Perspectiva escrita por mamita


Capítulo 12
Educação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/122224/chapter/12

Educação

PDV Emmet

Nossa vida estava ótima, eu continuava trabalhando já que Hoquiam é perto de Forks. Continuamos com a demolição, nossa casa já havia passado por várias reformas.  O telepata continuava se queixando de nós dois, ele dizia que nem Esme e Carlisle conseguiam suportar tanto “visgo” e se queixava do conteúdo dos meus pensamentos. Se for vampiro, nunca se cansar e sua esposa for a mulher mais linda e sensual da eternidade também ficará obsessivo com um certo aspecto do casamento, irá me compreender.

Rose se sentia mais segura na companhia de nossa família, especialmente de Esme. Elas apreciavam a amizade especialmente na hora das compras. Era uma infinidade de vestidos, sapatos, objetos de decoração para a casa, roupa de cama e lingeries (muito comportadas para meu gosto).

E como o Carlisle vivia mimando Esme com jóias e flores, eu fui obrigado a aprender como ser um romântico, pena que meu salário não era tão bom como o dele.

Assim, vencemos o ano de 37 e recebemos 38 cheios de esperança. Como havíamos chegado há pouco mais de um ano poderíamos ficar por mais quatro. A região era muito propícia para nosso estilo de vida, chovia a maior parte do tempo. Podíamos sair tantas vezes que ansiávamos pelo sol para tirarmos umas férias.

Estávamos na mais perfeita paz até que Carlisle foi á um jantar onde estava presente um homem que havia voltado da China. Ele retornou da reunião transtornado, nos contou que o tal homem mostrou fotos das atrocidades que estavam sendo cometidas numa cidade chamada Nanquim.

O exército japonês invadiu a China para expandir seu território e estava assolando a região. A cidade deveria ser uma zona de segurança, mas foi isolada pelo exercito que só nos primeiros dias matou 20.000 soldados chineses. Claro que alguns civis morreram também, disse que como eles não queriam desperdiçar balas e matar com baionetas cansava, eles amarraram de dez em dez jogaram óleo e queimaram muitos vivos. Meninas de dez anos e senhoras de setenta eram violentadas ás vezes por três, até quatro soldados.

Ele ficou chocado com uma foto de uma menininha de 12 anos violada, eles fotografaram suas partes íntimas para mostrar a crueldade. E outra imagem de uma menina cujo cotovelo fora arrancado depois que ela assistiu os pais serem assassinados.

Ele ficou impressionado com a quantidade de corpos, entre civis e militares a contagem chegava a quase 200.000 em toda a região. Carlisle estava disposto a ir ajudar, o controle da sede era mais fácil para ele.

Ele começou a falar:

- Estou preocupado, já vi muitas guerras. Quando olho para o cenário atual vejo uma possível batalha se aproximar. Fiquei desconfiado com esse tal Hitler que agora dirigi a Alemanha, seu discurso me parece ditatorial e higienista. Ele dá um enfoque muito grande à raça.

Edward entrou na conversa:

- E o tal de Mussolini também não me cheira bem. Ele parece tão ditador como o tal Hitler.

Esme até então silente perguntou com sua preocupação maternal.

- Se houver uma guerra, os Estados Unidos irão participar?

- Creio que não, a disputa territorial é na Europa. Será entre eles amor. Carlisle a tranqüilizou.

- Quem estaria na guerra? Eu quis saber.

- Inglaterra e França vão se posicionar. Não vão querer perder o poder e o mercado para os outros países. Sem falar que países menores são aliados deles e consumidores de seus produtos, eles precisam defendê-los.

- E o que o Japão tem a ver com isso? Esme interrompeu.

- O exército japonês é bem treinado e equipado, sem falar que os orientais são muito bons em estratégia. O Japão quer território, é uma pequena ilha, precisam de espaço. A china pode não ser suficiente, saindo da China eles podem rumar para o leste. Nada separa a Ásia da Europa, é melhor que o Japão seja um aliado.  Se os três se juntarem e firmarem alianças, podem se valer das forças um do outro e então teremos uma guerra de alcance mundial.

Só então notei a ausência de Rose. Olhei para Edward e ele disse que o relato de Carlisle tinha feito com que ela se lembrasse de sua própria tragédia. Senti que ele a considerou um pouco egoísta, como se considerasse inferior o sofrimento daquelas mulheres. Mas sabia que não era assim, ela havia se importado sim.

Ele me olhou como se fosse um tolo, em busca de meias verdades para acreditar.

Eu a segui, ela estava no jardim, sentada na grama, abraçada aos joelhos. Me sentei à seu lado e a abracei, ela soltou os joelhos e passou os braços em volta de meu pescoço, ela chorava.

Depois de se acalmar ela olhou em meus olhos e pediu:

- Não vá.

- Para onde? Eu quis saber.

- China. Não vá com Carlisle. Peça a ele para não ir, eles incendiaram as pessoas, o fogo pode feri-lo.

- Rose, deixe de ser boba. Não vou a lugar nenhum. Não seria de nenhum valor lá, estou mais controlado, mas ainda posso vacilar, o sangue humano é muito atraente. Não seria de muita serventia, me alimentaria mais que ajudaria. Não tenho o controle de Carlisle. Além do mais, ele disse que gostaria de ajudar, não que iria. Esme também não se alegrará com a possibilidade de ter que se separar dele.

Ela assentiu com a cabeça e fechou os olhos, depois em sussurros me disse:

- Eu odeio os humanos, só pensam em crueldade e terror. Se para mi foi tão horrível, imagina uma menininha de dez anos. Quanta atrocidade!

Eu sabia que estava correto e pensei um “viu?” para Edward. Depois que ela se acalmou fomos de volta para a sala. Assim que entramos Esme se sentou a seu lado e segurou suas mãos. Ela sorriu agradecida. Carlisle disse:

- Me emociona sua preocupação comigo filha. Mas em tempos sombrios às vezes precisamos fazer o que é correto e não o que é seguro.

Sinto que a medicina para mim é uma dádiva, se não ajudar a ninguém de que me servirá?

Mas sei reconhecer uma causa perdida. Ainda que consiga poupar a vida de alguns, para onde os levaria para que estivessem em segurança?

Não irei por enquanto, se a China reagir e retomar território, se houver um lugar seguro para transportá-los, aí sim irei.

Fomos para casa e ela seguiu rumo ao nosso quarto. Sabia o que ela faria, tomaria mais um banho. Por mais que eu insistisse que não havia nada de impuro nela, ela ainda se achava suja cada vez que lembrava.

Aliás, eu só sabia que havia se lembrado por conta dos banhos, ela jamais me permitiu ficar com ela durante as sessões de memórias, sempre se afastava de mim e de Edward.

Depois de um tempo a ouvi arfar. Subi as escadas preocupado, e a achei fechando uma de minhas gavetas.

- Rose o que aconteceu?

- Humm, nada Emm.

Eu senti que ela estava desconfortável, incomodada com alguma coisa. Mas ela se levantou e disse que ia ao escritório terminar um livro. Eu me despedi dela, mas ela foi um pouco ríspida e fria, estranhei.

Saí mais cedo que o de costume esperando digerir as informações de Carlisle sobre a possível guerra a caminho. Não me agradava nada assistir o sofrimento de pessoas sem poder contribuir, os humanos eram realmente uns tolos. E se os Estados Unidos entrassem? Não poderia deixar meus irmãos sozinhos em um luta tão atroz. Teria de haver um jeito de ajudarmos ao exército.

Ao retornar fui procurá-la, ela estava distraída terminando de arrumar o closet. Eu a abracei por trás e coloquei meu queixo em seu ombro. Senti que ela se esquivou, então a pressionei:

- Quando vai me dizer o que está acontecendo?

- Não está acontecendo nada.

- Sei que há algo errado, só precisa conversar comigo. Amor, se não me disser do que se trata nunca vou poder fazer algo a respeito.

- Mas não há nada errado. Compreendo você, sei que tem suas necessidades.

- Que necessidade?

- Deve querer algo mais atraente do que a mesma mulher todos os dias. Eu entendo, só fui pega de surpresa.

Ela baixou o rosto e olhando envergonhadamente para o chão completou:

- È que achei que te satisfazia, que era o suficiente.

Não acreditei no que ouvi, se ela imaginasse que eu tinha outra mulher, com certeza eu morreria de verdade. Ela decapitaria a pobre coitada e me faria em pedacinhos, depois faria churrasquinho de mim. Mas ela falou sobre entender minhas necessidades e não ter certeza de ser suficiente para mim. Resolvi livrá-la da dúvida:

- Não estou entendendo Rose. Primeiro, jamais me cansarei de você e com certeza é mais que suficiente. Sou perfeitamente realizado com você. Não acredito que esteja com ciúmes, não há outra mulher.

Ela permaneceu de cabeça baixa, mas disse:

- Não era minha intenção, não estava revistando suas coisas. Só procurava meu romance.

Então finalmente eu entendi do que se tratava. Atravessei o quarto abri a gaveta e coloquei o livro sobre a cama. Chamei-a para que se sentasse a meu lado e disse:

- Esse é o Kama Sutra. È um livro milenar escrito no oriente, na índia, por um nobre Vatsyayana em algum tempo entre os séculos 100 e 4000 d.C. que tem por objetivo instruir sobre o Kama ou o prazer. È engraçado, os hindus, ou seja, os praticantes da religião hinduísta, acreditam que atingir o prazer sem ser corrompido por ele ajuda o ser humano a se elevar espiritualmente. Bem diferente do que o reverendo MacCalister me ensinou.

È só uma forma de entender como ser um bom amante, não é só sobre a relação Rose.

Como Edward parece não ter experiência sobre o assunto, e é de alguma forma meu irmão mais velho, ele me presenteou o livro para me ajudar nesse aspecto do casamento.

Mas não é um livro apenas sobre a relação em si, ele instrui sobre como ter um casamento saudável, desenvolver a proximidade, a confiança, a cumplicidade para que os parceiros possam desfrutar de prazer.

Daqui eu tirei a idéia de nos conhecermos melhor durante dez dias, foi o que precisou para criar a coragem de superar seu trauma.

Ela permaneceu calada. Eu continuei:

- Tem ilustrações de posições que podem ajudar os parceiros a se satisfazerem. Se observar bem já utilizamos algumas. As menos inusitadas, eu diria.

Para ser sincero, a maioria é impossível para os humanos. Já não diria o mesmo para os de nossa espécie, podemos desafiar mais a gravidade, por conta das possibilidades deste corpo.

No entanto eu jamais faria algo que a deixasse em uma situação desconfortável. Por isso ele fica em minha gaveta, não o utilizamos.

Ela me olhou pela primeira vez, ainda parecia constrangida.

- Edward te deu isso?

- Sim, como presente de casamento.

- E te perguntou se já usamos?

- A curiosidade matou o gato. Agora ele vive reclamando de nossas singelas demonstrações públicas de afeto.

Ela arregalou os olhos e eu a tranqüilizei, mesmo que com uma meia verdade:

- Tento controlar meus pensamentos ao máximo, quando estou com ele. Não se preocupe, não a exporia desta forma.

Ela lançou um olhar curioso para o livro em nossa cama, mas creio que o pudor a impediu de me propor algo. Por isso resolvi arriscar:

- Podíamos ler juntos, se de alguma forma te constranger, paramos. Se nos parecer possível, podemos tentar. Pode ser que seja educativo também para nós. O que acha?

Ela não me respondeu. Apenas se levantou e guardou o livro em uma gaveta. Mas antes de alcançar a porta, parou como se algo a tivesse prendido ao chão. Ela se virou, andou até a gaveta e trouxe o livro para mim. Depois ordenou:

- Você lê.

Assim começamos uma interessante leitura juntos. No início quase tudo a deixava escandalizada, mas depois de dias se remoendo ela aceitava tentar.

Praticar os tais ensinamentos, às vezes provocava crises de riso, às vezes constrangimento, às vezes muito prazer.

Nem notamos a transformação que isto nos proporcionou, não me dei conta do momento em que ela passou a dar nomes aos bois ao invés de dizer “partes íntimas”, nem quando deixou de se remoer por dias e foi logo tentando, quando tudo se tornou uma brincadeira e nos divertíamos com as instruções, quando ficou sensual, quando mapeamos o corpo do outro na memória, quando conseguimos definir o que preferíamos e quando memorizamos a preferência do outro, quando ultrapassamos o livro e criamos o nosso próprio manual. Era muito divertido, no fim fazíamos graça dos nomes das posições, eram estranhos, algo como Kilimanjaro, e os nomes de animais como polvo.

Edward com certeza se arrependeu de me dar o bendito presente, já que após usá-lo ele disse que estava cada vez mais insuportável nos fazer companhia.

Não me dei conta de que o tempo passou. Estar com ela tinha sempre o gostinho de estréia, o mesmo frio na barriga, a ansiedade, a excitação, o nervosismo, e a entrega.

Só sei que quando percebemos já estávamos no último trimestre do ano de 1939 e um jornal anunciava a invasão alemã á Polônia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que continuem gostando. E então? Será que os Cullen terão participação na guerra?