Diario de um Semideus 2 - As Portas da Morte escrita por H Lounie


Capítulo 16
A criança traidora


Notas iniciais do capítulo

Trechos de Apollo: Bringer Of Wisdom, do Rush.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/122532/chapter/16

The wise men were consulted, and the Bridge of Death was crossed

(Os sábios foram consultados, e a Ponte da Morte foi cruzada)

A noite começava a cair, fria e silenciosa, enquanto eu e Sky voávamos em um grifo, em direção a Chinatown, em Nova York. Conversávamos sobre coisas sem importância, banalidades que ele havia ouvido, coisas que eu havia perdido no tempo em que estive... Meio morta.

Ele me contou que o silêncio dos doze grandes era consecutivamente quebrado, embora isso eu já soubesse. Falou que eles estavam preocupados, em especial meu pai e Afrodite, como se algo terrível estivesse por vir. Liguei isso como sendo medo do que poderia acontecer comigo e com Piper, pelo que eu sabia, muita coisa dependia de nós duas. Ele falou sobre Jason, o filho de Zeus que descobriu ser Jason Grace, irmão de Thalia Grace.

Colocou-me a par da ‘agitação’ da terra e qual é a repercussão disso no Olimpo e tantas outras coisas, que até me perdi em meio a tanta informação. Mas o que mais me deixou animada, foram as novidades sobre Percy. Annabeth com certeza irá gostar. Ao menos Sky acredita que ele está vivo, apesar de que sua ideia me parece estranha demais para ser verdade.

– Como pode saber tudo isso? – Sorri.

– Já não te disse? – Perguntou, apertando-me mais em seu abraço.

O vento sopra o destino pelos caminhos do mar, sim, é verdade. Então sabia que eu estava de volta?

– Sim. – Seu rosto de tornou sombrio. - Quer dizer, em partes sabia, mas não podia ter certeza, me parecia muito irreal. Mas fico feliz que esteja bem, e me faz sentir menos culpado. Esses meses não foram os melhores de minha vida, se quer saber.

– E não deveriam ser mesmo. – Brinquei com ele. – Matar pessoas não é muito legal.

– Especialmente quando você ama essa pessoa que acidentalmente matou.

– Não devia fazer isso comigo. – choraminguei, me sentindo imensamente culpada por não retribuir aquele carinho todo.

– Acho que logo vai descobrir que isso é culpa única e exclusivamente sua, menina bonita.

– Eu vou? Sabe alguma coisa que eu não sei?

Ele ignorou minha pergunta, parecendo interessado em olhar o céu de repente.

– Sky? – Virei bruscamente para trás, para poder olhá-lo nos olhos, quase caindo do grifo.

– Não adianta piscar esses olhinhos, tem o direito de permanecer quieta e comportada, você escolheu o outro. – Falou com um meio sorriso.

– Como? Eu... Ah. Não seja tão mal.

– Não estou sendo, estou apenas comentando. E é a verdade, mas por isso eu não a culpo querida, muito embora conserve mínimas e incertas esperanças de que um dia... É, talvez um dia.

– Quando eu estiver velha e sem graça e você continuar assim, lindo e completamente deslumbrante e apaixonante?

– Então admite que sou lindo e apaixonante? – Ele sorriu convencido, e mesmo com o escuro pude ver a malícia em seu olhar.

– E você ainda tem dúvidas?

– Isso é bom, é sinal de que nem tudo está perdido... Ainda.

Quanto mais conversava com Sky, mais desejava estar apaixonada por ele, mesmo que essa paixão fosse acabar no momento que eu me sentisse velha demais para ele. Ele era tudo que se podia esperar em um garoto e sortuda seria aquela que o tivesse.

– Eu queria que sentisse por mim o que sente por ele. – Falou de repente, enquanto eu me perdia em devaneios. – Eu faria de tudo para te agradar e jamais faria o que ele fez.

– A essa altura dos acontecimentos eu não sei mais o que sinto por ele. - Admiti. - Talvez seja apenas uma vontade de trazê-lo para perto e depois de vê-lo apaixonado, deixá-lo, para que ele sinta o mesmo que eu já senti.

– Você me lembra alguém. – Sky riu, afagando meus cabelos. – Só para que saiba, eu vou estar sempre aqui.

– Obrigada. – Agradeci, dando um beijo em seu rosto. E não falamos mais até estar descendo em Chinatown.

A chegada na cidade foi discreta, ninguém nem ao menos pareceu notar nosso pouso estratégico sobre um prédio baixo.

– E agora, pulamos? – Ironizei.

– Não bobinha, já ouviu falar em escadas de incêndio?

– Ponto para você. Vamos então.

Depois de três ou quatro lances de escadas, chegamos a uma rua movimenta, com pessoas gritando em uma língua estranha, e milhares de minúsculas lojinhas.

– Nossa, vendem Prada aqui? – Perguntei olhando para as bolsas penduradas.

– Ah, esse é o lugar onde a verdadeira mágica acontece. – Sky riu. – E essas, - Apontou para as bolsas. – São excelentes falsificações.

– A verdadeira mágica acontece? Então está explicado. – Sorri ao entender porque Hécate escolheu o lugar das falsificações para construir seu templo. – Sabe onde fica o templo de Hécate?

Ele sorriu, apontando um prédio de cor cinza a nossa frente, quase oculto por pequenas lojas. Tinha uma única porta escura e não havia nenhuma janela. Diferente dos outros prédios, este não trazia letras chinesas e bandeiras em sua fachada, apenas um único símbolo, uma crescente lunar sob a porta.

– Ah, esse lugar é assustador. – Disse a Sky, enquanto passávamos, tentando ao máximo não bater em ninguém.

– Shhh, não diga essas coisas, criança. Algumas pessoas podem não gostar. – Disse uma voz próxima a mim. Olhei na direção de onde ela vinha e me deparei com um homem baixo, vestido com uma capa longa e suja, com varias partes rasgadas, como um morador de rua um tanto excêntrico. Estava encostado próximo ao templo, e levantou sua cabeça lentamente, mostrando um sorriso debochado e feições ofídicas. O homem parecia uma serpente, pronta para dar o bote.

Sky levou a mão à espada presa na bainha em sua calça, mas eu o contive, afinal, o homem ainda não havia demonstrado sinais de que ia atacar.

– Quem é você? – Perguntei, amaldiçoando minha voz por ter denunciado minha falta de coragem, uma vez que saiu tremula e baixa demais.

O homem soltou um silvo baixo, como se estivesse rindo da minha pergunta.

– Cantava como a terra, o céu e o mar, uma vez misturados em uma única forma, foram separados uns dos outros após uma disputa mortal, e como as estrelas e a lua e os caminhos do sol não mantiveram seu lugar fixo no céu, e como as montanhas se elevaram, e como os estrepitosos rios com suas Ninfas foram criados, com todos os seres vivos.

O homem cantarolava os versos, parando para respirar profundamente em algumas partes. Olhando fixamente para mim, parecendo estar se divertindo com a cantoria.

E cantava como em primeiro lugar Ophíon e Eurínome, - Continuou. - filha de Oceano, tiveram o domínio do nevado Olimpo, como pela força cederam seu lugar a Cronos e a Réia, e como caíram as ondas de Oceanus; mas os outros dois governavam então sobre os benditos Titãs...

– Enquanto Zeus, - Interrompi o homem, continuando a canção de Orfeus. - Todavia pequeno e com os pensamentos de um bebê, morava na cova Dikteia, e os Ciclopes nascidos da terra ainda não lhe haviam armado com o raio, o trovão e o relâmpago, pois estas coisas dariam fama a Zeus.

– Muito bem – Sorriu o homem. – Então isso responde sua pergunta?

– Ophíon.

O homem assentiu e vi Sky adiantar-se um pouco para frente, como se quisesse me proteger.

– O que uma semideusa tão especial faz aqui? E mais ainda, acompanhada de um protegido e nobre príncipe?

– Não é da sua conta. – Retrucou Sky. – Vamos Lyra.

– Espere, por que especial? E o que você faz aqui?

– Ora, ora, ainda desconhece o próprio destino. – Ele riu outra vez, até seu rosto de cobra tornar-se sério – O que faço aqui? Bom, devo isso a Cronos, é claro. A máscara que sou obrigado a mostrar desde que fui chutado do poder. Ah, mas como é bom saber que agora ele esta apodrecendo no tártaro! Olhe para mim, eu pareço um mortal pedindo esmola.

– Não dê ouvidos a ele, Lyra! Ande, vamos encontrar seus amigos. – Falou Sky.

– Ah, pequena, você sabe, o jogo não acaba até alguém importante morrer! – Gritou ele, enquanto nos afastávamos. – Mas lembre-se: jamais devemos abandonar a esperança, carregue-a com você.

Sky teve que me empurrar para o templo. Aquelas últimas palavras ficaram ecoando em minha mente. Eu queria ouvir mais, eu queria saber o que Ophíon estava querendo dizer, mas me deixei ser levada para dentro do santuário de Hécate.

O interior do lugar era frio e vazio, não havia muita coisa, mas eu ouvia vozes vindas da minha frente. Uma menina reclamava e um garoto parecia estar gritando de dor. Eu reconheci aquele lamento e foi como um golpe profundo dado em mim.

Corri em direção a uma enorme porta de carvalho, empurrando-a com as duas mãos.

– Chegou quem faltava. – Disse uma mulher sentada em um trono escuro. Ela me lançou um olhar divertido, seus olhos brilhavam em três tons diferentes. Era Hécate.

– EU SABIA QUE NÃO DEVÍAMOS CONFIAR EM VOCÊS! – Gritou a menina loira, presa pelas mãos à parede. Annabeth. – MALDITOS! UMA EMBOSCADA, COMO NÃO PERCEBI ISSO?

Luke estava sentado próximo à Hécate e a Annith, cujo rosto estava parcialmente oculto por uma capa roxa. Mas mesmo assim percebi que ela estava com um sorriso maldoso no rosto.

– Isso foi totalmente... – Nico começou a falar, assim como Annabeth, ele também estava preso e pior, um garoto forte, com uma capa igual a de Annith, segurava um tipo de chicote, uma arma que eu já tinha visto no acampamento, pertencia a um filho de Nêmesis. ‘Quieto’, ordenou o outro garoto e lançou o chicote contra Nico.

– PARE! – Gritei, indo até eles, na intenção de tomar a arma das mãos do filho de Nêmesis. – O que está acontecendo aqui?

Sky chegou na sala e olhava assustado de Annabeth e Nico para Hécate.

– E ela trouxe o namoradinho. – Riu a deusa. – Bem Lyra, sem mais rodeios. Você me deve algo.

Luke analisava Sky de cima abaixo, até ser surpreendido por um olhar de puro ódio do príncipe do mar. Ao ouvir as palavras de Hécate, senti a mochila que eu carregava pesar ainda mais, como se a caixa que Apolo me deu fosse a mais terrível arma do universo. E talvez fosse mesmo.

– Ande garota! Você me prometeu. Sei que tomou o objeto de Aquiles, dê ele para mim! – A deusa levantou-se, parecendo furiosa. Ela andou até mim, levando a mão até o meu bolso. – A chave está dentro. – Ela sorriu. – Com a criança traidora o amuleto. As górgonas tinham razão.

A mulher soltou uma gargalhada cruel, girando no lugar enquanto olhava a chave pequena e dourada.

– Eu não sou uma traidora! – Choraminguei baixinho.

– Mais eu sou. – Falou Luke, lançando-se para a frente, tomando a chave das mãos de Hécate. – E eu escolho trair você rainha da magia.

O filho de Hermes sorriu. Vindo a mim, entregando-me a chave.

– Acham mesmo que vão fugir daqui? – Hécate gargalhou e aporta se trancou em nossa frente.

Use a chave, destranque a porta. Vá explorar a criação de seus sonhos.’ Ao lembrar disso, levei instantaneamente a mão a meu pescoço.

– Espere – Sussurrei para que somente Luke ouvisse o primeiro comando. – Lady Hécate, por favor, me ouça. Podemos propor um acordo?

– E por que eu iria querer outro acordo com você, traidorazinha?

– Eu dou a chave amuleto e em troca, deixa todos nós sairmos daqui.

Hécate pareceu ponderar a questão.

– Por favor. – Implorei, olhando para Nico que estava com vários cortes e hematomas.

– Não Lyra, - Luke começou, mas eu o interrompi.

– Luke, os amigos são mais importante.

A deusa sorriu.

– Vocês não são úteis mesmo. – Disse por fim. - E você Lyra, é problema de Quione e Gaia.

Ela estalou os dedos e as correntes que prendiam Nico e Annabeth na parede sumiram.

– Agora, a chave. – A deusa esticou a mão e eu entreguei a chave a ela.

– Agora podemos ir? – Perguntei.

A deusa agitou a mão em um sinal de dispensa. Deixamos a sala, mas ao chegar próximo a entrada do templo, um numeroso grupo de cães infernais surgiu em nossa frente.

– Eu sabia que não seria tão fácil assim. – Resmunguei, já trazendo o arco dourado para minha mão.

Juntos, abatemos vários cães, mas cada vez surgiam mais. De repente, como se estivesse se sentindo entediado com a situação, Nico gritou para que eles simplesmente voltassem para casa. E foi exatamente o que aconteceu. O chão de abriu e os cães foram sugados para dentro. Nico caiu ao lado na falha no chão, desacordado.

Luke e Sky o levaram para fora e em meio as pessoas da rua, conseguimos nos camuflar. Não pude deixar de olhar para o lugar onde outrora encontrei Ophíon, mas ele não estava mais lá.

Depois de duas ou três quadras, encontramos um lugar sem movimento e lá começamos a tratar do filho de Hades. Tirei um cantil de néctar da minha pequena mochila e dei a ele, fazendo uma breve prece a meu pai, e Nico na mesma hora acordou, sentando-se na calçada.

– Que bom que está bem! – Abracei-o contente, mas ele não retribuiu o abraço. Me olhou preocupado, depois direcionou um olhar raivoso para Sky.

– Eu confesso que... Não entendi. – Annabeth admitiu relutante. – Pensei que vocês dois estavam do lado dela e no fim...

– Eu não acredito Lyra! Eu consegui pegar a chave e você devolveu a ela? Sabe quão perigoso isso pode ser? Hécate tem o amuleto agora! – Luke me sacudia pelos ombros.

– A vida de amigos é mais importante para mim! E mais, Hécate não tem o amuleto completo, a chave é apenas parte dele. E outra, eu não dei a chave a ela.

Ele me soltou na mesma hora, e eu me ocupei de massagear os ombros.

– O que deu a ela então?

– A chave que Thânatos me deu. – Tirei do bolso a chave que outrora esteve no pescoço de Aquiles e mostrei a ele. – A chave do amuleto está comigo. E a caixa que ela abre, também.

Sentei-me na calçada e abri a mochila, olhando pela primeira vez para a pequena caixa que Apolo me deu.

– Abra! – Disse Luke.

– Não, ainda não. Preciso fazer algo antes. – Olhei na direção de Nico. – E preciso de sua ajuda.

– Para...? – Disse ele relutante, depois de algum tempo. Sky comentou algo, baixo demais para que eu pudesse entender, mas me pareceu algo com 'idiota demais'.

– Preciso chegar a Sonoma Valley. Sky pode levar Luke e Annabeth até o acampamento com seu Grifo. Pode contar a eles o que sabe sobre Percy. – Sorri.

– Como quiser. – O príncipe concordou.

– O que há em Sonoma Valley? – Annabeth parecia aflita.

– Eu tenho que ajudar Piper, Jason e Leo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Diario de um Semideus 2 - As Portas da Morte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.