Diario de um Semideus 2 - As Portas da Morte escrita por H Lounie


Capítulo 19
O nascer do sol


Notas iniciais do capítulo

Um capitulo com Apolo, só para variar. Aí está como Lyra veio ao mundo... mais ou menos q



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Apolo

‘‘Caro Sol, herói dos mortais, peço-lhe em teu nome que renuncie seu cargo e acorde jamais. Se recusas, serás inevitavelmente meu cúmplice e traidor. Já pela manhã serás os olhos e o locutor do horror: a áurea de um monstro, o servo ao meu favor. Iluminarás uma pilha de cadáveres, para os amantes de seu calor.’’

França - 1996

Perto de onde eu estava, havia uma bela mulher. Os longos e loiros fios dos cabelos pareciam prateados e quase brilhavam ao absorver a luz que vinhas das lâmpadas na rua. Ela parecia uma estranha que observava a madrugada como quem tenta entender o novo, preocupada com qualquer coisa que não me dizia respeito. Ela estava perdida nos próprios pensamentos, limitando-se a manter diálogos curtos e longos, de acordo com sua vontade, com aqueles que passavam pelas ruas da já adormecida Paris e tentavam a sorte com a bela. Os tolos mortais só faziam desejá-la, medir cada centímetro dela com os olhos. Era bonita demais, mas parecia que no momento sua mente funcionava em outro plano, ela estava ausente, ausente o suficiente para não acolhê-los em seus braços delicados e perfeitos, odiosos e desejáveis. Ela parecia encantar a todos com seu charme carregado de malícia. Seus olhos desprezavam tudo que alcançavam, mas seu sorriso se recusava a aparecer. Falsa, ela sempre foi aquela mentira toda. Nada nunca é suficiente. Seguia sempre confusa e só, inspirando amor às pessoas, delirando com sonhos esquecidos e desejando sempre mais. Agora dispensava outro com seu sotaque falso, sua voz enrouquecida, fria e fraca, de puro tédio e desgosto. Naquela noite ela não parecia estar sendo ela mesma. E naquela noite, eu era apenas mais um de seus admiradores. Contemplava-a como se fosse a atração da noite, a atração principal. O que de melhor havia ali.

– Já se cansou de aquecer corações mortais com suas composições já frias e sem vida? – Suspirou ela, enquanto eu lentamente tomava meu lugar ao seu lado. – Desculpe a indelicadeza, Grande raio de sol. Sei das conseqüências que deve suportar, devido ao caminho que escolheu. Tudo vai dar certo. – Garantiu-me, acariciando meu rosto com sua mão delicada e fria.

– Se suas mentiras não acabarem por matá-la, algo ainda mais terrível vai. – Sorri sem humor.

Tomei sua mão, sussurrando-lhe coisas, coisas que via e sabia a muito tempo. A mulher sorriu.

– Nunca se importa com os sentimentos? Serei apenas mais uma em sua estante de conquista... Outra vez?

Não lhe respondi, em partes, porque ela tinha razão. Talvez eu fosse apenas aquilo, um ser tão complexo e tedioso, ou talvez o medo me fizesse recuar tanto, que qualquer rota de fuga era bem vinda.

– Desculpe, minha cabeça está como... como se eu houvesse me perdido há séculos atrás, não é que eu não me importe, eu apenas acho que o amor está ocupado demais para me ouvir, portanto prefere continuar me ignorando.

Enfim ela sorriu, passando os braços por trás de meu pescoço. Então eu caí no amor mais indesejado. Mais perigoso. As cores do meu sol brilhavam em plena noite francesa, e de repente, tudo adquiriu certo brilho. Era amor o que eu sentia? Provavelmente não. Eu apenas estava garantindo o futuro daquilo que eu conhecia como certo, como real, muito embora eu estivesse arriscando muito, arriscando minha vida, a da bela mulher comigo e ainda uma inocente, uma que ainda estava por chegar.

– Apenas peço que feche bem os olhos depois, para não enxergar o duro julgamento e a dura pena.

Continuamos ali, apenas atentos, confusos, querendo completar aquela pequena parte que o destino nos ordenou. Mais ainda havia uma terceira pessoa, ainda mais atenta, ainda mais interessada. Vigiava cada pequeno detalhe, defendia seus interesses com unhas e dentes e aguardava com ânsia o desfecho da desde já trágica história.

– Não se preocupe Hermes. – Riu a moça. Lançando um beijo no ar e me puxando para o escuro da silenciosa e perfeita noite.

Depois de tudo, sentia tanto medo que apenas a vi partir sem nada dizer, pela última vez, ao nascer do sol.

Estados Unidos - 1996/1997

– Sou egoísta demais para permitir que a roube de mim, mãe. Níobe? Não! Você está ouvindo o que está falando? Quer entregar minha filha à Níobe?

– Deixa o orgulho de lado Apolo, - Suspirou Leto. – A menina não saberá a verdade até que seja a hora, ou mesmo sequer saberá, estará segura. Não é o que deseja?

Ela não vai aceitar. – Disse frio.

Ela é a mãe da menina, deve entender o que é melhor para ela.

– Minha filha será uma grande heroína, eu vejo isso.

– Ela não sobreviverá para ser uma grande heroína se você e ela não cooperarem. Onde a menina está?

– Está com a mãe. – Suspirei só em pensar o quão difícil seria separar a mãe da criança. – Ela já até escolheu um nome. Helena.

– Helena? Ela está querendo amaldiçoar a criança? – Leto parecia irritada, olhava para os lados como se alguém estivesse nos observando. – Lara, a deusa do silêncio, irá te ajudar, será a protetora da garota. Ela já sabe, apenas ela e Hermes sabem, não tem erro.

– Lara? O que Lara irá fazer?

– Vai manter a criança no silêncio, ela não será ouvida e nem vai ouvir.

– A protetora Lara. – Assenti nervoso. – Tudo bem.

Deixei minha mãe e procurei a mulher e a criança. Ao ver-me, a mulher correu, levando minha filha com ela.

– Espere! Se você a ama, sabe o que deve fazer! – Gritei, alcançando-as facilmente.

A mulher parou de correr e colocou-se a chorar. Ver aquilo me deixava mal, sentia-me impotente. Tomei a criança dos seus braços, aninhando-a nos meus.

– Pobre Helena. – Choramingou a mulher.

– De agora em diante ela irá se chamar Lyra, em homenagem a sua protetora, a deusa Lara.


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