Diario de um Semideus 2 - As Portas da Morte escrita por H Lounie


Capítulo 10
A espada de Ajáx




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– Não acredito Annabeth, você quer ir a uma vidente? – Perguntou Nico.

– Não está vendo? É Cassandra!

– Deveríamos reconhecê-la? – Perguntei confusa. Não me lembrava de nenhuma Cassandra.

– Sim, você especialmente Lyra. Cassandra foi uma mulher por quem Apolo se apaixonou.

– Apolo se apaixonou por uma mulher? Pensei que ele preferisse homens. – Brincou Luke.

– Isso não tem graça Luke, você é irmão do hermafrodito, pode ter tendências. Meu pai se apaixonou por ela? Então ela é aquela das profecias que ninguém acredita?

– Sim. Apolo ensinou a ela o dom da profecia, mas quando ela se recusou a... Passar uma noite com ele, se é que me entendem, ele a amaldiçoou. Ninguém jamais acreditaria em suas profecias, ela bem que tentou avisar os troianos sobre o cavalo que os gregos mandaram... E agora ela está aqui e tudo que temos a fazer é acreditar nela!

Não era novidade a falta de sorte de meu pai no quesito amor, mas Cassandra, essa foi dose. Ele a amava e ela o enganou. Pobre papai.

– Talvez ela nos ajude, minha mãe já fez algo por ela. – Annabeth falou.

– Fez o que?

– Quando os gregos invadiram Tróia, Ajáx encontrou Cassandra em um templo e a estuprou. Mamãe fez Ajáx pagar. Ela o fez ficar louco e ele caiu sobre sua própria espada e acabou morrendo. – Explicou.

– Bem feito.

– Também acho.

O humor de Annabeth estava tão agradável, estava fazendo tudo ficar mais fácil. Era quase como se tudo fosse igual à antes. Como se Annabeth fosse minha amiga outra vez.

Assim que entramos na pequena tenda, uma voz delicada se fez ouvir.

– Aproxime-se buscador.

Quando uma luz se acendeu sobre um trono prateado, pudemos vê-la. Cassandra era bonita, me fez lembrar de minha mãe. Tinha os cabelos longos e ruivos e olhos verdes como uvas. Vestia uma toga branca e tinha folhas de oliva misturadas aos cabelos.

– Ah, semideuses, o que querem aqui?

– Viemos ver o que tem para nós, vidente. – Disse Nico, pegando um globo de cristal nas mãos.

– Não toque nisso filho de Hades. E eu exijo mais respeito.

– Desculpe por ele, Cassandra. Nós só queríamos saber se...

– Pobre filha de Apolo. A essa altura você já deve saber que não poderá viver de verdade enquanto ela viver. O mesmo vale para o filho de Hermes. Mas não queimem sua própria casa se vocês não querem morrer.

Pode ser extremamente difícil fazer algumas escolhas, mas às vezes é necessário. Admito que cometi um erro, erro esse que trouxe serias conseqüências para mim, eu estava pagando por isso. Era a segunda vez que eu ouvia aquilo no mesmo dia. Eu estava mesmo queimando minha casa e me preparando para morrer nesse incêndio?

– Eu...

Eu não sabia o que dizer. Eu estava cansada daquilo, de ser uma marionete nas mãos de alguém que eu nem ao menos sabia quem era. Estava cansada de ser excluída de tudo no acampamento. Estava cansada de titãs, de gigantes, perdas, lutas e mortes. Estava cansada de deuses. Estava cansada de ter Apolo como pai. Eu ainda achava que ser pai era inútil, ser filha dele era inútil para mim. O problema é que tem uma voz chata em minha mente dizendo que ainda há muito a se fazer. Muito.

Eu era mesmo uma bagunça. Uma pessoa que de uns tempos para cá simplesmente ‘não dava certo’. Ultimamente tenho vivido em uma eterna promessa de fim de ano. Sempre prometendo melhorar, ou ao menos voltar a ser o que era antes, então passa tempo e nada muda. Apenas consigo descobrir cada vez mais a sucessão de decepções que é a vida.

Dizem que no fim todos percebemos que a única coisa que o tempo não vai conseguir levar são as lembranças marcantes. Não é só isso. O tempo também não leva a dor, a angustia, nem o sentimento de solidão. O tempo apenas ameniza isso. Ouvi dizer que por mais intensa que a tristeza seja, ela não dura para sempre, o tempo se encarrega de acabar com ela, mas é mentira, o tempo apenas a ameniza.

As lágrimas traidoras ameaçavam transbordar de meus olhos a qualquer momento, então me virei para o lado, ficando de frente para um enorme espelho.

A imagem no espelho com certeza era minha, porém não imitava meu gesto, não estava prestes a choras, estava com raiva.

– Oh Lyra, você tem problemas. – Disse meu reflexo. – Sim, você é a prova viva de que fracasso existe. Os anos se decorreram desde que a humanidade evoluiu e isso aparentemente não afetou você, continua em alguma época primitiva, continua estagnada em um tempo qualquer já esquecido. Por que nunca me ouve? Por insiste em cometer os mesmos erros? Que bela egoísta você é. Ah, ah se eu pudesse controlar você fisicamente. Sabe o que eu acho? Mesmo que você tivesse de volta seu arco dourado, ou melhor, ainda que possuísse a melhor arma de todas, não faria nada, pois te falta coragem e lealdade a quem deve a vida. Aí então você pensa: Não vale a pena lutar em uma batalha que não é só minha, é certo que vou perder. Eu digo vá e enfrente a vida, sua egocêntrica maldita! Você sempre foge de tudo, como a covarde que é! A covardia sempre fala mais alto. Ah, quem dera eu pudesse mandar um pouco de coragem para você, talvez isso funcionasse. Só eu sei o que sentiu quando descobriu a verdade sobre seu pai há tantos anos atrás, você sentiu raiva dele, fria e vazia como sempre, prefere odiá-lo a tentar entender. Hm, e agora você pensa que poderá dar voz aos seus pensamentos sombrios e sem sentido que sempre escondeu, isso é claro, se não fugir dos problemas que estão por vir, se isolar de novo e ficar pensando ‘nossa, todo mundo me odeia agora, sou infeliz’. Lyra, você tem sérios problemas.

– Lyra, Lyra! Você está bem?

– Luke? O que foi que... Que espelho é esse?

Olhei para Cassandra que parecia estar se divertindo.

– Foi uma boa conversa Lyra? Às vezes é bom ouvir nossa própria consciência. Ela sempre tem razão, nos conhece como ninguém. Sabe, a maioria das pessoas estão mortas e não sabem, o mundo não as agrada, estão sempre com pressa, sempre atrasadas. Elas não têm tempo para ouvir nem elas mesmas. Um espelho desses às vezes é bem útil. A consciência não sabe mentir.

– Ninguém precisa disso. ‘Não mentir’ é um algo que o mundo não merece. – Falei, olhando Cassandra nos olhos.

– Ah, claro, porque você acreditaria em mim, não é mesmo? Maldito seja seu pai! Maldito seja! Sabe o que me alegra? Eu dei uma profecia a ele há muito tempo atrás, quer saber qual é?

Não disse nada e isso pareceu motivar Cassandra a continuar.

– Em tempos de guerra há de nascer aquela com o poder de quebrar uma maldição e lançar outra. Aquela que com o tempo ao seu favor poderá erguer os inimigos, ou garantir a vitória à aqueles a quem foi instruída a derrotar. O primeiro nome chamará a atenção do amaldiçoado, o segundo mostrará quem realmente é. Isso preocupa você filha de Apolo?

– Não vejo porque deveria preocupar.

Cassandra sorriu.

– Foi a mesma resposta que seu pai me deu.

– Vamos embora – Disse virando-me para Annabeth. – Ela é inútil.

– Ainda é cedo criança. Ainda é...

Cassandra agora nos encarava séria, concentrada, ela nem mesmo piscava.

– Acho que tenho algo para você filho de Hermes. – Disse por fim.

Ele levantou de seu trono e andou até um armário velho. Abriu uma das portas e tirou uma espada longa, de dois gumes, com lâmina feita de bronze e empunhadura revestida de couro.

– Vai ajudá-lo. Essa espada pertenceu a Ajáx. Guardo como uma recordação ruim, se é que me entendem.

Luke pegou a espada, parecia haver um tipo de comunicação entre ele e Cassandra.

– Acho que podemos ir agora. – Disse ele.

– Eu ainda não sei nada sobre Percy. – Disse Annabeth, já não podendo esconder as lágrimas.

– Tudo ao seu tempo filha de Atena. – Disse Cassandra.

– Você não vê, Annabeth? Não existe uma profecia para isso! Você precisa fazer sua própria busca, fazer isso por você mesma, sem ajuda de oráculo algum! - Falei em um fôlego só.

Eu começava a sentir que aos poucos recuperava o controle que sempre tive sobre os outros, todavia Annabeth não pareceu nenhum pouco satisfeita com isso.

– A filha de Apolo tem razão Annabeth, não há quem possa ajudar agora. Mas eu tenho quase certeza de que você já sabe onde deve procurar. – Disse Cassandra.

– Eu não sei.

– Tempos de guerra estão por vir. Existe um amuleto, um amuleto que pertenceu a Hera. Ele tem o poder de unir a família e será útil. Concentre-se no amuleto Annabeth, só ele pode unir os que foram separados.

– Que amuleto é esse?

– Lyra conhece alguém que pode ajudá-los a encontrar. O amuleto está em posse de antigos inimigos.

– Eu conheço? – Perguntei preocupada

– Sim, ela a ajudou há algum tempo atrás. Leto, sua avó.

Ninguém disse nada por um bom tempo, afinal, agora tínhamos por onde começar, só que parecia algo extremamente difícil.

– Bom, acho que devemos começar essa busca então. – Propus, todos assentiram.

– Alguma pista de onde podemos achar Leto? Ou você sabe onde encontrá-la Lyra? – Perguntou Nico.

– Não, eu não tenho ideia.

– Vocês podem encontrar Leto onde o dia e a noite se juntam. – Disse Cassandra. – A única hora onde ela vê os dois filhos. Agora vão.

Uma vez fora da tenda de Cassandra, todos pareciam exaustos demais para continuar.

– Alguém tem alguma idéia do que ela quis dizer com o dia e a noite se juntando? – Perguntou Luke.

– O crepúsculo, isso é meio obvio, não? – Brinquei com ele. – A questão é, qual é o melhor lugar para ver o por do sol e a lua subir em Nova York?

– A estátua da liberdade, não é meio obvio? – Riu Luke.


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