Acordei algum tempo depois, em – o que parecia ser – uma solitária. Ela era escura, e fria. Eu podia ouvir o barulho que a água fazia correndo pelo gramado seco, podia ouvir tudo, e mais um pouco.

   Minhas costas ardiam um pouco, mas não dei tanta importância a isso, já que estava presa em uma cela fechada, e estava me dando falta de ar.

- Respire. – alguém sussurrou.

   Com a luz que saia da pequena janela no alto, consegui ver a sombra da pessoa. Virei-me rapidamente, e tive tempo de ver a sombra escorregando pela parede.

- O que é isso? – sussurrei para mim mesma.

   A sombra socou a parede, e formou um pequeno buraco onde sua “mão” esmurrou. Eu comecei a gritar e socar a porta em desespero. Eu ofegava, e estava passando mal. Para mim, as paredes estavam encolhendo, e meu corpo pesado e preso ao chão. Eu começava a suar frio, até que a mesma sombra chegou perto de mim, e tocou meu rosto.

   Um frio percorreu minha espinha, e por mais que eu quisesse e precisasse me afastar daquilo, eu não conseguia. Havia algo terrivelmente sombrio naquela... coisa, e que fazia calafrios gélidos passarem por meu corpo. Eu já havia lido isso em algum lugar. Era algo do tipo “toque da morte”.

- Por favor, não me machuque! – sussurrei com a voz tão diferente que demorei a perceber que era minha voz.

   A sombra riu cínica.

- Eu não vou fazer nada. Se você não se acalmar, seu corpo vai esquentar de tal maneira, e você vai morrer! – avisou com aquela voz nostálgica.

   Praguejei e fechei os olhos tentando acalmar-me. Pensei em todos os momentos felizes que passei com minha família, no meu irmãozinho que estaria dormindo em segurança com Yana, pensei no sorriso dele, no sorriso de Bernardo...

   Meu coração começou a acelerar, e por mais que eu não quisesse – sim, eu queria muito –, meus pensamentos agora estavam todos focados em Bernardo. Em cada pedaço de seu corpo quente, de seu toque em meus ombros, seu sorriso perfurando minha nuca...

- Eu disse para se acalmar. – disse a sombra friamente.

   Fiquei mais uns minutos ou horas de olhos fechados pensando em tudo que não estivesse relacionado a Bernardo. O que era bem impossível, já que, ele está em qualquer lugar!

- Está calma? – perguntou a sombra.

   Não, não, tô fervendo não tá vendo não, retardado!, pensei cínica e fria. Isso! Eu tinha que ser fria!

- Não está vendo? – rebati extremamente cínica.

   A sombra riu sem nenhum traço de humor.

- Ok. Quer sair daqui? – perguntou ele.

- O que você acha?

   Por mais que a sombra não tivesse nenhum rosto, mãos, e fosse apenas uma silhueta desconhecida e borrada, eu sentia seu “rosto” se fechar e ficar impassível.

- Quer saber uma novidade? Você não vai sair daqui. Não tão cedo. – sussurrou passando a ponta de sua “mão” em meu ombro suado, e fazendo com que eu recuasse enjoada.

   Como assim: “você não vai sair daqui. Não tão cedo”? Mas que droga foi aquela?, pensei desesperada.

- Como assim? – perguntei.

- Você violou uma regra. Ameaçou um oficial, e o machucou. Isso é feio, Camila! – sussurrou se alojando ao lado de meu corpo, e roçando a sombra em meu rosto.

- Sai de perto de mim! – berrei.

- Ei! Cale a boca! – rebateu alguém do lado de fora da cela. – Estamos tentando dormir!

   Sem perceber, o xinguei de um palavrão horrível, e ele se calou.

- Babaca! – gritei esmurrando a porta com os punhos. Alguns minutos depois, meus pulsos sangravam de tão machucados, e latejavam. – Eu não consigo mais. Não dá. – sussurrei antes de apagar completamente.