Perspectiva escrita por mamita


Capítulo 10
Surpresa!


Notas iniciais do capítulo

Volta ao trabalho atrapalha um pouco. Menos tempo para escrever e postar :(
Vou tentar postar uma vez por semana, me esforçarei para conseguir.



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PDV Rosálie

É fato, não posso mais ignorar a sede, não quero parar nosso momento, mas não serei capaz de suportar por mais tempo. Não sei como ele está resistindo tanto tempo, seu corpo é muito maior que o meu e por isso exige uma quantidade maior de sangue. Nós estamos agora na cozinha, o balcão de mármore acaba de se despedaçar e eu ainda não consigo parar de beijá-lo. A máxima de que não sentimos falta daquilo que conhecemos é uma verdade absoluta. Não sentia a menor inclinação para demonstrar afeto através do relacionamento físico, mas a partir do momento que Emmet o descortinou para mim eu não conseguia mais imaginar a minha existência sem isto.

Não apenas pelos motivos óbvios, mas por que ele era um anestésico potente. Desde que me descobri mulher, desde que posso apreciar a intimidade com meu marido e satisfazê-lo sem sentir culpa, eu não me recordo mais da dor, não tenho medo. Minha única realidade é apreciar o fato de ser do Emmet, de dividir meu corpo com ele. Do enorme sacrifício de superar meu trauma, nasceu o único antídoto para enfrentá-lo. Estou me sentindo mais protegida do que nunca e este é outro motivo para odiar o fato de ser vampira e ter que abandonar esta sensação de segurança e nosso lar para satisfazer apenas o instinto primário que esta condição me impõe: Sede de sangue.

Eu interrompo o Emm, e sem nenhuma vontade digo:

- Precisamos caçar amor. Eu também não quero interromper, mas é necessário. Aprendi não subestimar a sede, quanto mais a alimentamos, menos controle temos sobre ela. É assim que consigo enganá-la e nunca tocar em sangue humano, temendo-a.

Este era um temor que não valia a pena abandonar. Eu aproveitei a oportunidade e o convidei para um banho. Este foi muito mais agradável, já que não sinto tanta vergonha da minha nudez. Nos arrumamos e descemos as escadas a fim de ganhar a floresta. Só então me dei conta do estado de destruição da casa, apenas a sala de visitas, os banheiros, a biblioteca e dois dos quartos hóspede parecem estar inteiros. Decido que na volta temos que repará-los, Esme se esforçou em fazer a casa de meus sonhos, ficaria triste se viesse nos visitar e descobrisse que praticamente a destruímos.

Ao adentrar a floresta, já não sinto tanto ódio de ser vampira, eu corro tão rápido que pareço voar. Subo nas árvores e as uso como trampolim para meus saltos, é fácil se considerar a dona do mundo quando se vê tudo de cima. Logo estamos no Canadá, na Columbia Britânica, para ser exata. E temos sorte, Emmet encontrou ursos, ele os adora. Acho um pouco bobo ele lutar com eles, meio infantil, mas ele fica feliz e é isso que importa. Vendo-o atacar percebo quanta sede ele estava reprimindo, o pobre urso nem sequer consegue vê-lo, não sei se teve tempo de tomar conhecimento de sua morte, já está quase todo sorvido. Ele continua, e segue agora um bando de cervos, eu estou no segundo quando ele se dá por satisfeito. Quando voltávamos para casa ele resolveu me levar na minha praia favorita, posso dizer que agora era “meu lugar favorito”, eu comecei a vencer meus medos lá.

Como era de se esperar, ele estava decidido a saciar outras necessidades e devo confessar que a idéia não era de toda ruim. Mas antes de começar de fato, enquanto apenas nos beijávamos eu senti uma coisa diferente no ar, uma rajada de vento em direção à praia (o que era exatamente o oposto do normal, o vento sempre vem do litoral) trouxe algo que aguçou meus sentidos e me fez perder o foco do momento. Um cheiro diferente, desagradável, não era muito nítido, apenas uma insinuação do odor. Eu parei imediatamente, ele não entendeu, mas se preocupou.

- Amor? Rose, o que foi?

- Sente esse cheiro Emm? Eu quis confirmar.

- Não sinto. O que é? Algum vampiro?

Eu sacudi a cabeça em negação, e pedi para voltar para casa. Ele aquiesceu e logo que se recompôs, partimos. Mas passamos em Forks antes, e descubro para meu assombro que ficamos um mês perdidos em nosso universo particular. Esme devia estar ansiando por notícias, por este motivo vou ao armarinho compro papel, caneta e envelopes e depois sento na praça para escrever. Emmet deixa-me e depois anda em direção a uma casa comercial, que parece ter alguns escritórios. Depois que despacho as cartas voltamos, mas ele está em silencioso durante o percurso.

Ao chegar, resolvo abrir a caixa postal, quatro envelopes nos aguardavam. Eu sigo com meus dois envelopes para o quintal, enquanto ele entra em casa com as cartas de Carlisle e Edward. Minhas cartas são de meu pai e minha mãe, ele me escreve brevemente sobre a rotina depois de nossa partida, tentando me pôr a par de tudo e me integrar mais à família. Já Esme me escreve como se conversasse comigo através do papel, como se estivéssemos trocando figurinhas, seus relatos são mais divertidos e informais. Edward fez um recital, ela encontrou uma cristaleira francesa adorável e está reformando-a, enquanto Carlisle mais uma vez fez uma cirurgia arriscada e foi ovacionado pelos outros médicos. Diz que logo terei uma boa surpresa me fazendo corroer de curiosidade. Ela também fez perguntas sobre nós, algumas constrangedoras (eu iria ter problemas para respondê-las).

Assim que adentrei, ele me surpreende com seu ataque apaixonado e eu estou novamente em seus braços. A despeito de minhas crenças ele tinha truques escondidos na manga, sei isso por que ele (como bom cavalheiro) sempre me avisa que me tocará de forma diferente. Desta vez ele me conduz para o quarto e me deposita sobre a cama. Depois me despe e começa seu usual e prazeroso caminho de beijos, dessa vez a proximidade de minha intimidade não o detém e ele me envolve com suas delicadas carícias. Seus lábios macios e mornos a tocam e sua língua passeia em meu corpo circulando entre ela, a virilha e minhas pernas. E então sou transportada para o paraíso, não tenho tempo nem de processar a vergonha, pois meu corpo repentinamente explode em sensações. Quando eu já estou completamente rendida ele me explica que se chama “felação” e que Carlisle afirma que é absolutamente natural e a pratica com Esme, eles chamam de: Beijos genitais. Agora compreendo o envelope lacrado e a carta resposta. Me constrange saber que ele também recorre aos conselhos paternais (não achava que ele precisasse, para mim os homens já nasciam sabendo), mas não tenho tempo de me irritar ele recomeça e eu me desvencilho da consciência me entregando às sensações. Espero que isto vire uma prática entre nós, pois é muito bom e eu não vou ter coragem de pedir para ele repetir.

Concluo ambiguamente satisfeita e culpada, que os reparos não começarão tão cedo. Depois de algumas doses de proximidade e entrega, ele se afasta de mim e me senta no meio de nossa cama, sentando-se ao meu lado logo em seguida e toma minhas mãos carinhosamente nas suas. Depois com uma voz claramente calculada começa a falar:

- Rose, o dinheiro que Carlisle nos deu não é eterno como nós. No dia em que fomos telefonar para casa, eu entrei em um escritório e me informei sobre uma proposta de emprego. Estão construindo rodovias para interligar a região e facilitar o escoamento da madeira, bem como facilitar o transporte de alguns produtos ao porto de Seattle. Eu conversei com o encarregado e ele me ofereceu um emprego. Deve precisar de força bruta, não é muito dinheiro, mas precisamos de tão pouco. Não é justo continuarmos vivendo à custa de nossos pais.

Minha primeira reação foi gritar. Eu estava consumida pelo ódio. Sem pensar muito me levantei pegue o pesado criado mudo e o atirei em direção à parede, depois recorri à sua coleção de bastões de Beisebol (não para ter mais força, só para destruir algo dele) e bati com força no dossel da cama que se partiu e caiu, encobrindo-o. Em minha mente perguntas alimentavam meu ataque de fúria: Como ele podia me trair deste jeito? Ele sabia disso há um mês e não me contou? Vai me abandonar aqui sozinha? E o voto de sempre estar comigo?

Depois, não sei por que motivo, a razão chegou até meu cérebro e assumiu o lugar, instalando uma ditadura. Ela reorganizou meus pensamentos e impôs duras regras como:

  • O casamento não é para pessoas infantis, não pode ser infantil agora.
  • Aja como uma mulher casada, seja adulta..
  • Ele tem razão e você sabe disso, então escute-o.
  • Se for rude, ele irá se decepcionar. Seja madura.

Eu levantei às mãos em sinal de rendição e depois me desculpei veementemente por incontáveis minutos, intercalando a súplica com beijos para enternecê-lo. Com uma voz relutante disse:

- Não quero ficar longe de você. Escolho viver aqui para sempre. Mas sei que tem razão, você está certo.

Senti um sorriso se formar em seus lábios e as covinhas que eu tanto adorava apareceram, parecia um misto de alívio e alegria. Eu o entendia, sentia o desejo de ser a melhor esposa do mundo para ele, pois ele merecia. E a única forma de fazer isso, (a própria Esme era meu exemplo) era transformando nossa casa em um lar. Desta forma eu me esforçava em manter tudo arrumado, menos quando estávamos inconscientemente quebrando algo, e na mais perfeita harmonia. Ele deveria sentir o mesmo, e a forma como os maridos faziam isso era trabalhando para obter o sustento.

- Vou sentir muito a sua falta, pensar na possibilidade de me afastar de você pelo menor tempo é muitíssimo doloroso. Eu esperarei ansiosa pelo seu retorno todos os dias. Quantos dias temos antes de você começar?

Eu quis saber. Ele sorriu maroto e com os lábios nos meus respondeu:

- Temos nove dias para desfrutarmos dos benefícios da lua de mel. Ele respondeu e eu não pensei em mais nada.

Sempre que você está fazendo algo que lhe agrada o tempo voa e não foi diferente desta vez. Antes que eu pudesse processar a distância, antes que a razão assumisse de novo, já era o momento dele começar a trabalhar. Eu me despedi em prantos e as primeiras horas me doeram tanto que eu achei que fosse mito o fato dos vampiros não morrerem de causas naturais. Eu me sentia em estado terminal de uma doença que provocava dores lancinantes. E isso despertou em mim o que eu julgava ter despachado para o outro lado do planeta: As memórias. Foi difícil passar por elas sem Esme, ao me amparar na véspera de meu casamento ela me mostrou quanto era insuportável passar pela tortura sem ajuda.

Quando ele estava em casa tudo desaparecia e éramos somente eu e ele. Nem o medo, nem as lembranças, nem a dor conseguiam atravessar as barricadas que sua presença construía ao meu redor. A sensação de estar com ele se tronou mais necessária, viciante. Mas era ele desaparecer de minhas vistas que o mundo se tornava inóspito. Ele parecia muito satisfeito com o trabalho, um pouco frustrado por não poder usar toda a sua força, mas ainda assim realizado. Estava orgulhoso de seu controle e bem humorado com os elogios constantes sobre sua destreza e senso de direção.  Por este motivo eu não contei a ele, obviamente se sentiria culpado.

Aos poucos fui sendo subjugada novamente pelo medo e o cheiro desagradável que sentia algumas vezes ao sair, começou a me deixar apavorada. Animais não têm aquele cheiro tão forte, nem mesmo os herbívoros. Estava começando a ficar paranóica.

Por isso decidi ocupar minha mente com os reparos, mas não era muito prática com aquilo, nunca soube diferenciar martelos de alicates.

PDV Emmet:

Eu não podia imaginar que a felicidade fosse chegar tão depressa, num dia ela me satisfazia resignada e então depois de um telefonema apenas ela geme sob mim. De fato Rose é a mulher mais forte e singela que conheço, sua aparência revela isso. Ela tem traços delicados, cabelos loiros que formam cachos sinuosos nas pontas, seu corpo é aparentemente frágil e sua voz é como o som de sinos. Mas seu olhar é decidido, seus gestos firmes e precisos, seu caminhar é altivo e elegante. Ela consegue conciliar conceitos excludentes, é um paradoxo, dentro dela reside a docilidade das “Ladys” e a força das “Damas”.

Depois de algum tempo indefinido ela me lembrou que precisávamos caçar e foi só ela mencionar a palavra que a sede subjugada pelo desejo me invadiu, provocando a tão familiar dor ardente em minha garganta. Depois da caçada fomos ao nosso paraíso, mas antes mesmo de começarmos ela sentiu um odor na floresta se assustou e me pediu para voltar. Passamos em Forks e descobri o motivo de minha sede exacerbada, estávamos em nosso mundinho particular de felicidade há um mês. Isso significava que só faltavam dez dias para eu começar a trabalhar.  Enquanto ela escrevia para nossos pais fui acertar os últimos detalhes para começar no emprego e depois fomos para casa. Eu deseja encontrar uma forma descomplicada de falar sobre isto com ela, no entanto sabia que era impossível.

Ao chegarmos ela abriu a maleta postal e me entregou duas cartas, uma do telepata outra de Carlisle. Ele respondeu meus questionamentos sobre as formas de proporcionar a ela mais satisfação, insistiu nos beijos genitais e na preparação do estado emocional, nos laços de confiança e afeto. Disse que era natural e que ele praticava com Esme, eu o odiei por um segundo. Não queria saber dos detalhes da vida íntima deles, afinal ela é minha mãe para todos os efeitos. Ele dormia com a minha mãe, (Pelo amor de Deus!) eu não quero saber de nada. Mas sei que para ele tudo era muito científico, ele certamente me dizia aquilo como se receitasse a um paciente que tomasse banho de sol.

Ela tinha seguido cegamente as orientações de Esme, foi muito corajosa, e eu tinha que ser também, era uma forma de honrá-la. Quando ela entrou, eu a surpreendi e decidi tentar. Quando comecei, ela reagiu da melhor forma possível e eu me senti orgulhoso quando senti ela se deleitar com o prazer. Mas a parte difícil tinha que ser feita, e eu não podia mais adiar, com muita cautela eu contei sobre o emprego. Ela ficou furiosa no início destruiu um criado mudo e bateu com força no meu bastão preferido. Depois ela se acalmou e me pediu perdão. Foi engraçado, eu me segurei para não rir, sentia seu cuidado em cada palavra para me convencer que suas desculpas eram sinceras, mas seu rosto protestava contra sua atitude. Ela não era do tipo que admiti estar errada, muito menos se desculpar, sua ira batalhava com sua razão e contrariadamente deu o braço a torcer. Eu fiquei enternecido com o gesto, o amor físico realmente nos transforma.

Eu quase morri ao deixá-la, só não voltei por que realmente precisava de uma fonte de renda. Eu era agora o chefe de minha própria família, não podia ser dependente pelo resto da eternidade. O trabalho era um pouco chato, pois não podia usar toda a minha força. A sensação é como se você fosse capaz de carregar 10 caixas de maças e tivesse que levar fruta por fruta. Mas eu estava muito controlado, e isso me fazia sentir muito orgulho, além do mais era bom ter outras pessoas para conversar e interagir. Talvez ela ficasse melhor se pudesse ter isso também. Percebo que minha ausência tem provocado muita solidão a ela, não tinha pensado nessa parte. Quando retorno para casa não conseguimos nos separar, aproveitamos todos os minutos.

Um dia eu cheguei e ela estava serrando uma enorme tora de abeto para refazer a parede do fundo da casa. Me controlei para não rir também, ela não levava o mínimo jeito, estava fazendo tudo errado, corte, escolha da madeira, tudo. Eu explicava tudo antes de sair, mas tinha que refazer a maioria das coisas, no entanto ela estava se saindo muito bem com os móveis, sua habilidade de se ater aos detalhes era muito útil quando precisava recuperar as pinturas e acabamentos. Apesar de seu espírito decidido, e por mais que tentasse, eu sempre passava mais ou menos 14 horas de meu dia em casa, por isso as “distrações” da vida de casada atrasavam muito as obras. Nossa casa parecia uma colcha de retalhos, paredes incompletas destacavam as áreas ainda recobertas por papel de parede da madeira reposta, do lado de fora todas as tonalidades de madeira se misturavam com o branco que Esme escolheu. Ainda bem que não estragamos o jardim, o ”sabe tudo” ia pirar se soubesse que desfiz o trabalho que ele reclamou tanto para fazer. 

Iríamos comemorar seis meses de casados no dia seguinte e eu resolvi lhe preparar uma surpresa, fiz uma pequena e charmosa cabana na praia da reserva e ia levá-la para uma noite romântica. Mas fui eu quem foi surpreendido. Ao me aproximar de nossa casa eu senti um cheiro muito familiar, eram três fragrâncias que eu reconheceria em qualquer lugar, era minha família. Edward abriu a porta antes que eu tentasse pegar as chaves em meu bolso, tinha me esquecido como a vida era esquisita quando você convive com um telepata. Carlisle estava sentado no sofá lendo um jornal e eu podia ouvir a voz das duas no andar superior. Ele se levantou e me abraçou, depois sussurrou em meu ouvido:

- O que aconteceu aqui? Sua mãe quase teve um ataque. Ela ainda não se convenceu que vocês não foram atacados por recém-criados raivosos. Foi uma avalanche?

Eu sorri e disse:

- Um vulcão, muita lava, muito calor.

Assim que sentiu minha presença, Esme desceu as escadas e me abraçou, com seus braços pequenos e ternos. Ela mal conseguia chegar em meu ombro, então a ergui e ela sorriu.  Eu a rodopiei como se faz com crianças, ela gargalhou, mas assim que a coloquei no chão ela olhou severa e acusou-me:

- Você não teve cuidado com a casa que eu projetei especialmente para vocês.

Eu olhei para Rosálie e seu olhar me pedia socorro, (por favor, arranje uma forma de evitar o constrangimento, ela suplicava), mas eu também me sentia “morrendo de vergonha”. Depois que sorriu de minha expressão envergonhada e arrependida, ela completou:

- Ainda bem, adoro uma reforma. Adoro principalmente os motivos que lhe fizeram destruir o imóvel. Estou ansiosa para começar as mudanças.

Se fosse humano eu estaria corado, Edward riu de meu pensamento. Ele certamente zombaria disto por toda a eternidade. Carlisle ficou muito orgulhoso do meu controle, mas insistiu que era desnecessário que eu trabalhasse. Ele havia aberto um fundo para nós e deixado uma ordem de transferência mensal no banco. Mas Edward deve ter visto a satisfação que o trabalho me trazia (principalmente durante a madrugada, quando eu ficava sozinho e podia usar toda a minha força, matando a saudade de exercitar os músculos) e o conveceu que me faria bem. Ele aquiesceu e depois passamos a conversas mais amenas.

Eles haviam se mudado para Hoquiam há uma semana, assim ficariam mais perto e longe o suficiente de nós. Estavam no Canadá há muito tempo e com os Denali éramos muitos, as pessoas já começavam a desconfiar. Resolveram passar um tempo conosco, eu fiquei aliviado. Tudo que Rose precisava no momento era de companhia, principalmente da Esme. Eu notei que ela estava muito cautelosa quando saíamos, especialmente para caçar. Ela sempre evitava as florestas da reserva indígena, dizia que o cheiro era mais forte lá, então me fazia ir longe. Eu cheguei a captar o odor uma vez, mas me pareceu animal, um lobo com o pelo molhado talvez, ou doente. Ela parecia estar sempre com medo do lado de fora, e isso me preocupava muito.

Depois que todos se acomodaram eu, como bom anfitrião, fui mostrar a região para eles. Decidimos sair para caçar e Edward pediu para ver as florestas da reserva, era noite e eles não podiam apreciar o contraste entre o intenso verde da floresta e a branquíssima neve das montanhas àquela hora da noite, mas estavam adorando. Eu expliquei que durante o dia era mais bonito, mas a ausência de luz não nos afeta por isso logo encontramos algumas presas. Tínhamos alcançado um bando de cervos e estávamos nos alimentando quando o odor de que ela tanto falava se intensificou. Ouvimos batidas cardíacas muito rápidas e passos pesados sobre a terra fofa, pareciam de quadrúpedes. Talvez fossem mesmo lobos, mas o peso das passadas não era compatível para um deles. Então eles surgiram, eram três, tinham facilmente o tamanho de cavalos, já tinha ouvidos sobre os filhos da lua, mas não imaginava que fossem tão grandes. Eles pararam o ataque não sei por que, talvez o nosso número. Rose se posicionou à minha frente em uma clara posição defensiva, mas era eu que devia protegê-la. Portanto me virei em seu eixo e projetei meu corpo em sua frente, se eles fossem atacar teriam que passar por mim. Então Edward (possivelmente ele consegui captar algum pensamento. Lobos pensam?) deu alguns passos para frente e numa atitude conciliadora, como se eles fossem entender, disse:

- Não somos vampiros ordinários, não atacamos humanos. Só caçamos animais como podem ver. E apontou os corpos de cervo no chão.

Vendo-o desprotegido e tão próximo dos lobisomens Esme se moveu ficando na frente de Edward. Como qualquer mãe defende sua cria, ela teve medo que o atacassem. Um deles entendeu o movimento errado e avançou rosnando, mas suas patas fincaram no chão, como se seu corpo tivesse vontade própria. Edward se pronunciou novamente:

- Minha mãe só ficou com medo de que me machucassem, por isso tentou me proteger, ela não vai atacar ninguém. Não atacamos indiscriminadamente. E sim eu posso ler seus pensamentos.

Mas isso não acalmou os ânimos, ao contrário piorou a situação. Eles começaram a rosnar e o clima bélico se instalou na quietude da floresta. Senti as mãos de Rose esfriarem e olhei para trás, primeiro seus olhos estavam fixos em Esme, depois ela dividia seus olhares entre ela e os movimentos dos lobos. Então começou a varrer o ambiente com os olhos preocupada com Carlisle e Edward também, certamente estava pensando em posições defensivas (nessas horas ela era friamente racional e muito hábil). Esme estava muito próxima, Edward logo atrás dela e Carlisle de seu lado esquerdo. Eu me movi bem devagar com as mãos para o alto e ela, perceptiva, me acompanhou. Fiquei do lado direito de Edward e Carlisle me entendendo trouxe Esme para trás dele. Assim Edward ficava entre nós dois e elas protegidas atrás.

Meu irmão se virou para Carlisle e assentiu com a cabeça:

- Meu pai quer saber se pode conversar com vocês, ele gostaria de se desculpar por não percebermos que este território é ocupado.

Quando olhei para os lobos novamente eles também tinham se posicionado. O mais alto de pelo marrom chocolate (que parecia ser o líder) estava um pouco à frente, os outros dois (Um preto com olhos reflexivos e o cinza claro que quis atacar) o ladearam protegendo seus flancos, mas com alguns passos de distância formando uma espécie de triângulo. O líder assentiu com a cabeça e Carlisle se moveu para frente. Edward tomou a dianteira de Esme protegendo-a, meu irmão enfim demonstrou hombridade. Ele olhou para mim irritado, e olha que eu o elogiei (mal agradecido).

Carlisle com sua calma características começou:

- Meu nome é Carlisle Cullen e esta é minha família. Disse nos apontando.

Mas Edward o interrompeu com uma flexão completamente diferente em sua voz e falando com muitas limitações e eu soube que era a voz do líder, nos argüindo:

- Macho forte e fêmea loira chegar premero, eles ir nosso litoral. Ele fazer cabana perto praia, não querê sanguessugas perto de nóis. Não confiar sanguessugas perto nossa família, perto tribo.

Então era isso, eles eram da reserva indígena. Meu pai continuou em seu tom contido.

- Meu filho e minha filha se casaram há pouco e se mudaram para cá, certamente apreciam as praias da região. Se soubessem da existência de vocês não as frequentariam.

Eu não agüentei, se Edward falasse daquele jeito de novo eu ia rir, então eu pensei “bem alto”: “Ô geniozinho, lê o pensamento, entende o que ele quer dizer e fala direito”.

Eu o remendei: “Eu muito burro, meu cabeção só vento. Não ter cérebro dentro, eu não saber pensar”. Para que ser tão metido a sabichão se não sabe usar a inteligência nas questões práticas da vida, eu ainda prefiro ser um homem das montanhas.

Eu gargalhei em pensamentos. Parece que ele entendeu, pois quando falou de novo começou dizendo:

- Mas a fêmea loira correu ao perceber nossa presença. Como ela não sabia? O líder perguntou.

Me lembrei do dia e o repassei para que Edward visse, e foi ele mesmo quem respondeu:

- Rose é muito cautelosa, é de sua natureza se proteger de coisas desconhecidas.  Ela sentiu um cheiro diferente e resolveu voltar, por segurança. Podia ser outro vampiro se camuflando. Mas certamente não os identificou, até agora não sabíamos da existência de vocês.

Ele não entendia mesmo, tinha que falar de um jeito que o lobo entendesse. Quer dizer o lobo que parecia também ser indígena. Será que ele voltaria a virar humano quando o sol nascesse?

Carlisle recomeçou, mas antes olhou para Edward, este lhe disse:

- Ephraim Black.

Então meu pai voltou a se dirigir ao líder dos lobisomens:

- Senhor Black, eu e minha família somos pacíficos. Respeitamos a vida humana, e por isso nossa dieta consiste na alimentação exclusiva por animais.

Da mesma forma somos contra a violência deliberada, estamos em maior número e nem por isso os atacamos.

Eu estava errado o lobo entendia a língua muito bem, sabia o significado de todas as palavras, até as mais complicadas. Pois ele entendeu o discurso pacifista como uma ameaça velada. Bom, eu também entenderia se alguém tivesse jogando na minha cara que podia me atacar e só não fez por que quer ser bonzinho. Eu sabia que Carlisle não faria isso, mas ele não o conhecia, o lobisomem tinha razão em reagir. Desta vez a voz de Edward saiu com uma raiva indisfarçada, quase como um grito autoritário:

- Não confiamos em sua espécie.  Vão embora ou os revelaremos aos homens brancos.

O semblante de Carlisle não se alterou demonstrando a mesma calma de sempre, bom isso era ele. Por mim já tínhamos dado uma boa corça nesses cãezinhos de guarda, com a ilusão de donos da floresta. Eu pegava o marrom metido a cacique, ele o preto de olhos cautelosos (iam se entender) e o telepata o cinza irritadinho. Eles não tinham o direito de sair por aí dizendo onde podíamos ir ou não, ainda estava disposto a comemorar com Rose em nossa cabana, florestas são espaços públicos em minha opinião, sem direito a guardas caninos. Tive a impressão que meu irmão riu de meus pensamentos, não havia graça nenhuma. Ele não estava perdendo para o totó gigante o lugar mais especial de sua breve história de casado. A voz de Carlisle me tirou deste momento reflexivo:

- Acredito que chegamos a um impasse, mas sou adepto da idéia de que todos eles podem ser conciliáveis. Proponho uma conciliação, um tratado. Vocês delimitam seu território, não o ultrapassamos, não caçaremos nele. Em troca vocês mantêm nosso segredo em sigilo. Suponho que os humanos de sua tribo também não possam saber da existência de vocês.

Agora sim ele os ameaçou, na mesma moeda por sinal, meu pai é mesmo um “sabe tudo”. Viu Edward? É assim que se usa o cérebro. O líder olhou Carlisle, examinando-o. Depois Edward se manifestou, mas não transmitindo seu recado e sim respondendo um de seus pensamentos:

- Exatamente, estamos em maior número. Abrimos mão desta vantagem. Podem confiar em meu pai ele é um homem bom e justo e cumpre sua palavra. E não. Não há nenhuma força sobrenatural que nos obrigue a o obedecer, mas ainda assim iremos cumprir o tratado. Ele é nosso pai e criador e sempre respeitamos sua autoridade. Firmando o tratado com ele, todos nós o cumpriremos. (eu e Rose assentimos apenas movimentando a cabeça).

Bom, nossa mãe não costuma tomar decisões sem antes consultá-lo, como é desejável entre os casais. E sua natureza é tão pacífica quanto à dele, ela também irá cumprir com o acordo.

Edward então mudou o tom e perguntou:

- Como pode ser seu pai e criador?

Carlisle olhou para Edward refreando-o e explicou ele mesmo. Acho que não queria passar muito conhecimento sobre nós a eles.

- Vampiros não procriam. (senti as mãos de Rose apertarem meu braço em que ela segurava)

Nós somos transformados se um vampiro nos morder, mas conseguir refrear a sede ou for interrompido, injetando o veneno e mantendo uma parte do sangue no organismo. Se a pessoa sobrevive ao processo sem que seu coração pare de bater, ele se transforma em um de nós. Eu não gosto da idéia, só transformei minha família por que corriam risco iminente de morte. Sou médico, por isso tenho certeza disto.

Assim sou criador deles, mas sinto-me como pai, eles me têm como pai. Esme se tornou minha companheira após a transformação. Ele olhou-a com muito afeto e ela correspondeu-lhe com um sorriso.

O líder levou um tempo para processar todas as informações. Depois falou através de meu irmão:

- Concordamos em estabelecer um acordo, mas temos algumas condições:

  • Nós delimitaremos o território como quisermos.

  • Não poderão ultrapassar o limite, sob hipótese alguma.

  • O acordo é eterno, deve persistir mesmo que nós não estejamos mais aqui. Ele é válido aos outros “espíritos-lobos” que nos substituírem.

  • Ele se aplica, mesmo que não haja os de nossa espécie para defender nosso povo e território.

  • Não queremos que parem de caçar apenas, não podem morder mais humanos, transformá-los. Não podemos permitir que fiquem aumentando a sua horda.

  • Para que alguma das condições seja revogada é necessária a permissão do próprio alfa, só ele pode falar em nome da tribo.

  • Se voltarem atrás da decisão e descumprirem qualquer uma das regras nós consideraremos uma declaração de guerra.

- Em troca manteremos a existência de sua espécie em segredo, apenas aqueles que forem escolhidos pelos espíritos guerreiros e seus descendentes terão acesso a esta informação e ao tratado, para que ele possa ser cumprido. Para demonstrar nosso compromisso aceitamos que se nós não o cumprirmos têm o direito de guerrear conosco.

Eu sou Ephraim Black herdeiro da magia dos espíritos guerreiros e chefe do bravo povo Quileute e asseguro minha palavra ao líder dos vampiros de olhos estranhos que temos um tratado.

Meu pai se aproximou com cautela olhando diretamente para Eprahim Black e tocou seu focinho selando o tratado e disse:

- Eu sou Carlisle Cullen e asseguro minha palavra à Eprahim Black e ao bravo povo Quileute que temos um tratado.

Demonstrando confiança nas palavras do lobo Carlisle virou-se de costas e começou a se afastar, de mãos dadas com Esme começou o caminho de volta para casa, nós os seguimos. Depois disto eles começaram a se retirar, mas se afastando com passos para trás sem tirar os olhos de nós. Eles confiavam desconfiando.

Enquanto andávamos Edward começou a falar:

- Eles são da reserva, têm muita tradição. O chefe é muito inteligente, me mostrou os limites do território em pensamentos, acho que não planejam nos encontrar outra vez. Por um momento achei que ele estava acostumado a dividir os pensamentos, foi tão fácil para ele aceitar minha habilidade. E sim Emmet eles são humanos e se transformam quando querem, até mesmo durante o dia. Sabe o que é estranho? Eles se transformam de acordo com o antepassado, é uma coisa genética.

- Genética? O que é isso. Eu perguntei.

Foi Carlisle quem respondeu.

- Não sabemos muito sobre isso ainda, mas parece que no nosso sangue tem alguma coisa que passa as características dos pais aos filhos. Como a cor dos olhos ou o jeito do cabelo. Mas é um estudo muito novo, não há certezas. Seu irmão se impressiona muito fácil com as novidades.

- Sou um visionário Carlisle. Edward se defendeu.

Carlisle então resolveu mostrar seu lado cientista.

- Mas isso é interessante. Os lycans ou lobisomens como chamamos, geralmente se transformam por uma mordida como nós. E poder se transformar durante o dia também é muito interessante filho. Nunca ouvi falar disso antes.

Para ser sincero eles me fascinam, imaginem poder estudá-los?

Tem que nos mostrar os limites para não descumprirmos o tratado sem querer.

Edward se empolgou:

- Amanhã, farei o reconhecimento e depois podemos ir, mas acho que é fácil, é só evitar onde o fedor deles for mais forte.

Esme se meteu:

- Sozinho não filho, é perigoso. Pelo menos espere seu irmão voltar do trabalho para ir com você, assim vocês se protegem.

Eu ri da preocupação dela conosco. E me lembrei de uma coisa.

- Falando em preocupação maternal Edward, você pode me explicar por que não tomou uma posição defensiva na hora que o cinza irritadinho quis atacar a mamãe? Você é lerdo ou frouxo?

Todos riram. E ele respondeu:

- Sou inteligente! (metido, eu pensei.) Se eu atacasse, eles teriam motivos para começar uma guerra. Nem todo mundo exercita todos as partes do corpo menos a mais importante como você.

- Que músculo? Eu quis saber.

- O cérebro, macho forte. Ele disse com a mesma voz do lobo líder.

- Sei usar a cabeça e vou me vingar das gargalhadas de hoje Emmet. Completou.

Depois sua expressão ficou concentrada como se estivesse se preparando para uma coisa que não fizesse com frequência. Edward se virou para Rose e disse:

- Obrigado por evitar uma batalha hoje Rosálie.

Ela o olhou assustado e eu o arguí:

- Como?

Ele respondeu olhando para o chão quando chegamos a orla da floresta perto do rio e avistamos à casa.

- O alfa, è como ele se considera, o alfa da matilha e chefe da tribo. Ele interrompeu o ataque por que ficou encantado com a beleza de Rosálie e começou a admirá-la. A perplexidade por sua beleza foi mais forte do que o ódio por vampiros, ele se distraiu. Por isso percebeu que a cor de seus olhos era diferente das dos outros vampiros, não eram vermelhos como ele ouvira falar. Então ele viu que todos nós tínhamos olhos dourados, deu uma olhada melhor no ambiente e viu os cervos. Por isso eu comecei dizendo que não éramos como os outros vampiros e confirmando que nos alimentávamos de animais.

Esme disse:

- Viu querida, ser bonita nem sempre atrapalha, pode ser muito bom.

Ela sorriu para Esme e olhou para ele ainda com o sorriso nos lábios. E eu senti esperança que eles também fizessem um tratado de paz.


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Notas finais do capítulo

Este capítulo tem a finalidade de condutor na linha do tempo. Os quileutes não podiam sair se transformando assim por acaso. Em Twilight os Cullens estavam em Forks há quase dois anos antes de surgirem os primeiros lobos. Por isso levei primeiro o Emm e a Rose para lá.

Ele explica também o motivo da palavra "morder" ser tão importante e porque só Jacob podia dar o aval da trasnformação de Bella. Por que os Cullen não ultrapassam o território mesmo antes de Sam Ulley se transformar e mostra que Edward já percebe algumas curiosidades sobre eles. O fato de se transformarem durante o dia, de ser fácil para ele compartilhar o pensamento e a autoridade do alfa. È por este motivo que o lobo cinza não ataca Esme, Ephraim manda ele parar.

É claro que não poderia de puxar a sardinha para o lado de Rose, por isso dei este presente a ela no final. No próximo capítulo o relacionamento de Rose e Edward e a primeira partida de Beisebol dos Cullen.

Nandinnha Sweet, muito obrigado por seus comentários constantes, eu já os espero com ansiedade cada vez que posto um capítulo.

Nyh_Cah, seja muito bem vinda também, espero ansiosa seus comentários.

Tenho outra Fic que se chama Segredos. Se puderem passem por lá.

Bjs :)