pagina, para minha surpresa, constatei que algumas páginas tinham sido arrancadas, pedaços de papel rasgado ali. Senti que aquele ato tinha me rasgado também, aberto uma fenda na minha curiosidade. Por que elas não estavam ali? Quem poderia ter arrancado?

Mas antes que eu continuasse a levantar novas indagações, meus olhos passaram para outra pagina escrita. A caligrafia de Sarah era linda, tão delicada e refinada.

Minha visão correu aquela folha, notei alguns borrões entre as letras, como gotas tivessem manchado algumas silabas, nada que comprometesse o entendimento da palavra. Então comecei a ler essa memória.

“Seis meses se passaram, desde aquele dia que eu encontrei as minhas outras meninas. Elas cresciam a cada dia, sempre fortes e saudáveis, e principalmente unidas. Era lindo vê-las todas juntas, eu e Lisa sempre ficávamos horas olhando elas brincando, se conhecendo a cada dia mais. Era nítida que havia uma mágia que as ligavam entre elas, uma a outra, algo mais forte do que a lógica idéia de que eram irmãs.

Meu ventre não parava de crescer, estava com mais de oito meses, sabia que não esperaria muito para ter o restante das minhas meninas nos meus braços.

O amor transbordava de mim, por todos meus poros. A felicidade que possuía com essa nova família, com esse novo destino, fazia-me ansiar cada hora mais a chegada delas, das minhas filhas de sangue. No mundo dos meus sonhos acordados, conseguia ver com clareza a imagem de todas elas brincando juntas.

Lisa cuidou de mim com muita dedicação e carinho, juntamente com as pequenas, contudo a minha nova irmã era incansável. Sendo sempre compreensiva com meus desejos de grávida, até as meninas participavam desses cuidados.

No final da gestação não conseguia andar por longas distancias e elas ficavam todas à minha volta. Alegrando o meu dia e minha vida.

Certo dia despertei sentindo mais redonda que o normal, minhas pernas estavam pesadas, muito inchadas, mas mesmo nesse estado não me queixava de nada.

A realidade que estava tão embriagada de amor, que tudo parecia ser um lindo sonho. Já fazia algumas semanas que a minha enorme barriga não deixava ver meus pés, eu achava graça nisso.

Quando tentei levantar naquela manhã, senti uma leve pontada na parte baixa do ventre. Tentei sentar na cama, sempre respirando fundo, como Lisa havia me ensinado.

Novamente senti outra pontada, mas dessa vez mais forte, o que me fez gemerm, vi pelo canto de olho May entrando no quarto, seus olhos negros assustados logo me fitaram. Então pedi para ela chamar Lisa, avisar que chegará a hora das meninas nascerem. Só pude ouvir seus passos correndo e gritando por Lisa.

As pontadas começaram aumentar, assim senti um liquido quente escorrer pelas minhas pernas. Nada disso me assustou, por que eu e minha nova irmã já havíamos conversado muito como seria o parto.

Logo a vi chegar apressada, e as meninas estavam em seus calcanhares. Aqueles pares de olhos intrigados cada um de uma cor única, me olhava com apreensão. Quando pude, entre uma contração e outra, disse para elas ficarem calmas e que tudo daria certo.

E assim aconteceu, o parto foi tranqüilo, a primeira a sair de meu ventre foi Bia. Dei esse nome a ela em homenagem a minha mãe era o seu apelido de infância, momento de sua vida que ela me confessou ser o mais feliz de sua existencia.

A minha Bia tinha uma pele linda, seu tom era parecido com mel, irradiava um brilho maravilhoso, parecia com pequenos raios de sol. Quando suas pálpebras se abriram, seus olhos eram esverdeados, havia tanto amor e ternura neles. Parecia com olhar de minha mãe, isso fez memórias dançarem na minha mente.

Em seguida, Lisa pegou Bia dos meus braços com um pano para limpa-la, no mesmo momento pude ouvir o seu choro invadir o quarto. Consegui ver ela sendo limpa e colocada no berço que estava ao lado da minha cama.

Lisa retornou a mim e disse que eu deveria fazer força mais uma vez, pois havia mais uma guerreira para vim ao mundo. Gritei novamente, colocando o restante da minha força naquele momento, em seguida senti a minha última menina saindo de dentro de mim, só faltava ela para minha felicidade ser completa.

Quando Lisa limpava e enrolava o meu bebê em uma manta, ouvi seu suspiro de admiração, em seguida a ouvir repetir várias vezes que a menina era linda como a noite.

Não estava entendo, na verdade eu ainda estava atordoada pelo cansaço, meu corpo estava todo dormente e dolorido. Travava uma batalha comigo mesma para não me entregar aos desejos do meu corpo por descanso, queria ver minha filha antes.

Por fim pedi para Lisa me entregar e menina, ela atendeu o meu pedido, assim colocou a menina calmamente em meus braços e disse: “A nossa Lunna”.

No momento que olhei Lunna entendi o porquê de minha irmã chamá-la assim. Aquela criança era branca como uma porcelana, mas tinha um brilho fascinante na pele, parecia o mesmo que a Lua tinha.

Quando suas pálpebras levantaram me surpreendi, os seus olhos possuíam a cor de cinza claro como do homem que amei. Assim meu coração explodiu de tanta emoção, minhas lágrimas desciam como rios com fortes correntezas. Novamente minha mente ficou repleta de memórias, mas essas eram doces.

Pedi para Lisa trazer Bia, queria as duas em meus braços. Meus dois presentes, meus amores, que tinham vindo para terminar de completar a minha vida. Lunna era a minha noite e Bia o meu dia.

De repente Bia começou a ficar agitada e seu choro cortou o silencio do quarto novamente, algo parecia estar a incomodando, isso chamou atenção de Lunna, que também começou a se movimentar, mas sem lágrimas.

Pareciam que as duas estavam tentando libertar-se das mantas que as envolviam. Dessa forma Lisa tirou o pano que estava ao redor das duas, e as colocou próximas no meu colo. Imediatamente Lunna pegou no pulso de Bia, que deu um sorriso encantador. Depois desse contado elas se acalmaram e dormiram calmamente.   

Esse gesto me deixou encantada e procurei o olhar de Lisa em busca de alguma explicação, ela somente deu os ombros. E falou: “Acredito que vamos descobrir como é o amor delas duas”. Pousei meu olhar naqueles pequenos rostos que descansavam de maneira tranqüila.

Fomos interrompidas de nossos devaneios silenciosos pelo anseio das minhas outras meninas. Elas estavam inquietas no canto do quarto, pediam, entre sussurros, para verem as novas irmãs.

Achamos graça daquela pequena bagunça silenciosa das meninas, então atendemos aos seus pedidos. Lisa pegou os dois bebês, que estavam dormindo, do meu colo, os ajeitou delicadamente nos seus braços, e seguida sentou em uma cadeira que estava em outro canto do quarto, as meninas logo se arrumaram ao redor dela.

Fiquei na cama observando a reação de cada uma para as novas irmãs. Os olhos da G brilhavam como se lá houvesse milhões de estrelas, ela sussurrava para Lisa que suas irmãs eram lindas.

Do outro lado da cadeira, bem diferente da postura de G, estava May quieta, parecia estar concentrada em capturar todos os detalhes da suas novas companheiras, como elas sempre se referia a Lunna e Bia, quando ainda estavam na minha barriga. Ela estava com os olhos nos rostos dos bebês, extremamente atenta a qualquer movimento que elas faziam, ela estava as protegendo, eu podia sentir.

Nina estava logo embaixo de G, ela era a mais tranqüila das três, ela emanava paz, porém, isso já era comum a ela. Passava a mão vagarosamente na bochecha de Bia, que agora dormindo esboçou um sorriso. Pude ouvir um gritinho abafado de G, ao ver sua nova irmã sorrindo.

May lançou um olhar severo para G, que por sua vez lhe mostrou a língua. Ri dessa travessura entre as duas. Contudo Nina pareceu estar alheia ao desentendimento das irmãs e passou seus dedos agora para o rosto de Lunna, fazendo movimentos circulares na sua bochecha.

De repente vimos Lunna abrir os olhos buscando os da Nina, que tinham uma cor única em seus olhos, elas ficaram com os olhares presos uma na outra por alguns minutos.

Parecia haver uma conversa silenciosa entre as duas. Ao final vi um sorriso magnífico se formar nos lábios de Nina, em seguida ela inclinou-se e beijou a testa de Lunna, que voltou a dormir profundamente.”

Ao terminar de ler aquele momento de Sarah, entendi que os borrões de tinta naquelas paginas, eram as lagrimas dela. Era palpável a felicidade dela, até eu estava emocionada com todo aquele relato recheado de emoções. Ali estava a alegria dela de ter as filhas, como ela se sentia completa com a maternidade.

Então um pensamento me ocorreu: Será que minha mãe tinha sentindo esse volume de emoções, quando eu nasci? Eu espero que sim, queira me iludir que meu nascimento foi algo maravilhoso para ela.

Aquelas palavras me despertaram uma saudade sufocante de algo que não vivi. De estar nos braços da minha mãe, ter o seu amor e compreensão. Mas como posso sentir falta de algo que nunca tive?

Na verdade eu nunca havia pensado muito sobre meus pais, pois eu sempre evitava tocar nesse assunto com Ernesto. Porque toda vez que esse assunto surgia em nossas conversa, eu podia ouvir o monstro da tristeza que habitava o coração dele rugir alto.

Lembrar dos nossos pais era como alimentar aquele monstro, que Ernesto tentava a todo custo manter adormecido. Enfim eu o amava muito, não queria fazê-lo sofrer, só para alimentar minha curiosidade.

Mas ler aquele relato repleto de carinho da Sarah me fez querer saber sobre o sentimento da minha mãe por mim. Comecei a sentir um desespero invadindo cada centímetro do meu corpo.

Eu nunca teria essa resposta, eu não teria essa lembrança. Em seguida um vazio invadiu a minha alma, ele era frio e sombrio. Ainda roubava o meu ar e as lagrimas, que saiam descontroladamente, na verdade ele parecia se alimentar delas. Ele foi crescendo rapidamente dentro de mim, me consumia cada pecado da minha alma. Nunca me senti tão sozinha e vazia, eu seria assim para sempre.

Meu choro então saiu da minha garganta como um rugido, era o meu monstro, a minha dor mostrando todas as suas garras. Abaixei a cabeça, meus cabelos caíram no meu rosto, eu estava esgotada, não havia nada dentro de mim.

 Então vi que o diário ainda estava no meu colo, limpei os meus olhos, tirei as lagrimas que ainda insistiam em sair. Lancei meu olhar para as paginas, vi que eu tinha feito novas manchas de gotas nas folhas.

Eu deveria continuar lendo, afinal eu deveria viver a vida dos outros, pois eu nunca tive uma. A leitura para mim sempre foi isso, a possibilidade de ter algum tipo de vida, viver sonhos e desejos, que nunca eu iria viver.

Continuaria a ler o diário daquela mãe amada. E por mim desejada, eu queria ela como minha mãe, queria aquelas memórias fossem minhas.

“Ao passar do tempo as meninas estavam cada vez mais unidas. Havia um laço lindo de amor genuíno que as ligavam, elas sempre estavam juntas e felizes.

Lisa me dizia que elas eram assim graças a mim, ao meu amor, a minha infinita capacidade amar incondicionalmente. Essa era a minha maior força, era ela que trazia harmonia para elas serem irmãs de verdade, independentemente de laços sanguíneos.

A mim não importava quem ou o que, era responsável por aquele lar repleto de amor e carinho. Eu tinha a felicidade como morada em minha casa.

Eu e Lisa ficávamos observando por horas a forma que elas se relacionavam, as suas qualidades e as forças apareciam a todo o momento. May era a mais racional e inteligente, aprendia sobre qualquer assunto rapidamente, ela sempre estava ensinando a suas irmãs seus novos conhecimentos. Nina era uma artista nata, pintava quadros divinos. G era a mais carinhosa, sempre abraçando e nos beijando, ela emanava amor. Bia era como um dia ensolarado sempre cheio de energia, iluminava tudo e todos a sua volta. Lunna era a mais centrada e paciente de todas, amava ficar perto das suas irmãs, de interagir com cada uma delas.

O que mais me intrigava era a ligação forte que Lunna tinha com Bia e Nina. Com primeira era algo que me encantava, elas sentiam o que a outra sentia, desde sentimentos como até dores físicas. Uma equilibrava a outra, uma estava sempre ao lado da outra para tudo. Eu via o dia e a noite perante aos meus olhos se ajudando diariamente.

Mas esse comportamento das duas era esperado, afinal elas eram irmãs gêmeas, já tinha ouvido relatos desse tipo de afinidade.

Contudo o mais fascinante era com Nina. Elas se comunicavam através do olhar, havia uma cumplicidade genuína entre elas. Divertiam-se tanto juntas e compartilhavam tudo que aprendiam uma com a outra. Sempre que eu procurava uma eu sabia que acharia a outra, sempre de mãos dadas.

As cinco meninas eram as minhas estrelas, me guiavam pela minha vida, eu possuía uma constelação dentro da minha casa. Elas iluminavam o caminho que eu tinha escolhido viver ao lado delas. Sei que ainda falta uma estrela, e sei que ela ainda irá nos encontrar”.

Lunna e Nina era como eu e Ernesto, eram parceiras. Mas concordo com Sarah, a relação delas é mais fantástica, não havia a ligação de sangue entre elas. Era somente amor, simples e puro.

Agora não me sentia uma invasora em ler aquelas páginas e sim uma convidada em partilhar aquela historia. Dentro de mim começou a ser reforçado um desejo, ou até um tipo de esperança, que havia se instaurado em mim depois da insistência de Lisa para eu ler aquele diário.

A idéia que, bem remotamente, eu poderia fazer parte daquela família, que eu era a estrela perdida. Mas antes de qualquer outro devaneio deveria saber mais sobre elas.

Ao buscar por novas paginas, para continuar a minha viagem na historia de Sarah, notei novamente que outras folhas foram arrancadas. Meu dragão começou a ficar agitado, parecia que ele estava tentando mostrar algo que eu não estava conseguindo enxergar.

Então de repente a minha mente começou a voltar no tempo, como se um filme estivesse sendo rebobinado para trás. Mas a seqüência de cenas parou em um quadro especifico.  Nele estava Carlos e eu, no momento em que eu lutava corpo a corpo com ele. 

Agora havia outra de mim, a Clair do presente, naquela lembrança, e essa se mexia dentro desse quadro.

O plano geral me fez suspirar, realmente eu e Carlos fazíamos um casal bonito. Entretanto quando comecei a ter devaneios entre nós dois, ouvi meu dragão rugir, me trazendo o objetivo desse retorno ao passado. Ele queria me mostrar algo importante.

Assim comecei a correr os olhos para cada detalhe daquela imagem. Estávamos no centro, com os corpos bem colados ele usava um casaco marrom escuro.

Contudo eu, a “Clair do presente”, era única a me mexer naquela foto, então me aproximei do casal, mais especificamente de Carlos. Fui investigando a sua imagem, ao mesmo tempo meu tigre estava se deliciando com cada pedaço que eu olhava dele. 

Meu dragão mantinha minha mente concentrada em achar algo que me auxiliasse.

Enfim pude observar nitidamente, a roupa que Carlos usava. Ele estava com uma calça jeans azul escura, com uma blusa de algodão branca de botões. Meus olhos começaram a deslizar por todo seu corpo ali estático. Eles pararam perto da cintura dele e vi que a blusa estava um pouco levantada. Então observei as folhas marfim, iguais as do diário, pressas na sua cintura junto com a calça. Senti meu eu do presente sendo puxada para trás, aquela imagem congelada do passado foi ficando para trás. Tudo começou se encaixar rapidamente ouviu um estalo alto das minhas conclusões.  Carlos que arrancou as páginas.

Quando percebi já tinha me colocado de pé em um sobressalto. Minha respiração começou a ficar irregular, a raiva me consumiu, adrenalina começou a correr dentro das minhas veias. Eu já estava bufando, igual ao meu dragão. Imediatamente comecei a marchar para fora da cabana. Agora eu tinha uma nova missão conseguir aquelas folhas arrancadas.

Enquanto andava, os meus pensamentos, como sempre, estavam inquietos, e corriam dentro da minha cabeça. Eles estavam completamente irritados com a atitude de Carlos. Não acreditava que ele poderia ter feito aquilo, já não bastava o fato dele ter arrombado o fecho. Qual o interesse dele naquelas folhas? Será que ele fez aquilo tudo para me afetar de alguma maneira? O que ele ganha com isso tudo? Já sei o meu ódio, sem duvida.

Cada pergunta nova, mais eu aumentava a velocidade dos meus passos. Nunca tinha sentido aquele grau de raiva de Carlos, mas hoje ele havia ultrapassado qualquer limite. Pois era a primeira vez em minha vida eu era participante de algo excitante, que estava fora do meu cotidiano sem graça e monótono. Eu podia sentir que toda aquela historia, que começou naquela manhã com o encontro com Lisa, poderia mudar o meu destino. Sem duvida poderia ser uma loucura minha, mas eu precisava viver aquilo, experimentar algum tipo de aventura dentro da minha inútil vida.

Aquele ato havia ferido meu orgulho de maneira bem profunda, trazendo para mim sentimento de revolta, nunca antes por mim vivido. Assim Carlos despertou um lado meu desconhecido até para mim. Uma faceta decidida e forte surgiu dentro de mim, eu estava determinada a me impor. Eu não iria subjugar a sua vontade, eu recuperaria o que era meu. Aquelas páginas pertenciam a mim.

Ao chegar próximo a casa do Fonseca, vi na minha visão periférica Ernesto encostado em uma parede, comendo uma pêra. Então notei que ele me lançou um olhar curioso, suas sobrancelhas se arquearam, ele jogou a fruta fora, e começou a caminhar ao meu encontro. Provavelmente ele deveria estar assustado com meu comportamento incomum de ódio. Afinal, sempre fui uma pessoa muito tranqüila e paciente.

-Clair o que aconteceu? – Ele pegou um dos meus braços, me fazendo parar
-Nada- Respondi entre dentes. 

Estava com tanta raiva que não conseguia abrir a boca para articular as palavras com mais de duas silabas. Desvencilhei de sua mão e voltei a caminhar com passos fortes. Não queria parar e conversar com meu irmão. Eu precisava de repostas de Carlos, nem que eu arrancasse dele, tenho certeza que o meu dragão me daria forças para meu plano.

Contudo Ernesto também tinha uma determinação naquele momento, me fazer parar e falar com ele. Então ele se ficou na minha frente e me segurou pelos ombros. Seus olhos agora eram de preocupação.

Realmente comecei a imaginar como as minhas afeições devem estar assustadoras, só pelo olhar que ele me lançava. Brevemente ele me analisou dos pés a cabeça. Talvez buscando algum tipo de resposta para aquela minha atitude.

- Clair, nunca te vi nesse estado de raiva. O que aconteceu? – fechei meus olhos tentando me controlar, não queria derramar toda minha frustração em cima do meu irmão, ele só estava preocupado comigo.
-Clair sai desse mundo interno ai e me responda. Porque já estou enlouquecendo aqui com esse seu silencio raivoso. – Abri meus olhos vagarosamente, encontrei meu irmão ali parado e aflito comigo em seus braços. Aquilo me fez puxar o ar e encher meus pulmões, estava tentando me acalmar, inspirar e respirar. Para poder dar algum tipo de reposta para Ernesto. Ele merecia isso.

-Carlos arrancou páginas importantes do diário. – Agora eu podia sentir meus olhos estavam umedecidos. Realmente aquela atitude de Carlos tinha aberto uma ferida dentro de mim. Tenho certeza pelo desenho triste que os traços do rosto de Ernesto estavam fazendo agora, ele sentia a minha aflição.
-E o que você pretendia fazer?
-Eu pretendo buscá-las. – Respondi sentindo o gosto amargo da raiva novamente.
-Eu vou com você- Eu ia começar a protestar que não era necessário Ernesto me acompanhar, quando ele me calou, pondo a palma da mão para cima, em sinal que eu nem tentasse argumentar. Sem duvida meu irmão era o meu anjo que vida tinha me dado, mas também era meu cúmplice em minhas loucuras.


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Notas finais do capítulo

Ih... ela vai atras gente....



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